segunda-feira, 30 de julho de 2018

Modo de ser feliz... Por Baden-Powell



Modo de ser feliz... Por Baden-Powell

Um dia, numa espécie de devaneio, vi-me chegado à porta do céu, após esta vida, e S. Pedro a interrogar-me. Com modo afável perguntou-me: “E que te pareceu o Japão?” – “O Japão? Eu vivi na Inglaterra”!

- “Mas o que fizeste de todo o tempo de que dispunhas nesse mundo de maravilha, com todos os seus cenários de beleza e locais interessantes, ali postos para vossa edificação? Desperdiçaste o tempo que Deus te deu para aproveitar?” E por isso não tardei a ir ao Japão.


Sim, o que incomoda muita gente no fim da vida é que só então veem as coisas na sua verdadeira perspectiva, e reconhecem demasiado tarde que malbarataram o tempo, que o gastaram em coisas que nada valiam.


Quando saí da escola, achei-me, por assim dizer, num quarto escuro, e a educação que recebera era como que um fósforo aceso que me fazia ver como o quarto era escuro, mas também que havia uma vela que podia acender-se com o fósforo e servir-me para doravante me iluminar o quarto.


Mas era apenas um quarto neste mundo de muitos quartos. Convém examinar os outros quartos, ou seja, os modos de vida das localidades vizinhas ou doutros países, e ver como as gentes ali vivem. “Poderás descobrir que, embora o teu quarto te pareça escuro e lúgubre, há meios de nele admitir mais Sol e de melhorar a perspectiva, se quiseres recorrer a eles”.


Retirado de “A caminho do triunfo” de Baden-Powell, fundador do escotismo.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Conversa ao pé do fogo. Eu tive um sonho!



Conversa ao pé do fogo.
Eu tive um sonho!

             Eu tive um sonho. Um lindo sonho. Fiquei exultante, toda a minha tristeza desapareceu. Sonhei algum parecido com o que disse Martin Luther King Jr, que dizia que mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma nova vida. Eu sonhei algum análogo, equivalente, onde vi um Escotismo grande, forte e tão intenso, que fiquei mesmo exultante acreditando que enfim, seriamos muito mais no nosso querido Brasil. Cantei aleluia, um júbilo enorme tomou conta de mim. Vi em cada escola, em cada igreja, em cada templo, fabricas e em tantos outros lugares, milhares de Grupos Escoteiros, com moças e rapazes praticando um escotismo autêntico, cheio de aventuras.

                       Eu tive um sonho. Onde nele se dizia que o amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo. Meu sonho foi real. Eu vi com meus próprios olhos, todos os membros dirigentes dos nossos órgãos escoteiros em nosso país, sorrindo, abraçando, sem “turmas importantes”, sem se considerarem divos, nem mestres e esculápio, falando e ouvindo a todos que ali estavam participando e votando nas decisões. Incrível! Eles uniam os arredios, procurando os desiludidos, abraçando-os e chamando de volta os que se foram. Não era uma utopia era uma realidade. Neste sonho, a altivez, a autoestima, o orgulho, a presunção, a soberba, a ufania não faziam parte de nenhum Chefe escoteiro. A fleuma da importância se transformava em calor humano, fazendo um magnífico conceito de si próprio e olhando a todos como verdadeiros irmãos, ajudando sem receber, sem pensar em granjear fama em ser o chefão, pensando e agindo somente na sua missão de servir.

                 Sonhei sim, num mundo fantástico do escotismo eu via todos escotistas participando das decisões juntos com os dirigentes. Todos sem exceção sendo consultados, indagados, inquiridos, dando sugestões, procurando o melhor caminho sem empáfias. Neste sonho tínhamos novas normas, novos estatutos, com todos eles dando direito a voz e voto do Oiapoque ao Chuí, procurando o melhor caminho para o nosso crescimento quantitativo e qualitativo. Que lindo sonho. Onde a busca da perfeição através da Insígnia da Madeira era uma constante, e que cada adulto visava única e exclusivamente aprender para ser o melhor amigo dos jovens, sem pensar em ascensão, em influência, em posição, evidência. Lá estavam milhares de chefes nas suas sessões fazendo um escotismo autêntico, de valor era um fato consumado.

