sexta-feira, 26 de julho de 2013

O passado não tem valor?


Conversa ao pé do fogo.
O passado não tem valor?

                Tenho visto nas andanças e leituras que faço uma forte corrente a discutir sobre o escotismo moderno. Claro que não se começou hoje, pois há tempos os defensores desta ideia vêm fazendo mudanças em toda a estrutura escoteira. Dizem que isto faz parte de todas as escolas em todas as áreas e não se atualizar é ficar parado no tempo, dizem eles. Acredito que não estão errados. Não podemos ficar sem nos atualizar. Elas são necessárias e fazem parte do nosso crescimento. Já mudaram algumas vezes o programa escoteiro, mudaram o uniforme, alguns símbolos foram mudados e devem vir por aí outras mudanças. Para os novos tudo bem para os antigos a descaracterização.

                    Alguém um dia me interpelou sobre isto. Respondi que não discordava de atualizações desde que feitas sem tirar o mérito da formação do passado. Interessante que a maioria que sugere ou comenta estas mudanças não participaram do escotismo do passado. Combatem pelo que ouviram falar. Agora eles dizem que uma discussão sadia deveria existir e até alguns dizem que os jovens devem participar desta discussão. Claro, isto é importante, mas o jovem viveu escotismo do passado? Deram a ele oportunidade de viver o sistema de patrulhas em seu apogeu? Ele viveu uma época de aprender a fazer fazendo, pois a chefia dava ampla liberdade? E os resultados foram motivos de indagação na sociedade local?

                    Não discuto a modernidade. Discuto estas alterações e mudanças feitas sem nenhuma experiência válida para dizer – Vamos mudar! Soube que nos EEUU há tempos atrás a Boy Scout discutiu certas mudanças na vida da tropa. Para que ela se realizasse precisavam ver como seria o resultado final. Um profissional foi contratado e durante dez anos colocou em prática as mudanças em uma tropa. Porque dez anos? Porque precisavam ver os resultados quando o jovem participante atingisse a idade adulta. Infelizmente não é assim que fazem os nossos dirigentes. Planejam, discutem entre si e põe em pratica para então ver os resultados. Se deu certo ótimo se não deu muda-se de novo.

                   Os associados em todas as suas categorias não tem mais condição de pensar. Os adultos pensam por eles. Ou então fazem consultas com poucos sem dar a eles condições de análise do que era e o que vai ser. Contar histórias do passado não vale. Cada um tem uma maneira de contar para que os ouvintes interpretem a sua maneira e concordem. Eu tenho duvidas se o jovem soubesse como foi vivendo por um tempo o que era e comparar com novas ideias ou quem sabe ele mesmo sugerir. Foi uma época sui-gêneris. Um escotismo de desafio. Onde ele teria que aceitar situações aventureiras para vencer. Tentar sempre até ver onde acertar. Uma segunda e primeira estrela nunca poderia ser retirada. Dizer ao lobo que ele teria que crescer, pois ao entrar era um pata-tenra sem rumo e isto seria o começo. Ele teria que aprender a ser um lobo de verdade. Conquistando sua primeira e sua segunda estrela para então almejar seu cruzeiro do sul.

                        Acabar cum uma segunda e primeira classe? Nunca. Alterar os desafios das provas de acordo com os dias atuais sim. Os seniores ainda teriam suas eficiências. Ah! Mas me dizem que isto existe. Existe? Hoje você olha para um jovem escoteiro e escoteira e não sabe em que pé está seu crescimento escoteiro. Assusta-me alguém pedir ajuda na internet sobre especialidades, cordões e até nome de patrulha, grito etc. E os demais? Mudanças são válidas, mas cada uma tem de ser bem analisada, discussão ampla e dar tempo ao tempo.

