Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro “Gagá”.
“A morte lhe
cai bem”.
Juro por Deus que não sei como fui
parar em Curitiba. Dizem que é uma linda cidade, mas o frio lá é de lascar. Meu
pulmão reclama e diz que vai parar de me dar ar para respirar. Mas lá estava
eu, na sede da UEB, ou melhor, EB (até hoje não sei por que da mudança, o U era
União e como apareceram outras associações Escoteiras não bem vindas, não havia
mais razão de ser União, ou existe outra explicação?) – Bem pelo menos não fui
de boa vontade. Detesto empáfia, corro de vaidade e soberba. Altivez arrogância
e presunção eu passo longe. Não que lá na sede central da EB tem gente assim.
Soube que tem muita gente boa, trabalhadora e honesta. Afinal é a terra do Moro
um juiz que hoje é ministro e que moralizou o Brasil. Continuando, não fui por
cortesia. Fui obrigado. Ameaçaram matar meu papagaio meu louro que amo e adora
as empadinhas da Célia se não acompanhasse os dois profissionais escoteiros que
trabalham lá. Eram jovens simpáticos, não os meus tipos de Chefe, mas dava para
o gasto. Um deles com um bastão maior que o meu e o outro com seis apitos
pendurados no pescoço e oito tacos enfiados em um cadarço. Se ele começasse a
apitar seria um inferno na minha rua.
Com a dinheirama que eles tem em caixa
nem de avião fomos. Riram na minha cara dizendo: - Avião só os diretores
internacionais e você é um reles chefinho velho esclerosado, senil caduco e
abilolado. Levaram-me em um fusca Velho, verde e amarelo que queimava óleo “prá
dedéu”. A viagem foi um inferno. Levei meu aparelho de inalação e queria a toda
hora parar em um posto para inalar e ir “pru miguê”. Eles achavam que eu estava
fazendo pirraça. Meus aparelhinhos pulmonares não ajudavam. Enfim dois dias de
viagem para fazer 400 quilômetros. Fusca é fusca e eu já tive um, mas aquele
era um fusca de araque. Achei a sede nacional bonita. Bem cuidada. Pudera a
dinheirama entrava a rodo. Eu sabia das taxas de tudo. Perguntei se havia taxa
para entrar (eu estava duro). Afinal o Edir Macedo cobrava no seu novo templo
para entrar e seria mais um dinheirinho prús cofres da EB. Eles fecharam a cara
e me jogaram em uma saleta. – Aguarde! “A Comissão de Ética” já vai chegar. O
que? Comissão de Ética? O que eu fiz? Sou inocente. Juro por Deus e Nossa Senhora!
Sou apenas um Velho Chefe Escoteiro Gagá e dizem que pé de chinelo dos bons!
Eles nem respostas deram.
Ouvi vozes em uma sala ao lado.
Quem seria? O DEN? O CAN? Este povo não trabalha e só faz reunião? – Uma voz
disse: - Precisamos aumentar as mensalidades e taxas conforme o dólar! – Outro
disse, nem pensar, o dólar sobe e desce e não podemos arriscar. Nosso caixa
está ficando baixo! E o Euro? Ou melhor, a Libra? – Bah! Então eram assim as
decisões? Não prometeram transparência? Eu sabia que isto nunca existiu na UEB,
Cacilda, esqueci, agora é EB. – Outro disse: Ele já chegou? – Um dos profissionais
escoteiros disse sim. Tente usar a técnica da CIA ou da KGB nele. Se não der
certo veja o manual do Mossad (serviço secreto israelense). – Minha nossa!
Seria eu? – Bem não demorou e entrou um deles. Vestido com o indefectível vestuário,
calça bombacha presa com embira, tênis branco, camisa fora da calça para
esconder o barrigão e a falta do cinto. Com aquele ar de Velho Lobo todo
poderoso me olhou de alto a baixo. Pensei comigo: - Atuo como o Velho Vado
Escoteiro bom de briga, ou fico naquela de santinho do pau oco?
