sábado, 7 de março de 2020

Conversa ao pé do fogo. Eles estão saindo do escotismo... Por quê? Parte I.




Conversa ao pé do fogo.
Eles estão saindo do escotismo... Por quê? Parte I.

... - Há tempos fiz uma serie de artigos sobre o motivo porque muitos estão deixando o Movimento Escoteiro. Pode ser que meus comentários estejam superados. A UEB até hoje não tem uma politica abrangente sobre o tema e pelo que eu saiba não comenta sobre a evasão. Não sei se para ela é vantagem esta deserção, pois logo outros aparecem aceitando a nova metodologia imposta por ela. Quando publiquei este artigo pela primeira vez foi um dos mais comentados e lidos em sua época. Posteriormente desdobrei em quatro, mas como sempre só para informar. A UEB não dá respostas. Sempre tem alguns na linha de frente para defender, explicando o inexplicável. Uma pena!

“Ele entrou para o escotismo pensando que seria um aventureiro, um explorador, um herói que sempre sonhou. Assustou quando viu que não era. Tudo era igual a sua casa, a sua escola e ele tinha uma internet e um celular melhor do que o que viu ali. Partiu para outra. Ali não era o seu lugar”. Seus amigos de bairro tinham programa melhor.

                          Porque estão saindo? Se isto acontece tem motivo. Mas quais? Até hoje ainda não temos uma politica de contenção para diminuir esta evasão. Nem mesmo sabemos quais os reais motivos. Temos sim bons chefes que com sua experiência apontam diversos fatores. Vejamos o que esta evasão produz de mal: - A qualidade não cresce a quantidade idem. Baden-Powell pensava que precisaríamos segurar o jovem por pelo menos dez anos. Uma utopia nos dias de hoje. A evasão é tão grande que mais parece um sistema rotativo de entra um sai outro. À medida que a juventude cresce, passa a integrar a sociedade como um todo. Se aqueles que passaram pelas fileiras Escoteiras e não tem boas lembranças, dificilmente serão os que irão fazer um proselitismo das vantagens educacionais do escotismo. Sabemos que não somos reconhecidos pelas autoridades em nosso país. Ainda não aprendemos a mostrar nossa força isto pensando se há temos. Poucos estão devidamente preparados para em poucas palavras, dizer o que somos e o que pretendemos.

                         Todos acreditam na nova sistemática dos programas copiados pela Escoteiros do Brasil, mas sem ter uma visão se realmente é isto que precisamos. O que éramos a vinte anos comparado nos dias de hoje não temos nenhum dado comparativo para ver se está dando certo. Cada um tem sua maneira de interpretar vendo o que acontece em seus Grupos Escoteiros. Quem perde com isto é o Movimento Escoteiro. Sei que muitos poderiam dizer o porquê não crescemos, o porquê não existe mais aquela procura do passado e teremos outros bem formados e com exemplos pessoais para dar. Sem entrar aqui no mérito do conhecimento, ou da afirmação que está tudo bem, irei apresentar em quatro artigos sucessivos, minha opinião vivenciada no escotismo que conheci. Não pretendo entrar em desacordo com nenhum dos que discordam, mas lembro de que só iremos estancar esta sangria quando nos dispusermos a analisar, pesquisar, conversar e aceitar sugestões dos diversos núcleos Escoteiros do país. Isto englobaria desde o mais humilde grupo até a Direção Nacional. Vejamos apenas alguns motivos no meu modo de pensar da evasão escoteira:

- Programa. Ele não atinge os objetivos para motivar os jovens.
- Apresentação pessoal. A vestimenta não trouxe os resultados esperados.
- Formação e qualificação dos Chefes. Os cursos hoje estão mais preocupados em temas não técnicos e a metodologia Bipidiana foi substituída pela modernidade.
- Ouvir sempre o ponto de vista do jovem. Ele hoje não tem voz e voto nas alterações feitas pelos dirigentes, inclusive apesar de que muitos dizem o contrário.  