                    O que é a vida sem um sonho? – Dizem os poetas. Sonhei que nossos órgãos regionais e nacionais, cobravam taxas irrisórias, onde todos seriam aceitos sem precisar explicar ou provar que são pobres para ficar isentos. Onde a palavra honra bastaria para dizer como eram, onde não haveria riqueza e todos os jovens seriam considerados iguais tendo as mesmas regalias daqueles que podem pagar. Vi ainda em meus sonhos jovens, rapazes ou moças que atingissem o Lis de Ouro ou o Escoteiro da Pátria, teriam suas despesas pagas no próximo Jamboree Mundial após a sua ortoga. Não havia taxas em cursos, nos encontros nacionais e regionais elas eram acessíveis e do mais rico ao mais humilde podiam ali se abraçar.

              Nos meus sonhos teríamos uma ONG (Organização não Governamental) que independente da ideologia, recebe todos os anos subvenções onde teríamos o direito também de receber subvenções governamentais, estaduais e municipais. Que sonho! Do mais humilde Grupo Escoteiro, ninguém seria jogado ao ostracismo. Neste meu sonho vi que não teríamos mais a preocupação de pagar taxas altas por qualquer pretexto ou atividade nos encontros nacionais e regionais. Tudo seria remunerado pela nossa direção facilitado pelas subvenções que estávamos recebendo anualmente. Neste meu sonho, centenas de Profissionais Escoteiros bem formados, estavam dirigindo, colaborando ajudando o nosso movimento de maneira ética e honrada conforme preceitua a nossa Promessa e nossa Lei Escoteira.

             Nos meus sonhos eu via milhares de Grupos Escoteiros em todas as cidades brasileiras. Desde Boa Vista onde tenho orgulho de ter um leitor até Uruguaiana e Pelotas onde também sou lido pelos amigos e irmãos escoteiros. Todos estes Grupos estavam contentes, felizes, pois tinham sua sede, mesmo simples, mas com condições de atuação. Ali teria um almoxarifado onde todo material seria guardado para as atividades de sede e de campo. Profissionais escoteiros competentes daria toda ajuda necessária para o desenvolvimento do Grupo Escoteiro. Toda a sociedade brasileira, políticos, classes empresariais desde o presidente até o mais simples vereador, davam o valor devido ao Movimento Escoteiro. Eram eles que se lembravam de nós e não o contrário. Neste meu sonho eu vi adultos importantes oriundos do movimento escoteiro, eleitos por nós para nos representar e fazendo um grande merchandising do que somos e por que existimos.

              Que sonho meu Deus! Que sonho. Nele eu via toda a sociedade brasileira aprovando e apoiando o Movimento Escoteiro. Éramos conhecidos pelas grandes campanhas de Marketing. A sociedade prestigiava porque a maioria dos seus filhos participaram do Movimento Escoteiro. Como é bom sonhar. Sonhar que todos os jovens podem ter uma vida cheia de alegrias fazendo escotismo. Podem viver e respirar o ar puro da floresta e da montanha. Podem andar pelas campinas, ver o nascer e o por do sol do alto de uma colina. Podem explorar as serras distantes. Podem ver os rios caudalosos, os pequenos regatos de águas cintilantes, as cascatas, as cachoeiras cobertas da bruma do orvalho da manhã. Podem parar para ver os arroios, os córregos onde os peixes pulam como a saudar aqueles que ali estão. Podem descansar depois de uma longa jornada debaixo de uma árvore frondosa, colocar seus pés descalços na água límpida da pequena nascente, que de mansinho vai levando a pequena pétala que se soltou e é conduzida para o mar.

             Lindo Sonho. Quem sabe um sonho de todos os Escoteiros do Mundo. Mas isto só será possível quando tivermos a certeza que ao despertar, estaremos unidos dando as mãos e partir para o trabalho que as gerações futuras irão se orgulhar. A realidade para um sonho é somente um passo. Não vamos deixar que o vento leve este sonho. Agarre-os com toda força! Acredite neles! Quando estamos sós não somos nada, mas unidos somos uma força colossal. Lute pelos seus ideais! Lute pelos seus sonhos!

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Acampar... Lar doce lar...



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Acampar... Lar doce lar...

Hã é doce morrer no mar é doce viver e acampar! Pois é, viva o acampamento. Não dizem assim o acampadores? Claro, um convite sem taxa, uma lotação de graça, pais cozinhando... Nossa! É doce morrer no acampamento... Se é! Chefe! Vai acampar? Me convide, adoro a vida no campo... Quantas vezes ouvimos essa frase? Vamos e venhamos que acampar é bom, mas preparar os bagulhos do acampamento não é. Claro, depende de tropa por tropa. Tem aquela que os pais fazem tudo e tem aquelas que o Chefe se mata de trabalhar.

