Crônicas
de um Velho Chefe escoteiro.
A
Legião dos Esquecidos.
Prólogo: - O Escotismo é lindo,
maravilhoso, mas tem outro lado. Existe em nosso movimento, uma legião. Uma
Legião de Esquecidos. São de diversas idades, podem ser jovens, ou voluntários
que um dia sonharam com o escotismo. Partiram, resolveram que ali não era mais
o seu lugar. Não receberam na saída nenhum elogio, nenhum agradecimento,
nenhuma condecoração. Afinal para que? Não precisa. Eles agora fazem parte de
uma Legião, uma Legião dos esquecidos. - O
ouvido humano é surdo aos conselhos e agudo aos elogios.
Estou à procura deles. Alguém sabe onde
estão? Porque os procuro em todos os lugares e não consigo encontrá-los? Agora
são outros? Não tem rostos? Não tem nomes? Serão os sem promessas e promessados?
Desapareceram no tempo? Deixaram de ser alguém como nós? Foram esquecidos na
memória e ninguém mais lembrou que eles um dia foram como nós? Saudades. Muitas
saudades deles. Difícil não relembrar os bons momentos vividos. Se foram bons
ou maus não importa, o que importa na verdade é a essência que ficou e marcou. Os
pequenos receberam distintivos, os maiores fizeram cursos, participaram de
inúmeras atividades do distrito e da região e até da nacional. Alguns foram
abraçados pelos lideres que fingiam que eram importantes. A Associação peca. Eu
sei que ela não é consciente e nem viva. Eu sei que ela é inanimada. Não
aproxima de ninguém. Ela não se importa com quem foi ou com quem fica. Se hoje
eles não estão mais ao lado dela são considerados agora como uma de Legião de Esquecidos.
E foram tantos e tantos. Jovens que
acreditaram na filosofia e se sentiram desamparados. Voluntários que deram o
que tinham e não tinham pela Associação. Eles fizeram parte da história e da
vida e ela o esqueceu. Eles sempre diziam que não era nada pessoal. Era um amor
fraterno, uma filosofia de vida. Não vieram colher flores perfumadas nos
jardins da Associação. Ah! Eram simples “scout” que um dia acreditaram que
podiam ajudar e fazer o bem como queria a Associação. Entraram, viveram, amaram
e se foram. Tiveram seus momentos e de repente viraram lembranças apagadas no
tempo. Para a Associação eles eram apenas mais um dos milhares que hoje
pertencem a Legião dos Esquecidos. No calor das ações geradas no calor de um ideal,
eles sabiam que estes belos sentimentos e acontecimentos que marcaram suas memorias
se acabaram.
A Associação é
implacável. Tem as suas convicções, normas, parágrafos, sentimentos
burocráticos e frios, gelados e deles não abre mão. Ela vive o sonho de seus
devaneios de altivez de riquezas. Ela não se importa com aqueles que um dia
acreditaram nela, lutaram enquanto as forças da verdade prevaleciam e tinha
valido a pena. Agora que se foram, que fazem parte da Legião dos Esquecidos não
tem mais serventia para ela. Ela a Associação é fria, pensa que não importa
quem vai e quem fica. Sabe que tem sempre uma Legião de Novos que acreditam
como acreditaram aqueles que um dia se foram. Eles agora sorriem, batem palmas,
cumprem ordens, fazem saudação e a Associação gosta. Se amanhã alguns deles
resolver se juntar aos outros ela a Associação não vai comentar, não vai
reclamar e nem pedir para ficar. Agora que se foram para ela não tem importância.
A Associação não se lembra de que eles um dia
foram presentes sacrificaram o seu tempo e quem sabe algumas moedas achando que
podiam e pensaram que a Associação estaria sempre ao seu lado. Não foi bem assim.
Nunca foi. A Associação nunca se interessou por eles. Enquanto lutaram pelos jovens,
enquanto sonhavam em fazer do nosso país um gigante cheio de nobreza e honradez
a Associação aplaudiu. Enquanto eles ajudavam a fazer grandes momentos, pagos e
sem presentes, enquanto lutavam nas fileiras da Associação ela sorriu. Ela se
sente bem com a fila que se forma, da reverência que se faz, do sim e o não sem
discordar. Para ela todos os momentos que eles viveram intensamente acabaram se
transformando em memórias tristes que ela faz questão de apagar e esquecer.
Pergunte a Associação
o porquê ela não os procurou? O porquê não mandou pelo menos uma carta, um
e-mail simples, sem afetação, com poucas palavras escritas – Obrigado! Você me
fez feliz um dia. Não. Nem isto ela faz e sabemos que ela nunca fará. Para ela,
esta Legião dos Esquecidos ficou na memória do tempo. Perdida em um luar sem
luz em um cantinho no céu. Eles se foram e ela pouco importa para onde vão.
Agora serão ignorados, não existe gesto de nobreza, não importa o que eles fizeram,
se sacrificaram os seus que viviam ao seu redor, se fez dos seus proventos uma
doação sem volta. Se ficou sem dormir para domar o vento e as tempestades de um
acampamento não importa. O tempo dedicado o carinho o sorriso agora são
guardados no bornal das estrelas. Ele deu seu tempo sua vida e nunca foi
agraciado, elogiado, nem ao menos um muito obrigado.
Eles são muitos, são tantos, são milhares,
estão por aí espalhados nesta terra imensa, que Cabral nos deixou. Eles hoje
vivem com suas memórias ainda vivas de um passado gostoso de um tempo que se
foi. Uma poetiza escreveu: - O tempo passa tão rápido. O tempo deixa para trás,
os momentos vividos. Os bons e os sofridos, mas que jamais são esquecidos. Não
há volta, não existe convite de retorno. A Associação não se presta para isto.
Ela não se importa de quem chega e de quem se vai. Claro, já foi dito e falado,
ela não é consciente e nem viva e por isto segue seu caminho sem volta. Não
haverá medalhas, não haverá um agradecimento, não existe nos escaninhos de seu
ser qualquer menção a ser lembrada dos que se foram. Para ela eles são a Legião
dos Esquecidos.
Ah! Adeus Associação! Não
precisava ser assim. Esta legião podia voltar. Tantas coisas para dar e ajudar.
Quem sabe um elogio merecido ou sorriso furtivo? Quem sabe uma palavra de
carinho? Apagar esta insensatez, esta frieza e dar as mãos seria melhor? Sei
que não. Não adianta remar sua própria canoa. As águas revoltas e os turbilhões
da vida levaram nas corredeiras a canoa e sem remos e ela se perdeu. A Associação
nem pestanejou. Outros agora assumiram seu lugar. Com os novos ela já desenhou
sua meta. Com uma Silva ou uma Prismática traçou sua reta no mapa que ela
acredita ser o melhor para crescer. Nestas novas estradas, onde o rumo é um só,
onde ninguém pode se orientar ela sorri pelos que um dia ousaram discordar.
Muito bom ela diz, agora eles são a Legião dos Esquecidos. E eu fico aqui
matutando, e copiando a poetiza Estefani: - E eu continuo olhando as estrelas e
lembrando-se do seu sorriso, dos momentos com você vividos que nunca mais
voltarão!