Uma crônica para lembrar.
Os Velhos Escoteiros da Patrulha
Lobo.
- Eram patrulheiros da Lobo. Agora uma Patrulha de Velhos
Chefes que não esqueciam seu passado. Reunidos em volta da fogueira davam belas
risadas quando alguém contava os velhos tempos saudosos quando escoteiros. Na
mente cada um pensava quanto daria para voltar no tempo... - Lembra Rael quando
me ensinou a afiar uma ferramenta com perfeição? Rael riu e completou: Nunca
esqueci. Nem mesmo quando transmiti 35 letras por minuto em semáforas no Morro
da Anunciação. Tãozinho sorrindo disse que nunca esqueceu quando construíram uma
pequena cigarra transmitindo Morse do Morro da Viúva até a casa do Chefe João
Soldado. Chiquinho nem falou. Nem precisava. Afinal todos o viram acender sua
fogueira com um palito, preparada por ele sozinho. Ascendeu de costas pra ela.
Que beleza de fogo! Na hora do batismo viram o Chefe João Soldado gritar: - Que
nome escolheu? – Chefe, escolhi Guaraci, filho de Tupã um Deus Tupi-Guarani,
serei o sol a iluminar os irmãos por toda vida! E todos ficaram de pé, para ver
Darcy pego pelas mãos do Chefe João saltar três vezes a fogueira gritando; -
Guaraci! Guaraci! Guaraci!
- O tempo passa... O tempo voa. O calor da fogueira
não deixava o frio chegar. Romildo o Monitor sorria com as lembranças de seus
patrulheiros. Agora velho, cabelos brancos lembrava quando tentou ensinar Fumanchu
o cozinheiro a fazer arroz sem panelas... Kkkkkk! Não deu certo, o arroz
derreteu na cuia feita de Alocásia, uma folha tropical que hoje desapareceu das
matas brasileiras. Fumanchu ficou em pé. Todos conheciam suas habilidades na
cozinha. Calejado pescador era um mestre na pesca de lambaris “Bocarra”, bagres
traíras e belas espécies de Acará. Suas fritadas com peixes na farinha de
mandioca deu fama como o maior cozinheiro do Grupo Escoteiro São Jorge. Fiquei
em pé e falei: - Lembram o Ninho de Águia que eu e o Rael construímos em
Tumiritinga? Romildo o Monitor retrucou que se lembrava da Barraca Suspensa que
Fumanchu, Tãozinho e eu fizemos. Balançava com o vento, mas e daí? Quem se
importou? À noite a chuva chegou, o vento aumentou, três escoteiros voaram no
chão. Sorte, muita sorte, madeira caiu de um lado e eles do outro. Kkkkk.
- Darcy calado lembrava-se da sua expertise. Ele se
considerava o melhor escoteiro observador da Patrulha Lobo. Quase conseguiu
tocar no rabo de uma Raposinha do cerrado na Mata do Rio Pomba. E que susto deu
no Tucano Toco, ave conhecida como tucanuçu, enorme bico e que fica observando
sua fêmea a cuidar de seus filhotes. Dizem que é uma ave dócil e mansa, mas eu
não acredito. O papo corria, Chiquinho bom de viola começou a tocar... Todos
cantavam com ele: “Acampei lá na montanha, de manhã fiz meu café, arrumei minha
mochila e toquei prá frente a pé”! As lembranças corriam na mente de cada um...
Romildo deu uma gargalhada quando se lembrou do Touro Guzerá raspando a pata e
partindo em cima deles. Cada um se safou como pode. Chiquinho o menorzinho da Patrulha
nunca se esqueceu do seu cocoruco no cotovelo proveniente da queda quando subiu
em um jacarandá e deu de cara com um Bicho Preguiça. Levou um susto e caiu lá
de cima! Vocês fizeram uma péssima tala no meu braço! Falou. Helinho respondeu:
- Você é um ingrato! Ajudamos e agora reclama?
Chiquinho com seu jeitão de mineiro lembrou-se da
Jornada de primeira Classe que fez com o Rael. O Chefe João Soldado ganhou uma
bussola Prismática novinha e não sabia como usar. Foram no Tiro de Guerra e o
Capitão Barbosinha também não sabia. Nós fomos assim mesmo. Era muito fácil
manusear a “danada”. Quando entramos no vale da Cotovia a chuva caiu aos
borbotões... O Córrego Lamego encheu de uma hora para outra. Levou nossas
mochilas e só nos safamos por achar uma subida nas escarpas ali perto! Cada um lembrou-se
de sua jornada, mas sabiam que a do Chiquinho e do Rael foi a melhor. Viram um
cometa passar. Romildo mais “estudado” contou a historia do Cometa Halley que em
sua ultima passada na terra foi em 1910. Eles nem tinham nascido. Dizem que vai
passar de novo em 2061. Vado, você o viu em 1986? Não, respondi. Estava em São
Paulo trabalhando. O sono chegou. Na estrela onde nos reuníamos uma vez por
ano, vimos milhares de patrulhas fazendo o mesmo que nós. Todos se reunião para
lembrar-se dos velhos tempos de aventuras. Muitas agora se ajoelhavam no capim
gordura macio, com cheiro gostoso e rezavam agradecendo a Deus por terem tido a
oportunidade de se encontrarem mais uma vez.
- Era hora de partir. Com a mente no passado nos
lembrávamos dos velhos tempos, da alvorada de short a fazer a educação física
com um frio de doer. Ninguém esquecia as noites na porta de sua barraca com um
foguinho aceso a patotear com seus amigos com causos e causos e dando belas
risadas; E mesmo sabendo das dores de barriga nos empanturrávamos a comer
batata doce depois do fogo de conselho. As lembranças fervilhavam. Quantas
armadilhas fizemos para pegar um belo pato e fazer dele um assado delicioso? Lembrava-se
dos bagres e mandis do Córrego do Boi que não conseguiram fisgar. Na mente de
cada um aparecia às jornadas noturnas, os bivaques e a tropa alegre nas trilhas
a cantar o rataplã. Quantas vezes acordavam cedo só para ver o nascer do sol no
Pico do Papagaio ou na Serra da Mantiqueira? Tempos bons... Tempos que não
voltam mais. Cada um olhava para o outro. Pareciam ler os pensamentos de todos.
- Chegou a hora de partir. Eu fui para Castella, a
minha estrela no céu sorrindo de poder reencontrar meus amigos de Patrulha.
Desta vez não apareceu o Chefe João Soldado, o Aniceto Balu, meu querido Chefe
dos lobinhos. Anualmente nos encontrávamos na Estrela Baden-Powell, um espírito
de luz hoje ajudando em planetas infinitos que ainda não podíamos alcançar. Às
vezes ele aparecia, sorria, cumprimentava a todos nós. Conversava tranquilamente
em todos os idiomas da terra e contava “causos” lembrava-se dos seus tempos de
menino em Charterhouse, não se cansava de falar do seu primeiro acampamento
escoteiro em Brownsea, de suas tardes em Paxtu e partia dizendo que não
devíamos nunca perder a esperança de nos tornar a ver, sorria repetindo que não
era mais que um até logo, não mais que um breve Adeus! E ele partia naquele céu
iluminado de estrelas, com seu clarão de espírito de luz e nós observávamos
pensando quando ele iria voltar outra vez...