                   Na década de 80 participei de uma comissão junto as Bandeirantes do Brasil visando uma unificação honesta e sadia visando à coeducação. Elas sempre desconfiando de nós. Durante quatro meses fizemos reuniões quinzenais. Sem menos esperar elas se afastaram dando como terminado os trabalhos. Uma semana depois vários grupos foram autorizados a terem o elemento feminino. Ficamos nós da comissão com “cara de tacho”, pois nem nos perguntaram nada. Começava aí a coeducação tão apregoada hoje. Antes só tropas e alcateias separadas por sexo e únicas. Em menos de um ano foi aprovado mista para lobos e mais um ano todos eram mistos. Experiências? Nunca foram feitas. Os dirigentes nunca perguntaram. Avançamos na modernidade, coisa que até hoje na maioria das casas dos jovens os filhos de sexos diferentes ainda não tem a liberdade que encontram no escotismo.

                         Tenho ouvido relatos de situações incríveis nas tropas escoteiras, sêniores e guias e os pioneiros me assustam mais ainda. Mudar sim, mas mudar com o pé no chão é melhor. Não é o que fazem. São poucos os jovens que passaram pelo escotismo e hoje na vida adulta comentam das vantagens da formação escoteira. Não temos respaldo na sociedade e nem nos meios educacionais. Somos vistos com brincadeiras de criança e em alguns casos nos consideram atrasados e ineficázes. Não sei realmente onde vamos parar. Aquele escotismo de aventuras, de descobertas, do amor dos membros de uma patrulha, de saber que ser escoteiro era ser um irmão e amigo de todos, do respeito aos escoteiros, aos mais velhos, tantas coisas que uma página só não daria para escrever tudo.


                          A corrente do modernismo corre contra o tempo. Ela persegue o esquecimento dos antigos e busca nos novos o apoio irrestrito que precisa. É um jogo sem volta. Tantas coisas acontecendo e tantos esquecendo que muitas coisas do passado não eram de todo ruim. Não teremos mais orgulho de uma saudação escoteira no cerimonial? Claro dirão. Teremos sim. Mas sem perder os amigos da patrulha que se vão? Claro meu caro, estamos mudando para isto. Mudando? Passado que se foi. Patrulhas que ficavam juntas por anos e anos. Mudanças que vieram para jogar por terra uma época que valeu mesmo a pena ser escoteiro.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Viva Pancho Villa!

A ignorância é uma das maiores desgraças da minha raça... A educação de todos os filhos é algum que não deve passar despercebida pelos governantes e cidadãos. Nunca o problema educacional tem sido dado à atenção necessária...
Pancho Villa

Conversa ao pé do fogo.
Viva Pancho Villa!


                      Doroteo Arango nasceu em Durango e viveu até os 16 anos como trabalhador rural. Com essa idade, foi acusado de matar um fazendeiro que atacara sua irmã e para fugir das perseguições da justiça, se alista no exército mexicano. Como chefe de guarnição, em 1910, apoia Francisco Madero no combate a ditadura controlada por Porfirio Díaz. Assim começa a história de Pancho Villa. Um caudilho mexicano lá pelos idos de 1915 onde os americanos passaram poucas e boas com ele. Pancho Villa nunca foi escoteiro. Nunca se interessou por nada que Baden Powell escreveu ou deixou para nos. Ele dizia que era um visionário, mas muitos o consideravam um sanguinário. Queira ou não, caudilho ou ditador ele ficou na história. Muitos como ele também ficam.

