domingo, 29 de março de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Liberdade de pensamento.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Liberdade de pensamento.

... – Liberdade de pensamento liberdade de consciência, liberdade de opinião ou liberdade de ideia é a liberdade que os indivíduos têm de manter e defender sua posição sobre um fato, um ponto de vista ou uma ideia, independente das visões dos outros. Consta na “Declaração Universal dos Direitos Humanos” em seu artigo XVIII, que expressa que “todas as pessoas têm direito a liberdade de pensamento, consciência e religião”. Os sábios complementam que ele é diferente e não deve ser confundido com a liberdade de expressão. Quanto a esse deixo para meus diletos amigos procurar nas paginas do Google, um mestre na arte de informar e deixar a gente às vezes cheio de dúvidas confusão e dubiedade.

- Como muitos também estou de quarentena sem reclamar. Há tempos me acostumei a ficar na minha barraca, no acampamento onde moro, saindo pouco do meu Campo de Patrulha. O Chefe suspendeu a física das seis, a inspeção das nove e até as jornadas e jogos de pista, sem contar o fogo de conselho que ficou na saudade dos tempos que não voltam mais. Fora o cozinheiro que às vezes me pede para pescar alguns lambaris ou uma traíra para o almoço ou jantar, fico pioneirando aqui e ali, fazendo o que sempre fiz. Sinceramente gostaria de dar um mergulho nas águas claras e límpidas do Rio Doce, mas hoje sei que está sujo barreado e ninguém pode se aproximar. Queria dar uma volta na floresta do Quati, catar coquinho, jabuticabas, amoras, araçá, Gabiroba, Goiabinhas, banana da terra, Cambuci, cereja e tantas outras que na Mata do Tenente era só pegar e por no bornal. Mas os homens do jaleco branco, um uniforme desconhecido da Escoteiros do Brasil e conhecido dos escoteiros idosos que gostam de ficar nas UBS nos postinhos de saúde e unidades de socorro, dizem que não. Eu um amante da Rede Globo (adoro) e demais emissoras sigo direitinho às instruções.

Dando uma de mestre coisa que não sou, leio atentamente pela manhã, antes das estripulias de uma caminhada dentro de casa, algumas flexões e lá vou eu me arriscar a ler noticias e postagens do Facebook, um velho camarada que aceita a tudo e a todos. Lá estão os a favor e os contra do que fazer nesta fase da Pandemia Global. São noticias do Covid-19, das orientações dos entendidos do vírus e como fazer para evitar. Comandantes eleitos em diversos estados brigam para todos ficarem em casa enquanto o Capitão o mandatário supremo discorda. A cambada do poder sabe que menos de 10% da populacho tem alguma reserva na famosa Poupança Brasileira. E a contra gosto vem o Presidente aplaudido por uns detestados por outros dar uma carambola do seu rico dinheirinho do PIB ao populacho trabalhador, mas sempre dizendo para todos voltarem a se esbaldar nas trilhas escoteiras deste mundo perdido chamado Brasil.

Coço meu cangote, pensando que é sinal do corona, que deixei de lado no meu banheiro e troquei por um Lorenzetti garantido por um mestre italiano que se escondeu nas serras de Teresópolis com medo do vírus, não sobe e nem deixa ninguém subir, pois fechou a porta de sua barraca e não abre de jeito nenhum. Diz ele que apesar de ser italiano, é melhor que o Corona que sempre me deixou na mão. E lá vou eu escorregando os dedos na face do meu celular, ainda com medo, pois não sei se ali posso pegar a tal moléstia e de olhos abertos já ensaboado vou lendo sem dar muito crédito a alguns e a outros parabenizando pela brilhante ideia criada ou copiada. São tantas tolices, pachouchada e disparates sem menosprezar a inteligência de muitos que são meus amigos virtuais a quem devo obediência nas palavras e que volto novamente no artigo XVIII da liberdade do pensamento. Serei eu o único que vê o perigo que estamos passando, ou quem sabe estou errado e devo voltar a minha vida errante, cheias de obstáculos e sinais de pista incríveis nas incríveis florestas do meu Brasil?

E lá vou eu pelas trilhas de Derribadinha, atravesso o Rio Doce na minha jangada de piteira, nos meus tempos de criança e vou correndo nas Tabas e Ocas dos Crenaques ou Krenak, conhecidos também como Aimorés a procura do Cacique Itagiba, que um dia sentado debaixo de um Pé de Jequitibá Rosa, sorrindo com aquele ar de sonhador ilustrado comentou: Vado Escoteiro não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência. Olhei para ele desconfiado, a frase não era dele e sim de Leon Tolstói. Quem sabe ele seria um erudito que eu desconhecia? Deixo de lado as lembranças e retorno ao meu campo de Patrulha. Sentado na porta da barraca onde construí uma Poltrona do Astronauta, pilotando uma vara verde em um fogo brando cravado na ponta um pedaço de Paca aquele espécie de roedor da família Cuniculidadae, ainda só, com meu bule esmaltado cheio de café, vou meditando o que leio e o que devo seguir... Eu? Logo eu? Um contumaz mongolão, um rebelde sem causa justificada vou pensando naquele poeta que escreveu:

- Nem quero saber quem foi o inventor do Corona Vírus. Nem quero saber o resto da história. Eu quero mais é que o “Chinês” suma do mapa. Eu quero que mundo fale uma língua só. Não Sei, mas a do coração parece não ser entendida. Epa! Nada disso, precisamos dos chineses, eles compram dedeu do Brasil e nós recebemos em troca quinquilharias vendidas nas lojas de real zero noventa cada uma. Agora eles tem coisas que nem os americanos não tem. Tudo bem ainda não posso comprar um Caoa Chery, um iphone 11, um Galaxi S10 Plus, um... Sei lá! O melhor meu amigo escoteiro é não confundir com os falastrões apelidados de Zero um, Zero dois, Zero três e o Zero Quatro que aprendeu a ficar calado. E para não dizer que eu não falei das flores, vou despistando no pedaço de onde avistava a Cachoeira do Sonho e onde pegava peixes com a mão nos meus tempos de criança dizendo o que disse o poeta: “Fuja dos três acidentes geométricos da vida: Círculos viciosos, triângulos amorosos e bestas quadradas”!