               Abordarei proximamente em cada tema minha opinião sem fugir dos padrões atuais. Não basta, no entanto escrever sem que haja uma discussão por todos que participam do movimento. Para isto uma pesquisa de opinião de âmbito nacional teria muita validade para se chegar a um meio termo. Não me considero um expert no tema. O que deixo transparecer foi aprendido por uma vida dedicada ao movimento. Deste os sete anos até hoje. Sem motivar, valorizar, ouvir e elogiar não teremos uma participação efetiva. Se analisarmos melhor cada caso é um caso. Cada Grupo Escoteiro tem sua personalidade própria. Sem entrar no mérito deixo a análise dos leitores. A charge em anexo vale mais que mil palavras.

O QUE ELE PENSOU QUANDO ENTROU NO ESCOTISMO?
Ele pensou que seria assim: Diferente de sua escola, diferente do que fazia com seus amigos do bairro, ele poderia ter aventuras que nunca teve, aprenderia no campo a vida de um explorador. Iria colocar uma mochila e sair por aí a excursionar. Iria acampar muitas vezes, iria dormir em barracas, ver a estrela no céu. Iria construir Ninhos de Águia, escada de cordas, iria subir e descer de uma árvore por nós incríveis que iria aprender. Atravessaria rios e vales em Falsa Baiana, em Comando Crow. Aprenderia a fazer pontes, jangadas, iria explorar cavernas, bosques, montanhas e tantos mais. Iria correr pelos campos, ver pássaros incríveis, seguir pistas na floresta, descobrir uma nascente, pescar um belo peixe, e com sua bandeirola iria enviar mensagens por enormes distâncias, o Morse à noite com sua lanterna iria brilhar, e os jogos especiais? Ele um índio ou um soldado? Que bela maquiagem faria. Os famosos boina verdes seria pé de chinelo perto dele. Iria se preparar para o negrume da noite, acender um fogo, pular uma fogueira e cantar! Representar com seus amigos, contar uma bela história. Iria aprender dezenas de nós Escoteiros e marinheiros. Iria aprender a seguir o rumo, dominar uma bússola, ler mapas e partir para grandes atividades aventureiras. Teria seu cantil para beber água da fonte, teria sua faca mateira. Iria aprender a usar seu facão, seu canivete e quem sabe gritar alto: - Madeira!

PORQUE ELE DEIXOU O ESCOTISMO?
Não foi o que pensava. Tempo demais na bandeira, tempo demais a ouvir o Chefe falar. Monitor mandão, sala com cadeiras e ficar sentado vendo chefes escrevendo, desenhando sinais de pista. Tudo igual ao que ele fazia todos os dias na escola. Um Monitor a sua frente ensinando sinais, nós, tempo demais. E os jogos? Sem graça, ele preferia um racha de futebol. Pelo menos se divertiria. Uma patrulha desanimada, poucos frequentando, a maioria faltando ou saindo. E ele se lembrou do seu Professor a exigir silencio e atenção. E as filas? Iguais as que fazia na escola todos os dias esperando uma ordem de um adulto demorada. Lembrou-se das suas viagens pela internet, do seu celular, e pensou que tudo ali era igual. E os sorrisos, os elogios e os abraços? Quase nenhum. Queria fazer a promessa, mas como demorou. Chegou afinal à conclusão que ficar com seus amigos do bairro era melhor.

                  Pois é, a charge diz tudo. Pode ser um dos principais motivos da saída do Escoteiro, do Chefe que não teve respaldo, do diretor que nunca foi elogiado. Não vou dizer do antigo programa de classes que foi suprimido e substituído. Ele poderia ter continuado com suaves modificações que o tempo se encarregaria de mostrar. Pelo menos era mais aventureiro. Mostrava como viver a vida de um mateiro, um explorador. O que aconteceu foi que bruscamente mudaram. Ninguém foi consultado. A UEB não se manifesta. Os cursantes não aprendem como agir. Sei que muitos se escudam a dizer que os tempos são outros. É mesmo? Perguntaram ou deram ao jovem a oportunidade de ver e experimentar os dois lados?

                      Na parte II irei abordar outros temas. Que cada um que se preocupa com a Evasão analise, comente discorde o que achar melhor. Não sou o dono da verdade, a única coisa que posso afirmar é que a evasão no passado não foi tanta assim. Sei dizer que no passado era melhor, lembro que era comum as patrulhas permanecerem juntas por anos e anos. Hoje não sei. Fraternos abraços.