quinta-feira, 31 de março de 2016

Meu nome é Osvaldo... Um Escoteiro!


Meu nome é Osvaldo... Um Escoteiro!

                 Muitos sabem pouco sobre mim. Afinal mesmo colocando diversas fotos minhas o faço para mostrar que devemos levar a sério nosso uniforme, afinal é por ele que a comunidade nos julga se somos aquilo que dizemos ser. Há tempos não comento minha vida escoteira. Alguns mais chegados me conhecem e sabem que não sou diferente de milhares de outros que existem no movimento Escoteiro. Desculpe, alguns dizem que sou um chefão, um Velho Lobo e tem aquele que disse que sou uma lenda viva, eu? Impossível. Lendas são narrativas “fantasiosas” transmitidas pela tradição oral através dos tempos. Não sou lenda. Nunca fui. Meu escotismo é jogo aberto e sem censuras, talvez seja este um motivo de me considerar uma oposição ao escotismo moderno que estão fazendo por aí. Para mim nem BP foi uma lenda. Ele existiu, foi real, fez o que ninguém fez pela juventude com um programa fácil de assimilar e que hoje estão tentando modificar e complicar.

      Estou com 75 anos, entrei no escotismo em 1947 como lobo há quase 68 anos. Penso que aprendi um pouco sobre o Movimento Escoteiro. Quem sabe é por isto que escrevo, costumo até ser grosseiro nos meus dizeres para mostrar qual seria o Caminho para o Sucesso. Tento ao meu modo fazer a todos felizes. Sei que fiz um escotismo à moda antiga, mas cheio de aventuras, de descobertas, de fantásticas atividades aventureiras que hoje não se faz mais. Se era um escotismo de “raiz”. Aquele que o jovem pensava e agia então era o meu. Uma época que os chefes eram mais irmãos e menos pais ou professores. Onde os chefes sorriam quando fazíamos e não como hoje que muitos ainda querem fazer. Onde o respeito, a palavra, o exemplo e a sinceridade e o garbo faziam parte de nossa formação. Acampei demais, atividades aventureiras sem fim. Não dei a volta ao mundo, mas conheci lugares lindos para ver e sentir que a vida vale a pena ser vivida no escotismo que sempre amei.

                    Não fiquei rico com o escotismo, sinceramente fiquei mais pobre e hoje no fim da vida luto com extrema dificuldade, não reclamo e sou feliz vivendo como sou. Não sou doutor ou formado em Faculdade ou Universidade e meus conhecimentos foram adquiridos na Escola da Vida. Acreditava e acredito que o escotismo é para todos e não para uma classe privilegiada como o escotismo está caminhando hoje. Não adoto a postura que nossos dirigentes mantêm. Consideram-se uma casta privilegiada. Aquela que dão direitos e fama aos que lá estão. Aquela que sendo membros da corte pode fazer ou desfazer sem consultar ninguém. Eu também já fui desta casta. Fui Presidente de uma região escoteira que na época era chamado de Comissário Regional. Fui membro da equipe de formação antes chamada de equipe Nacional de Adestramento. Dirigi centenas de cursos. Aprendi mais que ensinei.

                     Como simples Chefe de sessão eu vivi grandes momentos. Vibrei com lobos na Jângal, fui irmão mais Velho de centenas de escoteiros e monitores dos quais guardo lindas recordações. Hoje não sou nada, apenas um Velho Chefe Escoteiro que acredita ainda poder ajudar. Reafirmo que não sou lenda, nunca fui e nunca serei. Paulo Coelho disse que a lenda pessoal é aquilo que você sempre desejou fazer. Todas as pessoas, no começo da juventude, sabem qual a sua lenda pessoal. Nesta altura da minha vida vivo de lembranças querendo transmitir aos que se interessam como fazer um escotismo gostoso, simples, sem mistérios ou burocracias. Não gosto de cara feia apesar de ser feio demais. No passado assustava os jovens pela minha maneira de ser. Demorava a demonstrar que meu coração era aberto e não havia nenhum sinal de caminho a evitar.

                           Fiz milhares de amigos, tinha facilidade para arregimentar adultos a trabalharem pelo escotismo. Sempre fui contra os chefões, os que se sentem acima do bem e do mal e hoje estamos cheios deles. Aqueles que se arrogam como dono da verdade. Aqueles que impõem sua vontade, que menosprezam opiniões de terceiros e se acham perfeitos em suas colocações nada comparado com o escotismo que BP nos deixou. Se quiserem mesmo saber não faço registro na UEB há anos. Motivo? Evitar conchavos, evitar admoestações, evitar tomar atitudes que um Velho Escoteiro que se julga ético e cavalheiro possa tomar. Poderia ter fundado a minha própria organização escoteira, mas isto seria trair a minha consciência, pois entrei como lobo pertencendo a UEB e quero morrer sendo da UEB.

                          Aceito ideias, aceito uma boa conversa ao pé do fogo, gosto de uma discussão de homens educados. Não tenho a salvação do escotismo só uma pequena visão do que aprendi vivenciando o escotismo que aprendi. Não aceito dizerem que nosso sistema é perfeito. Que ao discordar dizem que a assembleia é o ponto certo para opinar. Isto é irreal. Lá não temos a palavra e nem podemos discordar. Aceito as outras organizações escoteiras que existem no Brasil. Os considero irmãos de ideal.  É um direito de eles discordarem e viverem o ideal de BP como acreditam. Isto se chama democracia. Quero ter o direito de discordar, de sugerir (e isto sempre fiz) sem criar inimigos. Chega de punições, comissões de ética onde muitos foram perseguidos por discordarem. Já vi ações de dirigentes que até hoje penso onde ele aprendeu sobre o escotismo de fraternidade. Primeiro a norma, depois o abraço.

       Não acuso os dirigentes de hoje e os de ontem. Sei que nunca fizeram uma liderança cujos propósitos deram resultados. Não temos uma democracia participativa, plena, aberta e transparente sem limites conforme o direito universal do homem. Fico triste ao ver tanta prepotência de alguns (não todos) onde fazem dos demais seus servidores. O lema de hoje é servir a União dos Escoteiros do Brasil. Sempre pensei que fosse o contrário. Fico triste ao ver muitos dizendo que devemos ouvir os jovens, e eles nunca foram ouvidos. Nosso Estatuto foi feito na medida para uma continuidade. Ele nunca foi discutido abertamente por todos os membros da UEB. Não participo de nenhum Grupo Escoteiro. Tenho uma saúde que me obriga a hibernar em minha caverna sem poder sair. Quando mais jovem participei em cinco Grupos Escoteiros com muito orgulho. Deixei milhares de amigos, lobos e escoteiros que até hoje entram em contato ou me visitam. Não tenho inimigos e se eles existem não os conheço. Prefiro um dar um mão esquerda, um abraço e dizer baixinho: - Prazer, honrado em cumprimentar você!

