Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Psicodrama da
Loucura.
Nota... Nada há ver com
o livro de José Fonseca, Psicodrama da Loucura, que correlaciona à teoria
psicodramática de J. L. Moreno à filosofia dialógica de M. Buber, apresentando
o hassidismo (Movimento religioso do Século XVIII), como gênese dessas ideias.
O Autor a partir daí expõe uma visão de loucura e sanidade.
Ontem escrevi aqui: - Sou lucidamente insano, malucamente calmo. Sou
lágrima, sou sorriso. Pureza e pecado. Sou silêncio contido, palavras
abstratas. Sou eterno no amor e efêmero na mágoa. Sou tudo ou nada! Sou
assim mesmo? Às vezes me sinto louco e volto no tempo ao lembrar-me do Zé
Pontes, um velho carpinteiro da Comissão Executiva do Grupo Tapajós, meados de
1961 lá pelos lados de Melo Viana, município de Coronel Fabriciano Minas Gerais.
Não tinha esposa filho e ninguém a orar por ele. No escotismo o acolhemos e ele
vivia dizendo: - Chefe sou louco, alucinado, sofrendo revoltado, pensando em
afogar minhas mágoas. O mundo para mim Chefe começou a desandar, só desgraça na
ressaca do dia a dia... Eu e o Chefe Carlos um irmão escoteiro que mora hoje lá
no céu, o levamos para ser escoteiro e nestas horas de loucura o levávamos para
a sede, dava a ele um Bumbo e ele sorrindo ficava batendo sem parar. Bum! Bum!
Bum!
Zé Pontes mudou, virou outro homem no dia que fez a promessa e olhe até
chorou. Insistiu para fazer um CAB (Curso de Adestramento Básico) em Belo Horizonte.
Aprovamos. Voltou entusiasmado, querendo o mundo escoteiro mudar. – Chefe Vado,
Chefe Carlos, o Chefe Floriano é meu novo Deus Escoteiro. Ele sabe demais.
Contou história de Baden-Powell histórias do escotismo mineiro, brasileiro,
contou histórias incríveis e reais. No Curso as noites de Conversa ao Pé do
Fogo, dizia que se pudesse faria um novo escotismo, iria criar tantas coisas
que Baden-Powell iria aplaudir. Gente fina o Zé Pontes, já deve ter ido para o
céu. Mais velho que eu 12 anos. O vi pela ultima vez na estação de Ipatinga
após ser demitido da Usina Siderúrgica de Minas Gerais (Usiminas) chorando
feito uma criança. Um homenzarrão, alto e forte vestido de escoteiro a chorar naquela
gare barulhenta das máquinas da usina do outro lado da cerca. No vagão na
janela nos despedimos e eu me pus a chorar também...
Tenho lembranças alegres, outras tristes, passados aventureiros,
passados que nem quero lembrar. Agora nos meus quase 79 anos ao lembrar-se do
Zé Pontes e suas lembranças do Grande Chefe Francisco Floriano de Paula eu
também se pudesse iria tudo mudar. Qual mudança? Loucura, insanidade só em pensar.
Se Zé Pontes ainda vivesse e estivesse ao meu lado diria: - Chefe desculpe, se
eu fosse o Senhor iria esquecer-se de tudo, viajar prá outro mundo, ser outro
escoteiro daquele que a gente não esquece jamais. Sabe Chefe, a vida é um jogo
e hoje tem de saber jogar. Isto não é para mim, se fosse tinha caído na real.
Sei que errar é humano qualquer um, comete um engano. Mas quem se arriscaria a
passar a esponja no quadro sujo de giz? Cada um é um louco em potencial. Agarra-se
a uma Antipose, um planeta independente perdido em uma galáxia qualquer. Dizem
que lá o mundo se tornou um lar adotivo de escoteiros onde se pode viver
fazendo o escotismo que acredita conforme prescreveu o fundador.
Meto-me no livro de José Fonseca, criei na minha mente um Psicodrama
Escoteiro da Loucura. Já não sou mais o mesmo. Alguns dizem que sou
esclerosado, outros insano, e até mesmo um que disse ser eu um velho senil,
gagá caduco caquético e amalucado. Será que tenho direitos? Dizem que como
cidadão brasileiro se puder contratar um caro e bom advogado eu tenho. Mas calma
ainda piso na trilha do saber. Ainda conheço meu passo escoteiro meu passo
duplo e sei contar de um a cem, motivo pela qual não vou me perder. Faço meu
azimute, olho na prismática o rumo ENE e me ponho a acompanhar o sol que vai se
por. E se vier à noite as estrelas e constelações me darão o caminho a seguir. Mas
a pergunta é uma só, quantos chefes aventureiros, adultos uniformizados estarão
presentes em um Jamboree no lado escuro da lua irão participar? Mais que os
jovens meninos e meninas? Não sei. Só sei que vi fotos, vi trens, aviões e ônibus
levando todos para matar seu prazer... E “Eureka!” não vi meninos e meninas. E raivosamente
me pergunto: Já foi criado a função de Chefe Escoteiro Turista?
E finalmente, chegando aos meus escoteiramente, lembro-me do Zé Pontes,
na sombra da minha varanda, um fantasma navegante perdido na imensidão da noite
escura sorrindo a perguntar: - Chefe, onde estão os escoteiros? É um Jamboree
Lunático só de chefes? Já foi criado a função escoteira de Chefe Turista?
Aquele que nunca foi e nem sabe quem é? E eu na minha insana loucura, comprei
uma desavença, um nó górdio dos leitores revoltados com minha explanação e sem
me dar o direito as minhas explicações, o nó sinceramente nem sei como
desmanchar.