                     No escotismo dificilmente aparecem caudilhos. Claro que eles existem. São muitos. Eles se escondem. Não aparecem. Você nunca vai receber sua visita em seu grupo escoteiro. “Mali, Mali” um dia poderá apertar as mãos deles se comparecer a um encontro nacional. Eles estarão lá. Rodeados pela chumaça da casta que habita a corte dos Grandes Chefes e que é o sonho de muitos outros pequenos caudilhos existentes no escotismo. Eles os caudilhos sabem do que você precisa. Sua opinião não tem valor e esquece, nunca vão pedi-la. Assim são os caudilhos. Acreditam que sabem o que fazem e cercados de uma dezena de outros decidem a bel prazer o que mudar e construir. E o pior, eles os caudilhos juram que tudo que fazem é de comum acordo com os associados. Que foram consultados. Risos. Eu pergunto eu ouço eu olho e não vejo ninguém que foi consultado. Não tenho nada contra os caudilhos. Eles sacrificam suas horas, alguns até suas economias e seus familiares. Claro em prol do escotismo. Um dia vi um Chefe suando em bicas. O grande jogo que estava em ação não dava certo. Praguejou, praguejou e nem pensou que o culpado era ele mesmo. Esqueceu-se dos monitores, esqueceu-se da patrulha, esqueceu-se da tropa. Ninguém deu sua opinião. Ele era o sabe tudo. Quis fazer uma surpresa. Assim são os caudilhos. Eita casta danada de boa!

                 Eu gosto eu adoro mesmo quando me dizem que temos onde dar opinião, onde reclamar, onde sugerir. “Temos normas chefe”! Normas claras completam. Engana-me que eu gosto. Façam a experiência. Vistam seu melhor uniforme, ou quem sabe se você tiver condições financeiras compre o novo traje. Dizem por aí que é caro e você não pode mandar fazer. A confecção é exclusiva da organização. Paciência. Escotismo também é para pobres, mas é melhor ser rico não? Compre mais de um tipo. São vários. Agora você pode escolher a vontade. Assim você vai chamar a atenção deles vestindo cada um de hora em hora. Eles irão rir a toa. Você vai servir de
exemplo. Depois compareça a um encontro nacional. Vá apertando mãos que aparecerem pela frente. Os simples como você irão dar um belo sorriso e vão querer conversar ou lhe dar um abraço. Não fique triste se os caudilhos não lhe derem atenção. Eles estão sempre com pressa. Vou olhar para você, apertar sua mão e dizer prazer! E sairão de fininho. Quando estiveres em plenário peça a palavra. Diga o que tem de dizer isto é claro se derem a palavra a você. Muitos caudilhos não dão. Eles tem o tempo certo para cada ação. Melhor é deixar escrito suas ideias e suas sugestões. Entregue ao Presidente que está lá na mesa de direção. Não se preocupe se ele fechar a cara ou então fazer promessas. Faz parte, mas não acredite. Agora volte satisfeito. Você não foi ouvido e nem bem recebido, mas mostrou que não é submisso.

                Caudilhos! Casta! Corte dos poderosos. Sem ofensas me parece uma raça superior. Encastelam-se no poder e mesmo dizendo que agora é por pouco tempo não acredite. Eles têm o dom de continuar na corte, ainda fazer parte da casta. A alternância do poder dão a eles condições de brincar como nós nas danças das cadeiras. Não vamos criticá-los muito. Vamos dar um voto de confiança. Eu mesmo venho dando há quarenta anos assim quem sabe tudo pode melhorar? Se você acredita ótimo. Eu não. Cansei de acreditar. Mas eu não sou ninguém. Como já disse sou um pária sem casta.  Nem grupo eu tenho quiçá um registro. Portanto não incomodo ninguém e assim vou vivendo pisando no pé de alguém. Alguém? Risos. Claro, os caudilhos, os dito cujo da casta e aqueles que dão risadas por pertencer à corte, pois ali sim, o poder é exercido. Será?

                   Eu sei de meia dúzia de escotistas que não concordam com as ações dos caudilhos. Mas são poucos. Suas vozes nunca são ouvidas. Um deles sobre o novo uniforme ou traje como eles querem, disse o seguinte – Amigos, sim, do jeito como a coisa foi feita corremos um grande risco de num desfile parecermos um bando de "sem teto", se bem que acho que até eles se uniformizam melhor, iria ser uma miscelânea de calçados diferentes, cintos diferentes, coberturas diversas, uniformes diversos, enfim, uma verdadeira zorra. Acho que vamos ter que pensar numa forma de alinhamento de pensamentos e ações e ver como poderíamos agir neste caso. O que acham? Ninguém achou nada. Claro deram suas opiniões, mas elas ficaram perdidas no grupo que pertencem e poucos muito poucos tomaram conhecimento ou concordam.

