terça-feira, 10 de março de 2020

Conversa ao pé do fogo. Eles estão saindo do escotismo... Por quê? – Parte III.




Conversa ao pé do fogo.
Eles estão saindo do escotismo... Por quê? – Parte III.

... – Caso tenha interesse em ler a Parte I e II elas estão postadas neste mesmo grupo ou página. Abraços fraternos.

- Levar em conta o ponto de vista do jovem. BP.

                   Quem sabe o mais importante tema que poderia ser uma das possíveis causas da saída dos jovens. Sua importância é primordial. O escotismo tem como meta a formação do jovem, e neste caso ele é o mais interessado em um programa agradável e que lhe prenda pelas suas habilidades da descoberta e do fazer fazendo. Eu não posso em sã consciência afirmar que isto não acontece, mas sei de muitos que levam a sério o programa e o método que nos foi deixado por Baden-Powell. - Se o nosso Movimento é uma fraternidade livremente aceita, e não tem caráter de obrigação, o adulto só atua com supervisão. Ele (o Escotismo) pretende fazer com que o jovem participe de uma sequência de atividades adaptadas a sua idade, exercitada principalmente ao ar livre, ajudando uns aos outros, confiando-lhes responsabilidade e assim acreditando que seu caráter se afirme. Só assim é possível que ele se torne também capaz de cooperar e liderar! 

                     Já vimos que nos países avançados, existe a prática da demonstração e a da descoberta, às atividades ao ar livre e a aprendizagem em pequenos grupos de fazer para aprender. Estas são técnicas escoteiras que conhecemos de outra forma. Quem sabe, talvez pela repetição pura e simples dessas técnicas, dos jogos e até a completa ausência do método nas atividades práticas da tropa, trouxe aos olhos do publico um desinteresse grande. Em alguns casos alguns educadores nos consideram um Movimento excessivamente infantil e nos domínios da educação somos vistos como atrasados e ineficazes. Seria isto verdade? Quando BP reuniu em 1907 na ilha de Brownsea na Inglaterra 20 jovens de diferentes meios socioeconômicos e educativos, ele trouxe uma enorme contribuição educacional que, na época estava estagnado. Assim o Escotismo veio dar uma visão mais abrangente às escolas e estas é que até hoje estão tirando partido das técnicas escoteiras de demonstração, observação e dedução, aplicando-as às suas classes. Às técnicas de aprender fazendo e tentar fazer sem saber, até descobrir o certo através do erro, sempre foram partes do método Escoteiro. Confiar no rapaz para que ele próprio seja responsável pela sua autoeducação e disciplina sempre fizeram parte do Escotismo.

                   Pensava BP que para termos o sucesso esperado, era só dar liberdade ao jovem para que ele próprio fosse o responsável pela sua autoeducação e disciplina. Dar liberdade ao espirito de competição e da aventura, através de jogos, acampamentos e excursões. Este seria o Programa Escoteiro e que hoje muitos ainda não entenderam bem o que isto queria dizer. O escotismo tem o melhor sistema de educação do mundo, afinal nós temos uma base excelente e sem similar para realizar isto: - A Patrulha! - Ali os jovens podem viver trabalhar e jogar em seu próprio grupo. Não vou me iludir e afirmar que o mundo evoluiu, a juventude já não é mais a mesma do passado. No entanto temos muitos falando pelos jovens, dizendo o que eles pensam, programando e alterando o melhor que existia para ele: O sonho aventureiro, a vida no campo e tantas mais que muitos hoje deixam no ostracismo em nome da modernidade e que acreditam o jovem prefere. Ouvir o ponto de vista do rapaz se tornou obsoleto apesar de que muitos afirmam que fazem isto. Pensando que nos últimos tempos muitas mudanças foram feitas. Em termos gerais poucos jovens foram consultados.

