sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Conversa ao Pé do fogo. O retorno do Chefe Trovão – Um admirável curso da Insígnia da Madeir




Conversa ao Pé do fogo.
O retorno do Chefe Trovão –
Um admirável curso da Insígnia da Madeira

Prólogo
- Solicitaram a segunda história do Chefe Trovão. Porque não? Mas são cinco páginas. A história é longa difícil reduzir. Somente para os que gostavam da primeira história. Deram a ele muitos nomes. O chamaram de irmão do Demônio. Mas ele era apenas um Chefe Escoteiro, um homem que marcou a todos nós para sempre. O Chefe Trovão!
              
                   Nossa existência faz parte do nosso crescimento interior, e a cada dia vamos aprendendo cada vez mais a viver a enfrentar a realidade, a reconhecer o certo e o errado e ver mesmo com dificuldade o melhor caminho a seguir tendo nosso livre arbítrio para decidir ou interpor. Nunca desisti dos meus sonhos, do que acredito ser o meu caminho. Acho que encontrei a porta da felicidade e nela me adentro com orgulho em saber que ajudei a melhorar um pouquinho o nosso mundo. Tenho 32 anos. Casado, um filho. Sou um Chefe Escoteiro. Acredito no Movimento Escoteiro. Ele já faz parte de mim.  Faz oitos anos. Um bom tempo. Neste período aprendi muito. Principalmente com um chefe que me convidou e me incentivou e sem sombra de duvidas, extraordinariamente me assustou. A figura do chefe Trovão era surpreendente. Possuía um conhecimento profundo do Movimento Escoteiro. Sabia como ninguém arregimentar adultos e mantê-los na ativa por muitos e muitos anos. Sem arrogância e vaidade deu a todos nós que começamos com ele, o caminho, a certeza aonde ir, sem erro, sem deslize no caminho certo do sucesso como diz nosso fundador.

                  O chefe Trovão era uma figura imponente. Não tão alto, mas sua silueta era soberba. Cabelos brancos, meios crespos, um bigode cheio, rosto redondo, olhos profundos, como a querer entrar no nosso pensamento. Palavras suaves, firmes, não titubeavam quando dizia alguma coisa. Seus olhos pareciam captar cada movimento que fazíamos quando estávamos a conversar. Quando me convenceu a participar, não fez um pedido. Seu argumento era simples e direto. Quando me dei conta, lá estava eu, de calças curtas, junto ao cerimonial de bandeira, a dizer a promessa e receber meu distintivo e o lenço do grupo. Naquele acampamento onde nem sei se foi marcante, ou se foi um épico ou mesmo uma lembrança extraordinária, agora sei que tudo ficou para trás. Naquela madrugada fria, quando vimos o chefe Trovão, no seu banho das três e meia da manhã, com o seu sabonete mágico como ele dizia, com as mãos levantadas debaixo da cachoeira, a pairar no ar, com fagulhas vermelhas e brilhantes, e sombras fantasmagóricas em sua volta!  Bem, é melhor esquecer. Assim como eu todos que viram o ocorrido, preferiram silenciar. Como apareceu no Grupo Escoteiro, ele se foi. Não ouvimos falar mais dele por um bom tempo.

                 Sempre fui metódico e organizado. Fiz meu programa de adestramento escoteiro, e sabia sem sombra de duvida iria alcançar minha Insígnia da Madeira. O próprio Chefe Trovão dizia que se nós quiséssemos ser bons escotistas, além dos cursos, teríamos que ter uma boa biblioteca escoteira em casa. Quem assim o faz é digno de ser chamado chefe. Não basta vestir um uniforme, fazer a promessa e saber com maestria sinais para formaturas dos jovens. No meu cronograma, estava marcado conforme o programa regional meu curso da Insígnia da Madeira parte II. Penúltima etapa para atingir meu objetivo. Eram oito dias acampados, sem intervalos no campo escola da região. Sabia que teríamos um frio glacial na época. Julho sempre foi assim. Ao fazer a inscrição já sabia que seria o Chefe Trovão o Diretor. O curso teve seu inicio como todos. No salão do campo escola, conversando, cantando, lembrando-se de outros cursos, pois muito de nós éramos velhos amigos de cursos passados. Ouvimos uma “trombeta” com o toque de reunir, e saímos prontamente para a arena da bandeira. Um assistente de curso já conhecido formou a tropa. Éramos 34, dois a mais que o permitido. Soube depois que havia 85 interessados. A ordem de inscrição prevaleceu. O motivo de tantos? O diretor do Curso, nada mais nada menos que o meu amigo e “tinhoso” Chefe Trovão!