                  Listas correram onde os associados puderam reclamar. Eu mesmo vi uma com mais de quatrocentas assinaturas. Não só desta nova vestimenta que foi enfiada goela abaixo e de que adiantou? Eles os caudilhos nem deram “pelota”. Eles nunca dão. Fazem um comunicado impositivo dizendo que fica determinado isto e aquilo. São mesmos os donos do poder. Sempre me perguntam – Chefe qual o caminho a seguir? Difícil dizer, difícil aconselhar. Mas se cada um comentasse com outro que enviassem seus pensamentos aos dirigentes do seu distrito da sua região já seria um bom caminho. Nada será possível mudar enquanto a estrutura que temos hoje não mudar também. Os estatutos estão aí. Eles se apegam nele e claro foram eles que o fizeram. E dizem que tiveram várias mãos na sua confecção. Da vontade de rir. Estão a mudar. Ainda vão mudar muito. E infelizmente a aceitação será continuada nos grupos escoteiros.

                   Para mim chega do velho conto do vigário em que dizem que temos nosso órgão próprio para sugerir e dar opinião. Um engodo. Os associados esquecem que são mais de setenta mil membros. Não mais que 0,5% deste efetivo participa e dizem que decidem em conjunto. Risos. Só rindo mesmo. Eles estão lá se sentem importantes, mas também não decidem nada. Tudo chega pronto e decidido, pois meia dúzia já discutiu, votaram entre si e claro eles acreditam que assim deve ser.  Agora é deixar os outros votarem para justificar os estatutos. E o desejo de se sentir importante de estar ali na corte quem votará contra. Meu amigo, se você é Escotista veja se um dia foi consultado em algum ato ou decisão dos dirigentes. Você viu alguém dando sugestões para o traje? O uniforme? Pergunte a amigos de outros grupos. Nunca a não ser que você seja da corte, seja mais um dos futuros caudilhos que ano a ano são criados na alta cúpula. Nosso movimento tem um valor enorme e precisa de uma injeção de democracia. Não se pode deixar a maioria dos associados sem voz e voto. Ninguém tem a verdade, o caminho, as decisões. Não podemos continuar neste estado de coisas. Cada um deve pensar bem se é este o caminho correto. Eu já disse em outros artigos que só vemos um lado da montanha, até hoje ninguém tentou ver o outro lado. Nem experiência foi feita.

Final da historia de Pancho Villa.

                  Pancho Villa não foi escoteiro. Nem poderia. Um caudilho que acreditava que a força era sempre uma solução para resolver os problemas de seu país. Quem sabe se ele tivesse pensado que a democracia fosse a maneira correta para vencer ele teria tido sucesso. Mas não, pouco a pouco Villa foi-se convertendo em um novo guerrilheiro e suas atividades se limitaram cada vez mais pela escassez de armas. Assim se manteve de 1917 a 1920, salvo um período de reaparição, quando Felipe Angeles voltou ao país para lutar ao lado de Francisco Villa. Adolfo de la Huerta, ao assumir a presidência interina do país como fruto do movimento de Agua Prieta, sugeriu a rendição de Francisco Villa. Em 26 de junho de 1920, Villa assinou os convênios de Sabinas, obrigando-se a depor as armas e a retirar-se na fazenda de Canutillo, Durango, que o governo lhe havia concedido em propriedade por serviços prestados pela revolução.
                   Sua popularidade entre os mexicanos reforçara-se ainda mais depois do ataque a Columbus, pois viram-no, metaforicamente, além de ser uma espécie de "Robin Hood", o grande vingador das tantas derrotas passadas dos mexicanos frente aos poderosos "gringos", um símbolo da resistência nacional, alguém que ninguém conseguira colocar a mão, uma lenda, "un hombre" - Seu nome acabou por tornar-se lenda entre os mexicanos. Ironicamente, hoje, ao lado de Columbus, cidade americana, existe um lugarejo chamado Pancho Villa, bem como um parque nacional com o seu nome.
                   Não temos em nossa liderança nenhum Pacho Villa ou será que temos? Mas também não temos nenhuma democracia participativa e aberta onde tudo é feito as claras. Ou será que temos? Pancho Villa não serve de exemplo para nós apesar de que é considerado um herói mexicano e eu como admirador de heróis tiro meu chapéu. Vejamos o que ele deixou escrito para a história:
- É justo que todos aspirem ser mais, mas será que todos podem um dia analisar os seus atos?
- A igualdade não existe, ou melhor, até pode existir. Seria uma mentira que todos nós podemos ser iguais, o que precisamos é dar a todos um lugar adequado.
- Agora eu pergunto o que seria do mundo se todos nós estivéssemos falando ao mesmo tempo, se fôssemos todos nós capitalistas ou pobres?
- Ninguém faz melhor o que você conhece bem, e, portanto, numa república ignorante você vence com qualquer plano que for adotado.
 
