terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Era uma vez... O Escotismo de Baden-Powell.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Era uma vez... O Escotismo de Baden-Powell.

... – Apenas um desabafo, uma decepção. Há tempos escrevo que estão roubando o meu sonho de menino e de Chefe escoteiro... Não condeno, não tenho direitos. Nem registro tenho! Afinal nem menino eu sou! Sou apenas um Velho Chefe Escoteiro perdido no meio da multidão, que se agarra com vento que parte sem direção... Adeus meu Chefe BP, para alguns você nem existe mais. Adeus meu garbo, adeus minha farda, adeus minha primeira classe, adeus meu sonho de Gilwell, tempos que não voltam mais! 

- Meus escritos muitas vezes não são para os que estão começando no escotismo feito sob encomenda pelos detentores do poder da Escoteiros do Brasil. Sei que isto não é novidade. A linda disciplina escoteira não deixa que mude de direção. A tradição o passado ficou para trás. Seu APF lhe mostra o novo caminho. Dificilmente vai lhe dar conhecimentos de como era o escotismo no passado. Poderá sim contar histórias de BP, mas sempre ferrenho no que aprendeu em seu curso e que hoje tem orgulho de ser quem é. Como eu são poucos que ainda mantem suas raízes escoteiras. Muitos dos antigos, dos velhos escoteiros, dos Lobos que nunca dormem, dos Impisa, dos chamados Velhos Lobos, dos camaradas que se foram e já guardaram no fundo do baú, sua tralha, sua farda, sua manta, seus apetrechos que tão duramente conquistou. Os antigos adestradores, chamados de DCB e DCIM colocaram a viola no saco e saíram por ai cantando baixinho: - Mudei de nome, minha sina escoteira agora é outra. Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus!

- Os defensores dos novos tempos dizem que o Sistema de Patrulhas, o método e o programa de BP não perdeu a memória. Mas não explicaram por que eles na maioria dos cursos estes temas nem acontece mais. Agora é uma metodologia, mais burocrática, menos técnica e o antigo Sistema de Patrulhas de Gilwell deu lugar à sala de aula com cadeiras mesa e quadro negro. Os doutores do saber escoteiro em nome de uma nova metodologia deram adeus às tradições, tão desrespeitadas e sempre alteradas para satisfação de um ego, busca da fama e ter seu nome marcado nos anais da história escoteira. Sempre a dizer que temos um escotismo moderno, vivo, com novas nuances de programação, apresentação e conhecimento. Dizem que uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade.

Mas eu na minha inocência de velhote do passado pergunto: ... Onde estão os resultados? Onde os homens escoteiros desta nova fase estão? Temos lideres empresariais? Temos pensadores famosos defendendo o valor da formação escoteira na comunidade? Tem educadores com PHD, Professores de alto saber com suas teses enaltecendo o Escotismo de Baden-Powell? Se existem desconheço. Vi há tempos um cantor que vestiram nele o vestuário, fotografado e sumiu na multidão. Gritaram Bravôo com a apresentação da Turma da Mônica apresentada com o novo vestuário escoteiro dando ideia que agora sim, o escotismo seria reconhecido pela juventude brasileira. Até agora nada vi e nada vejo. Morreu no nascedouro? O que estão fazendo com meu escotismo? Meu escotismo não, de muitos que como eu simbolizaram uma época de ouro, enaltecida para desgosto de alguns que não tiveram uma infância aventureira.

Outro dia postei um pedaço da história de Caio Vianna Martins. Muitos compartilhamento. O que a Escoteiros do Brasil fez? Um pequeno apanhado do desastre e mais nada. Investigaram? Ou será que a vida do jovem Caio não tem nada de interessante? Dizem que logo chegaremos aos duzentos mil... Tento entender a democracia escoteira, pois nem sei se ela existe. Só vejo alguns dizendo: - A EB baixou uma norma, a Região disse que agora é assim, o Distrito com novo nome nas reuniões determina o certo e o errado. Quem ousa manifestar está fadado a uma admoestação ou uma exoneração. Bendito “Conselho de Ética” dizem alguns. Sei que falo para o vento, quem sabe para os que partiram nada mais que um alento, uma lembrança do seu escotismo. Ou seja, “aquele que anda só”. O que nos diferenciava de um sindicado, de uma associação local ou nacional acabou. Agora temos assembleias e não mais conselhos. Diretores estão para todo lado. O Velho Chefe de Grupo mudou para presidente e uma briga de foice no escuro acontece nas assembleias de qualquer hierarquia.

- Os cursos se tornaram burocráticos. Agora se faz com cadeiras, mesas, quadro negro e uma parafernália eletrônica de fazer inveja. Vivencia escoteira? Adestrando chefes? Trabalhando com monitores? Não meu caro. Os novos Grupos admitem centenas e já dão direito a usar lenços escoteiros e num belo dia lá estão todos “Jurando a Bandeira”. Promessa por atacado! Lobo não vai mais para a Jangal. Vai para atividades distritais, regionais e nacional. É mais fácil, mais divertido para os chefes da Jângal se confraternizarem. Só falta aparecer uma líder nacional para dizer que agora acabou a Jangal, vamos valorizar os Arranha-céus. E assim de passo em passo vão mudando e esquecendo as tradições. Serão eles responsabilizados pelo fracasso algum dia? Quem em sã consciência irá dizer que estavam errados? Souberam alguma vez de um alto coturno nas lides do poder escoteiro que foi para a Comissão de Ética, admoestado e exonerado?

- Tudo que tínhamos para manter nossas tradições, nossos valores, nossos símbolos aos poucos são esquecidos e cancelados. Vi e não acreditei que uma nova normativa uma norma chamada de 010/2019 acabou com as Siglas DCB e DCIM. Há tempos não existem mais os ADCC DCC e os AAKL. Agora temos o DCI e o DCA! Basta você ser da corte, fazer os cursos avançados solicitados e sai de lá com sua terceira conta e fazendo outros com a quarta! As exigências técnicas e de vivencia escoteira acabaram. Será assim em Gilwell Park? Como não tenho direitos as passagens internacionais não fui lá e nem sei se as velhas tradições iniciadas por BP, por Francis Gidney e quem sabe para ver como é. Quem sabe alguém irá dizer que foi ele quem introduziu o anel traçado? Adeus Dinizulu o rei dos Zulus! Acredito que em pouco tempo alguém vai mudar o “tartan” dos Maclaren e colocar o seu! Mas temos lords aqui? Pois é se Bolsonaro dispensar o Abraham Weintraub, ele irá organizar e melhorar nossos cursos. Não é elogiado pelo ENEM?

A continuar assim breve Brownsea vai perder o iceberg da história. O Major Keneth MacLaren nunca mais irá contar o que se passou naqueles dias junto a BP e viver com os Corvos, os Lobos, os Maçaricos e os Touros. Pela primeira vez postei meu certificado de um Curso Avançado que fiz. Estava no fundo do meu Baú devidamente catalogado! Sei que ele não vale nada, mas tem um enorme valor para mim. Gosto de repetir John Thurman, antigo Chefe de Gilwell e seu artigo chamado de “Os Sete Perigos”. Suas palavras marcaram fundo. Um dia vou publicar novamente tudo o que ele escreveu, Mas fica aqui suas últimas frases para que os chefes e dirigentes meditem. (Se é que valorizam tais frases): - “É por isso que devemos manter o escotismo dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou. - OS ÚNICOS CAPAZES E POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES”!