segunda-feira, 9 de abril de 2018

Conversa ao Pé do fogo. Os irmãos Villas-Bôas, heróis do Xingu. Aqueles que deram dignidade aos índios.



Conversa ao Pé do fogo.
Os irmãos Villas-Bôas, heróis do Xingu.
Aqueles que deram dignidade aos índios.

                     Interessante que nós os Escoteiros do Brasil pouco falamos, pouco lemos e quase não conhecemos a história dos maiores sertanistas Brasileiros, o que é um paradoxo, já que vivemos fazendo escotismo na vida ao ar livre, preservando a natureza e obedecendo a Lei do Escoteiro que muito diz da proteção do homem principalmente nossos indígenas.

                   Poucas histórias são tão espetaculares quanto à dos irmãos Villas Bôas. Filhos de um advogado do interior paulista, Orlando, Cláudio e Leonardo, nascidos na década de 1910, tinham tudo para acabar na capital como altos funcionários do governo. Mas decidiram – mais por impulso juvenil do que por ideologia – partir para “aventuras tão ousadas e generosas que seriam impensáveis, se eles não as tivessem vivido”, como descreveu o antropólogo Darcy Ribeiro. Graças a seu ímpeto, a cultura (e a vida) de milhares de índios brasileiros foi resguardada.

 Era começo dos anos 1940. Inspirada no modelo americano de ocupação, que não se preocupava com a sobrevivência física ou cultural dos índios, a ditadura de Getúlio Vargas planejava explorar os vazios demográficos brasileiros. Os cerca de 40 milhões de habitantes do país viviam restritos à faixa litorânea. O Brasil Central era algo tão remoto quanto à África. A disputa por espaços nacionais, em evidência na época da Segunda Guerra Mundial, justificava a expansão rumo às manchas brancas do mapa. Caberia a caboclos anônimos, de preferência obedientes e sem instrução, adentrar as terras e fincar bandeira.

                     A notícia da expedição ao oeste, batizada de Roncador-Xingu, chegou ao interior de São Paulo. Os irmãos Villas Bôas embarcaram em busca do desconhecido. Para garantir uma vaga na caravana, usaram de um subterfúgio: botaram vestes de peão e se declararam analfabetos – os recrutadores esperavam mateiros rudes, não jovens intelectuais de braços finos. Reprovados na primeira tentativa foram aceitos na segunda. Tal como os bandeirantes, que desbravaram o Brasil no século XVII com o intuito de capturar índios, os irmãos partiram numa nova marcha às terras nunca alcançadas pelo homem branco. Desta vez, os índios não foram vítimas.

                         Por fim, cabe registrar que no roteiro da Expedição Roncador-Xingu, órgão da vanguarda da Fundação Brasil Central, em toda a sua extensão entre os Rios Araguaia e Mortes, Mortes e Kuluene (região da Serra do Roncador), Kuluene-Xingu (abrangendo extenso vale), Xingu-Mauritsauá (cobrindo ampla região do Rio Teles Pires ou São Manuel, alcançando, ainda, a encosta e o alto da Serra do Cachimbo, nasceram mais de quarenta municípios e vilas, quatro bases de proteção de voo do Ministério da Aeronáutica, dentre as quais se destaca a Base da Serra do Cachimbo.

                     - Ao contrário da previsão de muito, Orlando Villas-Bôas e seus irmãos entraram em contato com 14 povos indígenas que viviam isolados dentro da Floresta Amazônica e em sociedades de caçadores e coletores, enquanto na Europa se encarava a modernidade, o sangue nos campos de batalha e era erguida a Cortina de Ferro.

                        - As quase 50 aldeias em que viviam os índios estavam às margens do Rio Xingu, que nunca haviam tido contato com as sociedades externas apesar de portugueses e espanhóis terem descoberto o continente há cinco séculos. Como se fosse uma novela, os irmãos Villas-Boas negociaram com líderes indígenas para que estes permitissem que a expedição seguisse seu caminho.

                         - Antropólogos, que posteriormente utilizaram as notas de Villas-Bôas, entre eles Carmen Junqueira, afirmaram que a exploração rompeu com a tradição desenvolvida até então no Brasil e abriu espaço para a convivência pacífica com os índios.

                           - Até então, o extermínio dos indígenas era regra e aqueles que se aventuravam na floresta, fundamentalmente fazendeiros que ocupavam imensas quantidades de terra para a exploração agrária, consideravam os índios selvagens que não mereciam misericórdia.

                          Foi quando, conscientes de que as sociedades indígenas se aproximavam da civilização através das rotas que eles mesmos tinham aberto, decidiram estabelecer mecanismos de proteção. Orlando, junto com seu irmão Claudio, o antropólogo Darcy Ribeiro e o médico Noel Nutels promoveram a criação do Parque Nacional do Xingu, um espaço de 27 mil quilômetros quadrados onde os índios estariam protegidos e que os permitiriam manter seu modo de vida.

                         Nesse espaço, 15 tribos, que antes só guerreavam, aprenderam a conviver e a se organizar. Hoje, o Parque do Xingu é um exemplo de coexistência pacífica e, 53 anos após sua fundação, os povos que ali habitam ainda mantêm suas tradições e o contato com o homem branco atenuado pelo tempo, sem mudar radicalmente seus costumes.

Sob o controle da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e com acesso restrito a menos que haja permissão local, o Parque Nacional de Xingu mantém vivo o sonho de Orlando Villas-Bôas. 

A permanência efetiva dos irmãos Villas-Bôas na área do sertão foi de 42 anos.

Nota – - Foram os índios que nos deram um continente para que o tornássemos uma nação. Temos para com os índios uma divida que não está sendo paga! – Desde o descobrimento, o homem branco destrói a cultura indígena. Primeiro, foi para salvar sua alma, depois para roubar sua terra! – Orlando Villas-Bôas famoso sertanista, viajante e escritor brasileiro. Artigo copiado de postagens da Internet).