Conversa ao
pé do fogo.
Eles
estão saindo do escotismo... Por quê? Parte I.
... - Há tempos fiz uma
serie de artigos sobre o motivo porque muitos estão deixando o Movimento
Escoteiro. Pode ser que meus comentários estejam superados. A UEB até hoje não
tem uma politica abrangente sobre o tema e pelo que eu saiba não comenta sobre
a evasão. Não sei se para ela é vantagem esta deserção, pois logo outros
aparecem aceitando a nova metodologia imposta por ela. Quando publiquei este
artigo pela primeira vez foi um dos mais comentados e lidos em sua época.
Posteriormente desdobrei em quatro, mas como sempre só para informar. A UEB não
dá respostas. Sempre tem alguns na linha de frente para defender, explicando o
inexplicável. Uma pena!
“Ele entrou para o
escotismo pensando que seria um aventureiro, um explorador, um herói que sempre
sonhou. Assustou quando viu que não era. Tudo era igual a sua casa, a sua escola
e ele tinha uma internet e um celular melhor do que o que viu ali. Partiu para
outra. Ali não era o seu lugar”. Seus amigos de bairro tinham programa melhor.
Porque estão saindo?
Se isto acontece tem motivo. Mas quais? Até hoje ainda não temos uma politica
de contenção para diminuir esta evasão. Nem mesmo sabemos quais os reais
motivos. Temos sim bons chefes que com sua experiência apontam diversos
fatores. Vejamos o que esta evasão produz de mal: - A qualidade não cresce a
quantidade idem. Baden-Powell pensava que precisaríamos segurar o jovem por
pelo menos dez anos. Uma utopia nos dias de hoje. A evasão é tão grande que
mais parece um sistema rotativo de entra um sai outro. À medida que a juventude
cresce, passa a integrar a sociedade como um todo. Se aqueles que passaram
pelas fileiras Escoteiras e não tem boas lembranças, dificilmente serão os que
irão fazer um proselitismo das vantagens educacionais do escotismo. Sabemos que
não somos reconhecidos pelas autoridades em nosso país. Ainda não aprendemos a
mostrar nossa força isto pensando se há temos. Poucos estão devidamente
preparados para em poucas palavras, dizer o que somos e o que pretendemos.
Todos acreditam na
nova sistemática dos programas copiados pela Escoteiros do Brasil, mas sem ter
uma visão se realmente é isto que precisamos. O que éramos a vinte anos
comparado nos dias de hoje não temos nenhum dado comparativo para ver se está
dando certo. Cada um tem sua maneira de interpretar vendo o que acontece em seus
Grupos Escoteiros. Quem perde com isto é o Movimento Escoteiro. Sei que muitos
poderiam dizer o porquê não crescemos, o porquê não existe mais aquela procura
do passado e teremos outros bem formados e com exemplos pessoais para dar. Sem
entrar aqui no mérito do conhecimento, ou da afirmação que está tudo bem, irei
apresentar em quatro artigos sucessivos, minha opinião vivenciada no escotismo
que conheci. Não pretendo entrar em desacordo com nenhum dos que discordam, mas
lembro de que só iremos estancar esta sangria quando nos dispusermos a
analisar, pesquisar, conversar e aceitar sugestões dos diversos núcleos
Escoteiros do país. Isto englobaria desde o mais humilde grupo até a Direção
Nacional. Vejamos apenas alguns motivos no meu modo de pensar da evasão
escoteira:
-
Programa. Ele não atinge os objetivos para motivar os jovens.
-
Apresentação pessoal. A vestimenta não trouxe os resultados esperados.
-
Formação e qualificação dos Chefes. Os cursos hoje estão mais preocupados em
temas não técnicos e a metodologia Bipidiana foi substituída pela modernidade.
- Ouvir
sempre o ponto de vista do jovem. Ele hoje não tem voz e voto nas alterações
feitas pelos dirigentes, inclusive apesar de que muitos dizem o contrário.
Abordarei proximamente em cada
tema minha opinião sem fugir dos padrões atuais. Não basta, no entanto escrever
sem que haja uma discussão por todos que participam do movimento. Para isto uma
pesquisa de opinião de âmbito nacional teria muita validade para se chegar a um
meio termo. Não me considero um expert no tema. O que deixo transparecer foi aprendido
por uma vida dedicada ao movimento. Deste os sete anos até hoje. Sem motivar,
valorizar, ouvir e elogiar não teremos uma participação efetiva. Se analisarmos
melhor cada caso é um caso. Cada Grupo Escoteiro tem sua personalidade própria.