É hora de dizer que o preconceito acabou que a sociedade está estabelecida e está mais sólida, mais natural, mais sábia, mais justa e nobre.

Pancho Villa


terça-feira, 9 de julho de 2013

A luta pelo poder no escotismo.

Se não acreditas que ele exista não leia este artigo.
A luta pelo poder no escotismo.

              Eu tenho um compadre que quase não o vejo mais. Eu em Sampa e ele em Belô. Grande sujeito. Sempre com um sorriso nos lábios. Aquele sim era um protótipo bem feito de que ser feliz é fazer
os outros felizes. Nunca teve sede de poder. Sei que é um DCIM até hoje, mas não sei se está na ativa. Fiz o meu primeiro avançado com ele. Éramos de patrulhas diferentes, mas nasceu ali uma grande amizade. Tornamo-nos íntimos em família e além da amizade fomos e somos compadres. Sempre quando vou a BH faço questão de visitá-lo. Este preâmbulo é porque estou sentindo nos últimos anos uma busca enorme pelo poder no escotismo. Ele o meu compadre era inverso disto. Lembro que quando deixei a função de Regional não foi fácil conseguir outro para assumir o lugar. Claro que tínhamos muitos capazes, mas não havia motivação para assumir cargo tão elevado. E na Diretoria? Uma luta.

             Não havia ainda a sina de Grande Chefe. Lembro-me do Chefe Darcy Malta. Tinha pose, mas estava sempre junto e presente com os chefes e a escoteirada. O conheci melhor em um Acampamento Distrital de Patrulhas. Não ficava quieto, sempre aqui e ali conversando sugerindo e dizendo que queria aprender. Nos grupos Escoteiros era a mesma coisa. Aceitar a função de Chefe de Grupo não era fácil. Claro havia como existe até hoje os grupos bem estruturados. São grupos onde bons escotistas conhecedores nasceram e ficaram ali para sempre. Em sua maioria a uma liberdade de ação muito grande sem contar que a democracia faz parte de seu habitat. Lembro muito bem quando precisava fazer dezenas de Indabas para tentar eleger um Comissário Distrital. Não era fácil. Ouve um caso em certa cidade que um professor foi eleito quase por unanimidade. Não queria assumir. Dizia que se sentia bem na Tropa.

           A Equipe de Formação era unida. Não éramos muitos, menos de quinze, mas pau para toda obra. Não sei se em todos os estados era assim também, mas algum que conheci de perto a tônica da união e respeito era de praxe. Claro que nem tudo que reluz é ouro. As discordâncias, as desavenças e a discórdia nunca deixaram de existir. Desde aquela época que eu me pergunto – Porque esta sede de poder? Não temos salários, não temos projeção nacional a não ser entre os membros do escotismo. Mas nos últimos trinta anos ou mais existe uma luta surda pelo poder. Os que entram não querem mais sair e muitos que estão fora querem entrar. Alguns se tornam Caudilhos em seu estado não faltando aqueles que tentaram ser um deles a nível nacional. O sonho em ser um membro da equipe de formação sempre existiu. É um status que ninguém abre mão. Quem se inicia é de uma disciplina e obediência aos mais aquinhoados que chega a fazer pena. Em alguns casos humilhante mesmo.

