sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Crônica de Um velho Chefe Escoteiro... Melodias... Canções... Cantigas e toadas Escoteiras.




Crônica de Um velho Chefe Escoteiro...
Melodias... Canções... Cantigas e toadas Escoteiras.

... – Diz um antigo ditado que “a música amansa as feras”, e tem um efeito poderoso sobre nós. Você está andando na rua, imerso em seus problemas cotidianos e de repente ouve uma música: Poucos acordes são suficientes para iniciar uma viagem no tempo e trazer ao presente lembranças já esquecidas. Uma melodia simples é capaz de despertar suas emoções, trazer um sorriso para o seu rosto e esquecer por alguns momentos as preocupações do dia a dia.

Um Chefe um dia me disse: - Porque não cantam mais as canções tradicionais escoteiras? Tradicionais? Pensei qual seria o gênero musical para denominar musica tradicional escoteira. Seria musica folclórica? Ou aquela transmitida de viva voz ao longo das gerações escoteiras? Pensei com meus botões... Será que ele tinha razão? Tudo está mudando e quem sabe nas diversas sessões escoteiras não existem mais os chefes com mais vivencia no escotismo para ensinar a cantar a nossa Tradicional Musica Escoteira com amor. Temos muitas, temos melodias, temos cantigas e até toadas não esquecendo o Quebra Coco uma linda musica nordestina de Cordel.

Muitos chefes escreveram e deixaram nas minhas páginas da internet “Cancioneiros” que se tornaram lendas, mas que ficaram no esquecimento da memória dos jovens de hoje. Pensar que agora seria impossível ter uma roda de amigos escoteiros, em volta do fogo, em uma noite linda sapecada de estrelas, uma lua “bunita que nem um queijo” um céu convidativo, uma viola cantante tocando ao amanhecer... ”Acorda escoteiro, acorda, que o galo já cantou”. E na barraca molhada do sereno da madrugada ele chega à porta e canta sorrindo... “Cantou, cantou? Cantou, cantou, cantou”! Lembro-me de Zé Duarte, um pioneiro com sua viola mágica, um sorriso gostoso, olhava além da mata e dedilhava e o som do violão corria na penumbra da floresta: “Vem depressa correndo escoteiro, ajudar o cozinheiro, a fazer o jantar"... Supimpa, supimpa, Parazibum, zibum!

Quantas saudades... Melodias que entraram na mente e ficaram para sempre morando na alma... No fundo do coração... Ao som de um violão, uma harmônica, uma flauta mágica, ou até o Guia da Tropa Zé Pereira tocando seu pandeiro era bom o ouvir cantando... “De BP trago o espírito, sempre na mente, sempre na mente”... Pato Negro, um sênior da Tropa Condor, tinha o dom com uma pequena panela de alumínio, fazia duas “baquetas” pequenas e a musica levada pela saudade se espalhava pelas campinas... “Está tudo azul, o caminho aberto, sopra o vento sul tudo dando certo”... E quando a noite chegava, lá estava o Cozinheiro da patrulha Morcego Trindade Zulu, com sua flauta mágica tocando baixinho fazendo os escoteiros chorar... “Prometo nesse dia, cumprir a Lei, sou teu Escoteiro Senhor e Rei”! E quando ele tocava A Canção da Despedida? Ai, ai meu Deus! Se não me arrebento eu choro... Putz! Quantas saudades.

Não dá para esquecer Zé Amâncio, um Chefe violeiro das antigas de uma cidade do sul de Minas Gerais, que não deixava ninguém gritar alto quando cantavam uma canção escoteira. Fazia questão de ensinar o Bê-á-bá de como um coral se formava e cantava... Era “Bunito” de ouvir e ver a tropa cantar... “A árvore da montanha, o Cucu, Põe tuas mágoas no bornal, Adeus montes e vales, Cumbayah, Lá bela polenta, Canção de Gilwell, Canção do Clã, Guin-gan-guli, Foi Tupã, Ascenda à fogueira, e para dormir cantavam Boa noite Escoteiro"... Nossa! Tinha canções prá dar e vender, todas tradicionais cantadas pelos bisavós escoteiros até o lobinho recém-nascido no escotismo. Tristão Corneteiro ficou famoso com seu clarim quando tocava nas noites e nas madrugas o Silêncio e o Toque do Alvorecer... “Em silêncio acampamento”... Este canto vinde ouvir, são fagulhas na fogueira que nos dizem... Escoteiros a servir!

Mas o tempo foi passando, os Velhos Escoteiros cantantes deixaram de existir. Tudo é novo no pedaço, agora as canções são outras. Algumas até guapa, catita, outras belas e muitas bem-posta com a turma cantando alto e dançando conforme o bailado demanda. As musicas, as canções, as melodias que o Escoteiro e o Lobinho cantaram nos seus idos tempos, foram levadas pelo vento e como disse o poeta: “O vento toca o meu rosto me lembrando que o tempo vai com ele”... Levando em suas asas os meus dias, desta vida passageira minhas certezas, meus defeitos nada pode detê-lo, mas algo o tempo vai guardar, e eu no meu coração guardarei, minhas canções minhas velhas melodias que o tempo não vai apagar!

- E viajo no tempo, no meu Curso da Insígnia da Madeira, lá pelos idos de 1963 ou 64, chefes esparramados em volta da fogueira na ultima noite de curso, todos sentados à moda índia e vejo o Chefe Francisco Floriano em pé, olhando firme para os presentes com sua voz que nunca esqueci, no seu trejeito de contador de historias começava a narrar: Havia um pequeno arraial, na beira do Lago Grande Urso no noroeste do Canadá cujos moradores dependiam para viver da caça aos Castores com suas peles. Quando chegava a época da caçada eles partiam em bando em suas canoas e suas esposas e filhos acenavam para eles desejando boa caçada. Quando elas ouviam a canção Terra do Belo Olmeiro sabiam que a caça foi mal. Chorosas ao ver os maridos chegando cantando a canção ao som da batida do remo no lago, tristes e desiludidos elas choravam com eles na beira do cais e também cantavam... Bum, tiriati bum...

- “Terra do belo Olmeiro, lar do castor...
Terra onde o alce airoso, é o senhor...
Há um lago azul rochoso, eu voltarei de novo...
Bum tiriati, bum tiriati bum...
Tenho saudades daqui, dessas campinas,
Ao norte eu voltarei, para as colinas,
“Há um lago azul rochoso lá eu voltarei de novo”!

Canção que nunca mais esqueci!