Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
Era
uma vez... O Escotismo de Baden-Powell.
...
– Apenas um desabafo, uma decepção. Há tempos escrevo que estão roubando o meu
sonho de menino e de Chefe escoteiro... Não condeno, não tenho direitos. Nem
registro tenho! Afinal nem menino eu sou! Sou apenas um Velho Chefe Escoteiro
perdido no meio da multidão, que se agarra com vento que parte sem direção... Adeus
meu Chefe BP, para alguns você nem existe mais. Adeus meu garbo, adeus minha
farda, adeus minha primeira classe, adeus meu sonho de Gilwell, tempos que não
voltam mais!
-
Meus escritos muitas vezes não são para os que estão começando no escotismo
feito sob encomenda pelos detentores do poder da Escoteiros do Brasil. Sei que
isto não é novidade. A linda disciplina escoteira não deixa que mude de
direção. A tradição o passado ficou para trás. Seu APF lhe mostra o novo
caminho. Dificilmente vai lhe dar conhecimentos de como era o escotismo no
passado. Poderá sim contar histórias de BP, mas sempre ferrenho no que aprendeu
em seu curso e que hoje tem orgulho de ser quem é. Como eu são poucos que ainda
mantem suas raízes escoteiras. Muitos dos antigos, dos velhos escoteiros, dos
Lobos que nunca dormem, dos Impisa, dos chamados Velhos Lobos, dos camaradas que
se foram e já guardaram no fundo do baú, sua tralha, sua farda, sua manta, seus
apetrechos que tão duramente conquistou. Os antigos adestradores, chamados de DCB
e DCIM colocaram a viola no saco e saíram por ai cantando baixinho: - Mudei de
nome, minha sina escoteira agora é outra. Não é mais que um até logo, não é
mais que um breve adeus!
-
Os defensores dos novos tempos dizem que o Sistema de Patrulhas, o método e o
programa de BP não perdeu a memória. Mas não explicaram por que eles na maioria
dos cursos estes temas nem acontece mais. Agora é uma metodologia, mais
burocrática, menos técnica e o antigo Sistema de Patrulhas de Gilwell deu lugar
à sala de aula com cadeiras mesa e quadro negro. Os doutores do saber escoteiro
em nome de uma nova metodologia deram adeus às tradições, tão desrespeitadas e
sempre alteradas para satisfação de um ego, busca da fama e ter seu nome marcado
nos anais da história escoteira. Sempre a dizer que temos um escotismo moderno,
vivo, com novas nuances de programação, apresentação e conhecimento. Dizem que
uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade.
Mas
eu na minha inocência de velhote do passado pergunto: ... Onde estão os
resultados? Onde os homens escoteiros desta nova fase estão? Temos lideres
empresariais? Temos pensadores famosos defendendo o valor da formação escoteira
na comunidade? Tem educadores com PHD, Professores de alto saber com suas teses
enaltecendo o Escotismo de Baden-Powell? Se existem desconheço. Vi há tempos um
cantor que vestiram nele o vestuário, fotografado e sumiu na multidão. Gritaram
Bravôo com a apresentação da Turma da Mônica apresentada com o novo vestuário
escoteiro dando ideia que agora sim, o escotismo seria reconhecido pela
juventude brasileira. Até agora nada vi e nada vejo. Morreu no nascedouro? O que
estão fazendo com meu escotismo? Meu escotismo não, de muitos que como eu
simbolizaram uma época de ouro, enaltecida para desgosto de alguns que não
tiveram uma infância aventureira.