             Tenho escrito ultimamente sobre a democracia escoteira. Como acredito que ela não existe no escotismo as lideranças se sentem libertas para pensar por todos nós. Eles dizem que sabem o que precisamos. Fazem programas que praticamente são impostos de cima para baixo. Não perguntam nunca se é isto que queremos. São Acampamentos Nacionais, Regionais, Mutirões, Cursos de criatividade duvidosa, Cursos de Monitores, encontros de lobinhos em nível distrital e nacional e assim vão aparecendo os novos donos do poder. Dificilmente aparece algum para programar grandes indabas distritais, regionais, mutirões etc. para que os participantes possam discutir o que pensam e o que querem. Aí sim quem sabe bons programas poderiam surgir. Mas isto não se faz. Cada um que assume uma função acha e luta pela sua nova ideia e quando assustamos lá estão os chefes da sua área fazendo quem sabe o que não querem, mas o Caudilho já tem tudo programado e ai de quem discorda.

             Durante as ultimas eleições eu pude checar até onde os escotistas são figurativos. Cada chapa apresentou seu programa. Cada uma prometeu mundos e fundos. Faz parte do jogo político. Não vi e posso estar enganado, nenhuma chapa com propostas de ouvir as ideias de todo seu estado, o que deveria mudar, quais as atividades poderiam ser desenvolvidas, quais os cursos que mais seriam procurados, se estão ou não a favor da uniformização imposta pela UEB, se os estatutos não deveria ser motivo de uma discussão ampla para prováveis modificações. Seriam tantas coisas para “vender o peixe” aos associados que ninguém pensou nisto. Afinal eles sabiam ou achavam que sabiam o que cada um precisa. A mesma coisa acontece de cima para baixo onde o Chefe diz - Eu sei o que os
“meus” Escoteiros querem. “Meus” lobinhos não reclamam. O “meu” Grupo Escoteiro está bem estruturado. Eu sei o que os “meus” chefes querem. E assim vai o Distrito a região e nacional. Os caudilhos estão lá às centenas.

               Temos caudilhos por todo o lado. Desde os chefes de sessões, dos grupos, dos distritos regiões e nacional. Existe uma luta surda para ser da equipe do presidente. O escolhido logo quer mostrar serviço. Meu Deus! Que serviço? O dirigente não deveria primeiro ouvir o que todos querem? Mas isto é um vicio nacional. A própria UEB sempre foi assim. Lá tem caudilhos aos montes. Antes se perpetuavam no poder agora só podem ficar alguns anos. Mas não se enganem aqueles que passaram a bola para frente sempre estão com o apito na mão. Eles ainda são os donos do jogo. Não sou psicólogo, nem pedagogo. Não entendo nada do que Sigmund Freud foi o papa. Mas esta sede de poder sem salário não é honesta. E mesmo que bem paga não seria assim. As grandes corporações com seus CEOS estão dando um novo formato na estrutura de suas fábricas, lideranças e até países se organizam sobre esta prisma.

                 No escotismo pelo que vejo nada muda e nada se transforma. Tudo vem lá de cima dos órgãos internacionais. Eles já são mestres disto. Uma grande FIFA onde ninguém quer perder o poder. Eu não sei não e nem posso afirmar, mas me disseram que quem manda no escotismo nacional são alguns poucos membros detentores do poder da Equipe de Formação. Verdade ou não no passado era assim. Ela decidia e os demais seguiam. Um amigo me disse uma vez que temos alguns escotistas que nunca foram nada na vida em termo de poder nas suas atividades profissionais. No escotismo encontraram um manancial aberto. Sei que isto é meia verdade. Tem muita gente boa em postos na hierarquia da UEB. Mas o dia em que um Caudilho apresentar um plano de desenvolvimento visando ouvir as opiniões de norte a sul do Brasil, mesmo que isto leve anos para se chegar a meio termo então darei minha mão à palmatória. Enquanto isto irão pipocar em todas as eleições as promessas, os planos mirabolantes a espera do reconhecimento por parte dos comandados.