                     Não sou e nunca serei um suprassumo na especialidade escoteira e nunca serei uma lenda imortal. Eu sou o Osvaldo um Escoteiro, o contador de causos e histórias, um saudosista, mas com os pés no chão que conhece nosso movimento como ninguém. Até os últimos dias na terra irei lutar dentro dos meios que disponho (a facilidade da escrita) e tentar até meu último suspiro dizer que o escotismo é lindo, que o amor que ele transmite é grande demais. Meu sonho é que o escotismo tenha o respeito que merece. Que seja reconhecido e o respaldo para seguir sua história. Sonho com democracia, ética, respeito, fraternidade.

Enfim este sou eu, Osvaldo... Apenas um Escoteiro!

segunda-feira, 28 de março de 2016

Histórias de Baden Powell. Era uma vez... Lá em Brownsea:


Histórias de Baden Powell.
Era uma vez... Lá em Brownsea:

                  Nos meados de junho de 1907, certo dia, Robert S. S. Baden-Powell o primeiro Chefe Escoteiro do Mundo, escreveu cartas a alguns de seus velhos amigos do Exército e suas esposas que eram pais de rapazes de 11 a 14 anos, alunos de afamados colégios particulares: - Harrow, Eton, Chaerhouse e outros. Ele dizia: - Proponho-me a realizar um acampamento com 18 rapazes selecionados, para aprender escotismo durante uma semana nas férias de agosto. O acampamento por permissão generosa de C.Van Raalte, será realizado na ilha de Brownsea em Poole. E continua sua carta delineando o adestramento que os rapazes teriam e assegurando aos pais que tudo estava cuidadosamente planejado. O fornecimento de alimentos, a cozinha e as medidas sanitárias. Incluiu uma lista de material de acampamento e roupas.

                  Dias depois enviou convite semelhante às Companhias de Brigada de Rapazes (Movimento juvenil já existente) de Bournemouth, dando a três outros rapazes que fossem alunos de escolas secundárias do governo, ou empregados em fazendas ou filhos de operário. O efetivo pretendido de 18 se elevou a 21, pois todos queriam acampar com o herói de Mafeking que 217 dias defendeu esta cidade situada na Guerra dos Boers. Mas tarde B-P decidiu levar como seu “Ajudante” um sobrinho de 9 anos, órfão de pai. Convidou seu companheiro de armas o Major Kenneth McLaren para seu assistente. No anoitecer do dia 31 de julho todos os participantes do que seria o 1º Acampamento Escoteiro do Mundo se encontraram na ilha de Brownsea na costa sul da Inglaterra. Do dia seguinte em diante e durante sete dias B-P por a prova do que ele chamava “Esquema do Escotismo”.  Até hoje todos os Chefes Escoteiros do Mundo ainda podem dar aos seus escoteiros as mesmas emoções, seguindo fielmente o programa realizado no Acampamento da Ilha de Brownsea.

                     Na primeira manhã os rapazes formaram quatro Patrulhas com os mais velhos como monitores. As patrulhas receberam seus nomes e cada rapaz recebeu as fitas de Patrulha de cores distintas para por no ombro: - Maçaricos-amarelo; Corvos-vermelho; Lobos-azuis; Touro – verde. As fitas tinham 2,5cm de largura em dois pedados de 45 cm de comprimento, dobrados ao meio e pregados com alfinete de segurança sobre os ombros. Cada Monitor portava um bastão curto, com uma bandeira triangular branca tendo a silhueta de cabeça do animal de Patrulha pintada em verde. Os monitores usavam um distintivo, uma flor de lis de feltro branco na frente do boné escolar. Não havia uniformes. Cada membro da patrulha recebeu um número: - Monitor numero um, sub número 2, e assim por diante. As responsabilidades da rotina diária de trabalho foram explicadas. As Patrulhas foram localizadas no campo cada uma com uma barraca.

Histórias de um rico passado Escoteiro:

               “Os jovens foram divididos em quatro patrulhas: Corvos, Lobos, Maçaricos e Touros (assim estes foram os primeiros nomes usados por patrulhas escoteiras). As patrulhas acampavam por sua conta, sob a direção de seus próprios monitores, com total responsabilidade pela sua honra de levar adiante os desejos do Chefe e com grande eficiência”.

                       “Mas as memórias mais vividas de todas eram os fogos de conselho, antes das orações e do apagar das luzes. Ao redor do fogo à noite Baden-Powell nosso Chefe nos contava algumas histórias assustadoras, conduzia ele mesmo o canto Eengonyama e com seu jeito inimitável atraia a atenção de todos”.

“Eu ainda posso vê-lo como ele ficava diante da luz, alerta, cheio de alegria e de vida. Um momento grave, outro alegre, respondendo todas as questões, imitando o chamado dos pássaros, mostrando como tocaiar um animal selvagem, contando uma história curta ou dançando e cantando ao redor do fogo. Mostrava uma moral, não apenas em palavras, mas usando histórias e convencendo a todos os presentes, rapazes e adultos, que estavam prontos para segui-lo em qualquer direção”.

             Naquele inesquecível acampamento se aprendeu a construção de abrigos, fazer colchões, acender fogo, cozinha mateira e todos se divertiam com os jogos que eles faziam. O jogo "Caça ao Urso" - Um dos rapazes maiores é o urso e tem três bases nas quais ele pode se refugiar e estar a salvo. Ele leva um pequeno balão de borracha cheio de ar nas costas. Os outros rapazes estão armados com bastões de palha amarrados por um cabo (ou jornal enrolado) e com os bastões procuram fazer estourar o balão, enquanto o urso está fora da base. O urso tem um bastão semelhante com o qual procura tirar os chapéus dos caçadores. Se isto acontecer o caçador está morto, mas o balão do urso tem de ser arrebentado para que ele seja considerado morto.

               O bivaque feito só pela Patrulha foi sensacional. As Atividades Práticas da Natureza foram demais. Relatórios de observação da natureza - “Envie suas Patrulhas para descobrirem por observação e relatarem depois, coisas como essas: Como o coelho silvestre cava sua toca? Quando um grupo de coelhos é assustado, um coelho corre apenas porque os outros correm ou olha ao redor para ver qual é o perigo, antes de também correr? Um pica-pau tira a casca para apanhar os insetos no tronco da árvore, ou apanha-os pelo buraco, ou como é que os acompanha? etc.”.

                  Baden Powell era um esplêndido contador de estórias. Tinha um espantoso estoque de anedotas sobre os heróis de todos os tempos. Para seu próprio uso, ele havia criado um código de ética, baseado nos códigos dos Cavaleiros do Rei Arthur e nas suas próprias reflexões. Agora ele pode procurar instilar nos rapazes os mesmos ideais, contando-lhes as façanhas dos heróis admirados pelos jovens e imprimindo em suas mentes a ideia de “Boa Ação Diária”.

