sábado, 8 de outubro de 2011

Um começo, uma saudade...


"A felicidade não está no fim da jornada, e sim em cada curva
 do caminho que percorremos para encontrá-la.”
Anônimo

Um começo, uma saudade

Hoje me veio à lembrança uma atividade nacional que participei em 1967. Estava com 26 anos e naquela época um simples chefe de tropa, terminando a Insígnia de Escoteiros. Inscrevi-me e fui para conhecer pela primeira vez, um Acampamento Nacional de Patrulhas em determinado estado brasileiro. Despretensiosamente, me instalei no campo da chefia e eis que para surpresa nomearam-me chefe do sub. campo Sênior. Era a primeira vez que participava de uma atividade como aquela, e com uma responsabilidade que não tinha tamanho.

A principio relutei em aceitar mas confiaram em mim e sempre gostei de um desafio. Tudo era desconhecido, jovens de vários estados entre 14 a 17 anos e quem já trabalhou ou trabalha com eles (os seniores) sabem como são. Se gostam, ótimo, se não gostam “papagaio, seja o que Deus quiser.”

Um amigo, assistente de alcatéia (era Balú, e agora mudaram tudo, não existe mais nomes da jângal, são chamados de chefes, escotista etc. estas mudanças farão o escotismo crescer mais, tenho certeza) e outro também de alcatéia (Akelá), eram meus assistentes. Fora eu que fora sênior por três anos, numa época meio selvagem para aquela idade (muitas e muitas atividades aventureiras), não conhecíamos e nem tínhamos experiência de tal envergadura, dirigindo seniores de quinze estados brasileiros.
Quando me apresentei como chefe do sub. campo (ninguém foi lá me apresentar) vi sorrisos marotos, alguns não prestando atenção (eram 25 patrulhas) e me senti um peixe fora d’água. Mas foi só o começo, à medida que as horas e os dias se passavam (cinco dias), viramos uma família. Como me sentia feliz ali. As amizades cresciam, de norte a sul éramos um só espírito um só coração.

Quando havia uma chamada geral, todos os demais sub.campos ficavam esperando os seniores. Era uma festa!, Correndo, gritando, rindo, falando, cantando e a apoteose sempre era de uma patrulha, acho que do Rio de Janeiro, com seu grito de patrulha longo, fazia com que os outros à medida que terminavam, se juntavam a eles, braços nos ombros, uma enorme teia se completando e cantando:

- Somos do setenta, Grupo São José!
Somos a patrulha, a patrulha que é,
Banden Powel, patrulha boa, melhor não há
Vem cá prá ver, para acreditar!
 (esqueci outras estrofes)
Existe patrulha melhor, talvez sim
Talvez não, quem sabe, só Deus

E o grito não parava aí, continuava mais e mais, e os seniores, unidos, ombro a ombro, mãos unidas, meus amigos, era um espetáculo de encher os olhos e batidas fortes no coração.

Todos acostumaram com aquela fraternidade, surgida do nada, mas que uniu e muito as patrulhas rumo ao crescimento individual e coletivo.

Não posso esquecer aquele acampamento de patrulhas. Ficou gravado em minha mente, e hoje recordo com saudades daquele tempo, onde aprendi a admirar os seniores, em qualquer lugar do mundo.

Hoje tudo está mudando, já existe o Grito de Guerra Sênior, (e isto é muito bom) enfim, não sei se ainda fazem grandes pioneirias, se sabem Morse, Semáforos, se sabem se comunicar com sinais de fumaça,se fazem jogos noturnos em aventuras nas montanhas deste Brasil. Se atravessam rios, se fazem escaladas, se constroem Ninhos de Águias, se sabem se orientar pelas estrelas, se sabem prever a chuva, o vento, se dormem sempre sobre a barraca estelar e se são verdadeiramente irmãos dos demais escoteiros.

Acho que sim, vejo sempre falar em Aventura Sênior Nacional, e acredito que ali são revividas tudo aquilo que passei nas minhas atividades como sênior e pelo que vi naquela atividade acho que nada pode ter mudado.