Um grande sábio pede a Deus mais sabedoria, mais conhecimento, mais entendimento, mais compreensão, mais amor, mais prudência, mais paz; mas o insensato só pede riqueza material, sua ruína é uma questão de dias.   Sapienciais 3:5


sexta-feira, 5 de julho de 2013

O exército do eu sozinho.

"A democracia... é uma constituição agradável, anárquica e variada, distribuidora de igualdade indiferentemente a iguais e a desiguais." (Platão).

Conversa ao pé do fogo.
O exército do eu sozinho.

                 Não existe exército, o título nada tem há ver com o artigo. Pensei em dar outro nome: Unipartidarísmo solitário. Também não sei se encaixa. Difícil arranjar um título. Mas vamos ao que interessa. Desde que entrei para o movimento que pouca coisa mudou em sua estrutura. Eles os dirigentes mudaram sim desde as normas estatutárias ao programa, os uniformes, a formação enfim foram mudanças que os novos nunca irão discordar. Afinal eles entraram no escotismo com a politica autocrática existente e nem pensaram, ou melhor, nem pensam em uma democracia plena e transparente. Não é uma preocupação natural. Assim está assim deixa ficar. Todos que usufruem das benesses escoteiras defendem a associação e não aceitam de maneira nenhuma o termo “autocracia”. Alegam e talvez com razão que existe um Estatuto, temos normas e órgãos próprios onde possamos reclamar. De norte a sul de leste a oeste se alardeia esta pseudo-democracia escoteira.

                 Li um artigo interessante na Internet onde se dizia que um dos maiores e mais impressionantes poder que temos é a palavra e a fala. A palavra pode levantar ou derrubar, agradar ou desagradar, emocionar ou irritar, trazer para perto ou afastar. Pode ser mel ou fel, tanto para quem ouve como para quem fala. A palavra pode estar respaldada na verdade ou esconder a mesma verdade. Mas isso não é difícil de perceber por aquele que tem uma consciência maior de si mesmo e, portanto, do outro. Simplesmente porque a palavra não vem sozinha nunca. A palavra pode estar respaldada na verdade ou esconder a mesma verdade. Mas isso não é difícil de perceber por aquele que tem uma consciência maior de si mesmo e, portanto, do outro. Simplesmente porque a palavra não vem sozinha nunca.

                 Desde os primórdios do escotismo que no Brasil existe esta tecnocracia. A palavra de ordem é uma só – Disciplina escoteira. Que ser um de nós? Então aceite as regras e pronto. Esta é à maneira do porque no escotismo sempre fomos um movimento ditatorial. Alguns poderiam dizer que é a ditadura dos meios. Contrariamente ao que se pensa o tecnocrata não é um realista pragmático. Não pensa que os fins justificam os meios. Pensa sim que os fins são irrelevantes ou indetermináveis. Vemos, portanto uma acomodação dos associados e eles não são culpados por esta situação sem pensar que poderia haver outro caminho. Entraram pensando mil coisas de como ajudar a juventude, compraram as ideias de Baden Powell e nunca em tempo algum discordaram, pois vivem o dia a dia com seus jovens e quase não pensam que acima deles, lideres estão a tomar decisões que poderiam ou podem afetá-los.
            
