Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Uniforme
Caqui. Para mim uma tradição.
Este artigo dedico ao Chefe Marcos
Rodrigues. - Hoje tive a honra de ver sua foto estupendamente garboso no seu
uniforme caqui. Não desmereço chefes e escoteiros que com dignidade portam o
Vestuário. Mas eu amo este uniforme. Pena que está condenado ao ostracismo.
Enquanto eu viver usarei com orgulho.
Caqui? Disseram alguns lideres da
Escoteiros do Brasil que ele devia acabar. Precisavamos mudar os tempos são
outros... Prefiro não discutir. Tive um histórico que não dá para pensar em
escotismo sem estar garbosamente uniformizado com meu caqui. Dia desses alguem
escreveu que o histórico deste uniforme remonta a 1940. 80
anos? Não sei. Historiadores dizem ser muito mais. Eu o conheci em 1947 mesmo
vestindo o azulão dos lobinhos. Meus chefes diziam que era nosso uniforme
oficial. Vi alguns grupos com calça azul e camisa caqui. Desapareceram com o
tempo. O caqui com as bermudas curta tornou-se uma vestimenta nacional. Havia
um orgulho, uma altivez no porte, e porque não dizer vaidade em ser considerado
único. Não se falava em outro até que em 1976 alguns dirigentes que acredito
sem passado escoteiro forçaram a UEB a criar o “Social” depois escrachado para “Traje”
alegando que o caqui não dava condições representativas em festividades e ações
sociais na comunidade. A escolha pessoal virou mania. As modalidades do mar e
do ar se orgulhavam do seu e o fazem por merecer. Uma vez vi em um panfleto
escoteiro os dizeres e desenhos do nosso uniforme e os das modalidades ar e
mar: - “E ainda dizem que somos um movimento uniformizado”. O pensador
escoteiro se assustaria ao ver hoje a predileção da escolha, a falta de
compostura e garbo diferente do orgulho quando se portava o caqui, seja aonde
for. Éramos um exemplo estejamos no campo na sede ou em um desfile cívico.
A
preocupação com a aba do chapéu, as pontas do lenço bem dobradas, o garbo do
passar, de usar, do meião sem estrias, do sapato engraxado, do cinto limpo e
das fivelas brilhando. As estrelas de atividade de metal faziam gosto de ver.
Cada distintivo no seu local, nada fora do lugar. Não importa onde se estivesse
em atividade escoteira o uniforme se vestia completo. Afinal foi uma época de
difícil facilidade na aquisição dos acessórios que o acompanhavam. Conheci escoteiros
(eu inclusive) que passavam seus fins de semana quando não estavam acampando
limpando quintais, engraxando sapatos, fazendo “mandados” para os vizinhos só
para poder ganhar uns trocados e comprar aquele que era seu sonho, os seus
adicionais, o cantil, a faca, a machadinha e tantos mais. Papai e mamãe
ajudavam quando podiam sem se sacrificar. Os anos passaram. Novos chegaram.
Exigiram mudanças. Chefe! Os tempos são outros gritavam os sem memória. Chefe a
modernidade chegou, agora temos uma nova era social, cultural econômica já
vigente no mundo inteiro. E haja dinheiro para gastar com as novas estripulias
da Escoteiros do Brasil. Estamos na época moderna, pré-moderna ou sei lá o que
for. Sem poder, sem forças para lutar usei a escrita para discordar. Pensava e
penso que tudo tem seu tempo e a hora ainda não havia chegado. Mudar sim, mas
sem esquecer a história, o passado, a memoria e o tradicional. Alguns aqui
galhofeiramente desfizeram da minha crendice. Achincalharam minha
autobiografia.
