Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Os Velhos
Lobos não perdem a razão.
Não, não perdem. Perdem os
dentes, mas a razão? Lembro-me do Chefe Topázio que dizia: - Vado Escoteiro louco
não é o homem que perdeu a razão. Louco é o homem que perdeu tudo menos a
razão. Vez ou outra um de nós velhos escoteiros partem para outras plagas,
alguns dizem o Grande Acampamento no Céu, eu matuto mineiro fico “abestado” e digo
que irei primeiro dar uma volta na galáxia, quem sabe ver um “buraco negro” que
os cientistas descobriram e dão pulos de satisfação. Quem sabe volto ao Grande
Acampamento, mas só para dar um Sempre Alerta um abraço nos amigos que foram
antes de mim e no meu menestrel máster Baden-Powell. E depois partir. Mochila
nas costas, Chapelão no cuco, ventos a favor e pegar carona no primeiro cometa
que passar... Destino? “Confins do universo”!
Não sei quando será minha
hora. Isto não depende de mim. Antes de partir para as conchichinas das mil
galáxias, faço o que posso para dar minhas pitadas, escrever meus contos,
deitar e rolar com minhas crônicas e no dia seguinte ver que elas não foram tão
interessantes assim. Nenhum comentário, poucas curtidas e male-male um ou dois
compartilhamentos. Tentei me reciclar, ficar mais moderno, até ganhei um
celular do meu filho, mas caramba ele é cheio de incógnitas, tem percevejo e
muitas coisas que não vejo. Estou vivendo um momento único, às vezes firme e
forte como um ovo de Colombo, outras pensando o que vão escrever no meu epitáfio:
- “Aqui jaz, um escritorzinho fajuto contador de histórias”.
Já pensando no meu futuro
lá no céu, pego minha sela, arrio o meu cavalo e parto célere para uma viagem intergaláctica.
Nada de Interprise. Chega de Doutor Spock, do Capitão James T. Kirk e do Doutor
Leonard McCoy. Irei a cavalo mesmo, dar uma parada em Andrômeda e seguir em
frente até a estrelas XB. 8414 (jogue no bicho se quiser) onde amarrei minha
égua. Se encontrar alguém contarei potocas, vida assoberbada de um escoteiro
feliz.
Mas chega de viajar, o
motivo desta crônica é outro. É ver que amigos e irmãos escoteiros estão
partindo deixando para trás um belo escotismo saudoso tradicional feito com
mãos de escoteiros que souberam andar com suas próprias pernas. Caramba! E
hoje? Jogaram no lixo a “expertise” de um grande ideal? Papo zero de escotismo
moderno. Quase todos os dias tem um que partiu para as estrelas. Sempre alguém
postando: - Se foi o Chefe tal, gente fina, gente boa, vai deixar saudades e
muito que poderia ainda dar ao escotismo de BP.
Há tempos ando pensando
que uma hora dessas será minha vez, preocupado arregacei as mangas, subi nas
tamancas e me pus a escrever. Iria deixar meus leitores apalermados, três postagens
diárias por vez. Demais? – Chefe? Não consigo ler nem uma que de lá três? Não
me importo, não sei quantas ainda irei fazer. Todo ano passo uma temporada na
gafaria, cama de ferro, colchão de escoteiro novato, refeições sem sal e
pimenta feita pelo Mané Bolacha cozinheiro da Patrulha Serviço de Terceira.
Reclamar? E que adianta? Aí vem o frio, quem sabe irei de novo esquentar a Patrulha
dos abnegados do SUS? E sempre me pergunto: - Ida e volta? Começo fim de pista
e bom retorno ao ponto de reunião? Pensando assim, meto o trazeiro no banco e
lá vem histórias do além-mar ou quem sabe de uma bela “Ragazza” Escoteira que
quase matou de amor o Escoteiro Pedreira.
Só fico pensando quando
vou poder ler meu epitáfio, (se tiver) e ler os comentários dos amigos leitores
nas redes sociais da falta que irei fazer. Verdade mesmo Moço Escoteiro? Falta?
Um dois no máximo três dias e minhas histórias meu nome meus pendores partirão
célere para a eternidade junto aos amigos que se foram e hoje estão morando na
terra da Legião dos Esquecidos! Enquanto isso devo prestar atenção no que
escrevo, dizem amigos leitores que às vezes troco nomes, troco alho por
bugalho! Como dizia o Ariano Suassuna, os doidos perderam tudo, menos a razão.
Têm uma (razão) particular. Os mentirosos são parecidos com os escritores que, inconformados
com a realidade, inventam outras!
Será que entrei de gaiato
no navio? Pelo sim pelo não enquanto aguentar continuo a escrever... Três? Chefe
é demais! Pensando bem devo diminuir, tenho pronto trinta e tantas histórias, vinte
e oito artigos e dezoito 18 “fuçario” de boa noite. Se bater as botas ninguém
vai ler. Vão ser perdidos no tempo? Jesus de Nazaré me perdoa. Onde estiver,
por favor, digam a minha neta para publicar! Será que ela sabe onde estão?