                  Quem assistiu sentiu os grandes debates que BP teve nesta ocasião com os rapazes. Foi ali que viu cristalizar o seu pensamento e a formular um código aceitável para os rapazes: A Lei e a Promessa Escoteira. Ele experimentou jogos que lhe pareciam capazes de por em relevo e dar expressão prática aos traços de caráter que ele desejava que os rapazes possuíssem. Ele pôs à prova a lealdade e a esportividade deles em jogos de equipe com regras estritas. Pôs à prova a coragem deles com alguns golpes e chaves simples de jiu-jitsu, e a disciplina e obediência num jogo em botes - a caça à baleia.

Lembranças de Browsea. Um acampamento que ficou para sempre na história escoteira. 

sábado, 26 de março de 2016

Pedagogia Escoteira.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Pedagogia Escoteira.

“Companheiro, já viste a luz das madrugadas,
Uns veleiros azuis singrando mar afora?
Ou em marcha a cantar patriótica toada,
Um grupo que na serra alcantilada,
Em plena mata acampa e uma Bandeira arvora?

                       Outro dia um Chefe Escoteiro em resposta a um artigo que aqui postei disse: - Não vejo a diferença ou onde está o escotismo simples de raiz de outrora comparado com o de hoje. Completa ele: - Sou novo no escotismo, cinco anos, pedagogo e estudioso da metodologia escoteira. Eu amo o escotismo como qualquer um, estudei cada livro de Baden-Powell, fiz cursos, atuo em um grupo e posso me comparar a um antigo Escoteiro, portanto não aceito o termo do antigo e do novo tal como é apresentado neste artigo. Li e reli várias vezes sua resposta. Por sinal ótima resposta, pois são poucos que definem o escotismo como eles definiu. Como ele se colocou com um pedagogo, estudioso, professor com curso superior me senti pequeno, um tiquitito de nada, pois não tenho estudo, não sou formado e se aprendi alguma coisa foi na escola da vida. Fiquei a pensar, meditar se eu não estaria errado em minhas colocações.

                         Na minha época a gente conversava, era um por todos, todos por um, vivíamos em equipe respeitando a individualidade e hoje isto se chama “interagir”. Novos nomes, novos estudos e agora o pedagogo tem seu lugar na educação dos jovens. Isto é bom. A União dos Escoteiros do Brasil tem muitos. Eles discutem fazem modificam tem ideias miraculosas para um escotismo autêntico ou quem sabe igual ao que pensam os novos pedagogos estudiosos que estão a trazer novas formulas de educação da juventude. Segundo a concepção dos estudiosos, a pedagogia estuda os princípios, métodos e estratégias da educação do ensino, relacionadas à administração de escolas e a condução dos assuntos educacionais em um determinado contexto. Isto é formidável, e fico a pensar porque hoje há uma revolta de estudantes, a fecharem escolas, ir contra a educação dada pelos seus professores e indo de encontro ao pedagogo profissional escolar. Ops! Desculpe isto não é a maioria.

                         Tento imaginar o novo escotismo e compará-lo ao antigo. Um dia escrevi que no passado (sempre no passado eim?) ficávamos mais tempo no movimento, fazíamos atividades que nos agradavam, os jovens opinavam, discutiam, programavam e nos acampamentos havia um ar de liberdade onde o “tempo livre” era uma tônica para se criar sentir a natureza, ouvir o som do vento enfim quem sabe éramos filósofos sem saber. Mas Chefe! Podem me contradizer, hoje também fazemos isto! Pode ser, pode ser, mas não na intensidade de outrora. Vejo por aí uma teia a aprisionar os jovens, com chefes dirigentes que se postam mais como sargentos ou quem sabe cabos, (turma da pesada que admiro muito) mandando, dirigindo comandando não dando oportunidade dos jovens criarem. Se vão para uma excursão estão lá em fila, o Chefe ao lado como a proteger sua ninhada de um carro desgovernado, de um marginal e sabe-se lá mais o que. Na fila lá atrás vai o Joãozinho acabrunhado sem poder ver aonde vão. Ele nunca verá onde o sol vai se por.

                         E na sede? Tudo é formatura. Alerta! Descansar! Em linha! Por patrulha! Fila indiana! Cobrir! Cansativo demais. Um apito, dois três, chamada geral. Ordens do chefão são dadas. Vamos jogar escoteirada! E lá vem um jogo onde se desponta um campeão. E tem aqueles que em fila indiana os levam como ovelhas para algum lugar para fazer um preleção. São bons nisto. Falam sem parar. Sentados ou se arrastando os escoteiros dormitam, conversam entre si e imaginam o que estão fazendo ali. Mas convenhamos que não são todos. Acredito que alguns bons chefes não fazem assim. Mas eu insisto dificilmente os escoteiros terão liberdade de criar, de sentir o vento, de descobrir o outro lado da montanha, de se entrosar em um acampamento, vivendo dias em uma patrulha, discordando, amando, ou mesmo no modernismo de hoje se interagindo. Dificilmente terão oportunidade como tínhamos no passado.

                       Antes tínhamos a liberdade de acampar só a patrulha, de ter um Chefe amigo e irmão. Um Chefe que a gente gosta para conversar, trocar idéias, ver que ele nos ouve, se cala adora sentir nossos problemas e juntos acharmos uma solução. Um Chefe que pergunta que discute que concorda ou discorda, mas educadamente, sabe nos motivar, acreditar que temos condições de vencer sem ser preciso um empurrão daqueles de cair ao chão. Um Chefe que nos visita em casa, amigo do pai da mãe, conhecedor das necessidades de cada um. Sabe que os pais podem contar com ele, sabem que terão sempre o apoio deles e nunca irão criticar seus métodos de homem bom amigo e irmão dos filhos de cada um. O que está havendo José? Estás cansado? Calado? Não diz nada? Não tem ideias para dar? – Quem sabe um bom pescado em algum lago ou remanso em um acampamento para divertir?

                          Não sei se isto coloquei no meu artigo. Comparei o ontem do hoje. Falei palavras simples sem afetação. Comentei sobre a pedagogia que conheci. O escotismo de raiz simples que sempre vivi. Onde pude parar em uma trilha a noite, deitar na grama, ver o brilho das estrelas, cantar uma canção bem bolada sem o Chefe a nos dizer o que fazer. Eramos um Caio Viana Martins a andar com nossas próprias pernas e com a supervisão de um adulto que era nosso irmão Escoteiro mais Velho, conhecedor dos segredos do campo que sem se mostrar nos ajudava a fazer fazendo. Pois é, não sei se me fiz entendido. Quatro anos de lobo, quatro anos de Escoteiro, três e meio de Sênior, dois de Pioneiro e Chefe Escoteiro por uma vida. Quem sabe ela a vida me deu conhecimentos que hoje tenho e ninguém quer ouvir. Quem sabe hoje aprendi com meus erros um escotismo gostoso de se fazer, de motivar e crescer com ideias simples de um escotismo bem feito... Simples... E de raiz!

