Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Ainda o velho
tema do passado.
“No meu tempo
era melhor”.
Nota – Estava eu de
molho evitando postagem e para não perder a rotina folheava páginas do Facebook
e lá no indefectível “O Escotismo que queremos” sapecou nova idiossincrasia menosprezando
os velhos escoteiros e seus sonhos de acharem que o escotismo que fizeram é o
melhor. Tive que responder...
- Como sempre alguém
que se esconde atrás de um pseudônimo. (Segundo o guardião do conhecimento,
“pseudônimo” é um nome adotado por um autor que não quer se identificar, quem
sabe para não ser desmitificado em suas palavras) Sua página bem frequentada se
chama “O Escotismo que queremos”. O seu modo de pensar e interpretar algumas
fases de um escotismo moderno ou tradicional não respeita individualidade e nem
a vivencia de cada um. Afinal nem sabemos seu passado. Responde escondido em
sua capa invisível para mostrar seus conhecimentos escoteiros que nem sei onde
adquiriu. Seria ele um alto coturno da Corte do poder? Um bravo formador com um
histórico de fazer inveja aos demais? Um viajante do tempo de antigas eras que
conhece o escotismo como poucos?
Como não conheço o
escritor, pois nem posso visitar sua página para ver suas fotos, seu curriculum
escoteiro e saber até onde é um Escotista conhecedor para tirarmos conclusões.
Quem sabe tem um curriculum invejável e em sua modéstia prefere ficar no
anonimato. Um pouco diferente de mim um sonhador que gosta de filosofar quando
escrevo e me mostrar inteiro como sou. Nunca pensei em mudar meu nome, usar um
pseudônimo ou mesmo ficar em OF. Afinal vivi o escotismo em toda sua plenitude
desde menino até hoje. Gosto de conhecer meus irmãos escoteiros olhando cara a
cara, sorrindo ou abraçando seja ele quem for. Teoricamente não sou tão bom com
disse que sou. Na prática gosto de dizer que sou um expert na matéria. Não
afirmo que o meu escotismo foi o melhor, que o de hoje supera o de ontem e vice
versa. Nem desmereço escolhas e opiniões dos ontem e os de hoje. Prefiro de
peito aberto dizer o que penso sem sofisma sem paralogismo ou ficar em OF e sei
reconhecer meus erros e minha mania de dizer que tem muita coisa errada nas
terras escoteiras do meu Brasil.
Será que terei a
audácia em dizer que o meu escotismo é o melhor? É o que acredito? Mas você não
está aí lutando ao seu modo, seguindo o modelo imposto pela Escoteiros do
Brasil e aceitando com um sorriso nos lábios suas normas, instruções normativas
e aplaudindo os novos ventos diferentes, os novos cursos tão burocratizados que
até mesmo a técnica escoteira e o Sistema de Patrulhas se tornou desconhecido. Será
que os novos donos do poder dão liberdade de agir, de fazer para aprender, de
se aventurar por trilhas e estradas, envergando a vestimenta que acredita o
chapéu que gosta a mochila que escolheu? Será que ela forma ou adestra seus
seguidores para fazer o Escotismo de Campo, aquele que Baden-Powell sonhou? Eu
velho escoteiro matuto, me mantenho a margem. Discutir as desavenças dos
lideres do CAN e da DEN, do anel que chamam de arganel, discutir a nova
pedagogia, discutir um programa da EB não é minha praia.
Não vou por esta
pegada, nunca foi minha. Bota cano alto só usei quando corria atrás da boiada
nas largas do Jacinto, caindo pelo caminho, todo arranhado dos espinhos do
mandacaru, subindo na sela do Baiano, o melhor seleiro que conheci. O meu
escotismo é aquele que fiz e sempre amei sem a pretensão de ser o melhor. Falo
dele em histórias contos e arremedos de artigos de peito aberto e sem me
esconder. Se me prendo em devaneio faz parte do que sou. Sei que ninguém me
perguntou qual o escotismo que eu quero. Preciso dizer? Com mil demônios, pelas
barbas do profeta! Se ele me perguntasse e nos encontrássemos frente a frente
não escondido atrás de um pseudônimo eu diria que o que quero é ser livre,
poder andar e escoteirar por aí, com disse Cassimiro de Abreu nos meus oito
anos... – Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância
querida, que os anos não trazem mais...