                   Ultimamente tenho visto opiniões diversas sobre o método Escoteiro e o programa Escoteiro. Vários pedagogos, psicólogos e tantos ilustres professores vêm no escotismo uma fonte enorme de estudo. São capazes de analisar teoricamente tudo que o escotismo precisa, dão sugestões e até mesmo fazem artigos mostrando o que precisamos para alcançar o interesse do jovem. Em palavras teóricas falam maravilhas de um novo método, calcado em posições positivas para melhorar nosso escotismo, baseados numa releitura compatível com o mundo de hoje. Muitas foram às mudanças. As defesas dos que fizeram isto foram prodigas em ter outros seguidores. Sempre em nome de uma nova tendência mundial ou mesmo calcada na nova ordem universal onde os jovens são descritos de maneiras incríveis e para isto tudo deve mudar. Os resultados não foram encorajadores. Ninguém se voltou para isto. Continuam afirmando que o mundo é outro os jovens são outros e a seara de uma nova era continuou. E os resultados? Lembro que falo em nome de mais de mil grupos no país. Cada um com sua característica. O jovem do norte não é o mesmo do sul.

                   Não é possivel fazer um bom escotismo sem confiar no rapaz para que ele próprio seja responsável pela sua autoeducação e disciplina. Se não fizermos isto então devemos nos ater a fazer um novo escotismo que não àquele que BP nos deixou. O Macpro que todos conhecem foi um programa usado pela UEB sem mesmo informar de maneira clara e objetiva até onde poderia chegar. Sei que dificilmente nossos lideres fazem pesquisas, vão saber nas bases o que os jovens querem e a não ser aqueles grupos mais aquinhoados cuja chefia tem os melhores em seus quadros, ninguém mais é procurado. Se ele prefere a tecnologia e metodologia que e jogado a cada minuto de sua vida e que aquele escotismo aventureiro não tem mais lugar na sua formação, eu prefiro ouvir dele próprio e não de adultos que estão criando situações novas para sua educação. Afinal mudamos tanto sem ter nenhuma experiência para ver se os resultados foram bons. Se existem grupos bem formados. Se o novo método e programa de agora são perfeitos. O que vejo é que muitos desistem no meio do caminho. Está na hora de repensar o programa e isto seria precedido de uma experiência em pequenas tropas e ver se o resultado da permanência do jovem melhorou.

                  Não temos dados da evasão de jovens. Nem mesmos os motivos. Cada adulto tem sua opinião, mas pesquisas nunca foram feitas. Comentam que para cada um jovem que entra um sai. Ainda não tivemos uma preocupação maior com a evasão. Parece um tema tabu, ninguém diz ninguém fala e quando muito dão sua opinião como se adivinhassem o que o jovem pensa. Não posso afirmar se o curriculum dos cursos de hoje tem esta preocupação. O que vejo é um completo esquecimento do Sistema de Patrulhas, dos acampamentos de tropas e uma preocupação constante em produzir grandes atividades nacionais, onde a individualidade se sobrepõe a equipe. Os voluntários que estão chegando pouco sabem da nossa história. Poucos conhecem de nossa mística e ou mesmo nossas tradições. Perderam os valores.

                   Muitos insistem que temos uma organização dentro do escotismo que tem dado enorme contribuição. Falo da participação dos Jovens Lideres criada pela UEB cuja finalidade é ouvir o ponto de vista do jovem. Tenho minhas dúvidas. Na maioria são jovens de 16 a 27 anos. Onde começa a formação na Tropa está não pode participar. Os resultados das discussões dos Jovens Lideres até hoje desconheço. Sei que todo programa e suas adaptações foram feitas por adultos. Ainda insisto que não estamos ouvindo o ponto de vista de rapaz como dizia B-P. Programas, atividades e outros afins são idealizados por adultos. Tenho minhas dúvidas se pelo menos metade das tropas no Brasil tem funcionando corretamente o Sistema de Patrulha, O Conselho de Tropa, O Conselho de Patrulha e a Corte de Honra. Se isto não está sendo feito poderia sim ser parte da evasão escoteira no Brasil. É mais um tema para meditar.

 Amanhã o último capítulo da série - Eles estão saindo do escotismo... Por quê? Até lá discutam, comentem compartilhem, todos precisam saber que nós os chefes também sabemos pensar e ter opiniões! – Até lá!