Desta flotilha azul quem são os marinheiros,
Que se animam a escalar das serranias as alturas?
Contemplais que vereis, são jovens escoteiros,
Entusiastas joviais briosos brasileiros

Que lá vão brincar ao léu de uma aventura!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Benjamin de Almeida Sodré – O Velho Lobo.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Benjamin de Almeida Sodré – O Velho Lobo.

                 Em meados de 1952 eu já tinha passado para os escoteiros. Havido em aprender tudo sobre escotismo me deliciava com minha patrulha e atividades aventureiras. O Chefe já tinha contado muitas histórias de Baden-Powell e eu tinha por ele uma enorme admiração. Um dia depois de uma Corte de Honra fui guardar a bandeira nacional em uma estante vi lá no fundo da gaveta um livro Escoteiro. Era o primeiro que via em minha vida escoteira. O peguei como se tivesse encontrado um tesouro. Seu titulo era: - Guia do Escoteiro – Velho Lobo – Rio de Janeiro – Em cima escrito: - Pelo futuro do Brasil. Fiquei impressionado. Folheei algumas páginas. Incrível o que havia ali. O Chefe deixou que o levasse, mas para tomar cuidado e devolver. Fui para casa e lá fiquei toda à tarde, à noite e até o amanhecer lendo o livro, um livro que me marcou por toda a minha vida escoteira.

                    Hoje sei que nossa biblioteca escoteira tem joias para deglutir com gosto de aprender escotismo. Mas naquela época em uma cidade escondida ao norte de Minas Gerais era impossível ver os famosos livros do fundador. Foi nele que aprendi muito do escotismo que sei. Seu autor ficou para sempre gravado em minha memória. - Benjamim de Almeida Sodré um escoteiro e um futebolista brasileiro que ficou conhecido como Mimi Sodré. Campeão em 1910 e 1912, pelo Botafogo. Mas isto para nós escoteiros não tem muito interesse. Filho de Lauro de Almeida Sodré se tornaria um personagem muito importante na História do Escotismo Brasileiro. Interessante que foi o primeiro a ser chamado de “O Velho Lobo” e que teve muito de sua vida passagens e características semelhantes à de Baden-Powell.

                       Ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro e depois de terminar seus estudos secundários prestou concurso para admissão na Escola Naval sendo aprovado em primeiro lugar. Fez brilhante carreira na Marinha Brasileira, sobrevivendo ao naufrágio do rebocador Guarani, em 1913 e posteriormente chefiando a Comissão Naval Brasileira durante a II Guerra Mundial. Tornou-se Almirante em 1954. Assim como Baden-Powell tinha uma série de talentos. Professor de Astronomia, Navegação e História da Escola naval publicou diversos trabalhos. Desde que entrou para o escotismo brasileiro tornou-se um seguidor dos ideais de B-P participando da fundação dos Escoteiros do Mar e do primeiro Grupo Escoteiro de Belém. Seu livro o “Guia do Escoteiro” de 1925, é uma das mais importantes obras do Escotismo Brasileiro.

                 O “Velho Lobo” teve papel fundamental na idealização e criação da União dos Escoteiros do Brasil ao reunir quatro de algumas das confederações existentes. Escoteiros Católicos, do Mar, Escoteiros do Brasil e Federação Fluminense de escoteiros. Foi honrado com uma série de títulos, entre eles o de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro. Recebeu várias medalhas de mérito, presidindo a Ordem do Tapir de Prata a mais alta condecoração do escotismo brasileiro. Faleceu em 1º de fevereiro de 1982, dois meses antes de completar 90 anos. Atualmente diversos grupos em todo o Brasil honram seu nome de Almirante Benjamim Sodré. Uma homenagem de poucos escoteiros do Brasil. Vale notar que no passado a revista “(O Tico-Tico) uma das principais publicações infantis do país, abrigou em 1922 uma coluna ESCOTISMO na qual o pseudônimo de “VELHO LOBO” dava sua importante contribuição para a formação da juventude brasileira”. Após escrever o “Guia do Escoteiro” em sua época foi reconhecido por muitas personalidades entre as quais Coelho Neto, Rui Barbosa e Olavo Bilac.

          Reconhecido como um "IMPOLUTO MAÇOM", dadas suas qualidades de caráter foi eleito membro honorário e escolhido Deputado da Assembleia Legislativa do Grande Oriente do Brasil, chegando a exercer o cargo de Grão-Mestre. Ocupou várias posições importantes na hierarquia naval, tendo-se destacado em combate e durante um naufrágio onde salvou bravamente dois colegas oficiais e um marinheiro lutando contra condições adversas no mar. Ocupou várias posições importantes na hierarquia naval, tendo-se destacado em combate. Quando o Brasil estava em guerra contra os países do eixo, (Alemanha-Itália) foi encarregado de comandar o petroleiro Marajó, único da frota brasileira a transportar de Trinidad, nas Antilhas, o combustível necessário à nossa Esquadra. Apesar de ser presa cobiçada pelos submarinos inimigos, o Marajó foi levado a bom termo, cumprindo o nosso Benjamin Sodré a perigosa missão. Isto foi em 1940/41. Com a vida ligada aos Escoteiros, à Marinha e à Natureza, e dotado de fina sensibilidade e misticismo, Benjamin Sodré deixou-nos um texto, inspirado por ocasião da celebração de uma missa rezada em 28 de setembro de 1948 na igrejinha da Boa Viagem (Niterói), pelo Bispo D. João da Mata:

Eis o texto:
"Há 12 anos eu sou o sineiro da Boa Viagem. Sineiro convicto, emocionado. Entretanto, todos sabem que não sou religioso. Se o Bispo fizesse alusão a isso, como eu responderia? Diria que faço tudo por Zi (apelido carinhoso da esposa), que tanto tem se dedicado à sua linda capelinha. É a ela que eu sirvo, trabalhando pela igreja. Mas, também, é verdade que venero as imagens no que elas simbolizam: a Virgem Maria representa a Bondade e o Amor Infinitos das Mães; minha mãe, minha esposa, minhas filhas. São Jorge, o padroeiro dos escoteiros, é o cavaleiro indômito, exemplo de fortes virtudes; São José, Santa Joana D'Arc... Jesus sintetiza a moral cristã, que eu sigo como moral, como seguiria as normas de Confúcio, Buda e todos os grandes filósofos moralistas pregadores. Os padres, sempre os olhei com simpatia e admiração; são homens que se sacrificaram por um ideal de fé, privando-se do que a vida tem de mais belo, por amor ao próximo. Por todos esses motivos, sou há 12 anos, com convicção, o sineiro da Boa Viagem. E não creio que alguém assista à Missa com maior emotividade do que a minha. Oh! O que aquela capelinha representa na minha vida!... Aquela igrejinha é muito nossa e, por ela, por amor a Zi, tudo farei."