Não me sai da lembrança aquele Acampamento Nacional de Patrulhas, penso onde estarão aqueles jovens hoje, se alguns ainda participam, se trazem como eu as lembranças do passado que nunca irão ser esquecidas. Lá se foram 43 anos. Muito tempo!

Um dia, se pudesse voltar atrás, seria um chefe sênior. Fui uma vez, por pouco tempo, só cinco anos. Mas devia ter continuado pois saí da Tropa Sênior para ser Comissário Regional (hoje um diretor qualquer pois os novos não gostam da nomenclatura antiga, bem isto também deve aumentar em muito nosso efetivo, devo respeitar as mudanças). Tive como Regional (diretor (?) muitas alegrias, muitas atividades, viajei pelo estado todo, fui a outros também. Convivi com muitos dirigentes, aprendi com eles e desaprendi com muitos.

Foi uma época áurea. Como regional vi ali que para receber condecorações temos que ser alguém na Direção Nacional ou Regional. Eu mesmo recebi muitas, cheguei ao ponto de receber duas de Bons Serviços Ouro (não entendi nada!), mas devolvi uma. Quando escotista, apesar de muitos anos não recebi bulhufas. (não me digam do processo a ser encaminhado, conheço muito bem os meandros do bate volta)

Mas deixemos a política de lado, vejamos o lado dos jovens, eles são realmente a razão de ser do nosso movimento. São eles que nos fazem permanecer, continuar, motivar, e olhe, digo sempre, nada nos paga tanto como um sorriso deles. Isto sim é maravilhoso.

Que saudades dos tempos que se foram, das atividades, das florestas, das travessias em rios, das cordas nas corredeiras, no coração batendo ao escalar uma montanha, nas picadas das matas onde passei, nas barracas suspensas nas mais altas árvores, nas canoagens abaixo das corredeiras, nos amigos que não vejo mais, no meu chefe sênior que já se foi.

É, me orgulho dos seniores e parabenizo a todos eles pela motivação, pela alegria e enfim, parabéns também aos escotistas que colaboram com eles, digo colaboram pois eles sabem o que querem e como fazer uma grande atividade aventureira! Pensem nisto!


"
Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível

 mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o
 momento em que um "sim" ou um "não" pode mudar toda a
 nossa existência."
Anônimo

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O ESCOTISMO É APENAS UM PASSA-TEMPO?


Chefe Elmer sempre colaborando com esse blog. Mais um artigo atual e importante para elucidação e conhecimento de boa parte dos nossos leitores.
Leiam e meditem, pois eu concordo plenamente com as palavras do nosso amigo e dedicado escotista.
                                             ooooooooooooooo



Reflexões de um Velho Lobo

Introdução

Chegamos à conclusão que, algumas pessoas têm dificuldades em lidar com os pais quando colocam em cheque o aspecto educativo do Movimento Escoteiro. Talvez, abordando o assunto por esse ângulo, possa explicar, sem constrangimento. Espero que sirva para fortalecer os argumentos em situações semelhantes.

30 - O ESCOTISMO É APENAS UM PASSA-TEMPO

Já faz algum tempo, estamos atuando na função de recepcionar os novos pais que vem ao Grupo Escoteiro solicitar informações sobre o Escotismo, para colocarem seus filhos.

Determinamos que eles devessem passar por uma Palestra Informativa antes de efetuarem a matrícula, e chegamos à conclusão que 90 minutos seriam suficientes.

E assim temos feito todos os sábados, para uma média de seis pessoas.
Iniciamos com a “pergunta chave” de todo o processo informativo: “Os Srs. sabem o que é o Escotismo”?  E a seguir: “E o que ele tem para oferecer aos seus filhos”?
As respostas são as mais variadas e algumas bem interessantes, culminando com a que mais nos chamou a atenção: “Não faço a menor idéia, mas sei que é bom”!

Graças a Deus e a muitos Escotistas que nos precederam desde 1907, nossa imagem é limpa, positiva, com um perfil adequado a postura que um pai deseja para seu filho.