Preparar um acampamento de tropa é coisa de doido. Tralhas, barracas, panelas, sapa... Ufa! Deus do céu me ajude! E a “farofa” – Seu Manuel estou de pires na mão, colabora com nosso acampamento? Seu Manuel olha torto. Agora é assim escoteiros vão acampar e querem comida de graça! Quer mesmo? Vão acampar no Jamboree! Lá tem “boia” para os Chefes Staffs. Conheci um grupo escoteiro grã-fino, cheio da grana, tinha profissionais para tudo. Acampavam muito no CCB (Camping Club do Brasil) e o último foi no Clube Meed na praia do arpoador. Suas chefes diziam que adoravam acampamentos. Kkkk, assim até eu!

Fui de uma época que o Chefe dizia: Vamos acampar em Pedra do Sino? – Vamôoo! E mais nada. Boca Larga nosso intendente já tinha tudo nos trinques. Ele era exigente. Quer facão? Tudo bem vai e volta e cobrava, como cobrava. Cada um sabia o que levar. Se fosse em trilha ou estrada vicinal tinha as carretinhas. Sempre um joguinho e quem ganhasse ia de carona em cima da carretinha. Dois dias ração A, três dias ração B, quatro ou mais ração C. Tudo empacotado nas mochilas. Todos sabiam de cor. Mamãe! Ração C! Vado! Aí aperta, supermercado só na semana que vem. E lá ia eu pedir para a Tia Mellita.

O campo era uma fartura, Lobrobô, taioba, aipim, bananinha verde, maxixe, uvinha de São Sebastião, goiabinha da terra, abacate, e com sorte até mesmo jabuticabas e Bananas da Terra para fritar. E os peixes? Traíra, bagre e se der sorte uma bela corvina isso sem contar os lambaris que sempre davam uma bela fritada. Pássaros e animais hoje não pode mais, mas naquela época... Hoje não é mais assim. O Chefe quando não tem uma comissão de pais para ajudar é o faz tudo. Prepara a lista de alimentos, verifica junto com as patrulhas as tralhas de campo, ajuda a amolar o facão ou a machadinha e quando falta lá vai ele comprar ou ganhar de um amigo.

E no dia do acampamento? Dona Ana com Mateus: - Chefe ele tá tossindo, aqui tem xarope e comprimido. E a Dona Araci? Chefe não vai poder levar celular? Chefe como vou falar com ele? Não vou aguentar de saudade Chefe! E por aí vai. Opa! Esqueci de comentar o transporte. Lá vai o Chefe atrás de alguma empresa especializada tentando de graça. Chefe Poti, já é a oitava vez! Não dá para ficar oferecendo ônibus de graça! Mas Tunico Boa Ventura, o prefeito diz que a prefeitura está quebrada! Ele que se vire, a pé não vai dar...

Gosto das novas tecnologias. Dizem que no Jamboree a turma estava cozinhando. Beleza vi algumas fotos, uma bela mesa de taboa, vários chefes e meninos com fogão ou fogareiro a gás fazendo a boia do dia. Beleza. Queria ver eles com seus fogões suspensos, sem tijolo a cozinhar no céu de brigadeiro. Falando nisso alguém me explica os 5.200 acampantes se o do Rio e do Rio Grande do Norte teve mais? A taxa? Afinal São Paulo não tem o maior número de escoteiros no Brasil? Porque só 5.200? Mal explicado, mal explicado, mal explicado...

Bem de uma coisa eu sei, acampar é bom demais mas preparar um acampamento dá trabalho. Nas capitais agora se paga. Quanto? Não sei, acho melhor mandar os meninos para um bom Campo de Férias. Tá cheio deles por aí. Taxa? Nem vou falar. O Mestre Josafá, grande Chefe de um grande Grupo Escoteiro me diz que eles não tem esse problema. Dinheiro não falta, emprego todos querem. É só pagar e montar um acampamento de cair o queijo. Melhor levar todo o grupo, lá tem tudo, barracas do exército, barracas Iglus, soube até que tem aquelas Canadenses da minha época, todas brilhantemente armadas!

