Uma conversa
ao pé do fogo.
O Escotismo
que queremos.
Não, o titulo não é
meu. É de alguém que publica artigos intensos do escotismo de hoje baseado nas
premissas da Escoteiros do Brasil. Não conheço o autor. Ele não se identifica,
mas deve ser alguém com profundos conhecimentos escoteiros. Um pouco diferente
de mim que sou danadamente sonhador e gosto de filosofar quando escrevo e me
mostrar inteiro como sou. Nunca pensei em mudar meu nome, usar um pseudônimo ou
mesmo ficar em OF. Afinal vivi o escotismo em toda sua plenitude desde menino
até hoje. Gosto de lutar em terreno arejado, olhando cara a cara, sorrindo ou
abraçando meu componente seja ele quem for. Teoricamente não sou bom, na
prática gosto de dizer que sou um expert na matéria. Não afirmo que o meu
escotismo foi o melhor, que o de hoje supera o de ontem. Prefiro ir aos poucos
comentando os meus erros e minha mania de dizer que tem muita coisa errada nas
terras escoteiras do meu Brasil.
Será que terei a
audácia em dizer que o Escotismo que queremos é o que acredito? Mas você não
está aí, lutando ao seu modo, seguindo o modelo imposto pela Escoteiros do
Brasil e aceitando com um sorriso nos lábios suas normas, instruções normativas
e aplaudindo os novos ventos diferentes daquele que a liberdade de agir, de
fazer para aprender, de se aventurar por trilhas e estradas, envergando a
vestimenta que acredita, o chapéu que gosta, a mochila que escolheu? O
Escotismo que queremos muitas vezes diz a verdade, provoca discussões, opiniões
e alguns se lembrando do que era e o que está sendo proposto... Eu velho
escoteiro matuto, me mantenho a margem. Discutir o anel do lenço? Discutir a
nova pedagogia? Discutir um programa que nunca foi o meu?
Não vou por esta
pegada, não é a minha. Bota cano alto só usei quando corria atrás da boiada nas
largas do Jacinto, caindo pelo caminho, todo arranhado dos espinhos do mandacaru,
subindo na sela do Baiano, o melhor seleiro que conheci. O meu escotismo é aquele
que fiz e se pudesse faria de novo, sem a pretensão de ser o melhor, pois como
dizem os velhos e novos literatos a tempo para tudo. O meu é ficar no devaneio
do que foi e hoje não é mais. Sei que não pergunta para mim qual o Escotismo
que Queremos. Com mil demônios, pelas barbas do profeta! Se me perguntasse eu
diria que o que quero é ser livre, poder andar e caminhar por aí, atrás das asas
ligeiras das borboletas azuis! Cassimiro de Abreu, meus oito anos... – Oh! Que
saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os
anos não trazem mais...
Ainda gosto de lembrar
que meu uniforme era meu pedaço de chão, vistoso no andar no garbo de me
apresentar com minhas calças curtas, meu chapéu de abas largas sempre retas, lenço
bem dobrado liso e bem postado como foi à lembrança do Escotismo que queremos. Chapéu
de pano? Boné a americana? Lenço amarrado nas pontas? Nunca foi o meu forte. Mas
e daí Chefe? Achega bem perto de mim e me veja, um nó quadrado, do frade, de
aselha ou volta do fiel e lá está os novos tempos uma discussão sadia que nunca
vou usar. Pudera, minha mochila aposentei, meu bornal está cheio de estrelas
que “catei” naquela estupenda e maravilhosa jornada sem fim do Pico do
Itacolomi, da Bandeira e das Agulhas Negras. Hoje só me resta às lembranças,
gostosas, fascinantes, o feijão com torresmo que saborosamente o nosso
cozinheiro botava no prato com um sorriso de matar qualquer um.
O Escotismo que
queremos? Dar uma opinião? Não sei se ela vale a pena. Meu primeiro anel foi
papai quem fez quando tirava uma de sapateiro. Eita lembrança gostosa, ficar
com ele no quadrado da sua oficina, engraxando e ele me ensinando a costurar
bolas de couro, a fazer um belo cinto de “vaqueta” de um boi Zebu para o
escoteiro que me procurou trazendo a fivela da UEB que ganhou. Não vou nem
pensar nos dias de hoje, do tal Escotismo que queremos que muitas vezes escreve
bonito, com conhecimento de causa, mas causa que não é a minha, pois esta está
lá no passado, num tempo que já passou. A gente tinha orgulho do uniforme, na
pose na apresentação. Como foi que escreveu o nosso pioneiro, nosso iniciador
depois de Brownsea e de Gilwell? – Nenhuma importância tem que um Escoteiro
ande uniformizado ou não! O que vale é que ponha seu coração no Escotismo,
engaje nele o seu espirito e cumpra a Lei Escoteira. E sabiamente termina: -
Mas o fato é que não existe um escoteiro, que podendo ter um uniforme deixa de
fazê-lo. Esqueceu-se de dizer: - Com o exemplo perfeito do seu Chefe Escoteiro.
Escrevo estas linhas enrolado
na Manta vermelha que nos dias frios fica na sala. Ela não é a minha Capa Negra
que usava no passado, em volta do fogo, único momento que não envergava meu
uniforme, com meu lenço bem dobrado meu anel que meu pai me deu, a cantar com
meus amigos a viver uma doce aventura noturna na luz da fogueira ou no lampião
vermelho no campo da Patrulha, luz bruxuleante e ouvir a mata cantar... O Escotismo
que Queremos? – Volto a Cassimiro de Abreu: - Que aurora, que sol, que vida,
que noites de melodia, naquela doce alegria, naquele ingênuo folgar! O céu
bordado d’estrelas, a terra de aromas cheia, as ondas beijando a areia, e a lua
beijando o mar! Oh! Dias da minha infância, oh! Meu céu de primavera, que doce à
vida não era, nessa risonha manhã... E emendo sem plagio a um dos maiores
poetas que já li... – O Escotismo que queremos? Eu se pudesse, queria voltar no
tempo, dos meus acampamentos, das noites enluaradas, enchendo meu bornal de
estrelas, pisando meu passo escoteiro na via láctea, seguindo o vento e ouvindo
o barulho das ondas do mar...