Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Qual o melhor
acampamento para você?
... - Acampar! Bom demais! Viver em
plena natureza, ouvir o cantar dos pássaros, brincar com o pé na água fria
cristalina de um riacho, de gritar “Madeiraaaa”! De um nó de frade, um de
pescador, um Balso pelo seio, uma amarra quadrada e finalmente uma costura de
arremate... E então olhar sua construção e se orgulhar. Bom demais uma
pescaria, construir uma armadilha para pássaros e depois soltar! Bom demais um
Comando Crow, uma cadeira de bombeiro em cima de um remanso, cair na água e
morrer de rir. E construir o Caminho de Tarzan? Ou em uma tardinha esperando o
cozinheiro terminar sua boia em volta da mesa lonada, dos bancos construídos,
dos jogos noturnos e o barulho dos pratos nas mãos esperando o jantar. Depois,
pois, pois... O fogo de Conselho. Demais. Aplausos, Esquetes, o fogo crepitando,
uma coruja pia, ao longe ouvir o Uirapuru cantar. E já terminando com a
fogueira só brasas, dar as mãos, cantar, e finalmente dizer: Meu irmão
escoteiro, não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus!
- Todos dizem e repetem que não
existem nada melhor no escotismo que o acampamento. Acampar realmente é uma
aventura sem igual. Tem acampamentos que deixam saudades, mas tem outros que
duram uma eternidade e existe uma torcida silenciosa pedindo para ele não acabar.
Hoje dizem que já não se pode fazer acampamentos nos moldes de Gilwell. Falta
de local, falta de material, falta de madeirame, falta de tudo. É discutível.
Vejo filmes e fotos de escoteiros europeus e americanos no Youtube e no Google
com a escoteirada mandando ver. Fazem pioneiras, fossas, fazem excursões em
lugares lindos de morrer. E aqui não pode? Ou não tem? Beleza! Lá todos estão
sempre uniformizados! E aqui?
Acredito que cada um sabe onde o
sapato aperta. Fico com pena dos jovens de hoje nos acampamentos de mentirinha
que chamam de Jamboree, Jampam, ajuri, ELO e tantos mais. Todos na fila para
pegar suas “quentinhas”; Existem “acampamentos” com as sessões misturadas,
chefes sentado em cadeira de praia, pais dando “pitaco” de olho no seu rebento.
Dizem que é um sistema de Patrulha diferente... Será? Já vi um deles, monitores
cansados e preparando a Patrulha para pular no barro. Só assim se divertem.
Pelo menos isto não? Sem desmerecer nenhum barreiro que encontraram ou fizeram
por aí. Mas o verdadeiro acampamento, por Patrulha, com seu campo próprio, com
sua cozinha, com suas pioneirías, com sua liberdade sem o Chefe ensinando é bom
demais.
Algumas tropas adoram acampamentos
distritais, regionais e ou mesmo os Jamborees Internacionais e Nacionais. Tem
chefes que juntam seu rico dinheirinho para pagar os gastos de passagem, de
hospedagem, das taxas de campo dos lenços feitos para trocar ou vender, dos
distintivos do escambal. Não vejo muitos falando nos meninos. Até mesmo fico em
dúvida se não são chefes turistas. Largam seus lobos para trás ou dão férias.
Alguns levam de Mulambo alguns seniores ou guias que papai tem Money para
pagar. Não confundir, nem todos são assim. Eu tive a sorte de participar de
acampamentos de tirar o chapéu. Descrevê-los hoje seria uma leviandade para
alguns novos e teria que ter um tempo enorme para contar. Acampamento bom é
aquele difícil, com chuva da boa, com vento jogando a barraca no chão, com
pioneirías caindo, com bois invadindo, com onça rosnando a noite, com feijão
queimado, com bife torriscado e uma sopa cheia de preparados de capim,
mosquitos e o diabo a quatro!