Sem entrar no mérito deixo a análise dos leitores. A charge em anexo vale mais
que mil palavras.
O QUE
ELE PENSOU QUANDO ENTROU NO ESCOTISMO?
Ele
pensou que seria assim: Diferente de sua escola, diferente do que fazia com
seus amigos do bairro, ele poderia ter aventuras que nunca teve, aprenderia no
campo a vida de um explorador. Iria colocar uma mochila e sair por aí a
excursionar. Iria acampar muitas vezes, iria dormir em barracas, ver a estrela
no céu. Iria construir Ninhos de Águia, escada de cordas, iria subir e descer
de uma árvore por nós incríveis que iria aprender. Atravessaria rios e vales em
Falsa Baiana, em Comando Crow. Aprenderia a fazer pontes, jangadas, iria
explorar cavernas, bosques, montanhas e tantos mais. Iria correr pelos campos,
ver pássaros incríveis, seguir pistas na floresta, descobrir uma nascente,
pescar um belo peixe, e com sua bandeirola iria enviar mensagens por enormes
distâncias, o Morse à noite com sua lanterna iria brilhar, e os jogos
especiais? Ele um índio ou um soldado? Que bela maquiagem faria. Os famosos
boina verdes seria pé de chinelo perto dele. Iria se preparar para o negrume da
noite, acender um fogo, pular uma fogueira e cantar! Representar com seus
amigos, contar uma bela história. Iria aprender dezenas de nós Escoteiros e
marinheiros. Iria aprender a seguir o rumo, dominar uma bússola, ler mapas e
partir para grandes atividades aventureiras. Teria seu cantil para beber água
da fonte, teria sua faca mateira. Iria aprender a usar seu facão, seu canivete
e quem sabe gritar alto: - Madeira!
PORQUE
ELE DEIXOU O ESCOTISMO?
Não
foi o que pensava. Tempo demais na bandeira, tempo demais a ouvir o Chefe falar.
Monitor mandão, sala com cadeiras e ficar sentado vendo chefes escrevendo,
desenhando sinais de pista. Tudo igual ao que ele fazia todos os dias na
escola. Um Monitor a sua frente ensinando sinais, nós, tempo demais. E os
jogos? Sem graça, ele preferia um racha de futebol. Pelo menos se divertiria.
Uma patrulha desanimada, poucos frequentando, a maioria faltando ou saindo. E
ele se lembrou do seu Professor a exigir silencio e atenção. E as filas? Iguais
as que fazia na escola todos os dias esperando uma ordem de um adulto demorada.
Lembrou-se das suas viagens pela internet, do seu celular, e pensou que tudo
ali era igual. E os sorrisos, os elogios e os abraços? Quase nenhum. Queria
fazer a promessa, mas como demorou. Chegou afinal à conclusão que ficar com
seus amigos do bairro era melhor.
Pois é, a charge diz tudo.
Pode ser um dos principais motivos da saída do Escoteiro, do Chefe que não teve
respaldo, do diretor que nunca foi elogiado. Não vou dizer do antigo programa
de classes que foi suprimido e substituído. Ele poderia ter continuado com
suaves modificações que o tempo se encarregaria de mostrar. Pelo menos era mais
aventureiro. Mostrava como viver a vida de um mateiro, um explorador. O que
aconteceu foi que bruscamente mudaram. Ninguém foi consultado. A UEB não se
manifesta. Os cursantes não aprendem como agir. Sei que muitos se escudam a
dizer que os tempos são outros. É mesmo? Perguntaram ou deram ao jovem a
oportunidade de ver e experimentar os dois lados?
Na parte II irei abordar
outros temas. Que cada um que se preocupa com a Evasão analise, comente
discorde o que achar melhor. Não sou o dono da verdade, a única coisa que posso
afirmar é que a evasão no passado não foi tanta assim. Sei dizer que no passado
era melhor, lembro que era comum as patrulhas permanecerem juntas por anos e
anos. Hoje não sei. Fraternos abraços.