quinta-feira, 17 de março de 2016

“liberta quae sera tamen”


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“liberta quae sera tamen”

(“liberdade ainda que tardia”. Palavras de Virgílio, tomadas como lema pelos chefes da Inconfidência Mineira e que figuram na bandeira daquele Estado).

                       Há muitos anos depois de revezes de saúde que me impediram voar junto à juventude escoteira a escoteirar pelos campos, trilhas e caminhos fazendo bons acampamentos, explorando novos rumos, florestas e rios eu pensei que não poderia deixar de dar meu testemunho do escotismo que conheci e que aprendi. Acreditava que muitos gostariam de saber o que fizemos e com isto ter novas idéias de programas para aplicarem em suas sessões. Assim eu precisava passar meus conhecimentos aos que tivessem interesse e que quisessem aprender mais. São quase sete anos de Facebook mais uns dois no Ex-Orkut. Aqui escrevo conto histórias, tento mostrar novos caminhos, escrevo sobre honra, ética, valores, palavra, verdade e o que tenho preso no meu coração: - O amor ao próximo à fraternidade não importando que classe, raça credo ou escotismo faça. Não me envolvi com mais nada. A politica ficou a margem, e apesar de espiritualista o pragmatismo religioso nunca foi discutido. A aceitação da escolha é uma questão de liberdade que não abro mão.

                       Aos poucos surgiu três paginas cujo alcance superam os treze mil participantes. Seis grupos que quase esbarram nos vinte mil simpatizantes. Uma Fanpage que tem diariamente mais de oitocentas pessoas alcançadas. Sei que não mais que uma dezena levam a sério o que escrevo. Sei que o escotismo hoje tem visões diferentes do passado e muitos ainda acreditam no que fazem conforme os ensinamentos que receberam. A aceitação da imposição, da soberba, a forma com que se dividem em castas as diversas lideranças, a maneira autoritária com que somos conduzidos onde a ética e a democracia são esquecidos fazem da União dos Escoteiros do Brasil de hoje um órgão que muitos estão deixando de acreditar. Enquanto publicações de B-P, de aprendizado e de fatos marcantes de místicas e simbolismo são bem aceitos quando publico outros ficam no esquecimento.

                        Com toda minha cantilena, ou se quiserem sermão ou lengalenga, não desisto e nunca desisti.  Meus princípios foi um só mostrar um escotismo autêntico, sem meios termos, sonhando fazer dele um orgulho da nação. Sempre acreditei que formando jovens formaremos homens dignos para o crescimento do país.  Não me meti em outras searas. Até poderia com os conhecimentos que adquiri na escola da vida. Afinal engulo diariamente dois jornais que assino e semanalmente algumas revistas que mostram ou acreditam mostrar a realidade brasileira. Tenho setenta e cinco anos, não precisaria mais dar meu testemunho nas eleições exercendo meu direito de escolher e votar. Mas disto não abro mão. Sempre fiz questão da isenção completa. Na minha família a escolha era e é um direito de cada um. Todos foram escoteiros e alguns em idades já para seniores ou pioneiros. Todos eles tiveram o livre arbítrio para escolher a hora de entrar e sair. Tenho um time do coração, mas nenhum deles foi induzido a me seguir. Quando tomaram decisões e me procuraram dei os conselhos para mostrar se o caminho era certo ou não. Aprende-se a fazer fazendo. Tenho orgulho de todos eles. Pais de família conscienciosos sabem o que é a honra, a ética e a palavra empenhada.

                         Não tenho pretensão de dar subsídios em áreas onde acredito que cada um sabe onde andar com suas próprias pernas. Estamos passando por uma situação “sui generis”. Há uma revolta no ar. Uma mágoa e ódio de apoiadores e opositores de autoridades constituídas ribombeia nos céus como trovões de gente raivosa querendo dizer que o caminho é o seu. Poderia fazer um artigo, poderia discordar discorrer dos meus pensamentos. Eu sei que muitos choram as escolhas que fizeram. Os que perderam os empregos, os que fizeram empréstimos e não tem como pagar, os que acreditaram em um dia melhor. O nosso Brasil vive tempos de turbulências. Não temos heróis para chegar e dizer Shazan! Ou até mesmo aqueles que se aproveitaram do “Abre-te Sésamo da Petrobras”. Eu sei que muitos tem amigos por sinal diferentes daqueles que alguns portentosos tem. Sei que nenhum vai pagar suas contas, emprestar seus sítios ou casas a beira mar. Fico ainda Com São Francisco que nos legou lindos sonhos, nos deixou uma oração que a tudo explica:


- Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Tem mais, muito mais. Preciso pensar que os maiores homens da história primaram pelo amor, pela trilha do perdão, pela benevolência e pela paz. Martin Luther King, Mahatma Gandhi e até mesmo Nelson Mandela. Todos eles terão sempre seu lugar na história muito diferente dos que enganam que nada fizeram induzindo a acreditarem nas suas benfeitorias esquecendo o amanhã que nunca morre. Eu sei que a esperança é uma coisa boa, talvez a melhor de todas e nada que é bom deve morrer!