Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O assassinato da Minhoca.
Vado Escoteiro, alguém quer
saber quem foi o assassino da Minhoca? Me “cutuco” pensativo. Francamente não
sei. Uma vez no Pico do Pavão do Rabo Grande (não confundir com alguns
dirigentes escoteiros) eu fiz um juramento. Esperei dar meia noite. De pé
olhando a escuridão, pois não se via nada levantei a mão esquerda a moda
nazista e fiz o juramento: Prometo quando for escritor só escrever sobre
escotismo! Claro que não jurei com a mão direita e nem fazendo o sinal
escoteiro. Não ficava bem!
Mas tem dia que você acorda com
o pé direito (ou é o esquerdo?) e pensa: - Escrever o que? Sobre BP? Acho que
muitos não estão nem aí do que ele disse. - Escrever sobre as fotos e
foguetórios das Assembleias Regionais? Nem pensar. Estou “porrrraqui” com esta
camisa solta e o exemplo dos chefes. Tremo só em olhar. Mas não vou falar da
tal vestimenta, que desbota tamanho único para barrigudo e magrelo, pega fogo
fácil e custa os olhos da cara e ainda tem gente para bater palma e compra!
Rarará!
Fui fazer meu percurso de
Gilwell o que faço todas as manhãs em um parque municipal próximo ao meu campo
de Patrulha e enquanto corro meus quilômetros e quilômetros fico pensando o que
vou escrever hoje. Cansado, já escrachado no banco do parque, respiração
ofegante, pois hoje bati meu recorde dos seiscentos quilômetros me lembrei da
minhoca!
Quando levanto sempre vou até a
grade do portão da varanda, dou um bom dia a São Paulo apesar de habitar minha
barraca em Osasco e depois faço minha prece a Deus pela noite e pela vida. Eis
que vi em frente ao portal de campo no asfalto, uma minhoca... Isto mesmo, uma
minhoca puladeira. Dizem que são ariscas e preferidas dos pescadores de plantão
como eu. Usava as duas, a mole e a puladeira. Os peixes gostavam mais desta
última. A mole sabida não se mexia e a peixarada era enganada!
Ajeitei-me na minha Pioneiría
de campo, uma mesa que balança parecendo mesa de pata-tenra, fui ao tal You
Tube e rodei o ratinho a francesa para ver qual a musica serviria de inspiração
para escrever sobre a minhoca. Richard Clayderman e Mantovani não. Eram
clássicos demais para este conto. Quem sabe Ennio Morricone e suas musicas do
velho oeste? Também não. Procurei nas favoritas orquestradas e lá estava Love
Song Piano Instrumental. Não seria uma boa pedida.
Foi então que surpreso achei: -
Minhoca! Me dá uma beijoca! Eita, esta tinha tudo para me fazer criar belas
frases e contos “Minhoqueiros”! O som “minhocasso” se espalhou no meu campo de Patrulha.
A pobre da minhoca pulava e pulava no asfalto. Como tinha sorte a danada... Os
carros passavam e ela sempre viva a pular e pular. Vi com esses olhos que a terra
a de comer (o meu não terrinha!) a chegada de um passarinho. No alto da
enfumaçada cidade o “pistiado” viu a pobre minhoca pulando no asfalto. Pensou:
- Tô feito!
Prestei bem atenção no “bicho”
ou pássaro. Quem era? Nunca fui um bom ornitólogo para identificar os bichinhos
voadores do céu. Mas dava pru gasto. Escoteirando nas matas do meu país aprendi
muito. Era sem sombra de dúvida uma Saracura-de-asa-vermelha (aramides
calopterus) que só é encontrada nas florestas subtropicais e em rios. O que a
danada da Saracura fazia ali em Osasco?
Sem sombra de duvida viu um
belo almoço. Se eu gosto de uma feijoada, um ensopado de peixe com bastante
camarão ela tinha outras escolhas. Direitos são direitos. Se o cara resolvi se
vestir de qualquer jeito com aquela papuda camisa escoteira fora da calça é
direito dele não? A saracura pé ante pé foi até a pobre da minhoca puladeira.
Deu a primeira bicada e nada... Deu a segunda a terceira e zaztraz! Engoliu a
pobre da minhoca de uma só vez!
Quase chorei de dó. Coitada
da minhoca. Engolida como se fosse um quati na boca de uma Sucuri, a píton-real
que apelidaram de Anaconda. Me lembrei do Zé Torquato. – Vado! Lembra-se
daquela noite em volta do fogo na Floresta do Coral, quando você cantava feito
taquara rachada e nossos troncos começaram a se movimentar? – Lembrei! Por uns
metros pensei que era mágica e depois vi que o tronco era uma enorme cobrinha
Sucuri!
A danado da Saracura me olhou
de banda. Juro pelos dirigentes escoteiros do Brasil que vi e ouvi ela arrotar!
Sorriu para mim, levantou voo e sumiu no ar. A minhoca? Voou com ela na pançuda
barriga. Quem sabe ela também tem esta camisa que desbota que rasga e que
queima como capim? Quase chorei de dó da minhoca. Quantos piaus poderia pegar
com ela? Pensei em pegar o telefone ligar para o 190 e denunciar o assassinato
da minhoca. Melhor não, o Gilmar Mendes ia me pegar de banda e... Melhor não
contar.
Mas pelo bem ou pelo mal,
assassinaram a minhoca! Jurei pelo Presidente da UEB que nunca mais deixaria
uma minhoquinha morrer daquele jeito. Afinal o Escoteiro não é bom para os
animais e as plantas? Mas onde encaixa a minhoca neste artigo?
Nota – Winston Churchill
dizia que não passamos de minhocas. Mas se eu fosse uma minhoca seria uma minhoca
escoteira que brilha. Não gostou do artigo? Olhe se a tristeza não se toca,
saia você dessa toca, antes que, ela encha a tua cabeça... De minhoca! Kkkkkk.