Conversa ao pé do fogo.
“Castas” – existem no
escotismo?
No ideal de Baden-Powell
não. Mas em alguns países dentre eles o Brasil existem sim. “Na sociedade
liberal, vivemos em uma cultura onde muitos acreditam que qualquer um pode
ascender em termos sociais e econômicos por meio de riquezas acumuladas”. Na Índia,
trabalho e riqueza são parâmetros insuficientes para que possamos compreender a
ordenação que configura a posição ocupada por cada indivíduo. Nesse país, o
chamado regime de castas se utiliza de critérios da natureza religiosa e
hereditária para formar seus grupos sociais.
- Entende-se em sociologia,
que castos são sistemas tradicionais, hereditários ou sociais de
estratificação, ao abrigo da lei ou da prática comum, com base em
classificações tais como a raça, a cultura, a ocupação profissional, etc.
Sei que muitos ficam em dúvida se estou
certo ou errado. Mas amigo preste atenção e vais ver que no escotismo tem um
bom número de chefes que se acham previlegiados. Sem perceber ele pensam que
pertencem a “Casta do Grande Irmão de Gilwell, do Chefão do dirigente ou até
mesmo do Professor que chamam Formadores”. Pelo cargo, pelo seu tempo de movimento ou mesmo
pelo seu gráu de conhecimento escoteiro ele se julga importante e tem o previlegio
de pertencer a uma “casta” que poucos conseguem.
Quanto mais títulos
melhor. Os novos ficam admirados, outros ficam desejando ser igual. Sabemos que
nem todos são assim alvorassados. Seus ideais são os de ajudar uma juventude
que busca no escotismo uma outra maneira de viver. Ver alguns com esse sonho é patético
para não dizer dramático assistir a esse espetaculo de ver alguns cidadãos que
se acham acima da fraternidade que tão bem nos caracteriza.
Qualquer um que labuta há mais de seis meses
no escotismo sabe que são poucos, mas existem. Às vezes tem figuras tão bizarras
que dá vontade de rir. Outro dia comentei com alguns amigos que se continuar
assim, teremos em breve alguns deles dizendo: - “Sabem com quem está falando”?
Rs... Sob o ponto de vista linguistico é uma frase feita. Talvez o agravante do
singnificado encontra-se justamente nas circunstancias em que ela é proferida.
O tom de voz, o status de querer ser. Não duvidem. Temos sim no Escotismo
brasileiro e até mesmo em muitos países de chefes que se julgam o melhor.
Há um sonho abstrato de uns poucos (que
incomodam) em participar ou ser desta casta que acreditam ser importante. –
Sonham em ser Insígnia de Madeira, Dirigentes Nacionais Regionais ou
Distritais, Comissários, Formadores e por fim ser quando “crescer” um Velho
Lobo. Dá tristesa ver a subserviencia de alguns chefes tentando conseguir o seu
“taquinho”. Conheci um que fez tudo para conquistar um deles. Quando recebeu
ficou doente por cinco meses. Maldição? Risos. Pode ser.
Não me levem a mal, não
quero generalisar. Quem sabe eu sou um deles? Não vivo aqui dizendo isso e
aquilo como se Baden-Powell tivesse me escolhido para ser seu representante? Pode
até ser, mas detesto superioridade. Detesto o maioral que não se coloca em seu
lugar. Abdiquei-me de muito penduricalhos e hoje me conformo em ser um simples
Velho Chefe Escoteiro.
Fernando Pessoa, um célebre poeta escreveu:
– “Precisar dominar os outros é precisar dos outros”. Será que o chefe é
dependente deste estado de coisas? Podem me dizer que isto deve existir para
que nossa disciplina seja conseguida, afinal somos um movimento educacional sem
o caráter de obrigação profissional. Mas vale a pena então ter esta sêde de
poder surda e absurda praticada em diversos orgãos escoteiros? Zé das Quantas humilde
chefe Escoteiro de Brejo Seco acredita que não.
Pense bem, um movimento como o nosso, sem
salário, desgastante onde muitos pagam para ajudar os jovens e aparecem esses “bibelôs”
se achando superiores? O pior é seu risinho, seus passinhos, sua pose de grande
chefe. E se tivessemos salário para essa cambanda? Seria o caos. Ainda bem que são
em número irrisorio. Mas como irritam. Se um dia duvidar meu amigo, vá a um
encontro nacional, olhe com olhos de lince da simplicidade e vais ver que não
estou mentindo.
Sem desmerecer os que
foram outorgados com as grandes condecorações por merecimento, principalmente o
Tapir de Prata, tem outros cujo sonho é chegar lá. Ser agraciado em uma grande
atividade nacional. Quem sabe no seu ego pensam: - Agora posso morrer em paz! Grita o Zé das Quantas: - Tapir neles!
Quando resolvi não mais me registrar na UEB,
abdiquei de reconhecimentos que poderia receber se estivesse ao lado deles. Não
digo que nunca sonhei, mas hoje me contenho no que sou e tenho. Uma vez disse
aqui que meu registro não está à venda. Era condição “Sine qua non” para
receber a Medalha Velho lobo. Agradeci a gentileza. Escolhi ser livre, quem
sabe indisciplinado. Lutando pelo que acredito e pelos meus ideais.