Conversa ao
pé do fogo.
Cozinha
mateira? Sei não!
... – Temos dois tipos
de Cozinha Mateira, a do passado e a atual. A do passado ainda era válido caçar
pequenos animais, aves para a Patrulha se virar como “mistura” e a do presente
os ingredientes são levados pelos Escoteiros e Escoteiras e que dizem é de
enorme sabor. Dizem que cada ano aparecem mais cardápios de Cozinha Materia. Vi
algumas de dar água na boca. Fico feliz em ver que ainda fazem cozinha no campo
e descobrindo novas fontes de sabor escoteiro.
- Temos hoje uma
plêiade de Tropas com ótimos mateiros e mateiras que se divertem no campo a
fazerem comida mateira. Delicia! Sei que tem gente que faz e não gosta. Manjado
é o pão do caçador. Mas tem outras tais como a sopa de cebola, o pão do minuto,
o ovo no espeto, ovo na casca de laranja, ovo no barro, milho na brasa, maçã
recheada na fogueira, o frango no barro a carne moída na batata cozida nas
brasas do fogo de conselho. Arre! São centenas. Se deixar os mateiros Escoteiros
engordam esta lista em minutos ou horas. Dizem os bons mateiros que a comida
mateira escoteira é a técnica de se cozinhar sem a utilização de utensílios
domésticos. É um desafio Escoteiro!
Um deles disse que esta
é a comida típica dos Escoteiros nos acampamentos. Algumas tropas fazem uma atividade
de domingo em local próximo para desenvolver as qualidades mateiras. Sei que preparar
sua própria comida é um desafio para qualquer escoteiro ou escoteira. Saber
improvisar, paciência para substituir as tradicionais feitas nas panelas é uma
arte. (Tem uma vantagem, evita lavar panelas, o que tem muitos que não
gostam... Arre!). - Nada como um bom fogo, boas achas de madeira para brasa
para deleite de uma boa refeição. Eu um Velho aposentado mateiro adorava uma
banana verde uma cebola, uma batata e enrolar o pão do caçador para depois de
cozido me deliciar. Nos meus tempos da carretinha conhecia patrulhas que
adoravam fazer um bom churrasco, não o gaúcho. Ninguém levava a carne ou
verduras de casa. Caçar um pato da lagoa, um quati, um Caititu (Javali da
Terra) ou um porco do mato, laçar pássaros do Cerrado, uma traíra, um inhambu
com acompanhamentos de mandioca frita ou banana assada ou goiaba verde na
brasa. Bom demais. Trazer de casa? Nem pensar.
Eu com meus quase 80 anos
sou daquele tempo, onde a diligência em forma de carretinha passava e gritavam:
Hoje a boia é boa? Os Lobos da Montanha estão chegando! Alguns escoteiros
desciam para esticar as canelas e apreciar uma Patrulha fazendo um belo almoço
de cozinha mateira. Neste tempo dos cowboys escoteiros as patrulhas iam caçar
tatu, rodelas bem fritinhas de uma jiboia, se ter sorte pegar uns patos e
marrecos na beira da lagoa. Não pode mais? Tudo bem, mas era um manancial a
disposição. Pato-do-mato, pato-criolo, pato-bravo, cairina, pato-selvagem e
pato-mudo. Haja pato!
Hoje tudo mudou. O respeito
à natureza e a liberdade da fauna é uma realidade. Mas lá onde Genghis Khan perdeu
as botas não faltava uma gordura de porco, um pouco de sal para fritar,
cozinhar ou fazer uma bela sopa destes gostosos animais e pássaros no meio de
jenipapo, maxixe ou uma bela abobora achada nas milongas de um rio qualquer.
Tempos das Falas Novas, seja setembro ou novembro, onde Mowgly tentava
acompanhar a bicharada embriagando na primavera!
Uma mochila, manta,
muda de roupa, material de higiene um facão bem afiado, um canivete escoteiro,
uma faca mundial e um pequeno lampião a querosene e pronto. Partíamos cantando
a Canção do Arrebol. “Alerta Escoteiro Alerta”! Lista de mantimentos? Taxa a
pagar? Meu Deus! Nem pensar. Está me acompanhando? Quer ir comigo prú campo?
Use de sua imaginação e venha comigo conhecer e viver aonde o vento nos levar.
Na lagoa do Epaminondas? Oba! Sempre um franguinho a disposição, era só
degolar! Risos! Depois pescar traíras, bagres e pintados na sombra do
abacateiro.
Que fartura dos
ensopados. Como disse Pero Vaz de Caminha, nesta terra se plantando ou não... Tudo
dá! Pode rir, mas no Rio Chorão era peixe para pegar com a mão. Zé Bigode o
intendente e às vezes cozinheiro, na curva da cachoeira pegava peixes com
fartura. Então gente vamos avante? Mochila nas costas sorrisos nos lábios vamos
atravessar o Rio Piraçu, correnteza forte, e depois de atravessar vamos
arranchar na Clareira do Guaporé. Um vai pegar lenha, outro um fogo mateiro e
você aguadeiro procure uma colmeia e devagar sem alarde tire um ou dois favos
de mel! Medo? Chame o Baloo, ele é o mestre do mel de abelha.
Eita campo sem graça se
não vier tempestade, se não houver trovões raios na mata este acampamento não
tá com nada. A noite é a melhor hora. Capa no costado, fogueira acesa, bananas
e cuidado com a batata doce, ela não dá de banda! Um cafezinho pru Monitor e
pru Sub um gaúcho dos “bão” um chimarrão no ponto e bem passado! Passado?
Kkkkkk. E a noite vamos pegar galinha d’angola gostosa frita ou não vale a
refeição. Vamos fazer no barro. Tiro o bucho e bem limpado, pouco de sal e
gordura, meto barro nas penas e cabeça pernas e pé, no buraco meio fundo a
fogueira vai produziu brasas prá “dedeu”! E lá vai ela, bem tampada e é só
esperar para se deliciar.
Comida mateira? Poxa
gente aqui não é boteco e nem restaurante. Vamos que vamos na floresta do
Jangadeiro. Lá tem Castanha e o Açaí. E lindos pés de palmito, sem contar inhames,
maracujás e folhas de Lobrobô. Não conhecem? Risos. Espere o ensopado que Fumanchu
o cozinheiro faz sem panelas... Está rindo? Calma. É o truque do velho chefe.
Não conto para ninguém, só para quem acampa comigo risos. Pois é, comida
mateira é bom demais. Tem gente que gosta e outra não. Eu fico no meu pedaço.
No campo não tenho embaraço. Dá para comer? Não enjeito!
Sei que hoje tudo é
levado de casa. Mas tem outro jeito? Claro que não, mas mesmo assim vale a
descoberta da comida mateira. Agora andar na floresta e sentir um Macaquinho pulando
no ombro é de coçar o queixo e sorrir. Medo da febre amarela? Nem não! O macaco
é nosso irmão. Comida Mateira? Comece, e em pouco tempo estará tão acostumado
que vai pedir a mamãe: - (folgado... Pedindo a mamãe?) Mamãe! Hoje eu quero
sopa de maracujá com folhas de Lobrobô. E não esqueça mamãe, deixe tostar
bastante a Galinha D’angola feita no barro branco que encontrei e tá assando no
quintal!