domingo, 22 de setembro de 2019

Uma conversa ao pé do fogo. O Escotismo que queremos.




Uma conversa ao pé do fogo.
O Escotismo que queremos.

Não, o titulo não é meu. É de alguém que publica artigos intensos do escotismo de hoje baseado nas premissas da Escoteiros do Brasil. Não conheço o autor. Ele não se identifica, mas deve ser alguém com profundos conhecimentos escoteiros. Um pouco diferente de mim que sou danadamente sonhador e gosto de filosofar quando escrevo e me mostrar inteiro como sou. Nunca pensei em mudar meu nome, usar um pseudônimo ou mesmo ficar em OF. Afinal vivi o escotismo em toda sua plenitude desde menino até hoje. Gosto de lutar em terreno arejado, olhando cara a cara, sorrindo ou abraçando meu componente seja ele quem for. Teoricamente não sou bom, na prática gosto de dizer que sou um expert na matéria. Não afirmo que o meu escotismo foi o melhor, que o de hoje supera o de ontem. Prefiro ir aos poucos comentando os meus erros e minha mania de dizer que tem muita coisa errada nas terras escoteiras do meu Brasil.

Será que terei a audácia em dizer que o Escotismo que queremos é o que acredito? Mas você não está aí, lutando ao seu modo, seguindo o modelo imposto pela Escoteiros do Brasil e aceitando com um sorriso nos lábios suas normas, instruções normativas e aplaudindo os novos ventos diferentes daquele que a liberdade de agir, de fazer para aprender, de se aventurar por trilhas e estradas, envergando a vestimenta que acredita, o chapéu que gosta, a mochila que escolheu? O Escotismo que queremos muitas vezes diz a verdade, provoca discussões, opiniões e alguns se lembrando do que era e o que está sendo proposto... Eu velho escoteiro matuto, me mantenho a margem. Discutir o anel do lenço? Discutir a nova pedagogia? Discutir um programa que nunca foi o meu?

Não vou por esta pegada, não é a minha. Bota cano alto só usei quando corria atrás da boiada nas largas do Jacinto, caindo pelo caminho, todo arranhado dos espinhos do mandacaru, subindo na sela do Baiano, o melhor seleiro que conheci. O meu escotismo é aquele que fiz e se pudesse faria de novo, sem a pretensão de ser o melhor, pois como dizem os velhos e novos literatos a tempo para tudo. O meu é ficar no devaneio do que foi e hoje não é mais. Sei que não pergunta para mim qual o Escotismo que Queremos. Com mil demônios, pelas barbas do profeta! Se me perguntasse eu diria que o que quero é ser livre, poder andar e caminhar por aí, atrás das asas ligeiras das borboletas azuis! Cassimiro de Abreu, meus oito anos... – Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais...

Ainda gosto de lembrar que meu uniforme era meu pedaço de chão, vistoso no andar no garbo de me apresentar com minhas calças curtas, meu chapéu de abas largas sempre retas, lenço bem dobrado liso e bem postado como foi à lembrança do Escotismo que queremos. Chapéu de pano? Boné a americana? Lenço amarrado nas pontas? Nunca foi o meu forte. Mas e daí Chefe? Achega bem perto de mim e me veja, um nó quadrado, do frade, de aselha ou volta do fiel e lá está os novos tempos uma discussão sadia que nunca vou usar. Pudera, minha mochila aposentei, meu bornal está cheio de estrelas que “catei” naquela estupenda e maravilhosa jornada sem fim do Pico do Itacolomi, da Bandeira e das Agulhas Negras. Hoje só me resta às lembranças, gostosas, fascinantes, o feijão com torresmo que saborosamente o nosso cozinheiro botava no prato com um sorriso de matar qualquer um.

O Escotismo que queremos? Dar uma opinião? Não sei se ela vale a pena. Meu primeiro anel foi papai quem fez quando tirava uma de sapateiro. Eita lembrança gostosa, ficar com ele no quadrado da sua oficina, engraxando e ele me ensinando a costurar bolas de couro, a fazer um belo cinto de “vaqueta” de um boi Zebu para o escoteiro que me procurou trazendo a fivela da UEB que ganhou. Não vou nem pensar nos dias de hoje, do tal Escotismo que queremos que muitas vezes escreve bonito, com conhecimento de causa, mas causa que não é a minha, pois esta está lá no passado, num tempo que já passou. A gente tinha orgulho do uniforme, na pose na apresentação. Como foi que escreveu o nosso pioneiro, nosso iniciador depois de Brownsea e de Gilwell? – Nenhuma importância tem que um Escoteiro ande uniformizado ou não! O que vale é que ponha seu coração no Escotismo, engaje nele o seu espirito e cumpra a Lei Escoteira. E sabiamente termina: - Mas o fato é que não existe um escoteiro, que podendo ter um uniforme deixa de fazê-lo. Esqueceu-se de dizer: - Com o exemplo perfeito do seu Chefe Escoteiro.

Escrevo estas linhas enrolado na Manta vermelha que nos dias frios fica na sala. Ela não é a minha Capa Negra que usava no passado, em volta do fogo, único momento que não envergava meu uniforme, com meu lenço bem dobrado meu anel que meu pai me deu, a cantar com meus amigos a viver uma doce aventura noturna na luz da fogueira ou no lampião vermelho no campo da Patrulha, luz bruxuleante e ouvir a mata cantar... O Escotismo que Queremos? – Volto a Cassimiro de Abreu: - Que aurora, que sol, que vida, que noites de melodia, naquela doce alegria, naquele ingênuo folgar! O céu bordado d’estrelas, a terra de aromas cheia, as ondas beijando a areia, e a lua beijando o mar! Oh! Dias da minha infância, oh! Meu céu de primavera, que doce à vida não era, nessa risonha manhã... E emendo sem plagio a um dos maiores poetas que já li... – O Escotismo que queremos? Eu se pudesse, queria voltar no tempo, dos meus acampamentos, das noites enluaradas, enchendo meu bornal de estrelas, pisando meu passo escoteiro na via láctea, seguindo o vento e ouvindo o barulho das ondas do mar...