Não
vou entrar no mérito das alterações de nomes, nomenclaturas, dístico programas
a revelia, numa busca incessante para fazer uma transição saída do próprio ego,
pois a maioria dos “modernos” não tinham e nem têm experiência e nem história
para contar. Não viveram aquele tempo de menino, fazendo boa ação, conquistando
com seu jeito a comunidade e ela guardando aquela bela visão do garbo escoteiro
na mente e no coração. Fazem questão de dizer que somos passado, retrógrados e
simplórios que nada entendemos da nova modernidade que implantada irá levar o
escotismo aos píncaros da glória. Correm atrás de cargos, de poder, e serem
reconhecidos na comunidade nacional e internacional. Gastam o que não é seu e
ainda querem mais. Para isso o vale tudo entre eles e outros é uma necessidade.
Breve eu sei que novos nomes irão surgir. Quem sabe copiar a mentalidade
inglesa ou americana. Vai surgir um “Boss” um President e um Director? Sei que
agora Scout está na moda. Escoteiro foi para baixo da barraca agora só se
tratam como Scout... Só falta criar a “Eagle Scout” (Eagle Scout é a maior conquista ou classificação alcançável
no programa BSA Scouts dos Escoteiros da América).
Se eu
sou tradicional ou não, de uma coisa eu sei... Nunca deixarei de amar meu
Uniforme Caqui! Dizem que o “eu” é somente uma metáfora. Pode ser. Mas sabem
qual meu maior orgulho como escoteiro? Ser recebido pelo Governador Magalhães
Pinto no Palácio da Liberdade de calça curta e caqui. (E ele sorrindo me deu um
belo Sempre Alerta!). Sempre bem uniformizado, entrar em Malacacheta em 1953
com a Patrulha Lobo com as bicicletas cheias de bandeiras, mochilas e
badulaques, e a meninada correndo atrás e gritando: - Pai! Mãe! Venha ver...
São os escoteiros do Brasil... E outra vez descendo o Velho Chico no Barco a
vapor Benjamim Guimarães, a Patrulha Sênior no convés aportando em Juazeiro no
Norte da Bahia, lá pelos idos de 1955 e a meninada na margem gritando: - Pai!
Mãe! Venham ver... São os escoteiros do Brasil... E quando fomos pela primeira
vez em Coronel Fabriciano Minas Gerais, em 1961, eu e o Chefe Carlos
uniformizados de caqui e calça curta para dar o inicio na fundação do Grupo
Escoteiro Tapajós, em frente à igreja do Distrito de Senador Melo Viana, a
meninada em volta e gritando: - Viva! São os Escoteiros do Brasil! Eu também
vou ser! Isto é passado? Alguém tem um presente melhor?
Vejo
constrangido diversas posições de chefes nas redes sociais ou mesmo em
conversas privadas usando tal vestuário, utilizando suas escolhas pessoais sem
se importar com a apresentação ou mesmo não se importando o que pensa a
comunidade que nem sei se ainda aplaude o escotismo que hoje fechado entre
muros de sedes nem sabem onde estão. As cantigas, as marchas, as boas ações nas
ruas da cidade para as jornadas, os grandes acampamentos de tropa, os azulões
(lobinhos) estão deixando de existir e são induzidos a uma nova criação de
adultos que insistentemente alegam que eles querem assim. Transformaram em uma
associação que só visa o lucro e nem sequer respeitou o desejo de uns e outros
que pensavam de maneira diferente.
Sei
que hoje as escolhas pessoais são os "Jamborees", o "Jampam",
o "Jampinho" O ELO, o Jota Lobinho, AGAARS e tantos mais, vestindo o
que der na telha cheio de chefes turistas sem apresentação sem garbo e para
muitos sem o orgulho escoteiro. Sabemos que os jovens hoje não tem escolha, os
adultos escolheram por eles. Afinal eles nem sabem o que é um acampamento no
sentido verdadeiro da palavra. Escondo-me no que escreveu Baden-Powell: - Não
gosto de dar ordens: Não é este o nosso estilo nos escoteiros. É o sentido do
dever vindo de dentro de nós que nos guia, e não deve ser imposto do exterior.
Que se dane o regulamento! Chamem-lhe uma experiência!