Belos tempos, belos campos. Tudo discutido e preparado na corte de honra. Maneco! A Tralha da Patrulha? Nos trinques chefes. Vamos na base da ração? Claro Chefe, ração C para cinco dias! Noal seu pai conversou com o Tonico Caçarola para nos levar no caminhão da prefeitura até o entroncamento? Sim Chefe. E lá íamos nós. Material no local, monitores e patrulhas escolhendo seu campo. Três horas para o almoço, o fogão suspenso, a mesa e as coberturas. Tropa da boa sô! Agora sim é aproveitar o sol, as estrelas a lua e o gavião que quer ver o que vai sobrar da matutagem para deglutir no seu paladar!

Nota – Hoje resolvi falar de acampamentos. Dizem que acampar é bom demais, mas preparar o dito cujo não é mole. Como dá trabalho. Dizem que os grupos escoteiro modernos vão no Whatsapp e preparam tudo. Tem aplicativo para todos os gostos. Eu ainda não vi um deles, meus acampamentos eram diferentes. Ração A ou B, mochila nas costas e pé na estrada!

terça-feira, 17 de julho de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Origem da Flor de Lis escoteira.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Origem da Flor de Lis escoteira.

                   O símbolo do escotismo não foi escolhido à toa por B.P. ele tem a sua simbologia e história. Tudo iniciou em 1924, quando Lord Baden-Powell fundador do movimento escoteiro escreveu um artigo pouco conhecido por todos, provavelmente editado na revista The Scout (O Escoteiro), que segue abaixo transcrito:

- “O emblema Flor de Lis, símbolo de paz e pureza”. A história da Flor de Lis enquanto emblema remonta há muitos séculos atrás, senão mesmo milhares de anos. Na Índia antiga, simbolizava a vida e a ressurreição, enquanto que no Egito era um atributo do deus Horus, cerca de 2000 anos antes de Cristo.

 Alguns anos atrás, enquanto era ajudante de campo no meu Regimento, descobri que alguns jovens recrutas eram pouco melhores do que rapazes meio educados. Após alguns anos, quando comandava um esquadrão de cavalaria na Irlanda, treinava os meus homens a serem exploradores, para além dos seus deveres ordinários de combater nas fileiras.

Ensinei-os a encontrar o seu caminho através de territórios desconhecidos lendo e desenhando mapas e redigindo relatórios daquilo que tinham visto cada homem por si, de noite e de dia; a atravessar rios com os seus cavalos, cozinhar a sua comida, seguir rastos e a manterem-se camuflados enquanto observavam o inimigo. Pensei que algum mérito lhes era devido e conseguir autorização do Departamento de Guerra para conceder a cada homem que se qualificasse como explorador, um emblema que o distinguisse.

 Escolhi a Flor de Lis, que apontava no norte nas bússolas, pois, tal como o compasso, estes exploradores podiam mostrar o caminho certo para atravessar um território desconhecido.

“Quando os Escoteiros começaram, anos mais tarde, usei o mesmo emblema para eles, pois, tal como nos exploradores militares, que através do desenvolvimento do seu sentido de dever e hombridade podiam prestar uma ajuda valiosa ao exército, assim os Escoteiros podiam prestar um igualmente valioso serviço ao seu país".

 O atual significado que se deve ler da Flor de Lis é que aponta na direção certa e para cima, não virando nem à esquerda nem à direita, uma vez que estes caminhos poderiam levar de novo para trás. As estrelas nas pétalas também podem ser interpretadas como indicação de caminho a evitar, embora o seu significado mais conhecido seja o dos dois olhos do Lobinho que se abriram antes de se tornar Escoteiro, quando obteve a sua insígnia.

“As três pétalas da flor de lis relembram ao Escoteiro os três artigos da sua Promessa.”.

              Ao publicar este artigo lembrei-me de que era comum no passado encontrarmos antigos escoteiros, usando a Flor de lis na lapela. Era motivo de orgulho para quem usava e isto dignificava nosso movimento escoteiro, pois muitos homens probos, que exerciam cargos em empresas ou até mesmo políticos que podíamos confiar usavam. Lembro muito de Ex-presidente Itamar Franco e do Ministro Guido Mondim usavam com frequência a flor de lis de lapela. Quantos pedagogos, estudiosos, professores Generais, almirantes, figuras religiosas todos com sua flor de lis mostrando que o escotismo colaborou na sua formação atual.

