Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
E quem disse
que somos Velhos lobos?
Sinceramente tenho
andado indiferente com o tal Escotismo Moderno. Deixei na berlinda minha
participação em grupos escoteiros há algum tempo. Quando tentei ajudar notei
que não era bem vindo. Mais tarde vi que a própria Escoteiros do Brasil tinha
uma norma enviada a todos os grupos alertando na aproximação de antigos
escoteiros. Eles nem sempre eram bem vindos. Que se tomasse cuidado, pois a
maioria iria querer coagir os chefes do escotismo do seu tempo que julgam ser o
melhor. A principio concordei. Se participasse em um grupo formado iria
sugerir, manifestar e aconselhar o que pensava e ainda penso sobre o Escotismo
de BP. Ao ultimo grupo que ofereci meus préstimos não fui bem vindo. Basta
dizer que na minha área onde moro existem diversos grupos e nenhum deles me
convidou para uma palestra, para um bate papo ou para um aconselhamento.
Compreendo...
Montei meu castelo escoteiro
nas páginas das redes sociais. Com o passar do tempo vi que os visitantes faziam
questão de me cumprimentar, mas poucos muito poucos deram ouvidos no que dizia
em meus escritos. De BP falei centenas, de outros grandes nomes do escotismo
outros tantos. Os escassos comentários postados não diziam quase nada com o
tema desenvolvido. Tenho sim uma legião sincera de amigos, que lamento não
poder apertar a mão, que ao seu modo procuram assimilar e compreender aonde
quero chegar. Mas é pisada na lama e com perigo de escorregar. Os tais Assessores
Pessoais são instruídos a manter sob rédea curta o aprendizado de seus pupilos
conforme prescreve as normas da EB. Nem mesmo as novas associações escoteiras
intituladas de Tradicionais mantem vínculo com o que acredito ser o verdadeiro
escotismo tradicional de BP. Cada uma tem sua crença, sua lógica e seu
pensamento do que é tradição.
E eis que dignamente,
um amigo letrado, participante ativo do escotismo fraterno e colunista dos
bons, me comparou a outro Chefe Escoteiro que como eu labuta nestas páginas tentando
mostrar a verdadeira metodologia do Escotismo de Baden-Powell. Disse ele que não
praticamos o escotismo. Ambos vivemos escoteiramente! Tocou no ponto “G”
Escoteiro de cada um. Desculpe nada ver com o ponto do Ginecologista alemão Ernst
Grafenberg. Pensando bem não há uma explicação lógica para isto. Eu e ele somos
dois escoteiros com o mesmo ideal, mas com caminhos diferentes. Nasci em uma
tropa onde os chefes quase não apareciam na sede e nos davam liberdade de ir e
vir desde que aprovado pelos pais. Cada um de nós tinha de lutar para conseguir
seus uniformes e trecos escoteiros. Eu engraxei, limpei quintais, capinei,
lavei carroças e levei burros para pastar fora da cidade.
Na tropa que participei
a programação quem fazia eram os monitores de comum acordo com o guia de tropa.
Dava sono às vezes que nos reuníamos na sede e quando isso acontecia os jogos
eram conhecidos. Briga de galo, quebra canela Salto em altura e Saltem o
obstáculo não faltando à luta do Scalp. Adorávamos também devidamente acompanhada
por Giba um Escoteiro da Falcão bom violeiro cantar canções e a nossa preferida
era a Arvore da Montanha e sempre no final nosso amado “Quebra Coco”. Os
campeões nesta época sobressaiam. Interessantes que os campeões não duravam
muito tempo. As patrulhas acampavam sozinhas, e duas ou três vezes ao ano o Guia
preparava um acampamento com todas as demais patrulhas, neste caso o Chefe aparecia,
mas a programação, o cardápio e os “trecos de Patrulha” já estavam prontos.
Arroz feijão, batata e macarrão. Era nossa ração que cada um levava no bornal devidamente
separado pela “mamãe” que não deixava nada faltar. No campo na floresta nos
rios e córregos tinha a mistura que precisávamos. Errado isso? Não sei.
Todos aqueles que
participaram naquela época ficaram por muito tempo escoteirando e alguns foram
escoteiros por toda a vida. Quando cresci tentei seguir o rumo do meu
aprendizado em cursos bem diferente do que eu praticava, salvo a vida ao ar
livre. Confesso que não me dei bem e só acertei quando deixei os meninos darem
seus primeiros passos de liberdade. Hoje eu e o meu amigo envelhecemos, dizem
que somos o farol a iluminar o caminho dos novos chefes. Ledo engano. Ele tem carta
branca em diversos grupos e é sempre convidado para atividades especiais e até
mesmo para conferencia e palestras. Ele sempre foi competente neste mister e eu
nem tanto. Como sou um combatente sem armas contra o sistema de hoje não tenho
muitos simpatizantes na alta cúpula e ele ao contrário é muito bem quisto.
Alguns gostam de ler o que escrevemos, mas não arredam o pé do que fazem e do
que aprenderam no novo caminho chamado pelos pedagogos e novos mestres como “Escotismo
Moderno”.
Às vezes penso em
guardar minha barraca no almoxarifado da “Lobo” assim como meus “trecos
escoteiros” deixando só para alguns poucos meus alfarrábios espalhados por
interesse de alguns. Pena que nem um livro tive a honra de fazer e editar. Uma leitora
Escoteira amiga que sempre está presente nas minhas publicações foi enfática em
dizer que as minhas lembranças do “meu tempo” de escotismo são lindas para ler,
mas não para seguir. Acho que ela está certa. Comungo com o meu amigo dos
mesmos ideais, diferimos somente na escolha do caminho. O meu já cheguei à
conclusão que não levará a lugar nenhum. Há anos escrevendo vejo que não há “nada
de novo no front” do escotismo que sonhei! Dificilmente vou desistir. Como meu
amigo sei que habitamos o mesmo espaço de Baden-Powell e como disse Kaa somos
do mesmo sangue, mas eu não sou Mowgly e ele não é Akelá. Vivemos em alcateias
diferentes, quem sabe um de nós do lado de cá do Waingunga e o outro nas
montanhas de Seeonee. Breve estaremos pendurando nossos uniformes, e só ficaremos
nas lembranças daqueles que se aventuraram a nos seguir. Quem sabe iremos no encontrar
devidamente uniformizados em outra estrela que já estão reservadas para nós...
Bem longe da terra lá no céu de Lord Baden-Powell.