Escritor e poeta, Benjamin Sodré legou-nos algumas páginas inspiradas, de puro lirismo... Este é um trecho do texto que chamaríamos de "Contemplando a manhã":
"Sem nos apercebermos, enquanto o espírito está suspenso na contemplação maravilhosa, quase as sombras foram afugentadas... Uma franja avermelhada coroa, agora, todo o Oriente. A mata despertou toda... Os trinados multiplicam-se, são incontáveis... O mar está azul. Nas ilhas, a vegetação vai tomando o colorido habitual... Surgem os primeiros rumores da vida humana... O sino da ilha bate sonoro, cadenciando o sino da alvorada... Mais alguns segundos, o sol irrompe prodigioso, pondo por todo o mar, em todas as árvores, uma faixa forte e viva de luz dourada... Vida!... Vida!... Tudo estreia em intensa vida, com o ressurgimento do Grande Final Criador!...”.

Almirante Benjamim Sodré – (10 de abril de 1892 — 1 de fevereiro de 1982)

domingo, 20 de março de 2016

Espírito Escoteiro


Conversa ao pé do fogo.
Espírito Escoteiro

            Como seria o verdadeiro Espirito Escoteiro? Conheço uma infinidade de definições. Claro existe a clássica onde dizem – Cumpridor da Lei Escoteira fiel e digno de sua Promessa. Essa é simples. Como dizem por aí, curta, seca e grossa. Risos. Mas eu gosto dela. Tem aqueles que exaltam o escotismo com tiradas tais como: Escotismo é minha vida! – Escotismo mudou todo meu modo de pensar! – Viver e morrer pelo Escotismo (esta é boa mesmo, eu não sei se eu morreria – risos). Mas todas elas são frases que podem de algum modo definir o Espírito Escoteiro.

            Conheci centenas de jovens que sonhavam com o escotismo. Sempre falando nele. Ao chegar à sede se você olhasse com atenção, veria em seu sorriso, em sua voz e em seu Sempre Alerta, uma emoção que poderia sem sombra de dúvida dizer que este sim era o Espírito Escoteiro. Outro dia vi uma foto que me chamou a atenção, a tropa formada, alguém fazendo a promessa e ele sorrindo ao lado do Monitor na formatura e olhando com uma expressão extraordinária ao promessado. Ele o Monitor na minha modesta opinião tinha o Espírito Escoteiro. Aqui mesmo, vejo fotos em que mesmo sem conhecer o Escoteiro acredito que em seu coração o Espirito Escoteiro existe. Outros dizem que quem obedece à lei e a promessa também tem o Espírito Escoteiro. Esta é difícil. Muito. Obedecer a Lei no seu todo não é para qualquer um.

            Olhe não me levem a mal. Notarem que falo muito em jovens. Sempre falo neles. Gosto de fotos com eles. De vê-los sorrindo em um acampamento, em marcha de estrada, principalmente quando não tem chefes no meio deles. Risos.  Escotistas para mim são irmãos mais velhos, pacientes, calmos, serenos e tranquilos para colaborar com a formação dos jovens e, portanto não vou dizer muito sobre eles. Mas sem sombra de dúvida que tem muitos chefes com Espírito Escoteiro. Vou mais além, o Espírito Escoteiro nos acompanha através de décadas. Eu que o diga. Deste pequeno até hoje. E não pensem que tenho o Espírito Escoteiro. Acho que não.  Infelizmente tem muitos chefes que têm e outros que ainda não. Juram que tem e muitos não dizem nada a ninguém, mas no seu pensamento são mestres em dizer que eles são mais que os outros no Espírito Escoteiro.

           O que adianta falar que os jovens é que são importantes, que estamos aqui por causa deles, que sem eles o escotismo não teria razão de ser? Não sei. Isto é falado comentado e repetido, mas sempre vejo os adultos na frente, resolvendo, fazendo e não se lembram de que não estão aqui para isto. E têm aqueles outros que acreditam que devemos dar as mãos, perdoar, dizem belas palavras, mas será que estão fazendo o escotismo conforme o Espírito Escoteiro que todos pensam? Mas o que eu penso? E você? Pensamos da mesma maneira? Não acredito. Podemos ter até as mesmas ideias, os mesmo ideais, mas a maneira de agir nem sempre são as mesmas.

           Por outro lado, aqueles que se rebelam, que acham que as coisas deveriam ser de outro modo, que não concordam com tudo que os dirigentes determinam, estes tem ou não o Espírito Escoteiro? Já disse aqui muitas vezes sobre as próprias palavras de BP. Olhar além da ponta do seu nariz. Descobrir novos horizontes. Pensar sobre tudo mesmo sem concordar com tudo. Claro não foi assim que ele escreveu, mas parecido. Se alguém não concorda logo dizem “gatos e lebres” sobre ele. Não tem Espírito Escoteiro, não sabe o sétimo artigo da lei. E assim vai. Somos mestres a julgar os outros sem pensarmos que devemos nos julgar também.

           Mas olhe ainda bem que temos o Espírito Escoteiro como filosofia escoteira. Duas palavras que ajudam em muito nossa chama de motivação escoteira. Se não fosse elas (as palavras) seriamos hoje uma Torre de Babel. Onde todos falariam uma língua diferente e ninguém se entenderia. Em Hamlet, a tragédia da dúvida do solitário príncipe e da violência do mundo, William Shakespeare escreveu que “há mais coisas entre o céu e a terra, do que supõe vossa vã filosofia”. Acho que temos muito ainda para aprender sobre o Espírito Escoteiro.

         E afinal se cada um de nós está imbuído no Espírito Escoteiro que achamos ter, quem sabe iremos encontrar o caminho a seguir, olhando e vivenciando com aqueles que viveram os “Velhos Tempos” e iremos olhar um pouco adiante do nosso nariz, passar também a pensar, pois acredito que ninguém nasceu para gansinho (“Daquele que vai atrás, nas pegadas do pai ganso que nem sabe aonde vai”) e poderíamos afinal achar o nosso Caminho para o Sucesso?


         E para terminar, parodiando ainda Shakespeare, quando ainda acredito que estamos procurando o nosso caminho em uma estrada fácil de ser seguida, eis que o Espírito Escoteiro nos aparece em uma bifurcação como a nos dizer: SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO! E você? Tem ou não tem o Espírito Escoteiro? 

quinta-feira, 17 de março de 2016

“liberta quae sera tamen”


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“liberta quae sera tamen”

(“liberdade ainda que tardia”. Palavras de Virgílio, tomadas como lema pelos chefes da Inconfidência Mineira e que figuram na bandeira daquele Estado).