             O que demonstrava a força da formação escoteira hoje isto não mais acontece. Muitos antigos escoteiros se esqueceram de seu passado e outros preferem nem lembrar que um dia foram adeptos da filosofia de Baden-Powell.

Nota – A Flor de lis emblema dos escoteiros em todo o mundo teve sua origem quando B.P. viu que ela apontava o norte nas bússolas, tal como o compasso, e os escoteiros como os exploradores podiam mostrar o caminho certo para atravessar as adversidades da vida. Neste artigo podemos ver mais uma vez a genialidade do nossos fundador.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Conversa ao pé do fogo. Autorização Provisória. Uma história quase real.



Conversa ao pé do fogo.
Autorização Provisória.
Uma história quase real.

                  Eu era o recém Comissário Regional em Minas Gerais. Ainda balançando nas redes do poder, mas continuava o mesmo matuto escoteiro que sempre fui. É uma história verídica, aconteceu há muito tempo, se me lembro bem em 1968 por aí. Trabalhava na Siderúrgica Mannesmann e quando terminava meu turno no retorno para casa sempre passava na sede regional para ver se tinha visita, alguma correspondência ou mesmo revisar algum planejamento que estava desenvolvendo junto aos amigos assistentes regionais. Coisa de uma ou duas horas por dia e depois pegava o ônibus para minha casa.

                  Meia hora depois entrou sede adentro um Coronel da PM. Educado, simpático e ainda fez o Sempre Alerta no melhor estilo inglês batendo as botinas. Apresentou-se. Foi logo no assunto – Comissário preciso de alguém para dar um curso para alguns voluntários na minha cidade. Queremos organizar um Grupo Escoteiro e não temos ninguém que conhece bem o escotismo. Terá todo apoio. Prefeitura, Lyons, Rotary, Maçonaria e Batalhão da Policia Militar. Conversamos por meia hora. Resolvi eu mesmo ir lá e preparar estes voluntários com um informativo. Dois dias.

                  Expliquei sobre se poderia ser acampado. Dei detalhes. Dei relação de materiais. No dia determinado embarquei no noturno das sete da noite. Cheguei lá por volta de onze horas. Um sargento em um jipe me esperando. Fomos para o local. Um clube de campo com um belo bosque. Barracas armadas e alinhadas uma ao lado da outra. Uma recepção militar. 60 soldados, cabos e sargentos formados em dois batalhões. Um corneteiro tocou “saudação à autoridade” quando cheguei.

                 E agora José? Ia ser difícil com sessenta homens funcionar bem no sistema de patrulhas. Nunca o deixei de lado nas minhas andanças e nos meus cursos. Mesmo assim formei dez patrulhas com seis cada. Dei tempo para grito, escolha do Monitor e demais membros da Patrulha. Quinze minutos depois chamei os monitores. O capitão não saia do meu lado. Vieram marchando e prestaram continência. O curso não foi ruim. Difícil esquecer o militarismo. O Capitão não gostava do que eu fazia. Não disse nada. Três dias. No final todos eles sem uniforme. Civil. Se divertindo a valer. Patrulhas ótimas. Escotismo na “pinta”. Dei adeus.

                  No retorno o capitão me levou até ao quartel para me apresentar ao Coronel Comandante na cidade. Disse que foi informado como foi o curso. Não gostou. Seus soldados são soldados. Sem diálogos. Disse que não iam mais fazer o grupo. Melhor seria uma Guarda Mirim. Perdi meu tempo? Na estação todos os alunos estavam lá. Abraços, sorrisos, lágrimas e despedida. Juraram que o grupo ia sair. Uma semana depois fui convidado a comparecer ao Quartel Geral da Policia na capital. O coronel pediu desculpas. Pela primeira vez soldados, cabos e soldados fizeram um abaixo assinado. Pediam o grupo. O coronel da cidade foi trocado. Um grupo surgiu. Cinco anos depois um dos melhores do estado!

                   Historias. Ah! Quantas foram? Não importa, as lembranças estão aqui para confirmar.

Nota – Esta é uma historia quase real. Aconteceu, mantenho em OF o nome da cidade e dos militares. São historias que valem a pena ser relembradas tantas vezes para ver que tudo vale pena, mesmo quando achar que não. Onde andam hoje? Não sei. Gostaria de saber se o escotismo de lá (ainda tem um grupo) é o mesmo daquela época. Quem sabe?