Ele sentou a minha frente. – Chefe
anda dizendo que seus escritos são melhores que da EB, diz também que é de
graça que você faz por altruísmo, comenta sobre patrulhas, monitores, comenta
sobre Baden-Powell como se fosse o tal. E termina dizendo: - Tudo de graça! Olhei
para ele e não disse nada. – Sabe que está tirando o pão da EB? Se continuar
assim acaba com o glorioso Paxtu. E o leite das crianças? Nossa cantina tem
tudo, os melhores livros escritos por gente que sabe o que queremos. Precisamos
vender. Já temos mais de quinze funcionários para atender a todo Brasil. E vem
você com esta conversa mole de PDF gratuito, como se você fosse o papa do
escotismo! Agora vem com um papo que nosso vestuário é caro, é mal feito,
desbota, pega fogo facilmente e não tem uma boa confecção.
Afinal o que pretende? Acha que este
caqui fajuto que veste serve para alguma coisa? Se ele custou noventa reais e
daí? Nossa vestimenta tem 19 tipos, cada um com um preço. Com quaisquer
trezentas a quatrocentas pilas você adquire um. Compra quem quiser! – Olhei
para ele. Ele me olhou. – Quem quiser? Perguntei. Ele virou a cara. – Continuei
compra que precisa, não tem outro lugar para vender e nem pode fazer! – Ele se
levantou e gritou: Entre a comissão! A técnica da CIA e da KGB e do Mossad não
adiantou. Mande entrar também um soldado graduado do Estado Islâmico. Se
possivel aquele que usa a espada para decepar pescoço de Velhos Chefes Escoteiros
fajutos!
Meu Deus! Onde estava? Na Síria? No
Iraque? Em Fallujah? – Tentei fugir e não deu. Um deles disse? Amarre-o bem.
Use um nó de escota, outro de arnês. Se precisar um volta do fiel triplo. Nas
pernas um nó de frade e outro de volta da ribeira bem apertado. Para ele não
fugir, faça um Balso pelo seio com alças corrediças e termine com um nó górdio
para ninguém o soltar. Leve-o na Ponte das Bandeiras sobre o Rio Tietê. Cubra-o
com folhas de bananeiras e enfie em sua goela uma porção de abobora seca.
Depois jogue-o no rio. Deixe que as piranhas nos livre dele! – Chefe Presidente
Doutor Mortalha, no Tietê não tem Piranhas! Disse um membro da Comissão. –
Então faça-o viver o som da mata ouvindo o rio feder em seus ouvidos. Faça-o
cantar embaixo d’água no meio da sujeira. Dizem que lá tem capivara e Jacaré,
quem sabe eles o comem vivo? – Minha Nossa Senhora! B-P que me proteja. Morro
gritando ou morro como herói? A porta abriu. O Presidente entrou. O presidente
da EB e não o Bolsonaro aquele que fala pelos cotovelos. – Cala-te ele gritou.
Morra como homem! - Chefe Doutor Presidente, eu sou só um Velho Escoteiro e
olhe fajuto mesmo! Ele sorriu. Aquele sorriso que só os chineses com Corona Vírus
sabia como fazer. Parecia o Roberto Alvim Secretário da Cultura quando
destilava vocalmente o discurso de Joseph Goebbels ministro do ditador Adolf
Hitler.
Eu educadamente gritava e como gritava.
Berrava: - Tietê não! Me leve para o Rio Doce em Governador Valadares ou o São
Francisco ou o rio das Velhas lá em Pirapora. Lá eu conheço as barrancas, as
fazendas os peixes e as embarcações. Eles riam a valer. – Célia como sempre a
me salvar – Marido! Marido! De novo não! Precisa acabar com estes pesadelos
infernais! Acorda! Acorda! – Minha linda Célia sempre me salvando. Levantei
suado. Não sei por que dormi com meu caqui querido. Celia preciso a partir de
hoje só dormir com meu bastão de ponteira de aço ao meu lado. Ela sorriu aquele
sorriso que só ela sabe dar. Acalmei. Escotismo? Bom demais, mas sempre digo
Vado Escoteiro, fale menos e escreva mais!