                  A associação parece que não tem desejos autênticos, porque para ela todo o desejo autêntico é, por definição, impossível de satisfazer. O êxito deles consiste em acumular instrumentos a que nunca dará uso; e o próprio dinheiro, que é o instrumento por excelência, serve apenas para ganhar mais dinheiro. Ou poder, que é outro instrumento; mas isto, para a associação já é uma perversão - uma intromissão dos associados que nunca foi levado em conta. Melhor me fazer entender mais simplesmente. Afinal Tristan Bernard dizia que “um bom argumento vale mais do que muitos argumentos melhores”. Nunca em tempo algum até hoje a Associação deu a todos os associados voz e voto. Nunca em tempo algum a Associação consultou ou mesmo fez algum tipo de pesquisas com os associados. Ela nunca foi transparente nos seus atos. E interessante, são estes os associados que carregam a Associação, pois sem eles ela deixaria de ter utilidade.

              Dizem que a essência da democracia reside em dois princípios fundamentais: o voto e a liberdade de expressão. Quando nascem a liberdade e a democracia, aparecem os associados, símbolos da participação na soberania escoteira. Portanto, se pudemos entender como liberdade de expressão seria como uma divisão de forças dentro da Associação para que ela não se ache soberana e dona de todas as ideias possíveis para se desenvolver. Afirmar que hoje isto é possível é duvidar da inteligência dos associados. Impossível participar do órgão máximo da Associação cuja representatividade é menor que 0,5% do efetivo total. Isto dificulta em muito a difusão do pensamento, além de não estimular os associados a manter, exprimir e defender suas opiniões.

              Convenhamos que fatores diversos levaram a Associação a continuar com esta atitude arrogante. Por mais que ela se arvore em dizer o contrário Ela determina o que vai ser alterado nos seus estatutos, no programa Escoteiro e em todas as suas ações tomadas à revelia dos seus associados. Dizer que as normas estatutárias lhe dão este direito é o mesmo que dizer que seus atos não podem ser contestados de um Estatuto que ela mesma fez para não ser contrariada. Do passado ao presente a Associação nunca deu condições plenas aos associados insatisfeitos e para estes sempre ela agiu de forma totalitária. Com ameaças, admoestações o que levou a saída de muitos que a seu modo amavam o Escotismo e não queriam deixá-lo, resolveram fundar outras e elas estão aí pululando em quase todos os estados.

               Baden Powell por algumas vezes chegou a comentar e
escrever em seus livros que os chefes devem ter livre arbítrio para decidir, e insistiu que eles devem olhar bem à frente e não só a ponta de seu nariz. Remendou dizendo que não devemos ser um gansinho, daqueles que vai atrás, nas pegadas do pai ganso sempre tem o filho atrás. Poucos muito poucos de nós acreditam mesmo que poderemos mudar. Sempre haverá aqueles para defender a ferro e fogo os desmandos da associação. As alternativas são sempre difíceis e a não ser uma mudança natural ouvindo a voz dos seus associados, não teremos em tempo algum, mudanças radicais visando transparência e democracia plena. Desde que a UEB foi fundada que seu sistema pouco mudou. Passou por mãos muitas vezes iluminadas, mas que não teve forças para mudar o que precisava.

                 Assim como eu todos que comungam do escotismo nunca tiveram oportunidade de pensar como seria diferente, se tivéssemos um sistema democrático e transparente, com todos tendo direitos de voz e voto, se teríamos mais força na sociedade brasileira, se seriamos reconhecidos como um movimento sério de ajuda na formação da juventude nos meios educacionais e se políticos e lideres empresarial fossem mais um de nós. Nunca nos deram esta oportunidade. Só enxergamos o que nos deram condições de ver. Maciçamente vendem suas ideias, seus programas, seus valores e alardeiam aos quatro ventos seu sucesso no crescimento de associados. Ninguem os contradiz. Não existe oposição. Uma visão da realidade para eles fantástica. Para outros não. Outros gostariam de galgar o pico da montanha para ver o que tem do outro lado. É o que todos os associados deveriam fazer. Quem sabe um dia iremos mudar? Quem viver verá!

A simplicidade é transparente, a franqueza é translúcida. Quando emanam luz, só a transparência se deixa ver por dentro.