Conversa
ao Pé do fogo.
Os irmãos
Villas-Bôas, heróis do Xingu.
Aqueles
que deram dignidade aos índios.
Interessante que nós os Escoteiros do Brasil pouco falamos, pouco lemos e
quase não conhecemos a história dos maiores sertanistas Brasileiros, o que é um
paradoxo, já que vivemos fazendo escotismo na vida ao ar livre, preservando a natureza
e obedecendo a Lei do Escoteiro que muito diz da proteção do homem
principalmente nossos indígenas.
Poucas histórias são tão espetaculares quanto à dos irmãos Villas Bôas.
Filhos de um advogado do interior paulista, Orlando, Cláudio e Leonardo,
nascidos na década de 1910, tinham tudo para acabar na capital como altos
funcionários do governo. Mas decidiram – mais por impulso juvenil do que por
ideologia – partir para “aventuras tão ousadas e generosas que seriam
impensáveis, se eles não as tivessem vivido”, como descreveu o antropólogo
Darcy Ribeiro. Graças a seu ímpeto, a cultura (e a vida) de milhares de índios
brasileiros foi resguardada.
Era começo
dos anos 1940. Inspirada no modelo americano de ocupação, que não se preocupava
com a sobrevivência física ou cultural dos índios, a ditadura de Getúlio Vargas
planejava explorar os vazios demográficos brasileiros. Os cerca de 40 milhões
de habitantes do país viviam restritos à faixa litorânea. O Brasil Central era
algo tão remoto quanto à África. A disputa por espaços nacionais, em evidência
na época da Segunda Guerra Mundial, justificava a expansão rumo às manchas
brancas do mapa. Caberia a caboclos anônimos, de preferência obedientes e sem
instrução, adentrar as terras e fincar bandeira.
A notícia da expedição ao oeste, batizada de Roncador-Xingu, chegou ao
interior de São Paulo. Os irmãos Villas Bôas embarcaram em busca do
desconhecido. Para garantir uma vaga na caravana, usaram de um subterfúgio:
botaram vestes de peão e se declararam analfabetos – os recrutadores esperavam
mateiros rudes, não jovens intelectuais de braços finos. Reprovados na primeira
tentativa foram aceitos na segunda. Tal como os bandeirantes, que desbravaram o
Brasil no século XVII com o intuito de capturar índios, os irmãos partiram numa
nova marcha às terras nunca alcançadas pelo homem branco. Desta vez, os índios
não foram vítimas.
Por fim, cabe
registrar que no roteiro da Expedição Roncador-Xingu, órgão da vanguarda da
Fundação Brasil Central, em toda a sua extensão entre os Rios Araguaia e
Mortes, Mortes e Kuluene (região da Serra do Roncador), Kuluene-Xingu
(abrangendo extenso vale), Xingu-Mauritsauá (cobrindo ampla região do Rio Teles
Pires ou São Manuel, alcançando, ainda, a encosta e o alto da Serra do
Cachimbo, nasceram mais de quarenta municípios e vilas, quatro bases de
proteção de voo do Ministério da Aeronáutica, dentre as quais se destaca a Base
da Serra do Cachimbo.
- Ao contrário da previsão
de muito, Orlando Villas-Bôas e seus irmãos entraram em contato com 14 povos
indígenas que viviam isolados dentro da Floresta Amazônica e em sociedades de
caçadores e coletores, enquanto na Europa se encarava a modernidade, o sangue
nos campos de batalha e era erguida a Cortina de Ferro.
- As quase 50 aldeias em que viviam os
índios estavam às margens do Rio Xingu, que nunca haviam tido contato com as sociedades
externas apesar de portugueses e espanhóis terem descoberto o continente há
cinco séculos. Como se fosse uma novela, os irmãos Villas-Boas negociaram com
líderes indígenas para que estes permitissem que a expedição seguisse seu
caminho.
- Antropólogos, que
posteriormente utilizaram as notas de Villas-Bôas, entre eles Carmen Junqueira,
afirmaram que a exploração rompeu com a tradição desenvolvida até então no
Brasil e abriu espaço para a convivência pacífica com os índios.
- Até então, o
extermínio dos indígenas era regra e aqueles que se aventuravam na floresta,
fundamentalmente fazendeiros que ocupavam imensas quantidades de terra para a
exploração agrária, consideravam os índios selvagens que não mereciam misericórdia.
Foi quando,
conscientes de que as sociedades indígenas se aproximavam da civilização
através das rotas que eles mesmos tinham aberto, decidiram estabelecer
mecanismos de proteção. Orlando, junto com seu irmão Claudio, o antropólogo
Darcy Ribeiro e o médico Noel Nutels promoveram a criação do Parque Nacional do
Xingu, um espaço de 27 mil quilômetros quadrados onde os índios estariam
protegidos e que os permitiriam manter seu modo de vida.
Nesse espaço, 15
tribos, que antes só guerreavam, aprenderam a conviver e a se organizar. Hoje,
o Parque do Xingu é um exemplo de coexistência pacífica e, 53 anos após sua
fundação, os povos que ali habitam ainda mantêm suas tradições e o contato com
o homem branco atenuado pelo tempo, sem mudar radicalmente seus costumes.
Sob o controle da Fundação
Nacional do Índio (FUNAI), e com acesso restrito a menos que haja permissão
local, o Parque Nacional de Xingu mantém vivo o sonho de Orlando Villas-Bôas.
A permanência efetiva dos irmãos Villas-Bôas na
área do sertão foi de 42 anos.
Nota – - Foram
os índios que nos deram um continente para que o tornássemos uma nação. Temos
para com os índios uma divida que não está sendo paga! – Desde o descobrimento,
o homem branco destrói a cultura indígena. Primeiro, foi para salvar sua alma,
depois para roubar sua terra! – Orlando Villas-Bôas famoso sertanista, viajante
e escritor brasileiro. Artigo copiado de postagens da Internet).