quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Ainda o velho tema do passado. “No meu tempo era melhor”.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Ainda o velho tema do passado.
“No meu tempo era melhor”.

Nota – Estava eu de molho evitando postagem e para não perder a rotina folheava páginas do Facebook e lá no indefectível “O Escotismo que queremos” sapecou nova idiossincrasia menosprezando os velhos escoteiros e seus sonhos de acharem que o escotismo que fizeram é o melhor. Tive que responder...

- Como sempre alguém que se esconde atrás de um pseudônimo. (Segundo o guardião do conhecimento, “pseudônimo” é um nome adotado por um autor que não quer se identificar, quem sabe para não ser desmitificado em suas palavras) Sua página bem frequentada se chama “O Escotismo que queremos”. O seu modo de pensar e interpretar algumas fases de um escotismo moderno ou tradicional não respeita individualidade e nem a vivencia de cada um. Afinal nem sabemos seu passado. Responde escondido em sua capa invisível para mostrar seus conhecimentos escoteiros que nem sei onde adquiriu. Seria ele um alto coturno da Corte do poder? Um bravo formador com um histórico de fazer inveja aos demais? Um viajante do tempo de antigas eras que conhece o escotismo como poucos?

Como não conheço o escritor, pois nem posso visitar sua página para ver suas fotos, seu curriculum escoteiro e saber até onde é um Escotista conhecedor para tirarmos conclusões. Quem sabe tem um curriculum invejável e em sua modéstia prefere ficar no anonimato. Um pouco diferente de mim um sonhador que gosta de filosofar quando escrevo e me mostrar inteiro como sou. Nunca pensei em mudar meu nome, usar um pseudônimo ou mesmo ficar em OF. Afinal vivi o escotismo em toda sua plenitude desde menino até hoje. Gosto de conhecer meus irmãos escoteiros olhando cara a cara, sorrindo ou abraçando seja ele quem for. Teoricamente não sou tão bom com disse que sou. Na prática gosto de dizer que sou um expert na matéria. Não afirmo que o meu escotismo foi o melhor, que o de hoje supera o de ontem e vice versa. Nem desmereço escolhas e opiniões dos ontem e os de hoje. Prefiro de peito aberto dizer o que penso sem sofisma sem paralogismo ou ficar em OF e sei reconhecer meus erros e minha mania de dizer que tem muita coisa errada nas terras escoteiras do meu Brasil.

Será que terei a audácia em dizer que o meu escotismo é o melhor? É o que acredito? Mas você não está aí lutando ao seu modo, seguindo o modelo imposto pela Escoteiros do Brasil e aceitando com um sorriso nos lábios suas normas, instruções normativas e aplaudindo os novos ventos diferentes, os novos cursos tão burocratizados que até mesmo a técnica escoteira e o Sistema de Patrulhas se tornou desconhecido. Será que os novos donos do poder dão liberdade de agir, de fazer para aprender, de se aventurar por trilhas e estradas, envergando a vestimenta que acredita o chapéu que gosta a mochila que escolheu? Será que ela forma ou adestra seus seguidores para fazer o Escotismo de Campo, aquele que Baden-Powell sonhou? Eu velho escoteiro matuto, me mantenho a margem. Discutir as desavenças dos lideres do CAN e da DEN, do anel que chamam de arganel, discutir a nova pedagogia, discutir um programa da EB não é minha praia.

Não vou por esta pegada, nunca foi minha. Bota cano alto só usei quando corria atrás da boiada nas largas do Jacinto, caindo pelo caminho, todo arranhado dos espinhos do mandacaru, subindo na sela do Baiano, o melhor seleiro que conheci. O meu escotismo é aquele que fiz e sempre amei sem a pretensão de ser o melhor. Falo dele em histórias contos e arremedos de artigos de peito aberto e sem me esconder. Se me prendo em devaneio faz parte do que sou. Sei que ninguém me perguntou qual o escotismo que eu quero. Preciso dizer? Com mil demônios, pelas barbas do profeta! Se ele me perguntasse e nos encontrássemos frente a frente não escondido atrás de um pseudônimo eu diria que o que quero é ser livre, poder andar e escoteirar por aí, com disse Cassimiro de Abreu nos meus oito anos... – Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais...

