Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
O tempo, o
vento... E eu!
... – Inspirado com a
longevidade que me acomoda ou me incomoda, soletrei palavras inconsistentes
nesta narrativa e no meu modo de pensar resumi o meu Escotismo de ontem e de
hoje. Se não me fiz entender peço escusas e me isentem da caduquice de que sou possuído.
Afinal queira ou não meu coração ainda é escoteiro!
- Longevidade... Quem
passou por isso? Uma vida inteira percorrendo caminhos sem saber se eram os
melhores para prosseguir. Dizem os doutores linguísticos que longevidade é a
longa duração da vida, característica do que dura muito tempo. Estou eu assim
tão preocupado com minha velhice? Talvez... Dizem os filósofos que cada dia que
amanhece é um novo amanhã que acontece. Absorto nos meus pensamentos voejo no
tempo caminhando de mãos dadas com minhas várias estradas que percorri sem saber
onde ia dar. Leio com desgosto que alguns preferiram voltar... Não deu...
Recomeçar? Talvez quem sabe! Grego? Latim? Que idioma preferem que eu diga do
saudosista escoteiro que sabe que o caminho a seguir mudou de rumo e direção?
Ah! Minha primeira estrada
escoteira... Amigos em profusão, respeito e abnegação. Mas o longevo escoteiro
teve de pular etapas para chegar ao seu apogeu... Que não aconteceu. Pedras
soltas parecendo pedaços de gelo na mata do Quati no meio do caminho. Ainda
imberbe moço metido a Chefe, brinquei, corri, cantei fiz de BP meu ídolo ideal.
Jogaram-me responsabilidade... Não de meninos, nada disso. De varões como eu
que devia comandar! Comandar? Logo eu? Mas nas tratativas do programa lá fui eu
percorrendo uma nova trilha, até então desconhecida para navegar. Tropecei nas
cores bipidiana fazendo um escotismo de serras a sotavento, seguindo o vento
pensando até onde ele ia me levar...
Pulo o obstáculo no
meio do caminho. Alguns se interpõe entre eu e meus ideais. Acreditava e ainda
acredito que temos uma combinação, uma empatia desembocando numa fraternidade
incrivelmente bela! Não... Não era assim. Pisaram no meu pé, tentaram me
desqualificar alguns até mesmo a odiar esse pobre escoteiro que nunca fez mal a
ninguém. Pensei em correr, desistir, afinal qual era o meu salário? Olhei de
banda, não vi meu holerite. Dei uma pausa na jornada, meus amigos eram poucos e
em poucos eu podia confiar. Corri como uma desengonçada gazela procurando o esconderijo...
Cheios de miúdos, curumins de farda, sorrisos largos, alguns me dando a mão e
dizendo: - Vamos Chefe acampar por aí, barraca no costado, lampião a querosene,
fogão de barro... Ufa! Ali sim encontrei o meu lugar, e era aonde eu ia ficar.
Procurei ficar longe da
soldadesca escoteira no alto dos seus coturnos de chicote na mão! Faça isso! Faça
aquilo! Pulem a cerca de BP, esqueçam o velhinho encantado! E eles como
feitores de escravos determinavam novos caminhos, perseguiam o método que
aprendi, diziam que um novo sol iria aparecer. E ai de quem atravesse seu
caminho. Pensei em contestar a controvérsia dos novos eruditos que diziam ter
um saber sem igual. Mas eis que descobri o novo projeto, como se fosse um sonho
de liberdade, corri a mais não poder. Eles queriam fora os longevos, para eles
traidores da nova ortodoxia que implantavam em uma verdadeira lavagem
cerebral...
Tornaram senhores feudais
do engenho escoteiro. Os novos inocentes que chegaram para ajudar sem soldo,
pensavam em ver bambinos alegres, bandeiras ao vento, curtindo acampamentos nas
matas do meu Brasil. Não era isso? Engano meu? Mas e as normas, o tal do ECA? Eca
meu Deus! BP no alto do seu saber, no céu não sabia o que dizer. Alguns mais
afoitos diziam: - Adoro ver o novo programa escoteiro da novela das oito! Dizer
o que? Alinhar com seus novos pensadores? Revoltar? Isto posto tinha normas,
tinha malevolência, insinuações, repreensões dos que movidos pelo desejo de
comandar não perdoavam os que se arriscavam a perguntar: - E BP? E BP? E eles
no altar da sabedoria diziam: - Faria o que fazemos e ainda aplaudiria com a
palma escoteira se estivesse aqui! Fico pensando se ele sabia dar essa palma...
A supremacia era o mal
menor. Poucos se arriscavam e em um belo momento ouviam o sussurro amplamente
gritado: - Ou obedece ou rua! A garotagem enganada dos marmanjos sabidos
seguiam o rumo da boiada... Aonde a vaca vai, o boi vai atrás! Aqueles novos autores
dos direitos autorais da Escoteiro do Brasil, soltavam as velas, rumo? Risadas
geral... A bussola quebrou, as estrelas sumiram do céu... O sol que caminhava
para o oeste se perdeu no vendaval que se formou. Enquanto isso a luta pelo
poder continuava. Não importava onde. Briga de foice no escuro? Quem dera...
Pelo menos iria sentir a dor da duvida se devia ou não lutar.
E eu, forçado na
quimera, na fabula da fantasia, já na longevidade dos meus dias, vendo o
caminho sem volta pensativo burlava o burlesco fanfarrão de alguns que nos
auspícios do poder sonhavam a mais no poder, em crescer, chegar a um milhão! O
reduzido lacônico da contribuição paga pelo Escoteirinho de Brejo Seco
submergiam nas asas dos Boeing voadores nas fenomenais viagens dos Diretores Internacionais.
Enquanto os portentosos se refastelavam em hotéis mil estrelas, os novos
chegados se contentavam em quartinhos salameques único que podiam financiar.
Enfim... A longevidade
está chegando ao fim. O Velho Chefe Escoteiro sorrindo nesta bela tarde de verão,
se lembrou do que disse o replicante Roy Batty a Deckard enquanto chovia no
filme Blade Runner: Eu vi coisas que vocês não
imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-c
brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser. Todos esses momentos
se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.