Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Geração sem
passado.
Prólogo: - Eu fui da
geração 50. Quem sabe com outros ideais. Um poeta escreveu que a geração antiga
não aceita mudanças. A geração nova não aceita comodidade. Verdade ou não
impossível concordar. Outro poeta mais antigo disse que toda a geração
ridiculariza a moda antiga, mas segue religiosamente a nova. Esta quem sabe é
melhor. Deixo para os meus amigos leitores opinar. Saber ouvir opiniões dizem
ser sábio. Eu ainda vivo no passado acreditando que se ele mesclasse com o
presente estaríamos no caminho do sucesso. Sempre Alerta!
Muitos sonham em
viver mais que uma geração. Eu sei que velhos escoteiros como eu sabem que não
é fácil aceitar as mudanças que estão acontecendo. Alguns se afastam do
movimento outros continuam acreditando que podem ajudar de alguma forma. Pergunto-me
se os novos líderes que nos tratam como dinossauros e nos ridicularizam estão
certos. Fazem pilheria quando contamos nosso passado Escoteiro. Difícil para
quem nasceu em outra geração aceitar tudo que falam de nós. O respeito a ética
é sinônimo de gracejos e piadas sem graça. Sei que é um caminho sem volta. As
mudanças de comportamento acontecem a cada minuto. Tudo muito diferente do que
vivi e aprendi. E no escotismo? Muda-se tudo. Cada novo líder eleito tem sempre
a solução nas mãos. Ele acredita que sabe o que é melhor e o caminho para o
sucesso. Para ele o método escrito por B-P. está ultrapassado. E quem discorda?
No escotismo ensinaram que o Escoteiro é obediente e disciplinado. Agora é
seguir o líder e não importa se ele está certo ou errado. Não existem mais
contestações. Dar exemplos das frases ou do que pensava B.P é motivo de
pilheria. São tantos a bater palmas sem saber se realmente vai dar certo que
assusta. São pensadores, pedagogos alguns com conhecimentos profundos e me
pergunto se em suas tropas tudo vai às mil maravilhas. Gostaria mesmo de ver os
resultados.
Eles prenunciam o futuro e
até adivinham o que vai acontecer se não nos adaptarmos a modernidade. Conhecem
os indícios, as pistas, sabem e alardeiam suas ideias onde podem fazer
acontecer. Dizer que B.P escreveu que os novos não ouvem os velhos lobos e
estes teriam muito a ensinar do que aprenderam na escola da vida não vale. Nosso método, ou melhor, o de B.P. não tem
mais valor nos dias de hoje. Ouvir o ponto de vista do rapaz é só uma frase de
efeito. Nunca são ouvidos. Que eu saiba tudo que foi mudado, alterado e as
normativas atuais nunca consultaram ninguém. Os rapazes e moças? Nem pensar.
Nunca perguntaram se era isto que queriam. Simplesmente disseram que eles
queriam algum mais moderno. Mudaram o programa do jovem, mudaram nomes e
nomenclaturas, mudaram o uniforme, deixaram de valorizar o sistema de
patrulhas, deram ênfase em cursos pedagógicos ou institucionais. Outro dia
mesmo um Chefe dizia que precisava organizar sua Corte de Honra. Papagaio! Como
dizia um antigo Chefe de Gilwell Park, sem aquela mescla alegre, de uma lei, de
uma aventura gostosa sem tantas burocracias o escotismo não tem como atingir
seu objetivo. Agora o escotismo é feito de normas, diretrizes, cursos
institucionais e programas que nem se sabe se estão dando os resultados
esperados. O Macpro que muitos nem sabem o que é veio para mudar. Os mais bem
informados bateram palmas. Afinal precisamos nos adaptar a metodologia moderna
da educação.
Não me culpem por não
aplaudir tudo que dizem. Minha geração é
outra. Vivi outra época outra modo de vida. Havia respeito, ética fraternidade.
Ouvir o jovem, dar a ele oportunidade de crescer dentro da filosofia escoteira
era ponto de honra. Hoje me dizem que o jovem não quer o escotismo de
aventuras. Prefere vier à época
cibernética com seu smart fone no seu mundo virtual. Fico pensando se isto é
verdade, pois foi dito por adultos que não fizeram nenhuma pesquisa nacional. Deram
ao jovem a oportunidade de escolha? Deram a ele a visão do outro lado da
montanha? O líder pensa o líder escreve e fala pelo jovem como se ele ainda
fosse jovem e pensasse assim. Pelo que sabemos as pesquisas de campo são raras.
Todas as modificações ficaram nas mãos de poucos. O vestuário, o programa e as
novas diretrizes e nomenclaturas foi decidido por meia dúzia.
Sempre tem aqueles a
defender o status-quo dos dirigentes. É um direito dizem. Para isto temos
normas e o estatutos. Temos democracia, direito de opinião e escolha dizem. Afirmam
que qualquer um pode subir ao topo e para isto sua participação nas assembleias
regionais e nacionais devem ter prioridade. Mas a maioria não participa e em
nome dos “meus jovens” não opinam e deixam acontecer. Quem já participou e
acompanhou as atividades nacionais nos últimos anos sabe muito bem que
dificilmente irá ser ouvido a não ser que tenha boas relações e prestígio. Minha
geração que eu saiba não é mais ouvida. Até normas existem para a participação
nas unidades locais. Se alguém deixa o movimento nunca vai receber uma cartinha
de agradecimento. As normas Escoteiras
principalmente no sistema de Patrulhas base da formação escoteira não pode ser
adaptadas a gosto de cada um.
O escotismo de ontem é
arcaico e não cabe na época moderna. Uns pobre de espírito riem do caqui do
chapelão e fazem questão de mostrar sua falta de garbo e apresentação dos seus
jovens e também porque não dizer dos próprios chefes. O novo escotismo mudou
dizem. Não consultam a comunidade, nem se preocupam o que ela acha disso. Alardeiam
que a norma autoriza e não estão nem aí para a comunidade se ela acha que não
mais existe garbo e apresentação. Nas atividades regionais e nacionais onde os
jovens são convidados a presença dos chefes é bem maior. O sistema de Patrulhas
não tem lugar. Hoje paga-se em tudo para sobreviver escoteiramente. Acampar tem
novo sinônimo. São pais acompanhando os filhos, mães cozinhando e até tias e
avós passando o dia com eles. Sempre o Chefe se destacando. Não é camping?
O tema é vasto. Não
entro mais em polemica com essa geração que se acha a melhor. Sei que meu tempo
já passou. Sei que devemos nos adaptar ao modernismo. Não tenho mais como sair
por aí com uma mochila nas costas, bandeiras ao vento para o acampamento dos
meus sonhos e quem sabe dos jovens para provar que muito do meu passado tem
enorme valor. Quem não fez escotismo de aventuras não deve saber como é. Falar
em semáforos, Morse, Orientação e até mesmo se orgulhar das suas mil noites de
acampamento não tem mais valor. Sei que o importante são os resultados. Espero
que um dia a sociedade brasileira saiba que o escotismo tem valor na formação e
na educação dos jovens para a vida. O que se apresenta hoje me deixa enormes
dúvidas. Se Baden-Powell escreveu que se vive uma eternidade e ninguém nos ouve
então prevalece à velha tese quando um cego conduz outro cego e todos caem no precipício.