                       Há muitos anos depois de revezes de saúde que me impediram voar junto à juventude escoteira a escoteirar pelos campos, trilhas e caminhos fazendo bons acampamentos, explorando novos rumos, florestas e rios eu pensei que não poderia deixar de dar meu testemunho do escotismo que conheci e que aprendi. Acreditava que muitos gostariam de saber o que fizemos e com isto ter novas idéias de programas para aplicarem em suas sessões. Assim eu precisava passar meus conhecimentos aos que tivessem interesse e que quisessem aprender mais. São quase sete anos de Facebook mais uns dois no Ex-Orkut. Aqui escrevo conto histórias, tento mostrar novos caminhos, escrevo sobre honra, ética, valores, palavra, verdade e o que tenho preso no meu coração: - O amor ao próximo à fraternidade não importando que classe, raça credo ou escotismo faça. Não me envolvi com mais nada. A politica ficou a margem, e apesar de espiritualista o pragmatismo religioso nunca foi discutido. A aceitação da escolha é uma questão de liberdade que não abro mão.

                       Aos poucos surgiu três paginas cujo alcance superam os treze mil participantes. Seis grupos que quase esbarram nos vinte mil simpatizantes. Uma Fanpage que tem diariamente mais de oitocentas pessoas alcançadas. Sei que não mais que uma dezena levam a sério o que escrevo. Sei que o escotismo hoje tem visões diferentes do passado e muitos ainda acreditam no que fazem conforme os ensinamentos que receberam. A aceitação da imposição, da soberba, a forma com que se dividem em castas as diversas lideranças, a maneira autoritária com que somos conduzidos onde a ética e a democracia são esquecidos fazem da União dos Escoteiros do Brasil de hoje um órgão que muitos estão deixando de acreditar. Enquanto publicações de B-P, de aprendizado e de fatos marcantes de místicas e simbolismo são bem aceitos quando publico outros ficam no esquecimento.

                        Com toda minha cantilena, ou se quiserem sermão ou lengalenga, não desisto e nunca desisti.  Meus princípios foi um só mostrar um escotismo autêntico, sem meios termos, sonhando fazer dele um orgulho da nação. Sempre acreditei que formando jovens formaremos homens dignos para o crescimento do país.  Não me meti em outras searas. Até poderia com os conhecimentos que adquiri na escola da vida. Afinal engulo diariamente dois jornais que assino e semanalmente algumas revistas que mostram ou acreditam mostrar a realidade brasileira. Tenho setenta e cinco anos, não precisaria mais dar meu testemunho nas eleições exercendo meu direito de escolher e votar. Mas disto não abro mão. Sempre fiz questão da isenção completa. Na minha família a escolha era e é um direito de cada um. Todos foram escoteiros e alguns em idades já para seniores ou pioneiros. Todos eles tiveram o livre arbítrio para escolher a hora de entrar e sair. Tenho um time do coração, mas nenhum deles foi induzido a me seguir. Quando tomaram decisões e me procuraram dei os conselhos para mostrar se o caminho era certo ou não. Aprende-se a fazer fazendo. Tenho orgulho de todos eles. Pais de família conscienciosos sabem o que é a honra, a ética e a palavra empenhada.

                         Não tenho pretensão de dar subsídios em áreas onde acredito que cada um sabe onde andar com suas próprias pernas. Estamos passando por uma situação “sui generis”. Há uma revolta no ar. Uma mágoa e ódio de apoiadores e opositores de autoridades constituídas ribombeia nos céus como trovões de gente raivosa querendo dizer que o caminho é o seu. Poderia fazer um artigo, poderia discordar discorrer dos meus pensamentos. Eu sei que muitos choram as escolhas que fizeram. Os que perderam os empregos, os que fizeram empréstimos e não tem como pagar, os que acreditaram em um dia melhor. O nosso Brasil vive tempos de turbulências. Não temos heróis para chegar e dizer Shazan! Ou até mesmo aqueles que se aproveitaram do “Abre-te Sésamo da Petrobras”. Eu sei que muitos tem amigos por sinal diferentes daqueles que alguns portentosos tem. Sei que nenhum vai pagar suas contas, emprestar seus sítios ou casas a beira mar. Fico ainda Com São Francisco que nos legou lindos sonhos, nos deixou uma oração que a tudo explica:


- Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Tem mais, muito mais. Preciso pensar que os maiores homens da história primaram pelo amor, pela trilha do perdão, pela benevolência e pela paz. Martin Luther King, Mahatma Gandhi e até mesmo Nelson Mandela. Todos eles terão sempre seu lugar na história muito diferente dos que enganam que nada fizeram induzindo a acreditarem nas suas benfeitorias esquecendo o amanhã que nunca morre. Eu sei que a esperança é uma coisa boa, talvez a melhor de todas e nada que é bom deve morrer!

terça-feira, 15 de março de 2016

Salvem minha bandeira que está no céu.


Conversa ao pé do fogo.
Salvem minha bandeira que está no céu.

                  Não era uma tarde de sol, o tempo estava nublado. O acampamento sorria com a escoteirada fazendo seus bordados com cinzais nas dobras de uma costura de arremate. Um pequeno punhado deles carregavam um tronco, uma birosca de barro, bambus aos chumaços cada um querendo fazer mais e mais para aprender. Não ouve trovão, não ouve faíscas e nem relampejar no ar. Em segundos o céu escureceu com uma nuvem cor de cobre. Muitos disseram para si e para os outros: – “É temporal que se descobre”. É hora de aprisionar no seio da barraca a matutagem do campo, fincar no alto da cabeça o chapéu para proteger. Todos deviam se abrigar, pois o molhado na mata não perdoava ninguém. Até a passarinhada que se aninhavam a cantar para ver a escoteirada escoteirar se calaram. As burras da borrasca pronunciava uma torrente de águas cristalinas a cair do céu. Cada um sabia o que fazer, pois ao anoitecer tudo seria mais difícil para ver, para imaginar e para consertar os estragos que iam acontecer.

                      Aflito o amofinado cozinheiro protegia seu lenheiro, berço do fogaréu que em breve horas iria cantarolando nos comes a fazer. O mal aventurado abençoava o temporal, mísero chuveiro que Deus lhe reservou. Não haveria na hora do costado o bife pança vazia, guardada proporções ele sabia que a fome da escoteirada ao debandar no bucho e na goela, depois da chuva seria de matar. Melhor uma sopa, daquelas bem brasileiras, daquelas famosas Escoteiras que um sal, óleo e um pouco de mingau aguado daria para sustentar. O céu desabou no acampamento. Não havia firmamento, não havia sol, ninguém cantava o arrebol. Correm os corvos na bandeira, ela desce bem treteira naquele enorme vendaval. Mas o vento, oh! O vento danado soprou enviesado e a bandeira subiu aos céus. A escoteirada se animou e desandou a correr atrás. Pega aqui pega ali é nossa pátria, a ela vamos salvar. Cada um virou herói, herói da bandeira, herói do universo do nosso querido Brasil. Salvem ela, é nossa pátria, por ela vamos lutar ou morrer.

