Conversa a pé
do fogo.
Um
acampamento tradicional.
Prólogo: - Ele com a
sua sabedoria, encantou as florestas com os pássaros para entoar em nossos
ouvidos com suas melodias; vislumbrou as montanhas com rios e cachoeiras para
encantar nossos olhos; acendeu o sol com a sua luz de energia para regenerar a
vida; soprou a brisa para acalentar a luz do sol. E a natureza respondeu
produzindo alimentos. Deus!
Ele me perguntou: - Vocês
vão acampar? Vamos sim, desta vez vamos longe, doze quilômetros a pé. – A pé?
Mas como? Você não mora mais no interior, nossa cidade é grande. Dei risadas. E
daí? Está tudo preparado – Afinal fizemos duas excursões e um acampamento só de
monitores no mês passado em um fim de semana para nos adestrar. Eles mesmos
prepararam tudo que precisamos levar. E olhe tudo vai nas costas, desta vez sem
ônibus alugado e sem pais para ajudar no transporte. Ele pensou e perguntou
novamente: - Seria isto possível? Sorri para ele e disse que sim. – Os
monitores fizeram uma lista tríplice para acampamentos curtos, médios e longos.
Chamam de ração A, B e C. A ração A é para uma atividade de um dia, a ração B
para dois dias e a C para um acampamento de três dias ou mais. Assim fica mais
fácil. Eles mesmos fizeram o cardápio, calcularam por pessoa e cada um dos
participantes leva sua parte da ração. Tem aquelas que três levam arroz, tem
aquela que um só leva. Eles acharam melhor um cardápio simples onde com uma
panela, um caldeirão e uma frigideira eles fazem tudo. Achei interessante.
Conta-me mais. E como é levada a
intendência e o material de patrulha? - Fácil ele disse. Também dividida por
cada um da patrulha. Agora usamos o lampião a querosene. Ele vai vazio e bem
embalado em um recipiente a querosene. As barracas são pequenas e simples de
carregar com a mão ou prender na mochila. Assim gastamos o mínimo possivel.
Hoje a taxa foi de dez reais. Isto paga o ônibus ida e volta. Ele vai nos levar
até o entroncamento da estrada de São Mateus. Lá vamos andar uns doze quilômetros
e chegaremos ao sítio do Leopardo. Fomos lá antes eu e os monitores. O
proprietário é gente boa. Disse que o local estava às ordens para quando
quiséssemos acampar. – Mas será que a tropa aguenta? Claro que sim, fizemos
duas excursões. Uma delas andamos sete quilômetros e a outra foi noturna. Mais
nove quilômetros à noite. Claro lá pelas duas da madrugada em uma clareira
jogamos as lonas e dormimos sob as estrelas. Cada um levou seu lanche. E sabe o
melhor? Neste acampamento só eu levarei o celular para uma emergência. Será
mesmo um acampamento mateiro.
Ele achou interessante. E o programa do
acampamento? – Este vai ser um programa especial. Foram os monitores ouvindo
suas patrulhas quem prepararam tudo. Vamos ter sim o normal de um acampamento
de três dias. Levantar as seis, um pouco de física, café as oito e inspeção as
nove. Lembre-se vamos acampar nos moldes de Giwell. Cada patrulha é autônoma. Terá
seu campo de patrulha distante uma das outras por um mínimo de 60 metros. Desta
vez até eu e o Chefe Leão teremos nosso campo de chefia e vamos levar nossa
matutagem e nosso material. Nada de comer nas patrulhas. Elas só irão ter nossa
presença se formos convidados.
– Ele pensou se isso iria dar certo. Ele
conhecia uma tropa acostumada a acampar com pais levando tudo, e inclusive
alguns lanches eles faziam. Continuou ouvindo o que explicava: - Teremos um
programa sem muitos horários. Muitos reclamaram da falta de tempo livre para
eles fazerem suas construções no campo de patrulha. Chamamos isso de ATL –
Atividade tempo livre. Decidimos dar a eles liberdade na sua programação de
campo sem interferir. Afinal não viemos aqui para aprender a fazer fazendo?
Nada de chefes sapeando e explicando como fazer. As patrulhas irão aprender a
seguir pistas de animais, tirar fotos de um animal ou pássaro. Será um jogo
vence a que conseguir a melhor foto. Eles irão pescar e no cardápio está
incluída uma fritada de peixes frescos. Risos.
- E se chover? Se chover estaremos prontos.
Nada de serviço de meteorologia pelo rádio. Eles irão aprender previsão de
tempo seja na mata ou no campo. Pelas formigas, pelos pássaros, e claro os
vagalumes noturnos irão ensinar se vai fazer frio, se o orvalho vai ser forte, irão
descobrir ninhos para ver de onde vem à chuva, Prestarão atenção ao vento, sua
velocidade, e sabem de cor muitas quadrinhas de previsão de tempo – Se tens
vento e depois água deixe andar que não faz mágoa, mas se tem água e depois
vento põe-te em guarda e toma tento. Vermelho ao sol por, delicia do pastor,
orvalho de madrugada faz cantar a passarada, são tantas! Mas se chover sem
parar vamos aprender a fazer um pequeno celeiro só nosso para abrigar a todos
durante o dia. – Já treinamos isto com bambus e folhas de bananeira. Vocês tem
coragem eim? – Não é coragem, isto para nós é escotismo mateiro. Afinal para
que aprender nó na sede sem usar no campo?
- Teremos boa parte do tempo dedicado
a transmissões à distância. Morse à noite e Semáforos ao dia. Teremos um grande
jogo cujas instruções serão ditadas por sinais de fumaça a moda índia! -
Caramba! Estou gostando do seu acampamento. Um dia vou fazer o mesmo na minha
tropa. – Respondi para ele: - Conte comigo, darei todas as coordenadas. Além do
fogo de Conselho todas as noites as patrulhas terão tempo livre para uma
conversa ao pé do fogo, daquelas gostosas com batatas e bananas verdes assadas.
Não vai faltar um bule de café na brasa. Levo uma penca de histórias para
contar. Uma Escoteira tem uma flauta que toca divinamente. Vamos aprender com as
estrelas e a posição das constelações. Ensinei aos monitores tudo sobre
orientação noturna. Faremos um fogo de Conselho à moda dos exploradores. Sem animador
de fogo, cada um senta onde quiser. A patrulha de serviço irá acender e manter
o fogo todo o tempo. As patrulhas terão liberdade de apresentar canções,
esquetes e histórias. As palmas serão criadas na hora. As canções surgirão
espontaneamente. Ah! Esqueci-me de dizer, quatro Escoteiros estão treinando há
meses como gaitistas. Vai ser um festival de gaitas. Risos.
- Alguns me pediram para saltar o fogo e
receber o nome de guerra. Todos retirados dos índios brasileiros. Decidiram que
só os mais antigos terão esse direito. Programa? Nada escrito, você já viu como
vai ser. Cada Monitor se encarregará de uma parte. Esqueci-me de dizer, vamos
fazer uma ponte pênsil em um córrego próximo. Estamos programando um jogo nela
de rachar! Risos. As bolas de pano já estão prontas para a lança. Mas não vou
contar – O Chefe pensou consigo: - Vai ser um acampamento inesquecível. - Eu
sabia que nem tudo daria certo, mas quem não aprende a fazer fazendo não é
Escoteiro não é verdade?