Crônicas de
um velho Chefe escoteiro.
Pontualidade
e palavrão.
Certa vez dirigia um CAB Pioneiro
e quatro horas após o inicio, um aluno chegou atrasado. Não o conhecia. Displicente
me cumprimentou e nem explicou o motivo do atraso. Seria ele escoteiro? Ele
teria direito de fazer o curso? As primeiras quatro horas não teriam validade?
Todas as patrulhas estavam com sete eu deveria fazer uma com oito? Não
pestanejei. O chamei no escritório do campo escola e sem meias palavras o
convidei para o próximo daí a quatro meses.
Horário para mim tem um enorme significado.
Duas coisas não fazem parte do meu mundo. Na minha interpretação não são dignos
dos escoteiros, ou melhor, quem tem “espírito escoteiro” faltar com a Pontualidade
e dizer Palavrão. Muitos parecem viver em um mundo onde isso é comum. Fala-se o
que quer e não respeita o horário marcado. Estamos vivendo uma era difícil para
os que não fazem e nem dizem assim. Jovens e até adultos parecem esquecer as
boas maneiras e esquecem que nem todos são obrigados a ouvir o que ele diz ou
escreve.
Quem sabe sou um Velho exigente,
até mesmo ultrapassado por não ver que hoje isso faz parte da modernidade da
criação e vivência. Pode ser. Entretanto se dou meu exemplo acredito que mereço
o mesmo em troca. Dizem alguns e não todos que ser pontual ou é Caxias ou
idiota. Não sou nenhum dos dois. Gosto de horário. Prefiro pensar que o tempo
vale ouro e que quem marcou comigo confiava que chegaria no horário. Não acho
lógico alguém me fazer de poste para ficar esperando e ele gostosamente chega a
hora que quiser.
De todos os recursos a que
temos acesso, o tempo é um dos mais relevantes pela sua natureza volátil. Perdemos
horas a espera de outros significa desperdiçar um precioso bem. Dizem que a
forma que lidamos com o relógio diz sobre a nossa formação educação e
temperamento. Será que tem alguém que gosta de ficar esperando? Sei não para
mim é falta de civismo e respeito.
Como membros adultos no Movimento
Escoteiro nosso exemplo é primordial. Sabemos que a falta de pontualidade ou o
palavrão se for repetido sempre se tornará um “hábito de comportamento”.
Acredito que os pais mesmo não levando isso em consideração precisam ter uma ideia
que somos um movimento sério e estamos ali ensinando seus filhos baseados na
Lei e Promessa escoteira. Reuniões e atividades tem que ter horário padrão de
inicio e término, salvo eventualidades não esperada.
Sempre gostei de
acampamentos onde o tempo livre era rotina. Tempo livre não é sinônimo de “boa
vida”. Era a hora de aprender com a natureza, deixando os jovens fazer fazendo
com uma simples intuição que tiveram agora, ou antes. Nenhum profissional seja
ele liberal ou não será bem visto pela sua empresa ou clientes se não tiver uma
postura que chamo “Escoteira”. Temos responsabilidades nesta área. Nossa Lei
deve estar sempre em primeiro lugar.
Duas coisas distintas, mas que se
entrelaçam. O Palavrão e a Pontualidade. Não gosto de palavrão. Onde ele é
falado ou escrito prefiro estar longe e não ler. Aprendi quando escoteiro que
horário era ponto de honra. Que palavrão não faz parte da boa educação
escoteira. Será que temos uma lei escoteira de “mentirinha”? Pelas manhãs faço
caminhadas em um Polo Esportivo, bem arborizado onde consigo fazer alguns
exercícios em equipamentos próprios. Mas os jovens que estão ali não tem
respeito. Nossa! Quanto palavrão. Às vezes vou embora mais cedo por não me
sentir bem.
Não é questão só de escotismo. É questão de
caráter ética e respeito. Soube que nos encontros nacionais principalmente em
Jamborees membros adultos e até mesmo jovens ficam até tarde da noite
conversando, usando e abusando de palavrões. Desculpe. Se for verdade não dá
para aceitar. São Escoteiros? Para mim estão fantasiados e no coração o
Espírito Escoteiro passa longe. Não devemos ser sóbrios só em acampamentos ou
reuniões de sede. Exemplos devem existir em todo lugar.
Há tempos li que alguém escreveu um
dicionário do Palavrão Brasileiro. Teve noite de autógrafos. Um herói para
muitos, para mim o enganador que não se dá ao respeito, principalmente com a
antiga geração. Sei que tem gente que gosta. Que eles se divirtam longe de mim chegando
atrasado e dizendo palavras de baixo calão. Muitos se divertem, dão risadas e
incentivam até mesmo piadas onde esse tipo de conversa costuma fazer parte. Orgulho-me
de ser um escoteiro “Caxias”. Nas atividades escoteiras que participei os
jovens nunca aprenderam e sabiam que isto não fazia parte de escoteiros que
levam a sério sua lei e sua promessa.
Sei que
muitos de vocês concordam comigo. Sei que outros não. É um direito. E o meu
também deve ser respeitado. Não vou pedir desculpas e dizer que escrevo isso
por ser um Velho Chefe Escoteiro que está fora do seu meio e lugar. Alguns
podem me achar esclerosado e ultrapassado no modernismo de hoje. Palavrão e
pontualidade não podem ser considerados exemplos e aceitos naturalmente. Se
alguns acham que isso faz parte da nova forma de educação extraescolar, nova
metodologia de formação educacional então me declino. Espero que os frutos
compensem.
Quem sabe entendo errado o que
seja ética, respeito, caráter e Espírito Escoteiro. Mas guardo com orgulho de
conviver com muitos que levavam tudo isso a sério. Não é porque o outro diz
assim ou faz assim que eu farei o mesmo. Para mim se sou escoteiro a Lei tem de
ser levada a sério. Gosto de repetir uma lei que diziam ser a decima primeira
de Baden-Powell: - “O Escoteiro é puro nos seus pensamentos, nas suas palavras
e nas suas ações”. Nada mais a dizer...
Nota – Este artigo não
se dirige a nenhum dos meus amigos e também não é uma metáfora do escotismo de
hoje. Sei da grandeza dos meus irmãos escoteiros. Sei que aonde reside o Espirito
de Baden-Powell o respeito à ética e o caráter prevalecem na formação e no
exemplo. Fraternos abraços!