A modernidade tem seu preço.
COVID-19 – Vida ou morte!
... – “Como era belo meu tempo de
escoteiro tempo de tão doces ilusões... De tardes belas, amenas, de noites lindas
serenas, de estrelas vivas e puras, quadra de risos e flores, em que eu sonhava
aventuras ao ouvir as ondas do mar”... ”Sonhava que o mundo era um prado, uma
campina, linda, matizada das flores do meu jardim. Sonhava que iria ser um errante
escoteiro, pé na estrada, de passadas entrelaçadas, de acampamentos sem fim”...
“Nestes sonhos de magia, criei tantas fantasias, a meiga luz do luar... E
quando contei meus segredos, para ela na rama dos arvoredos, na brisa que beija
o mar, lembro que ela sorriu, eu calado nada disse”... “Foram sonhos, lindos,
mas passaram e desses sonhos findos só ficaram lembranças. Só lembranças tão
saudosas, daquelas noites formosas, dos sonhos que já se foram. Hoje eu sei que
tudo passou e ainda vivo sonhando de voltar de novo nos tempos que não voltarão
jamais”! Baseado no poema de Cassimiro de Abreu “Os meus sonhos”.
- Costumo levar a sério os alertas das
autoridades médicas e outras quando o tema é serio e não merece comentários de
troça, chacota, gracejo ou pilheria. Hoje muito mais, pois estou contando os
dias que ainda posso estar aqui com os amigos, já que o amanhã pertence a Deus.
Do Corona Vírus sou um cliente em potencial. De tudo que tenho a pulmonar é a
pior. Tento ao meu modo seguir as orientações fornecidas e até mesmo pensei em
me tornar um ermitão escoteiro como fez o Chefe Zezé no meu conto o Ultimo Chefe
Escoteiro. Ele contra tudo e contra todos se mandou para um local ermo, longe
da civilização e ficou lá quase dois meses vivendo da natureza e tendo os pássaros
e bichos como companheiros em todas as fases que acampou. Ele assim como muitos
se acostumou a acampar “a escoteira”, sozinho, levando sua matutagem e
badulaque, para sair um pouco do barulho da civilização. Sei como é... No
passado fui feliz acampando à escoteira no Pico do Ibituruna, na Serra do Cipó,
nas matas do Tenente na Serra da Piedade e uma vez no Pico do Itatiaia.
Sempre fui adepto de tentar viver e ouvir
os sons da natureza. Quando conseguimos é uma descoberta extraordinária. Eu sou
um privilegiado, consegui ouvir os sons das árvores, das nascentes, de animais
e pássaros noturnos, os zumbidos das borboletas, do beija flor e muitas vezes bem
juntinho de várias cigarras só para ouvir o seu cantar. Quando fiquei dois dias
na Gruta da Lapinha, descobri um salão cheio de morcegos. Foi demais! Dei por
muitos anos meus parabéns a todos escoteiros da Patrulha Morcego. Quase levei
um susto ao ouvir o Uirapuru e um Trinca Ferro cantando maravilhosamente. Pensando
bem quem sabe dou uma de principiante no escotismo, pego meus trecos, meu bornal
com minhas rações, meu materialzinho de sapa, um pequeno vasilhame e sem
esquecer meu lampião vermelho a querosene presente de um Chefe mineiro e me
mando por aí... Mas aonde vou bengalando? São Paulo não ajuda. Não é como
antigamente, me deu vontade lá vou eu a Escoteira acampar. Agora dependo de
transporte autorização e em alguns tenho que pagar. Disseram para mim que para
acampar tem de pedir autorização ao distrito região e enviar cópia para a Nacional.
Ainda não sei se é necessário mandar para a WOSM ou OMME.