                      Um pé de vento mais forte, a bandeira foi lá pru norte e ninguém ficou para trás. Sobem montes, atravessam lagos, correm bem no costado do morro da Vaca Preta, e a escoteirada gritando: - Pega bandeira! Não deixem ela escapulir. Parecia um jogo infernal. O vento sorrindo o danado, a escoteirada mesmo cansada não desistia. Afinal ali não era a terra do nunca, eles não podiam voar, mas tinham pernas treteiras, pernas bem Escoteiras e a bandeira não ia escapar. Eis que ela subiu e se deitou bem no alto do Jequitibá, numa galhada enorme, pequena até disforme e a escoteira em volta olhando o vento que sumia, deixando no alto da coxia, da arvore que escolheu para ficar. A bandeira molhada encolheu. Zé do Osso, um escoteirinho, amarelo magro que nem angu do brejo, esbelto cabeça chata, se lança no tronco da dita cuja. Seus braços pequenos não dava a volta que precisava para firmar e subir. Mas quem desiste depois da promessa? Promessa que um dia prometeu amar a Deus e a Pátria, portanto a bandeira ele fazia questão de salvar.

                       O vento escondido nos montes olhava de esbugalho o escurecer do horizonte, sorria ao ver Zé do Osso, subir no Jequitibá. Deixa ele, ele pensou. Quando estiver para chegar, vou lá de novo pé de vento a levo para longe do acampamento. Não deu outra, os bracinhos bem curtinhos de Zé do Osso arranhou. Um galho pegou no menino, o sangue correu pelo corpo, mas quer saber? Zé do Osso não desistiu. Seu chapéu de abas largas foi levado pelo vento, amarrou no tronco seu lenço e sem mostrar canseira ele abraçou a bandeira. Embaixo se ouviu um urro da escoteirada. A bandeira estava salva. Honras a Zé do Osso o nosso Escoteiro herói. Salvou a Pátria, salvou a honra, palmas e bravos pipocaram no ar. E depois da aventura, foi carregada nos altos, a escoteirada sorrindo todos se divertindo e a chefaiada aplaudindo.


                        À noite no céu de estrelas, a lua brotou no céu, espantou o vendaval o vento e seu carnaval. A fogueira foi acesa, sussurros de boca em boca, saudando um Escoteiro valente que não deixou de barato, afinal se tornou um mateiro dos maiores aventureiros cabra macho dos bons. Salvou nossa alma nossa honra... Nossa Bandeira.  Alegria e contentamento valeu acampamento. Zé do Osso ficou famoso, teve glorias de valente, foi saudado docemente pela linda escoteira Maria. Hoje de tempos passados, os dois já bem casados, contam histórias sem fim. Maria sabia da saga, da bandeira lá na mata, do espinhaço sofrido, contava a seu filho Walfrido o que seu pai realizou. E assim a história termina lembranças de fatos passados, aqui aos poucos narrados de um vendaval que se foi.

domingo, 13 de março de 2016

Será este o nosso escotismo moderno?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Será este o nosso escotismo moderno?

                      Outro dia fiz um artigo ainda não publicado sobre a organização dos Desbravadores no Brasil. Fiquei dias e dias pesquisando e no final me senti um peixe fora d’água. Uma organização que prima pela disciplina, pela apresentação pessoal, pelo garbo e pela religiosidade não tem como discordar. Em menos de trinta anos estão com a estupenda marca de quase 250.000 membros registrados no Brasil. Dizer o que? Sei que tem muitos a discordarem pelos seus princípios religiosos, pela forma que adotaram de ordem unida e pouco sistema de patrulhas, mas afinal, eles não estão formando cidadãos cônscios de suas responsabilidades? Sim eu sei que fugiram um pouco da metodologia Badeniana, mas nossa velha UEB não fez isto e se tornou uma associação déspota, dona da verdade? Ela não criou normas que só interessa aos dirigentes para perpetuarem no poder?

                      Rodei por aí em sites e blogs dos desbravadores. Não vi nenhuma nota que os desabonasse na apresentação pessoal. Um primor de apresentação. Muito bem uniformizados. Todos sem exceção. Sem querer me esbarro com fotos de membros do escotismo brasileiros nos nossos principais fóruns nacionais. Sei que eles se acham corretamente vestidos à escoteira. Demostram orgulho pelo que vestem. Tem até chapéu de palhinha, chapéu de boiadeiro sem contar as cores do uniforme. Isto sem discorrer da vestimenta que no modo de entender do Velho e atrasado Chefe Escoteiro é um desastre total. Voltando aos Desbravadores são 230.000 participantes. Fizeram um Campori (para nós Jamboree) em Barretos e colocaram lá 35.000 participantes. Como? Não sei pergunte a eles. A meninada se esbaldava com disciplina, com amizade e fraternidade. Da vontade de tirar meu chapéu e fazer um reverencia para eles. Aí vêm aqueles que dizem conhecer o escotismo e que somos diferentes. Somos sim, cobramos os olhos da cara para uma participação num jamboree nacional e conseguir 5.000 e poucos e isto é motivo de palmas e caixa para os dirigentes nacionais.

                     Somos mesmos. Somos perfeitos, somos educadores da melhor estirpe baseada na formação dos alunos da Universidade de Harvard ou da famosa Universidade de Cambridge, um primor inglês da terra de Lord Baden-Powell. Temos tantos a falar do nosso escotismo moderno que me recolho a minha humilde formação intelectual que nada sabe nada aprendeu a não serem uns parcos conhecimentos da Escola da Vida. Nossos dirigentes enchem o peito em dizer da nova metodologia baseada nos princípios modernos da educação. Ora viva! Isto é demais. Discutem tudo. Aqui parece uma democracia autêntica. Os princípios elementares da formação escoteira são falados, pensados e discutidos de norte a sul. Sem desmerecer tem os bons ouvintes, os sábios que nada sabem os famosos formadores da educação escoteira sem contar que temos o que os desbravadores não têm: - Um APF (assessor pessoal de formação). Bombástico isto!

                     Aqui nada se cria e tudo se copia. Os ingleses de B-P já aprovaram uma promessa para o homofóbico, para os ateístas, e nós como sempre corremos atrás. Nada contra, por sinal muito a favor, mas quantos destes realmente querem fazer escotismo? Será que temos a nata representante desta juventude a brigar por um lugar ao sol? Temos seminários, indabas, assembleias, encontros e desencontros em todo Brasil a discutir os novos rumos escoteiros no Brasil. A empáfia está solta no ar. Os comportamentos de superioridade, do orgulho da arrogância e da soberba estão à solta nos melhores centros escoteiros do país. Cada um dos novos ou antigos dirigentes tem cabedais formidáveis para fazer do Brasil a maior nação escoteira do mundo. Não faltam projetos, não faltam planos. Nosso patrimônio da simplicidade e humildade perdeu para a riqueza o acervo e a arrogância de ser melhor. Não se discute mais a simplicidade os bens morais, a importância de uma educação dentro dos métodos de Baden-Powell considerados pelos novos B-Ps como atrasados e ineficazes.