Mas, a grande maioria das respostas gira em torno da idéia que o Escotismo “é um passa-tempo útil” demonstrando um desconhecimento quase que total do que pretendem oferecer aos seus filhos. Raríssimos são os pais que ligam o Escotismo a educação não formal e ou a formação do caráter. Nem mesmo os educadores formais conhecem o método escoteiro... Professores, pedagogos e psicólogos poucos sabem.
Como seria bom se fosse verdade que o Escotismo é apenas um passa-tempo útil! Quanto conteúdo estaria contido nesta simples afirmação...
Se assim fosse, nossos jovens já poderiam ser considerados preparados para assumirem sua futura missão de cidadão responsável, consciente de seus direitos, deveres e obrigações!

Pais, familiares, tutores, mestres, professores, religiosos, autoridades e todos os indivíduos e entidades que respondem pela educação e formação do nosso futuro cidadão, teriam cumprido integralmente a nobre missão de educá-los.
Ao Escotismo então, caberia apenas a função de ocupar o tempo livre dessas crianças e destes jovens, produzindo “cunhas” que descompromissadas, preencheriam os momentos de ociosidade, sem a responsabilidade de criar e cultivar hábitos e valores, pois estes já existiriam em suas mentes e corações. 
Não haveria necessidade de conviverem com a Promessa e a Lei Escoteira, pois já seria a sua opção natural de conduta, herdada do convívio social, escolar e familiar. Receberíamos e trabalharíamos com crianças quase que perfeitas! Aí sim, o Escotismo seria apenas um simples e sadio divertimento.
Mas, (sempre tem um, mas), a realidade é outra...

Convivemos hoje, com novas situações que a vida moderna nos apresenta. Os excessos de alunos em algumas escolas determinam o pouco tempo para ensinar. 

Muitos casais, ambos trabalham fora, na luta heróica pela sobrevivência. Crianças são educadas pelos avôs, já idosos para poder exercer um controle satisfatório sobre seus netos. O salário termina bem antes do mês, produzindo uma lacuna no orçamento familiar. As crianças, muitas vezes, são educadas por empregadas que, por sua vez, estão com os próprios filhos deixados na creche, longe do carinho materno e não raro, até adoentados, na casa de um vizinho. É a transferência pura e simples de carinho e afeição, muitas vezes suprida em parte por pessoas estranhas à família, que procuram auxiliar naquilo que podem. As televisões mostram uma realidade brutal que o jovem, convivendo diariamente com esta imagem, acaba aceitando como natural.
Frente a esta dura realidade, pode o Movimento Escoteiro, (ou qualquer cidadão de bem) se dar ao luxo de ser apenas “um passa-tempo útil”?  

Este quadro faz com que o Escotismo se apresente como uma das mais eficientes opções na área da educação. Fazemos recreacionismo, porém vamos muito além, trabalhando ao lado da educação e a sociabilidade em benefício da formação dos jovens.

O Movimento Escoteiro atua procurando minimizar a falta de tempo dos responsáveis diretos, uma situação cada dia mais presente em nossas vidas.
Completamos (e nunca substituímos) a família, a escola e a religião, pois estas, por mais que se esforcem, nem sempre conseguem cumprir em sua plenitude, as responsabilidades inerentes das obrigações que se propuseram.

O Movimento Escoteiro, preocupado com as gerações futuras, aceita a sua parte na responsabilidade de formar bons cidadãos, preocupação esta, que na realidade, cabe a todos os cidadãos de bem.
Por isso, e outras tantas mais, que o Escotismo não é e nem pode ser apenas “um passa-tempo útil”. 

Elmer S. Pessoa – DCIM – maio 2011
55º MORVAN – Santos/SP
46º ALMIRANTE TAMANDARÉ – São Paulo/SP

 REFLEXÕES DE UM VELHO LOBO
Para elucidar dúvidas:
O comentário "Reflexões de um Velho Lobo", nada tem a ver com o saudoso chefe Benjamim Sodré - o "Velho Lobo" e não tem pretensão alguma de comparação, guardando respeitosamente, as devidas proporções.
O termo é usado pelo fato de, quem tem mais de 50 anos de Movimento Escoteiro, é um "Velho Lobo" reconhecido pela UEB. E que, com este tempo de escotismo, adquiri-se alguma experiência... 
Apenas isso, ok?