Ainda gosto de lembrar que meu uniforme era meu pedaço de chão, vistoso no andar no garbo de me apresentar com minhas calça curta, meu chapéu de abas largas sempre retas, lenço bem dobrado liso e bem postado muito diferente do praticado pela associação mãe que agora não é mais a minha. Chapéu de pano? Boné a americana? Lenço amarrado nas pontas usados de qualquer maneira? Nunca foi o meu forte. Mas e daí Chefe? Achega bem perto de mim e me veja fazendo um nó, uma amarra uma costura vendo aos poucos uma bela Pioneiría para se orgulhar. Minha mochila aposentei, meu bornal cheio de estrelas que “catei” naquela estupenda e maravilhosa jornada sem fim do Pico do Itacolomi, da Bandeira e das Agulhas Negras aposentei. Hoje só me resta às lembranças, gostosas, fascinantes, o feijão com torresmo que saborosamente o nosso cozinheiro botava no prato com um sorriso de matar qualquer um.

O seu Escotismo que queremos não deve ser o meu. Meu primeiro anel foi papai quem fez quando tirava uma de sapateiro. Eita lembrança gostosa, ficar com ele no quadrado da sua oficina, engraxando e ele me ensinando a costurar bolas de couro, a fazer um belo cinto de “vaqueta” de um boi Zebu para o escoteiro que me procurou trazendo a fivela da UEB que ganhou. Não vou nem pensar nos dias de hoje, do seu linguajar e sua interpretação e de suas afirmações de um escotismo que não é o meu. Pode até escrever com conhecimento de causa, mas sempre em OF. Eu afirmo que foi o melhor escotismo que “EU” fiz. A gente tinha orgulho do uniforme, na pose na apresentação. Doze dias cursando em plena mata, vivendo uma Patrulha, sendo Monitor e o escambal. Aprender programas, técnicas escoteiras, vida em equipe, Lei e Promessa e respeitar o próximo sabendo que somos todos irmãos. A sua associação é assim? Dizem que BP lá em Gilwell escreveu: - Nenhuma importância tem que um Escoteiro ande uniformizado ou não! O que vale é que ponha seu coração no Escotismo, engaje nele o seu espirito e cumpra a Lei Escoteira. E sabiamente termina: - Mas o fato é que não existe um escoteiro, que podendo ter um uniforme deixa de fazê-lo. Esqueceu-se de dizer: - Com o exemplo perfeito do seu Chefe Escoteiro. Exemplo que a Escoteiro do Brasil peca em não fazer.

Escrevo estas linhas enrolado na minha Manta negra sentado na minha varanda, olhando a rua quieta ao entardecer. Tempos bons que não voltam mais. Tempos passados, em volta do fogo, único momento que não envergava meu uniforme, com meu lenço bem acondicionados em minha barraca de duas lonas. Quantas noites, quantas luas, quantas estrelas ficavam a ver uma Patrulha perdida na floresta cantando com meus amigos e vivendo uma aventura noturna na luz da fogueira ou no lampião vermelho que nunca esqueci. Luz bruxuleante e ouvir a mata cantar... E não me venha dizer que ainda podemos fazer. Sabemos que não. Pode ser que este o seu “Escotismo que Queremos” acredita que faz, mas não é o meu. Pode ser o seu e respeito, mas seria bom que respeitasse os antigos e velhos escoteiros que lembram com saudades dos seus tempos... Dos seus doces momentos... Respeite-me, eu já fui e no coração ainda sou. E se se eu pudesse voltar no tempo, dos meus acampamentos, das noites enluaradas, enchendo meu bornal de estrelas, pisando meu passo escoteiro na via láctea, seguindo o vento e ouvindo o barulho das ondas do mar... Eu continuaria o que sou... Um Escoteiro eternamente feliz!