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Benjamin de Almeida Sodré – O Velho Lobo.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Benjamin de Almeida Sodré – O Velho Lobo.

                 Em meados de 1952 eu já tinha passado para os escoteiros. Havido em aprender tudo sobre escotismo me deliciava com minha patrulha e atividades aventureiras. Meu Chefe contava muitas histórias de BP e eu me deliciava. Um dia fazendo uma limpeza na sede fui guardar a bandeira nacional em uma estante vi lá no fundo da gaveta um livro Escoteiro. Era o primeiro que via em minha vida escoteira. O peguei como se tivesse encontrado um tesouro. Seu titulo era: - Guia do Escoteiro – Velho Lobo – Em cima escrito: - Pelo futuro do Brasil. Fiquei impressionado. Folheei algumas páginas. Incrível o que havia ali. O Chefe deixou que o levasse, mas para tomar cuidado e devolver. Fui para casa e lá fiquei toda à tarde, à noite e até o amanhecer lendo o livro, um livro que me marcou por toda a minha vida escoteira.

                    Hoje sei que nossa biblioteca escoteira tem joias para deglutir com gosto de aprender escotismo. Mas naquela época em uma cidade escondida ao norte de Minas Gerais era impossível ver os famosos livros do fundador. Foi nele que aprendi muito do escotismo que sei. Seu autor ficou para sempre gravado em minha memória. - Benjamim de Almeida Sodré um escoteiro e um futebolista brasileiro que ficou conhecido como Mimi Sodré. Campeão em 1910 e 1912, pelo Botafogo. Mas isto para nós escoteiros não tem muito interesse. Filho de Lauro de Almeida Sodré se tornaria um personagem muito importante na História do Escotismo Brasileiro. Interessante que foi o primeiro a ser chamado de “O Velho Lobo” e que teve muito de sua vida passagens e características semelhantes à de Baden-Powell.

                       Ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro e depois de terminar seus estudos secundários prestou concurso para admissão na Escola Naval sendo aprovado em primeiro lugar. Fez brilhante carreira na Marinha Brasileira, sobrevivendo ao naufrágio do rebocador Guarani, em 1913 e posteriormente chefiando a Comissão Naval Brasileira durante a II Guerra Mundial. Tornou-se Almirante em 1954. Assim como Baden-Powell tinha uma série de talentos. Professor de Astronomia, Navegação e História da Escola naval publicou diversos trabalhos. Desde que entrou para o escotismo brasileiro tornou-se um seguidor dos ideais de B-P participando da fundação dos Escoteiros do Mar e do primeiro Grupo Escoteiro de Belém. Seu livro o “Guia do Escoteiro” de 1925, é uma das mais importantes obras do Escotismo Brasileiro.

                 O “Velho Lobo” teve papel fundamental na idealização e criação da União dos Escoteiros do Brasil ao reunir quatro de algumas das confederações existentes. Escoteiros Católicos, do Mar, Escoteiros do Brasil e Federação Fluminense de escoteiros. Foi honrado com uma série de títulos, entre eles o de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro. Recebeu várias medalhas de mérito, presidindo a Ordem do Tapir de Prata a mais alta condecoração do escotismo brasileiro. Faleceu em 1º de fevereiro de 1982, dois meses antes de completar 90 anos. Atualmente diversos grupos em todo o Brasil honram seu nome de Almirante Benjamim Sodré. Uma homenagem de poucos escoteiros do Brasil. Vale notar que no passado a revista “(O Tico-Tico) uma das principais publicações infantis do país, abrigou em 1922 uma coluna ESCOTISMO na qual o pseudônimo de “VELHO LOBO” dava sua importante contribuição para a formação da juventude brasileira”. Após escrever o “Guia do Escoteiro” em sua época foi reconhecido por muitas personalidades entre as quais Coelho Neto, Rui Barbosa e Olavo Bilac.

