Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
“O Escoteiro é honrado e digno de confiança”!
Prólogo:
- Ao escrever este artigo, fiquei sabendo que o novo Estatuto da Escoteiros do Brasil
foi recusado pela maioria dos conselheiros presentes na Assembleia Nacional
2019. Como sempre ou desta vez as Raposas perderam para a plebe que de maneira
simples viram a esperteza de alguns para se manterem na elite do poder.
Alguns
gritaram Urra! Outros Bravôo! Soube que uma enorme palma escoteira ecoou sem
“pipoca”. De boca em boca havia um sorriso, um grito de guerra, mas não sei se
foi dos Zulus ou dos Ashanti ou da minha Patrulha Lobo. Eram menos de 200
votantes representando mais de cem mil associados. Qual a representatividade que
alegam eu não sei. Nunca vi consultarem a ninguém. Dizem que foi uma escolha
pacífica e com alto grau de civilidade. Antes o primeiro artigo existente em
nossa Lei Escoteira há mais de cem anos era conhecido não só no Brasil como em
alguns países do continente americano e europeu. Era comum ouvir famosos atores
nos seus filmes e articulistas e comentaristas de radio jornais e Televisão o
dito: Palavra de Escoteiro! Isto mesmo, ele dizia para tentar mostrar que o
Escoteiro tem uma só palavra. Só faltou dizer: - E sua honra vale mais que sua
própria vida.
De
quem foi à ideia? Não valia mais ter uma só palavra? Honra? O moço que pediu
para mudar dizia que honra não cabia naquele artigo. Até mesmo a constituição
Brasileira foi dada como exemplo. Será que ele leu Rui Barbosa que escreveu:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto
ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos
maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra a ter vergonha de
ser honesto”. Mas eis que os “çabios” acharam melhor voltar à velha lei
Escoteira de Baden-Powell que dizia no seu artigo primeiro: “A Honra, para
Escoteiros, é ser digno de confiança”. Isto deve significar que o Escoteiro tem
uma só palavra. Como não temos aqui um Rei, o segundo artigo continuou como
antes.
Deveriam
ter mudado também o quarto artigo: - “O Escoteiro é amigo de todos e irmão dos
demais escoteiros, não importando, que país classe ou credo, que o outro possa
pertencer”. Para os Chefes da Corte isto não vale. Os outros que não são da EB
e participam em outra associação não merecem um aperto de mão e nem uma palavra
de amizade. São considerados inimigos mesmo tendo ainda em seu artigo que o
Escoteiro tem uma só palavra. Agora não tem volta. Foi votado, lavrado em ata e
breve estará no POR e demais documentos da Escoteiros do Brasil. Menos de
duzentos votantes presentes representando (?) mais de cem mil associados da
Escoteiros do Brasil.
Poderão
dizer que todos estados tem seus representantes na Assembleia Nacional. Brinco
em dizer: - “Me engana que eu gosto”. Pois é “Cara Pálida” eles perscrutaram ou
sondaram seus irmãos de lenço na sua região? Será que houve uma consulta
nacional para saber se estariam os demais associados da EB de acordo? E de que
valeu a promessa de milhares e milhares de escoteiros que passaram um dia nas fileiras
do escotismo dizendo e repetindo que todos tem uma só palavra e sua honra vale
mais que sua própria vida? E os antigos? Aqueles que guardam no coração a
lembrança de sua Lei? Não mereceram nenhuma satisfação? Penso se não estou
enganado que ter uma só palavra é muito difícil para alguns que não merecem
confiança e quem sabe nem sabem o que significa honra.
Fico pensando quando irão mudar os artigos da Lei mais
difíceis de cumprir. Quem sabe os atuais dirigentes com receio de não se portar
com fidalguia, transparência, ética e responsabilidade poderá também mudar o
décimo artigo e voltar a ser a lei original de BP? O Escoteiro é limpo no
pensamento, na palavra e na ação. Os dirigentes que não passaram na Escola
Escoteira da Vida sempre terão seu quinhão de fama. São mudanças que até hoje
não se vê os resultados. A maioria dos grupos escoteiros estão presos entre
muros ou entre quatro paredes. Ainda somos eternos desconhecidos. O Caqui,
uniforme centenário, nossos chapelão, a Lei com seu primeiro artigo conhecido
no Brasil e no mundo e eis que além de outras alterações que fizeram agora
devem estar satisfeitos com estas mudanças. Pergunte a alguma autoridade
principalmente aquelas do meio educacional quem somos.
Não discuto se o ovo veio primeiro que a galinha. A lei de BP
com exceção do Rei no segundo artigo é linda. Mas mudar agora? Mudar sem ouvir
a todos os interessados? Para mim um desrespeito há quem um dia passou pelas
fileiras escoteiras. Daqui a alguns anos, quando um jovem lobo ou escoteiro ouvir
algum ator de cinema dizendo que “O Escoteiro tem uma só palavra” ele ficará
apalermado. Chegará na sede dizendo: - Chefe o que significa?
Vamos aguardar. Quem sabe daqui a meses ou alguns anos,
outras mudanças virão. Só espero que não fujam muito do seu original. Do
original de Baden-Powell que ainda é usada em muitos países onde se pratica o
escotismo. Como disse aquele poeta, eu não vou conseguir mudar o mundo. Mas o
mundo também não vai conseguir me mudar. Para mim sempre será: - O ESCOTEIRO
TEM UMA SÓ PALAVRA E SUA HONRA VALE MAIS QUE SUA PRÓPRIA VIDA!
Estou velho demais, fiz escotismo demais, demandei
filantropicamente meu passado visando um futuro ao Escotismo que amo. Podem
dizer que estou ultrapassado, que a minha mente está presa a um escotismo que
já morreu. Não dou vivas ao novo que dizem por aí. Dou vivas sim a um escotismo
sério, dirigido por gente séria que se preocupa em servir e não ser servido. Mesmo
não importando a ninguém e nem mesmo tentando explicar o que para mim é inexplicável,
continuarei dizendo os artigos da lei conforme aprendi e tentei cumprir nos
meus setenta e dois anos de escotismo!