domingo, 26 de janeiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O tempo, o vento... E eu!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O tempo, o vento... E eu!

... – Inspirado com a longevidade que me acomoda ou me incomoda, soletrei palavras inconsistentes nesta narrativa e no meu modo de pensar resumi o meu Escotismo de ontem e de hoje. Se não me fiz entender peço escusas e me isentem da caduquice de que sou possuído. Afinal queira ou não meu coração ainda é escoteiro!

- Longevidade... Quem passou por isso? Uma vida inteira percorrendo caminhos sem saber se eram os melhores para prosseguir. Dizem os doutores linguísticos que longevidade é a longa duração da vida, característica do que dura muito tempo. Estou eu assim tão preocupado com minha velhice? Talvez... Dizem os filósofos que cada dia que amanhece é um novo amanhã que acontece. Absorto nos meus pensamentos voejo no tempo caminhando de mãos dadas com minhas várias estradas que percorri sem saber onde ia dar. Leio com desgosto que alguns preferiram voltar... Não deu... Recomeçar? Talvez quem sabe! Grego? Latim? Que idioma preferem que eu diga do saudosista escoteiro que sabe que o caminho a seguir mudou de rumo e direção?

Ah! Minha primeira estrada escoteira... Amigos em profusão, respeito e abnegação. Mas o longevo escoteiro teve de pular etapas para chegar ao seu apogeu... Que não aconteceu. Pedras soltas parecendo pedaços de gelo na mata do Quati no meio do caminho. Ainda imberbe moço metido a Chefe, brinquei, corri, cantei fiz de BP meu ídolo ideal. Jogaram-me responsabilidade... Não de meninos, nada disso. De varões como eu que devia comandar! Comandar? Logo eu? Mas nas tratativas do programa lá fui eu percorrendo uma nova trilha, até então desconhecida para navegar. Tropecei nas cores bipidiana fazendo um escotismo de serras a sotavento, seguindo o vento pensando até onde ele ia me levar...

Pulo o obstáculo no meio do caminho. Alguns se interpõe entre eu e meus ideais. Acreditava e ainda acredito que temos uma combinação, uma empatia desembocando numa fraternidade incrivelmente bela! Não... Não era assim. Pisaram no meu pé, tentaram me desqualificar alguns até mesmo a odiar esse pobre escoteiro que nunca fez mal a ninguém. Pensei em correr, desistir, afinal qual era o meu salário? Olhei de banda, não vi meu holerite. Dei uma pausa na jornada, meus amigos eram poucos e em poucos eu podia confiar. Corri como uma desengonçada gazela procurando o esconderijo... Cheios de miúdos, curumins de farda, sorrisos largos, alguns me dando a mão e dizendo: - Vamos Chefe acampar por aí, barraca no costado, lampião a querosene, fogão de barro... Ufa! Ali sim encontrei o meu lugar, e era aonde eu ia ficar.

Procurei ficar longe da soldadesca escoteira no alto dos seus coturnos de chicote na mão! Faça isso! Faça aquilo! Pulem a cerca de BP, esqueçam o velhinho encantado! E eles como feitores de escravos determinavam novos caminhos, perseguiam o método que aprendi, diziam que um novo sol iria aparecer. E ai de quem atravesse seu caminho. Pensei em contestar a controvérsia dos novos eruditos que diziam ter um saber sem igual. Mas eis que descobri o novo projeto, como se fosse um sonho de liberdade, corri a mais não poder. Eles queriam fora os longevos, para eles traidores da nova ortodoxia que implantavam em uma verdadeira lavagem cerebral...

Tornaram senhores feudais do engenho escoteiro. Os novos inocentes que chegaram para ajudar sem soldo, pensavam em ver bambinos alegres, bandeiras ao vento, curtindo acampamentos nas matas do meu Brasil. Não era isso? Engano meu? Mas e as normas, o tal do ECA? Eca meu Deus! BP no alto do seu saber, no céu não sabia o que dizer. Alguns mais afoitos diziam: - Adoro ver o novo programa escoteiro da novela das oito! Dizer o que? Alinhar com seus novos pensadores? Revoltar? Isto posto tinha normas, tinha malevolência, insinuações, repreensões dos que movidos pelo desejo de comandar não perdoavam os que se arriscavam a perguntar: - E BP? E BP? E eles no altar da sabedoria diziam: - Faria o que fazemos e ainda aplaudiria com a palma escoteira se estivesse aqui! Fico pensando se ele sabia dar essa palma...

A supremacia era o mal menor. Poucos se arriscavam e em um belo momento ouviam o sussurro amplamente gritado: - Ou obedece ou rua! A garotagem enganada dos marmanjos sabidos seguiam o rumo da boiada... Aonde a vaca vai, o boi vai atrás! Aqueles novos autores dos direitos autorais da Escoteiro do Brasil, soltavam as velas, rumo? Risadas geral... A bussola quebrou, as estrelas sumiram do céu... O sol que caminhava para o oeste se perdeu no vendaval que se formou. Enquanto isso a luta pelo poder continuava. Não importava onde. Briga de foice no escuro? Quem dera... Pelo menos iria sentir a dor da duvida se devia ou não lutar.

E eu, forçado na quimera, na fabula da fantasia, já na longevidade dos meus dias, vendo o caminho sem volta pensativo burlava o burlesco fanfarrão de alguns que nos auspícios do poder sonhavam a mais no poder, em crescer, chegar a um milhão! O reduzido lacônico da contribuição paga pelo Escoteirinho de Brejo Seco submergiam nas asas dos Boeing voadores nas fenomenais viagens dos Diretores Internacionais. Enquanto os portentosos se refastelavam em hotéis mil estrelas, os novos chegados se contentavam em quartinhos salameques único que podiam financiar.

Enfim... A longevidade está chegando ao fim. O Velho Chefe Escoteiro sorrindo nesta bela tarde de verão, se lembrou do que disse o replicante Roy Batty a Deckard enquanto chovia no filme Blade Runner: Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.