Dizem que no passado tínhamos bons
acampamentos Distritais, Regionais e até mesmo os Nacionais. Dizem que ainda
existem bons acampamentos a moda de Gilwell em muitos grupos por aí. Sei que cada
estado tem sua característica quando monta seu Jamboree.
Mas necas de taxas, de soberba, de ser
o maior, de chefes pagando para ser “Staff”. Ali o sistema de patrulhas é mera
fantasia que nunca existiu. Dizem que nos grandes acampamentos é difícil ter a Patrulha
completa participando. Já pensou o maior Jamboree do mundo que aconteceu na
Suécia com mais de 40.000 participantes? Gente demais. Dizem que nos Estados Unidos
foram mais de 80.000 e só não foi mais porque fecharam as inscrições. Nem sei
se dava para abraçar todo mundo. Sei que a Escoteiros do Brasil tá em todas. A
maioria chefes. Um dia vão organizar o Escotismo Adulto que hoje já é praticado
na Europa.
Mas aqueles menorzinho, de 400, 600 e
até 1000 participantes eram “supimpas” como se diz, feitos à moda antiga.
Patrulha completa, entrando no campo cantando o Rataplã levantando seu totem, sorridentes
e dizendo: - Chefe Onde é nosso Sub. Campo? Existia isso assim. Sub. Campo, com
Chefe e Assistente. Eu mesmo tive a honra de ser um Chefe de um Sub. Campo
Sênior com 36 patrulhas e não me cobraram taxas. Que orgulho em formar, vibrar
com seus gritos de patrulha, seus abraços e apresentar: - Chefe De Campo,
orgulhosamente apresento o Sub Campo Sênior Anhanguera... Sempre Alerta! As
patrulhas se preparavam com antecedência. O material nos trinques. Sapa bem
oleado e afiado. As panelas brilhavam. Muitas levavam seu bornal de víveres.
Nada de ganhar ou comprar. Ali o intendente ficava de ouvido aberto esperando o
berrante tocar para correr e receber a cesta de alimentos na Intendência geral.
A taxa qualquer um poderia pagar. O Chefe o Distrital ou o Regional davam duro
para conseguir uma intendência de víveres para todos. Era mesmo uma festa
quando se ouvia um silvo longo de um chifre de Kudu. A turma batia palmas vendo
os intendentes correndo a galope para atender ao Intendente Geral do campo.
Eita, que saudades... Bom demais!
Hoje tudo mudou. É moderno. Tem
restaurante tem gente que paga taxa para ser um “Staff”. Tem outros que prefiro
chamar de turistas que vão para papear, ficar com as chefes, guias e os
escambal e depois contar prosa do que fizeram ou deixaram de fazer. Dizem que o
palavrão faz parte, que a indisciplina também, mas sei que tem uma turma que
obedece a lei, e sabe como se porta um escoteiro no campo. Dizem que tem um bom
numero de chefes que se divertem gostam das brincadeiras, dos desafios e da
liberdade que em outros lugares não tem. Nada diferente de Acampamento de
Férias muito usado por aí!
Como diz um frequentador assíduo hoje
tudo é moderno. Tenho minhas dúvidas se esta mania de grandeza já está em curso
o Jamboree dos cem mil e quem sabe de um milhão de chefes e duzentos escoteiros
presentes? Como dizia meu Compadre Wander, lá no céu nos espiando: - “tem gente
que gosta”. Mas meus amigos e inimigos (juro que não sei quem são) o melhor
acampamento, o melhor mesmo é aquele de Patrulha, todos amigos e irmãos,
construindo um belo fogão, uma bela mesa, uns bancos rústicos e na hora das
refeições brincar, bater a canequinha no prato, o garfo zanzando no prato, comer,
cantar e dizer: - Chefe! Quando vai haver outro como este? Pois é, quem já fez
sabe como é e sabe também que o verdadeiro acampamento é aquele que faz a Patrulha
unida e prepara o escoteiro ou escoteira em uma pessoa de verdade, com ética,
com honra, com lealdade e sem esquecer com grande fraternidade!