          Reconhecido como um "IMPOLUTO MAÇOM", dadas suas qualidades de caráter foi eleito membro honorário e escolhido Deputado da Assembleia Legislativa do Grande Oriente do Brasil, chegando a exercer o cargo de Grão-Mestre. Ocupou várias posições importantes na hierarquia naval, tendo-se destacado em combate e durante um naufrágio onde salvou bravamente dois colegas oficiais e um marinheiro lutando contra condições adversas no mar. Ocupou várias posições importantes na hierarquia naval, tendo-se destacado em combate. Quando o Brasil estava em guerra contra os países do eixo, (Alemanha-Itália) foi encarregado de comandar o petroleiro Marajó, único da frota brasileira a transportar de Trinidad, nas Antilhas, o combustível necessário à nossa Esquadra. Apesar de ser presa cobiçada pelos submarinos inimigos, o Marajó foi levado a bom termo, cumprindo o nosso Benjamin Sodré a perigosa missão. Isto foi em 1940/41. Com a vida ligada aos Escoteiros, à Marinha e à Natureza, e dotado de fina sensibilidade e misticismo, Benjamin Sodré deixou-nos um texto, inspirado por ocasião da celebração de uma missa rezada em 28 de setembro de 1948 na igrejinha da Boa Viagem (Niterói), pelo Bispo D. João da Mata:

Eis o texto:
"Há 12 anos eu sou o sineiro da Boa Viagem. Sineiro convicto, emocionado. Entretanto, todos sabem que não sou religioso. Se o Bispo fizesse alusão a isso, como eu responderia? Diria que faço tudo por Zi (apelido carinhoso da esposa), que tanto tem se dedicado à sua linda capelinha. É a ela que eu sirvo, trabalhando pela igreja. Mas, também, é verdade que venero as imagens no que elas simbolizam: a Virgem Maria representa a Bondade e o Amor Infinitos das Mães; minha mãe, minha esposa, minhas filhas. São Jorge, o padroeiro dos escoteiros, é o cavaleiro indômito, exemplo de fortes virtudes; São José, Santa Joana D'Arc... Jesus sintetiza a moral cristã, que eu sigo como moral, como seguiria as normas de Confúcio, Buda e todos os grandes filósofos moralistas pregadores. Os padres, sempre os olhei com simpatia e admiração; são homens que se sacrificaram por um ideal de fé, privando-se do que a vida tem de mais belo, por amor ao próximo. Por todos esses motivos, sou há 12 anos, com convicção, o sineiro da Boa Viagem. E não creio que alguém assista à Missa com maior emotividade do que a minha. Oh! O que aquela capelinha representa na minha vida!... Aquela igrejinha é muito nossa e, por ela, por amor a Zi, tudo farei."

Escritor e poeta, Benjamin Sodré legou-nos algumas páginas inspiradas, de puro lirismo... Este é um trecho do texto que chamaríamos de "Contemplando a manhã":
"Sem nos apercebermos, enquanto o espírito está suspenso na contemplação maravilhosa, quase as sombras foram afugentadas... Uma franja avermelhada coroa, agora, todo o Oriente. A mata despertou toda... Os trinados multiplicam-se, são incontáveis... O mar está azul. Nas ilhas, a vegetação vai tomando o colorido habitual... Surgem os primeiros rumores da vida humana... O sino da ilha bate sonoro, cadenciando o sino da alvorada... Mais alguns segundos, o sol irrompe prodigioso, pondo por todo o mar, em todas as árvores, uma faixa forte e viva de luz dourada... Vida!... Vida!... Tudo estreia em intensa vida, com o ressurgimento do Grande Final Criador!...”.
Almirante Benjamim Sodré – (10 de abril de 1892 — 1 de fevereiro de 1982).

Nota – Uma homenagem a um grande escoteiro. Almirante Benjamim Sodré. Seu livro o Guia do escoteiro norteou muitos como eu nas sendas do escotismo. Para ele eu tiro o meu chapéu!

sábado, 7 de julho de 2018

O inesquecível grande uivo.



Conversa ao pé do fogo.
O inesquecível Grande Uivo.
    
“GRANDE UIVO significa uma forma de mostrar que os Lobinhos estão prontos para obedecer às ordens do Akelá e, mais do que isso, fazê-lo da forma Melhor Possível! Assim, é também uma maneira de reafirmar a sua Promessa e dar boas vindas aos visitantes ou uma data festiva”.

                          Não! Claro que não. Não vou ensinar como se faz grande Uivo. Nunca! Não vim aqui para isto. Só quero contar o que senti na primeira vez. Ou quem sabe muitos aqui que estão lendo este artigo sabem o que quero dizer. Acredito que mesmo a Akelá, o Bagheera, o Balu, a Kaa e tantos outros que são os irmãos mais velhos dos lobinhos devem também sentir quando o Grande Uivo é realizado. Muito ainda não sabem a importância desta cerimonia em sí que por sinal é linda. Talvez a mais linda de tudo que o movimento Escoteiro e a mística da Jângal nos oferecem. Pode até ser que se compare a uma investidura pioneira nos moldes do passado. Claro talvez não como eu vi os pioneiros há muito tempo atrás, no fundo de uma gruta brilhante a luz de velas, estalactites mil, lá para os lados de Lagoa Santa em Minas em uma caverna ainda inexplorada, mas isto é outra história e não interessa aqui.

