Crônica de Um
velho Chefe Escoteiro...
Melodias...
Canções... Cantigas e toadas Escoteiras.
... – Diz um antigo ditado que “a música amansa as feras”, e
tem um efeito poderoso sobre nós. Você está andando na rua, imerso em seus
problemas cotidianos e de repente ouve uma música: Poucos acordes
são suficientes para iniciar uma viagem no tempo e trazer ao presente
lembranças já esquecidas. Uma melodia simples é capaz de despertar suas
emoções, trazer um sorriso para o seu rosto e esquecer por alguns momentos as
preocupações do dia a dia.
Um Chefe um dia me
disse: - Porque não cantam mais as canções tradicionais escoteiras?
Tradicionais? Pensei qual seria o gênero musical para denominar musica
tradicional escoteira. Seria musica folclórica? Ou aquela transmitida de viva
voz ao longo das gerações escoteiras? Pensei com meus botões... Será que ele
tinha razão? Tudo está mudando e quem sabe nas diversas sessões escoteiras não
existem mais os chefes com mais vivencia no escotismo para ensinar a cantar a
nossa Tradicional Musica Escoteira com amor. Temos muitas, temos melodias,
temos cantigas e até toadas não esquecendo o Quebra Coco uma linda musica
nordestina de Cordel.
Muitos chefes
escreveram e deixaram nas minhas páginas da internet “Cancioneiros” que se
tornaram lendas, mas que ficaram no esquecimento da memória dos jovens de hoje.
Pensar que agora seria impossível ter uma roda de amigos escoteiros, em volta
do fogo, em uma noite linda sapecada de estrelas, uma lua “bunita que nem um
queijo” um céu convidativo, uma viola cantante tocando ao amanhecer... ”Acorda
escoteiro, acorda, que o galo já cantou”. E na barraca molhada do sereno da
madrugada ele chega à porta e canta sorrindo... “Cantou, cantou? Cantou,
cantou, cantou”! Lembro-me de Zé Duarte, um pioneiro com sua viola mágica, um
sorriso gostoso, olhava além da mata e dedilhava e o som do violão corria na
penumbra da floresta: “Vem depressa correndo escoteiro, ajudar o cozinheiro, a
fazer o jantar"... Supimpa, supimpa, Parazibum, zibum!
Quantas saudades...
Melodias que entraram na mente e ficaram para sempre morando na alma... No
fundo do coração... Ao som de um violão, uma harmônica, uma flauta mágica, ou
até o Guia da Tropa Zé Pereira tocando seu pandeiro era bom o ouvir cantando...
“De BP trago o espírito, sempre na mente, sempre na mente”... Pato Negro, um
sênior da Tropa Condor, tinha o dom com uma pequena panela de alumínio, fazia
duas “baquetas” pequenas e a musica levada pela saudade se espalhava pelas
campinas... “Está tudo azul, o caminho aberto, sopra o vento sul tudo dando
certo”... E quando a noite chegava, lá estava o Cozinheiro da patrulha Morcego Trindade
Zulu, com sua flauta mágica tocando baixinho fazendo os escoteiros chorar...
“Prometo nesse dia, cumprir a Lei, sou teu Escoteiro Senhor e Rei”! E quando
ele tocava A Canção da Despedida? Ai, ai meu Deus! Se não me arrebento eu
choro... Putz! Quantas saudades.
Não dá para esquecer Zé
Amâncio, um Chefe violeiro das antigas de uma cidade do sul de Minas Gerais,
que não deixava ninguém gritar alto quando cantavam uma canção escoteira. Fazia
questão de ensinar o Bê-á-bá de como um coral se formava e cantava... Era
“Bunito” de ouvir e ver a tropa cantar... “A árvore da montanha, o Cucu, Põe
tuas mágoas no bornal, Adeus montes e vales, Cumbayah, Lá bela polenta, Canção
de Gilwell, Canção do Clã, Guin-gan-guli, Foi Tupã, Ascenda à fogueira, e para dormir
cantavam Boa noite Escoteiro"... Nossa! Tinha canções prá dar e vender,
todas tradicionais cantadas pelos bisavós escoteiros até o lobinho
recém-nascido no escotismo. Tristão Corneteiro ficou famoso com seu clarim
quando tocava nas noites e nas madrugas o Silêncio e o Toque do Alvorecer... “Em
silêncio acampamento”... Este canto vinde ouvir, são fagulhas na fogueira que
nos dizem... Escoteiros a servir!
Mas o tempo foi
passando, os Velhos Escoteiros cantantes deixaram de existir. Tudo é novo no
pedaço, agora as canções são outras. Algumas até guapa, catita, outras belas e
muitas bem-posta com a turma cantando alto e dançando conforme o bailado
demanda. As musicas, as canções, as melodias que o Escoteiro e o Lobinho
cantaram nos seus idos tempos, foram levadas pelo vento e como disse o poeta: “O
vento toca o meu rosto me lembrando que o tempo vai com ele”... Levando em suas
asas os meus dias, desta vida passageira minhas certezas, meus defeitos nada
pode detê-lo, mas algo o tempo vai guardar, e eu no meu coração guardarei,
minhas canções minhas velhas melodias que o tempo não vai apagar!
- E viajo no tempo, no
meu Curso da Insígnia da Madeira, lá pelos idos de 1963 ou 64, chefes esparramados
em volta da fogueira na ultima noite de curso, todos sentados à moda índia e
vejo o Chefe Francisco Floriano em pé, olhando firme para os presentes com sua
voz que nunca esqueci, no seu trejeito de contador de historias começava a
narrar: Havia um pequeno arraial, na beira do Lago Grande Urso no noroeste do
Canadá cujos moradores dependiam para viver da caça aos Castores com suas peles.
Quando chegava a época da caçada eles partiam em bando em suas canoas e suas esposas
e filhos acenavam para eles desejando boa caçada. Quando elas ouviam a canção
Terra do Belo Olmeiro sabiam que a caça foi mal. Chorosas ao ver os maridos
chegando cantando a canção ao som da batida do remo no lago, tristes e
desiludidos elas choravam com eles na beira do cais e também cantavam... Bum,
tiriati bum...
- “Terra do
belo Olmeiro, lar do castor...
Terra onde o
alce airoso, é o senhor...
Há um lago
azul rochoso, eu voltarei de novo...
Bum tiriati,
bum tiriati bum...
Tenho
saudades daqui, dessas campinas,
Ao norte eu
voltarei, para as colinas,
“Há um lago
azul rochoso lá eu voltarei de novo”!
Canção que nunca mais
esqueci!