quarta-feira, 5 de junho de 2019

Crônicas de um Velho Chefe escoteiro. A Legião dos Esquecidos.




Crônicas de um Velho Chefe escoteiro.
A Legião dos Esquecidos.

Prólogo: - O Escotismo é lindo, maravilhoso, mas tem outro lado. Existe em nosso movimento, uma legião. Uma Legião de Esquecidos. São de diversas idades, podem ser jovens, ou voluntários que um dia sonharam com o escotismo. Partiram, resolveram que ali não era mais o seu lugar. Não receberam na saída nenhum elogio, nenhum agradecimento, nenhuma condecoração. Afinal para que? Não precisa. Eles agora fazem parte de uma Legião, uma Legião dos esquecidos. - O ouvido humano é surdo aos conselhos e agudo aos elogios.

                          Estou à procura deles. Alguém sabe onde estão? Porque os procuro em todos os lugares e não consigo encontrá-los? Agora são outros? Não tem rostos? Não tem nomes? Serão os sem promessas e promessados? Desapareceram no tempo? Deixaram de ser alguém como nós? Foram esquecidos na memória e ninguém mais lembrou que eles um dia foram como nós? Saudades. Muitas saudades deles. Difícil não relembrar os bons momentos vividos. Se foram bons ou maus não importa, o que importa na verdade é a essência que ficou e marcou. Os pequenos receberam distintivos, os maiores fizeram cursos, participaram de inúmeras atividades do distrito e da região e até da nacional. Alguns foram abraçados pelos lideres que fingiam que eram importantes. A Associação peca. Eu sei que ela não é consciente e nem viva. Eu sei que ela é inanimada. Não aproxima de ninguém. Ela não se importa com quem foi ou com quem fica. Se hoje eles não estão mais ao lado dela são considerados agora como uma de Legião de Esquecidos.

                         E foram tantos e tantos. Jovens que acreditaram na filosofia e se sentiram desamparados. Voluntários que deram o que tinham e não tinham pela Associação. Eles fizeram parte da história e da vida e ela o esqueceu. Eles sempre diziam que não era nada pessoal. Era um amor fraterno, uma filosofia de vida. Não vieram colher flores perfumadas nos jardins da Associação. Ah! Eram simples “scout” que um dia acreditaram que podiam ajudar e fazer o bem como queria a Associação. Entraram, viveram, amaram e se foram. Tiveram seus momentos e de repente viraram lembranças apagadas no tempo. Para a Associação eles eram apenas mais um dos milhares que hoje pertencem a Legião dos Esquecidos. No calor das ações geradas no calor de um ideal, eles sabiam que estes belos sentimentos e acontecimentos que marcaram suas memorias se acabaram.

                      A Associação é implacável. Tem as suas convicções, normas, parágrafos, sentimentos burocráticos e frios, gelados e deles não abre mão. Ela vive o sonho de seus devaneios de altivez de riquezas. Ela não se importa com aqueles que um dia acreditaram nela, lutaram enquanto as forças da verdade prevaleciam e tinha valido a pena. Agora que se foram, que fazem parte da Legião dos Esquecidos não tem mais serventia para ela. Ela a Associação é fria, pensa que não importa quem vai e quem fica. Sabe que tem sempre uma Legião de Novos que acreditam como acreditaram aqueles que um dia se foram. Eles agora sorriem, batem palmas, cumprem ordens, fazem saudação e a Associação gosta. Se amanhã alguns deles resolver se juntar aos outros ela a Associação não vai comentar, não vai reclamar e nem pedir para ficar. Agora que se foram para ela não tem importância.

                        A Associação não se lembra de que eles um dia foram presentes sacrificaram o seu tempo e quem sabe algumas moedas achando que podiam e pensaram que a Associação estaria sempre ao seu lado. Não foi bem assim. Nunca foi. A Associação nunca se interessou por eles. Enquanto lutaram pelos jovens, enquanto sonhavam em fazer do nosso país um gigante cheio de nobreza e honradez a Associação aplaudiu. Enquanto eles ajudavam a fazer grandes momentos, pagos e sem presentes, enquanto lutavam nas fileiras da Associação ela sorriu. Ela se sente bem com a fila que se forma, da reverência que se faz, do sim e o não sem discordar. Para ela todos os momentos que eles viveram intensamente acabaram se transformando em memórias tristes que ela faz questão de apagar e esquecer.

                          Pergunte a Associação o porquê ela não os procurou? O porquê não mandou pelo menos uma carta, um e-mail simples, sem afetação, com poucas palavras escritas – Obrigado! Você me fez feliz um dia. Não. Nem isto ela faz e sabemos que ela nunca fará. Para ela, esta Legião dos Esquecidos ficou na memória do tempo. Perdida em um luar sem luz em um cantinho no céu. Eles se foram e ela pouco importa para onde vão. Agora serão ignorados, não existe gesto de nobreza, não importa o que eles fizeram, se sacrificaram os seus que viviam ao seu redor, se fez dos seus proventos uma doação sem volta. Se ficou sem dormir para domar o vento e as tempestades de um acampamento não importa. O tempo dedicado o carinho o sorriso agora são guardados no bornal das estrelas. Ele deu seu tempo sua vida e nunca foi agraciado, elogiado, nem ao menos um muito obrigado.

                    Eles são muitos, são tantos, são milhares, estão por aí espalhados nesta terra imensa, que Cabral nos deixou. Eles hoje vivem com suas memórias ainda vivas de um passado gostoso de um tempo que se foi. Uma poetiza escreveu: - O tempo passa tão rápido. O tempo deixa para trás, os momentos vividos. Os bons e os sofridos, mas que jamais são esquecidos. Não há volta, não existe convite de retorno. A Associação não se presta para isto. Ela não se importa de quem chega e de quem se vai. Claro, já foi dito e falado, ela não é consciente e nem viva e por isto segue seu caminho sem volta. Não haverá medalhas, não haverá um agradecimento, não existe nos escaninhos de seu ser qualquer menção a ser lembrada dos que se foram. Para ela eles são a Legião dos Esquecidos.

             Ah! Adeus Associação! Não precisava ser assim. Esta legião podia voltar. Tantas coisas para dar e ajudar. Quem sabe um elogio merecido ou sorriso furtivo? Quem sabe uma palavra de carinho? Apagar esta insensatez, esta frieza e dar as mãos seria melhor? Sei que não. Não adianta remar sua própria canoa. As águas revoltas e os turbilhões da vida levaram nas corredeiras a canoa e sem remos e ela se perdeu. A Associação nem pestanejou. Outros agora assumiram seu lugar. Com os novos ela já desenhou sua meta. Com uma Silva ou uma Prismática traçou sua reta no mapa que ela acredita ser o melhor para crescer. Nestas novas estradas, onde o rumo é um só, onde ninguém pode se orientar ela sorri pelos que um dia ousaram discordar. Muito bom ela diz, agora eles são a Legião dos Esquecidos. E eu fico aqui matutando, e copiando a poetiza Estefani: - E eu continuo olhando as estrelas e lembrando-se do seu sorriso, dos momentos com você vividos que nunca mais voltarão!