domingo, 1 de setembro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O azulão que fez história.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O azulão que fez história.

Era uma vez... – Uma chuvinha fina cai gostosamente no céu da minha cidade. A meteorologia diz que vai chover a cântaros todo o dia. Que venha a chuva gosto dela. Sentei na poltrona, liguei meu computador, minha máquina de sonhos e olhando a telinha pensava o que iria escrever neste dia. E eis que me veio no pensamento os azulões. Afinal eles estão aí até hoje e mesmo que alguns chefes estão impondo o vestuário os que já foram nunca se esqueceram dos tempos que portavam com orgulho seus azulões. “Bom demais sô!”.

                Azulões, lobos, boné típico, primeira e segunda estrela, quantos anos? Sei não. Cada um sabe contar como foi e o que sentiu quando vestiu pela primeira vez aquele lindo uniforme azul. Eu o vesti pela primeira vez lá pelos idos de 1947 e fiquei com ele até passar para os escoteiros no início de 1951. Saudades de um Azulão que mantém ainda em alguns a velha saga das tradições que muitos não querem esquecer.

                Não sei se quando foi organizada a primeira alcateia no Brasil e se eles já usavam os azulões. Muitos dos antigos escoteiros contam que sempre existiu com a mesma cor e o mesmo brim. Tem cem anos? Não sei. De uma coisa tenho certeza o brim azul era durável e a maioria dos lobinhos ficava com ele por toda sua vida na Alcateia. Para muitos um uniforme que deixou saudades. Lembro que foi um uniforme que se manteve igual em todos os estados da Federação. Você ia no norte ou no sul e lá estavam eles os lobinhos garbosos em seus uniformes azuis. Hoje pelo marketing dos chefes algumas alcateias estão mudando para o vestuário. Já aparecem lobinhos e lobinhas com a camisa fora da calça, roupa larga, sem medida própria que desfigura quem a veste. Afinal o exemplo é o Chefe. Sem desmerecer, o preço do vestuário daria para comprar três azulões. Mas isto é outra história. Aqui a intenção é falar do azulão.

                Onde quer que você fosse, onde quer que você ouvisse falar eles os azulões eram idênticos em todos os cantos do Brasil. O mesmo boné de lobo, a mesma cor, o short curto, o meião e o calçado preto. E o lenço? Bem colocado mostrando seu garbo e apresentação. Quem os visse sorrindo uniformizado sabiam que eles eram perfeitos no dobrar do lenço e na imagem da apresentação pessoal que faziam quando uniformizados. Dificilmente se via um lobinho displicente com seu uniforme. Não havia moda de cobertura. Era o boné e pronto! Dava gosto de ver os azulões. Brincavam, cantavam, corriam atrás de Mowgli, faziam caminhadas nas terras do Waingunga e sempre bem uniformizados. Um orgulho de se ver.

                No passado não havia camisetas com logotipo do Grupo ou da Região sem contar agora os da Escoteiros do Brasil. Hoje muitos dizem que os lobos usam as camisetas para não sujar o uniforme. Deus meu! Sujar? Se usar uma vez por semana vale esta observação? Naquela época se via os azulões nas reuniões, nas atividades sociais, nos acantonamentos, nas excursões nas viagens de trem ou ônibus sempre impecáveis em seus uniformes. Lembro que até a criação do famoso traje que a Escoteiros do Brasil enterrou a sete palmos, as chefes de lobos usavam também o azulão. Como sempre lindas, impecáveis, sem invenções de cobertura. Algumas até usavam um chapeuzinho de brim azul que logo foi abolido.

               Quando você adentrava em uma sede e via alguns lobos com seus uniformes azuis já desbotando era bom sinal. Sinal que ele tinha tempo de lobinho. Afinal não precisava comprar um a cada ano. Conheci um azulão que durou 12 anos. Passando de irmão para irmão. Ver as estrelas de atividade de metal, sua 2ª Estrela no Boné de lobo, ou se Primo ou segundo com suas tiras amarelas no braço esquerdo. (Ou será o direito? Não lembro mais). A mamãe ou a titia cortava um triangulo pequenino em feltro para identificar a cor da Matilha. Houve uma época que existia o Mor. Escolhido entre os mais antigos dos lobos. Um “çabio” da EB achou que não devia ter mais.

                 Tudo muda. Dizem que a modernidade obriga a todos mudarem. Como um velho retrógrado e ultrapassado não sou a favor da mudança dos uniformes. Aceito, pois já não pertenço a esta liberdade do uso do vestuário.  Gostam de mudar. O manual dos lobinhos a cada ano muda. Ora bolas mudou a história do Livro da Jângal? Não bastava o de BP ou do Chefe Carlos Gusmão? Chamam-me de saudosista, será que sou? Se for amo ser um deles. Afinal quantos vestiram seus azuis e lembram dele com saudade? O que importa a tradição? Afinal porque ser diferente? Só por estamos em pleno século XXI? Li outro dia um comentário de um Chefe entendido em modernidade que dizia ou respondia a uma dúvida de um Chefe: - Todos mudam. Mais de 20 países já fizeram mudanças no uniforme. Não podemos ficar atrás. Afinal é uma escolha e devemos abraçar esta escolha. Parece aquele politico bajulador que dizia: - O que é bom para a Inglaterra, para os Estados Unidos é bom para o Brasil!

                  Pois é. Novos ares, novas mudanças. Novas maneiras de faturar. O que? Estou inventando? Não... Veja o preço de um azulão e compare com o vestuário. Veja a durabilidade e depois me diga se valeu a pena. Nem vou falar em tradição. Como sou antigo, do tempo da onça os ventos ainda sopram para mim da mesma maneira. “Tempo bão sô”! Mas do azulão não esqueço nunca. O usei por quase quatro anos. Amo este uniforme como amo o caqui. Posso dizer que sou um azulão e um caqueano de coração, afinal fui um deles com muito orgulho. Deixo aqui meu fraterno abraço e meu Melhor Possível aos lobos azulões. Não desmereço os lobos do vestuário. Todos são da Alcateia de Mowgly e procuram fazer o seu “Melhor Possível” para ser um lobinho de coração.  

Parabéns aqueles que ainda mantem seu azulão e nunca em tempo algum vão esquecer este uniforme que ficará para sempre na história dos Lobos de Seeonee.