                Retorno novamente para os Desbravadores. Quase não vejo nenhum deles se jactando, se lançando na aventura do poder acima de tudo. Da luta por uma direção, de se mostrar diferente usando peças de fardamento que nada tem a ver com nossas antigas tradições. Dizer a eles? Falar o que? Eles terão mil respostas, terão motivos para dizer que estão dentro dos padrões escoteiros. Padrões? Bem é direito irrevogável que cada um pense como quiser. Os estados brasileiros que possuem o escotismo estão às voltas com novas eleições. Na maioria sabemos que a situação vai continuar. A uma aceitação hipócrita que não permite dar oportunidade a outros para pelo menos chegar ao poder e tentar mudar. Mudar? Sei não, mas acredito que a continuidade de um partido único não traz benefício algum. Quem vai dizer ao Congresso Nacional que não somos nada? Quem não temos representatividade na sociedade brasileira? Que os órgãos da UEB só querem poder e serem reverenciados? Os estados que elegeram nova direção?


                      Eu só digo com sinceridade. Que os Desbravadores se divirtam na ordem unida, que marchem garbosos com suas fanfarras, que eles rezem a mais não poder. Que a igreja dê a eles o que precisam para desenvolver suas potencialidades, que o sistema de patrulha deles não seja perfeito, mas é uma moçada supimpa. Alegre, feliz, confraternizando e sem medo de ser feliz. Não estão preocupados com os novos pedagogos, com os novos pensadores ou com a politica do Brasil. Não estão a copiar o que os outros fazem. Já sabem onde pisar para que sua juventude possa um dia se orgulhar de ter aprendido que a honra faz parte dos honestos, que a ética é uma das virtudes Escoteiras, que a apresentação pessoal é tudo na vida de alguém que respeita e sabe respeitar. 230.000! Ah! E os valorosos e grandiosos dirigentes estão rindo atoa porque neste ano chegamos aos 80.000!       

quinta-feira, 10 de março de 2016

Declaração dos Direitos Escoteiros no Brasil.


Declaração dos Direitos Escoteiros no Brasil.
(nota: - Não é oficial, nada que sonhar que a realidade um dia possa ser assim).

Entendemos que o Escotismo, fundado por Lord Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, em 1907, é um movimento mundial, educacional, voluntariado, apartidário, e “sem fins lucrativos. A sua proposta é o desenvolvimento do jovem, por meio de um sistema de valores que prioriza a honra, baseado na Promessa e na Lei escoteira. Através da prática do trabalho em equipe e da vida ao ar livre, fazer com que o jovem assuma seu próprio crescimento, tornar-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina, fica determinado que:

Artigo primeiro: - Todos os jovens participantes do escotismo terão direito a uma vida ao ar livre, a acampar, excursionar, conhecer a natureza em todo seu esplendor, independente da sua cor, credo ou classe social.

Artigo segundo - Como a promessa sintetiza o embasamento moral do Movimento Escoteiro, todo jovem deve ter a liberdade de dizer o que está escrito nas normas, nas datas que decidir no local que escolher e na mística que vivenciou;

Artigo terceiro – Todo jovem Escoteiro irá conhecer e aprender a fazer o melhor possível para saber que sua honra, integridade, lealdade, presteza, coragem, ânimo, bom-senso, respeito pela propriedade e autoconfiança servirá como meta a formação para que aceite dentro dos princípios da Lei Escoteira a viver em uma escala de valores que irá acompanhá-lo por toda sua vida; 

Artigo quarto - Fica subtendido que seus chefes serão os responsáveis para seu desenvolvimento físico, mental e intelectual, por meio de jogos ao ar livre, exercícios, excursões e acampamentos.

Artigo quinto - Os adultos colaboradores trabalhando como voluntários terão como meta que o propósito do escotismo é a formação do caráter, ética honestidade e retidão escoteira. Formar uma geração Escoteira pura nos seus pensamentos palavras e ações no intuito de desenvolver a mais alta forma de compreensão e dever para com Deus, pátria e o próximo;

Artigo sexto – Conforme o método escoteiro idealizado por Baden-Powell o jovem será preparado adequadamente pelo conhecimento adquirido em cada uma das suas atividades de campismo, natação e salvamento, primeiros socorros, regras de segurança, orientação, transmissão de sinais, estudo da natureza, visando seu desenvolvimento intelectual que será acrescido de outras necessidades em sua vida;
 
Artigo sétimo - O jovem terá toda assistência e motivação para aceitar sem obrigação o método Escoteiro que está baseado em sete pilares essenciais: Aceitação da Promessa Escoteira, Sistema de Patrulhas, Sistema de Progresso através de ações em que seguindo a Lei Escoteira promova ações para sua autoprogressão individual; Aprender a fazer fazendo, Contato com a Natureza, Método e Projeto com objetivos e concentração para um enquadramento imaginário em atividades pelos jovens;

Artigo oitavo - Os adultos voluntários devem aprender o método Escoteiro para aplicá-lo corretamente e dar uma diretriz que se espera de um jovem ou uma jovem Escoteira na sua formação para a vida de adulto.

Artigo Nono - Os adultos voluntários Escoteiros terão que ser ciosos das suas obrigações, dando exemplos pessoais tanto em sua vida pregressa como na apresentação pessoal.

Artigo décimo - A missão do Escotismo é contribuir para educação do jovem para que ele possa ajudar na construção de um mundo melhor, onde as pessoas se realizem como indivíduos e como uma sociedade. Essa missão é atingida através do Método Escoteiro proposto por Lord Baden-Powell, que capacita o jovem ser o responsável pelos seus atos, seu desenvolvimento, seu comprometimento, sua responsabilidade, auto-evoluído-o.

Artigo décimo primeiro – Compete aos órgãos dirigentes facilitar ao máximo para que estes artigos sejam assimilados e cumpridos. Não pode existir em nenhum estado brasileiro diferença racial social e financeira. O escotismo é igual para todos ricos e pobres.

Artigo décimo segundo – Qualquer atividade Escoteira onde se demanda gastos financeiros, os dirigentes devem facilitar ao máximo, trabalhando na arrecadação de fundos sempre buscando ajudar e colaborar com os mais necessitados. Os lucros serão sempre ser revertido para os jovens.

Artigo décimo terceiro - Todo adulto dirigente deve ter como meta o sorriso e a alegria do jovem visando motivá-lo a continuar por muitos anos na senda escoteira. O desencanto do escotismo porque ele não foi capaz de estar junto aos seus irmãos mais aquinhoados será observado criteriosamente.  

Artigo final – Todos os voluntários, dirigentes devem ter em mente que o escotismo é dos jovens para os jovens e para ele deve ser revertido todo trabalho realizado seja na colaboração ou em campanhas financeiras que porventura sejam realizadas.


Revogam-se as disposições em contrário e cumpra-se!