Outro
dia postei um pedaço da história de Caio Vianna Martins. Muitos
compartilhamento. O que a Escoteiros do Brasil fez? Um pequeno apanhado do
desastre e mais nada. Investigaram? Ou será que a vida do jovem Caio não tem
nada de interessante? Dizem que logo chegaremos aos duzentos mil... Tento
entender a democracia escoteira, pois nem sei se ela existe. Só vejo alguns
dizendo: - A EB baixou uma norma, a Região disse que agora é assim, o Distrito
com novo nome nas reuniões determina o certo e o errado. Quem ousa manifestar
está fadado a uma admoestação ou uma exoneração. Bendito “Conselho de Ética”
dizem alguns. Sei que falo para o vento, quem sabe para os que partiram nada
mais que um alento, uma lembrança do seu escotismo. Ou seja, “aquele que anda
só”. O que nos diferenciava de um sindicado, de uma associação local ou
nacional acabou. Agora temos assembleias e não mais conselhos. Diretores estão
para todo lado. O Velho Chefe de Grupo mudou para presidente e uma briga de
foice no escuro acontece nas assembleias de qualquer hierarquia.
-
Os cursos se tornaram burocráticos. Agora se faz com cadeiras, mesas, quadro
negro e uma parafernália eletrônica de fazer inveja. Vivencia escoteira?
Adestrando chefes? Trabalhando com monitores? Não meu caro. Os novos Grupos
admitem centenas e já dão direito a usar lenços escoteiros e num belo dia lá
estão todos “Jurando a Bandeira”. Promessa por atacado! Lobo não vai mais para
a Jangal. Vai para atividades distritais, regionais e nacional. É mais fácil,
mais divertido para os chefes da Jângal se confraternizarem. Só falta aparecer
uma líder nacional para dizer que agora acabou a Jangal, vamos valorizar os Arranha-céus.
E assim de passo em passo vão mudando e esquecendo as tradições. Serão eles
responsabilizados pelo fracasso algum dia? Quem em sã consciência irá dizer que
estavam errados? Souberam alguma vez de um alto coturno nas lides do poder
escoteiro que foi para a Comissão de Ética, admoestado e exonerado?
-
Tudo que tínhamos para manter nossas tradições, nossos valores, nossos símbolos
aos poucos são esquecidos e cancelados. Vi e não acreditei que uma nova normativa
uma norma chamada de 010/2019 acabou com as Siglas DCB e DCIM. Há tempos não
existem mais os ADCC DCC e os AAKL. Agora temos o DCI e o DCA! Basta você ser
da corte, fazer os cursos avançados solicitados e sai de lá com sua terceira
conta e fazendo outros com a quarta! As exigências técnicas e de vivencia escoteira
acabaram. Será assim em Gilwell Park? Como não tenho direitos as passagens
internacionais não fui lá e nem sei se as velhas tradições iniciadas por BP,
por Francis Gidney e quem sabe para ver como é. Quem sabe alguém irá dizer que
foi ele quem introduziu o anel traçado? Adeus Dinizulu o rei dos Zulus!
Acredito que em pouco tempo alguém vai mudar o “tartan” dos Maclaren e colocar
o seu! Mas temos lords aqui? Pois é se Bolsonaro dispensar o Abraham Weintraub,
ele irá organizar e melhorar nossos cursos. Não é elogiado pelo ENEM?
A
continuar assim breve Brownsea vai perder o iceberg da história. O Major Keneth
MacLaren nunca mais irá contar o que se passou naqueles dias junto a BP e viver
com os Corvos, os Lobos, os Maçaricos e os Touros. Pela primeira vez postei meu
certificado de um Curso Avançado que fiz. Estava no fundo do meu Baú
devidamente catalogado! Sei que ele não vale nada, mas tem um enorme valor para
mim. Gosto de repetir John Thurman, antigo Chefe de Gilwell e seu artigo
chamado de “Os Sete Perigos”. Suas palavras marcaram fundo. Um dia vou publicar
novamente tudo o que ele escreveu, Mas fica aqui suas últimas frases para que os
chefes e dirigentes meditem. (Se é que valorizam tais frases): - “É por isso
que devemos manter o escotismo dentro da simplicidade, da alegria e do
entusiasmo que ele inspirou. - OS ÚNICOS CAPAZES E POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO
A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES”!