Ainda gosto de lembrar
que meu uniforme era meu pedaço de chão, vistoso no andar no garbo de me
apresentar com minhas calça curta, meu chapéu de abas largas sempre retas,
lenço bem dobrado liso e bem postado muito diferente do praticado pela
associação mãe que agora não é mais a minha. Chapéu de pano? Boné a americana?
Lenço amarrado nas pontas usados de qualquer maneira? Nunca foi o meu forte.
Mas e daí Chefe? Achega bem perto de mim e me veja fazendo um nó, uma amarra
uma costura vendo aos poucos uma bela Pioneiría para se orgulhar. Minha mochila
aposentei, meu bornal cheio de estrelas que “catei” naquela estupenda e
maravilhosa jornada sem fim do Pico do Itacolomi, da Bandeira e das Agulhas
Negras aposentei. Hoje só me resta às lembranças, gostosas, fascinantes, o
feijão com torresmo que saborosamente o nosso cozinheiro botava no prato com um
sorriso de matar qualquer um.
O seu Escotismo que
queremos não deve ser o meu. Meu primeiro anel foi papai quem fez quando tirava
uma de sapateiro. Eita lembrança gostosa, ficar com ele no quadrado da sua
oficina, engraxando e ele me ensinando a costurar bolas de couro, a fazer um
belo cinto de “vaqueta” de um boi Zebu para o escoteiro que me procurou trazendo
a fivela da UEB que ganhou. Não vou nem pensar nos dias de hoje, do seu
linguajar e sua interpretação e de suas afirmações de um escotismo que não é o
meu. Pode até escrever com conhecimento de causa, mas sempre em OF. Eu afirmo
que foi o melhor escotismo que “EU” fiz. A gente tinha orgulho do uniforme, na
pose na apresentação. Doze dias cursando em plena mata, vivendo uma Patrulha,
sendo Monitor e o escambal. Aprender programas, técnicas escoteiras, vida em
equipe, Lei e Promessa e respeitar o próximo sabendo que somos todos irmãos. A
sua associação é assim? Dizem que BP lá em Gilwell escreveu: - Nenhuma
importância tem que um Escoteiro ande uniformizado ou não! O que vale é que
ponha seu coração no Escotismo, engaje nele o seu espirito e cumpra a Lei
Escoteira. E sabiamente termina: - Mas o fato é que não existe um escoteiro,
que podendo ter um uniforme deixa de fazê-lo. Esqueceu-se de dizer: - Com o
exemplo perfeito do seu Chefe Escoteiro. Exemplo que a Escoteiro do Brasil peca
em não fazer.
Escrevo estas linhas
enrolado na minha Manta negra sentado na minha varanda, olhando a rua quieta ao
entardecer. Tempos bons que não voltam mais. Tempos passados, em volta do fogo,
único momento que não envergava meu uniforme, com meu lenço bem acondicionados
em minha barraca de duas lonas. Quantas noites, quantas luas, quantas estrelas
ficavam a ver uma Patrulha perdida na floresta cantando com meus amigos e
vivendo uma aventura noturna na luz da fogueira ou no lampião vermelho que
nunca esqueci. Luz bruxuleante e ouvir a mata cantar... E não me venha dizer
que ainda podemos fazer. Sabemos que não. Pode ser que este o seu “Escotismo
que Queremos” acredita que faz, mas não é o meu. Pode ser o seu e respeito, mas
seria bom que respeitasse os antigos e velhos escoteiros que lembram com
saudades dos seus tempos... Dos seus doces momentos... Respeite-me, eu já fui e
no coração ainda sou. E se se eu pudesse voltar no tempo, dos meus
acampamentos, das noites enluaradas, enchendo meu bornal de estrelas, pisando
meu passo escoteiro na via láctea, seguindo o vento e ouvindo o barulho das
ondas do mar... Eu continuaria o que sou... Um Escoteiro eternamente feliz!