                             É incrível ver a face dos lobinhos, das lobinhas quando pela primeira vez fazem o Grande Uivo. É inesquecível. Os olhos? Brilham mais que a luz das estrelas. A face fica corada, o corpo tremendo, e quando entram no círculo e ficam naquela espera angustiante para saber que vai representar os lobos, é de tirar o fôlego. O olhar da Akelá, a perscrutar aqui e ali quem seria o escolhido. O seu olhar de seriedade, o seu sorriso o piscar de olhos e pronto. Escolheu! E ela com sua voz meiga, simpática, amiga e todos a olhando como se estivesse na Roca do Conselho, lá em plena gruta na caverna dos lobos, ela firme no centro do círculo com o felizardo já escolhido que sorri de felicidade diz olhando para ele: Melhor! Melhor! Melhor e melhor?

                        Se você já foi um deles, se você está presente sempre nesta cerimonia, se você sente aquele amor que os lobos têm por aquela cerimônia, então pode ser que vá perder o fôlego como eu faço sempre. E o final daquele momento culminante marca. Eles saltam no ar, como se fossem voar, e com aquela força própria de lobos corajosos, dizem – Simmmm! Melhor! Melhor! Melhor e melhor! Meus amigos, nesta hora sentimos o chão tremer. O coração bater. E aí, o vento começa a soprar, o sol se sente embaraçado e se é noite de luar, fica aquela bola grande brilhante no céu dançando ao redor dos cometas que também dançam com aquele espetáculo inesquecível. Se fossemos eternos sonhadores veríamos os pássaros se aproximar e cantar sobre a Alcatéia numa homenagem aqueles lobinhos e lobinhas maravilhosos.

                    Uma mística que vem lá de dentro da Jângal. Uma mística que não acaba. Que não cansa. Que dá alegria e todas as vezes que é realizada os lobinhos saltitantes se preparam com amor. O Grande Uivo tem um valor inestimável. Lobo! Lobo! Lobo! - Lôoobooo! Hora de formar, hora de gritar! Melhor? Melhor? Melhor? E melhor? Correr, brincar e olhar para o Balu quando ele gritar: - Caça livre! Da vontade de voltar no tempo novamente e começar tudo de novo.

                       - E, nunca esqueço aquele dia, problemas mil a matutar como resolver; eu sentado na escada da sede, pensando como fazer e eis que a minha frente aparece uma lobinha sorridente, linda no seu uniforme azul seu lenço bem postado boné de lobo, firme como uma rocha; e eis que ela fica em posição de sentido e diz com aquela voz infantil que conquista qualquer um: – Melhor Possível Chefe! Assusto-me, olhos nos olhos, o que dizer? Fiquei em pé rápido, juntei os “cascos” e em posição de sentido e respondi – Melhor Possível jovem lobinha. Ela saiu sorridente e eu pensando que meus problemas eram insolúveis! Ah! Estes lobinhos maravilhosos e suas maravilhosas poses e sorrisos!   

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Trechos Bp - a caminho do triunfo.


Baden-Powell - A caminho do Triunfo.

              Baden Powell no seu livro a Caminho do Triunfo escreveu: - "Lembra-te de que como Escoteiro, além de te tornares melhor como homem e como cidadão, está a servir de modelo, quer o saibas quer não, a rapazes do teu Grupo Escoteiro e da vizinhança. Os rapazes são terríveis imitadores, e sirvo-me da palavra «terríveis» de propósito, porque nos enche de terror quando pensamos no grande mal e no grande bem que podemos fazer com o exemplo que lhes damos".

                Assim, como B.P nos diz neste excerto, devemos dar o nosso bom exemplo e tentar sempre fazer o nosso melhor para que sejamos modelos para o nosso Agrupamento, mas não só sê-lo também na escola, em casa e junto dos amigos. Não somos apenas escoteiros ao sábado à tarde, mas sim todos os dias, todas as horas dos nossos dias, e devemos ter isso sempre em conta. Ch. Osvaldo.