sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Crônicas de um velho Chefe escoteiro - Não me levem a mal, afinal sou um escoteiro das antigas.




Crônicas de um velho Chefe escoteiro
- Não me levem a mal, afinal sou um escoteiro das antigas.

Às vezes penso porque insisto no escotismo que adotei quando criança e que permanece até hoje já no fim dos tempos como um Velho Chefe Escoteiro. Será pela beleza do programa escoteiro de Baden-Powell que adotei? Será pela sua filosofia? Ou quem sabe será porque aceitei a Lei Escoteira como Principio de vida? Não sei. Realmente não sei. Amei tudo que fiz e nunca me arrependi a não ser quando sozinho resolvi fazer uma jangada para atravessar o rio Doce abaixo de Crenaque, ela pesada afundou e... Eu quase fui com ela! Houve sim outros contratempos. Humanos que se diziam escoteiros e achavam que o errado era eu... Porque não aceitavam a discussão com bom senso, quem sabe só porque achavam que o escotismo deles era mais perfeito que o meu? Ora bolas, vi os resultados, mas os deles não. Fui afoito, brabo, brigão, desordeiro e metido a chefão dizendo coisas que hoje pensando bem não iria repetir. Desculpem, fui errado em achar que era um calejado conhecedor do Escotismo de BP. Uma vez um Chefe que respeitava me disse sem meias palavras: - Vado meu amigo, ser afável, amável, compassivo e delicado se conquista mais que ser o melhor, o mais entendido o respeitável que eles acreditam não ser tanto assim...

Fui para casa remoendo se ele estava certo ou errado. Várias vezes tive a petulância de pensar em sair do escotismo. Ao chegar em casa me olhava no espelho sorria e dizia: - Meu! Escoteiro para sempre ou um rato para sempre? Fui de tudo um pouco no escotismo. Abracei, elogiei, fiz careta, dei “banana” retruquei, contestei e quer saber? Tudo que pensei que poderia acontecer aconteceu. Não abandonei a luta. Sempre jogado a escanteio, mas firme pensando estar no meu direito. Desafiei o alto escalão, fiz troça de Soberbos membros da Formação, exigiram a devolução dos tacos que me deram, dos certificados... Não devolvi minha Insígnia e as medalhas. Eram minhas por direito. Não foram doadas... Lutei para conseguir. Não importa se foram poucas, se não tenho as mais famosas, aquelas que os possuidores de direito usam penduradas no pescoço... E porque escolhi o caminho de continuar sem ser? Ops! Sem ser? Sim, não arredo o pé da União dos Escoteiros do Brasil. Estou fora da Escoteiros do Brasil. Sou amante do que fiz, acredito no direito democrático de discordar, não falo pelos cotovelos, vou direito ao ponto... Se não faço meu registro anual é porque sei que iria ser ridicularizado, execrado e até expulso! Mas quem deles teriam o direito de me expulsar? Afinal são anos e anos escoteirando. Centenas de atividades de campo, quase oitocentas noite de acampamento, jornadas a pé, de bicicleta, de carona, pois até mochileiro eu fui!

Não fui Primo, nem segundo e nem Mor. Na Patrulha era um reles escriba, também não fui sub e nem Monitor. De tudo fui um pouco, tirei minha primeira e segunda estrela na marra. Fui Escoteiro Primeira Classe, e conquistei 18 especialidades. Fui Sinaleiro, cozinheiro, Acampador, Enfermeiro, Construtor de Pioneirías em uma época que tirar uma especialidade não era para qualquer um. Diferente de hoje... Novas normas, novas pedagogias de crescimento. Um dia sonhei ser Guia, mas um sabido da UEB enterrou meus sonhos cancelando esta hierarquia na tropa. De raiva fui Chefe de Lobos, de Tropa, de Sênior e pioneirei junto com amigos pioneiros nos verdes campos do Brasil. Tive a honra de Ser Diretor de Adestramento Regional e Comissário Regional, hoje título pomposo de Diretor ou Presidente. Melhor Comissário... Mais tradicional escoteiramente mais respeitoso... Saudades do Chefe do Grupo e de tantos nomes que os “çabios” Escoteiros modernos enterraram no rio do esquecimento... Um dia fui Insígnia de Escoteiros, depois de Lobinhos e Chefe de Grupo... Resolveram me dar o lenço que uso até hoje... Velhinho, carcomido, mas que amo demais.

Perdi a conta de Cursos Escoteiros que colaborei e dirigi. Quanto vale cada um? Tem valor na Escoteiros do Brasil? Qual o preço dos meus 71 anos de escotismo? Qual o respeito que demonstraram por mim quando me revoltei e disse que estava tudo errado? Que adiantou ser quatro tacos? Me ouviram? Ouvem alguém? Cada um dos poucos que lá estão lutam para permanecer... No poder... Um dois dezenas de anos. Outros não se incomodam com os cargos, estão satisfeitos em ser um Chefão, olhado com respeito com suas medalhas e sorrindo com a de Velho Lobo! Não comento mais as diretrizes, as normas, pois até desmerecer a lei, principalmente o sexto artigo se calam nos melindres do poder. Defendem com unhas e dentes o Estatuto feito para permanecerem no poder. Dão preferencia os novos. Lavagem cerebral de primeira. Quantas arrogâncias... Quantas empáfias... Quantos atrevimentos em faltar com o respeito do subordinado... Afinal somos voluntários ou empregados da Escoteiros do Brasil? Convencidos do poder que ostentam valores que não tem. Mas isto meu “compadre escoteiro” faz parte, faz parte da insolência, da bazófia em inventar o que não devia ser inventado e sim adaptado.

Às vezes me pergunto onde foi parar a Lei. Sim a Lei do Escoteiro, pois a Promessa é várias vezes renovada em cerimonias escoteiras para não ser esquecida. Já me acostumei com os que partiram para a Legião de Esquecidos, que um dia aqui se vangloriavam do amor escoteiro e hoje cansados, desiludidos partiram para outros caminhos levados pelo vento à procura de novas histórias... – Chefe estou saindo! Dizer o que? São culpados? Ainda vejo bom escotismo, em chefes que se preocupam com os jovens, que ouvem o que eles dizem que dão liberdade de fazer fazendo e não esta brincadeira feita de um programa infantil mais voltado para as salas de aula modernas que do verdadeiro escotismo aventureiro.

Me desculpem, foi um desabado. Sou um Velho Chefe Escoteiro no fim da idade. Já me criticaram por dizer que no meu tempo era diferente. Era sim, uma época que na liderança da União dos Escoteiros do Brasil havia respeito, fraternidade e cortesia por parte dos Chefões e de orgulhar em apertar sua mão esquerda. Havia sonhos de encontrar Velhos Lobos para conversar, ouvir, aprender e agir conforme as ideias do fundador. Hoje sou apenas uma figura de um escritor escoteiro, dizendo “besteiras” como muitos me intitulam. Pela manhã me olho no espelho. Não vou desistir. Criticar para mostrar o melhor caminho sempre foi o meu lema. Não cobro nada do que faço ou do que farei. No escotismo me entreguei por inteiro, sem dinheiro e sem nada receber. Sei que muitos não simpatizam com minha maneira de ser... Das breguices que na velhice melosamente me ponho a escrever... Paciência!

Continuo repetindo os Chefes que foram meus Gurus no passado: Um deles publicou em vários idiomas que “Os únicos capazes e possíveis de por o escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes”! Que Deus me mostre o caminho da verdade de Baden-Powell mesmo não estando mais aqui entre meus irmãos escoteiros.