Mas a coisa é séria. A Pandemia da
Covid-19 é um fato. Nos últimos 200 anos tivemos várias epidemias que causaram
a morte de milhões de seres humanos pelo mundo. Em 1855 a peste negra que
também surgiu na China, 1918 a Gripe Espanhola matou mais de 40 milhões de
seres humanos. A Gripe Asiática em 1957 chamada de H2N2 apareceu também na China
e morreram mais de um milhão de pessoas. Em 1968 tivemos a Gripe de Hong Kong.
Sempre a china como protagonista. Quase três milhões morreram. Não vamos aí
incluir a AIDS, surgida em 1982 e que infectou mais de 33 milhões de pessoas em
todo o mundo. A Creutzfeldt-Jakob conhecida como Vaca Louca, a Síndrome Aguda Respiratória
Severa (Sars) e outras que não cito aqui. Dizer que no passado era melhor desta
vez afirmo que não. Hoje correm atrás de uma vacina, mas estão prevendo um a
dois anos para descobrirem alguma que possa combater o Corona Vírus.
È um fato novo para o Escotismo
Brasileiro. Ouço Chefe dizer que não vão parar as atividades. Por quê? Qual a
responsabilidade de adultos reunindo jovens em um mesmo local se acaso surgir à
doença em alguns de seus escoteiros ou chefes? Prevenir é o melhor remédio. Os
pais são também responsáveis. Teremos pelo mundo e no próprio Brasil uma
mortandade sem limite, isto é fato. Os grupos de risco podem infectar um ao
outro. Dizer que é forte, é novo é uma imbecilidade e irresponsabilidade sem tamanho.
Um destes podem um dia tossir perto de mim, ou tocar em algum que eu também
irei tocar e serei infectado. Dizer que não pretendia me matar tudo bem, mas e
seu pai, sua mãe e seus avôs ou amigos idosos? Temos como Escoteiros mostrar
que e nesta hora que devemos nos unir mesmo distantes um dos outros e mostrar
que esta pandemia não veio para brincar.
Ainda estou pensando para onde poderei
ir acampar “a escoteira”. Terei forças? Terei condições de caminhar em trilhas distantes
para ver no alto da serra o nascer e o por do sol? Poderei ficar embaixo de uma
cascata sentindo a água fria bater em meus ombros e sorrir? Poderei no alto de
uma pedra me maravilhar ao ver a lua nascer no céu? Poderei subir em uma árvore
para conversar com um macaquinho amigo? Poderei deitar na grama e ver as
estrelas brilhantes e contar quantas estão ali brilhantes no firmamento? Poderei
guardar alguns cometas passantes no meu bornal? E dormir sob o manto da noite para
mim ainda será possível? Aguentarei as intempéries, o orvalho da madrugada, o
cantar da passarada e cantar acorda escoteiro acorda? Sei que não. Não deixaria
para trás minha companheira de aventuras a quem amo. Célia é tudo para mim.
Também devo satisfações aos meus filhos a minha filha, aos meus netos e netas e
nunca poderei abandonar o sorriso da minha bisneta Maria Eduarda.
Deixo meus sonhos seguirem por ai...
Por enquanto são somente sonhos. Pisarei na realidade evitando o mais que possível
e orientando os meus para também cumprirem as orientações das autoridades
médicas. Preciso viver mais um pouco, pelo menos até quando Deus quiser. Não
tenho medo de amanhã deixar este planeta que amo. Em qualquer tempo estarei junto
a todos que me querem bem. Até então fico em casa, se arredo o pé é só para
caminhar em local sem aglomeração. Agora mesmo estou sozinho na minha sala
mágica a escrever o que mais gosto, falar de Baden-Powell dos amigos escoteiros
do meu passado e da minha família que está sempre presente em meu coração. Em
sonhos farei meus acampamentos “a escoteira”. Subirei nas mais altas montanhas,
caminharei por trilhas nas planícies onde um dia caminhei. Irei explorar rios,
picos, vales incríveis que um dia tive a honra de pisar. Destes não abro mão.
Meus sonhos são meus. Com Corona ou sem Corona eles são minhas recordações para
viver e morrer feliz!