              Queria conhecê-lo melhor e sabia que daria tudo de mim. O que vi antes no acampamento da tropa permanecia em minha memória. Sabia de sua capacidade, seu autodomínio e sua grande competência em temas escoteiros. A fama do Chefe Trovão era reconhecida em quase todos os estados brasileiros. Fomos formados em quatro patrulhas duas com nove adultos. Cada uma recebeu seu material de campo, composto de duas barracas de duas lonas, uma intendência onde se via o material de sapa, vasilhames e alguns apetrechos para limpeza que poderíamos usar logo na montagem do campo. Uma pequena bandeirola onde deveríamos desenhar o totem, com o animal já designado. Eu estava na Lobo. Todos portavam bastão escoteiros. Tivemos duas horas para montar as barracas (quatro escotistas em cada uma), a cozinha, á área de refeições e reuniões de patrulha, alem das necessidades básicas do campo tais como, fogão suspenso, fossas de líquido e detritos entre outros. Separamos-nos em dupla e em pouco tempo montamos o necessário. Os banheiros e latrinas já estavam prontos, num ponto extremo onde estávamos. Nada melhor do que vivenciar o Sistema de Patrulhas, agindo na prática e não na teoria.

            Era uma técnica que deduzi ser excelente para desenvolver o sistema de patrulhas. Ninguém se conhecia e no inicio mantínhamos aquela aceitação escoteira, cada um querendo ajudar o outro, todos demonstrando que o quarto artigo ali tinha seu lugar especial. No entanto, com o passar dos dias, as mudanças, os estilos, a aceitação de liderança vieram à tona. Como era a verdadeira faceta de cada um. Isto foi bom. Tivemos desavenças, desacordos, algumas cizânias que pareciam insolúveis. Isto ate o quarto dia, a partir do sexto dia, quando todos já se conheciam, houve uma grande mudança de rumo. Agora éramos mais unidos, mais irmãos e então chegamos à conclusão que assim deve ser dado a oportunidade aos jovens de se conhecerem. Foi um curso cansativo, extenuante, mas extremamente proveitoso. Levantávamos sempre às 06 da manhã, quinze minutos de educação física feita pelo Monitor, limpeza do campo para inspeção, café, e as oito e trinta, a patrulha estava formada para receber a chefia. As nove, cerimonial de bandeira, avisos, um jogo quebra gelo e sessões intermináveis de técnicas escoteiras, explanações teóricas de sistemas aplicados na Tropa Escoteira, entremeadas aqui e ali por um jogo ou outro passatempo. As doze e trinta, mais duas horas para fazermos o almoço, limpeza, arrumação, inspeção e as catorze e trinta já estávamos de “volta às aulas”. O jantar, preparados por nós era de duas horas a partir das dezoito e trinta. Depois, novas sessões de adestramento técnico e teórico até as vinte e três horas. Só neste horário, tínhamos um pequeno café com alguns biscoitos ou Pães feito pela Patrulha de Serviço. Jovens convidados a colaborar no curso.

           As sessões do Chefe Trovão eram admiráveis. Ele sempre tinha algum escondido na manga. Uma delas, sobre Projetos de Pioneiras foi marcante. Tocou a sua trombeta e lá fomos nós correndo em busca do ponto de reunião. Perdemos mais de cinco minutos para encontrá-lo. Estava em cima de uma árvore, a mais de 10 metros de altura. Mandou que nos reuníssemos a ele e não poderíamos usar a árvore em que estava e sim uma próxima distante a aproximadamente 12 metros. Ora, éramos trinta e dois adultos. Impossível, se conseguíssemos alçar uns quatro seria o muito. Deu-nos três horas e meia para resolver o problema. Neste ínterim um assistente nos deu alguns esboços, não tão bem feitos e nos mostrou uma pilha de material próximo aos chuveiros. Ele impassível, lá ficou a fumar seu intragável cachimbo. Cada patrulha ficou encarregada de uma tarefa. A nossa seria um elevador, outra faria o ninho de águia, outra a ponte de interseção ou ponte pênsil e a última um estrado para 30 pessoas. Três horas e meia não deu. Ele impassível nos deu mais meia hora. Fizemos o possível e aos trancos e barrancos, conseguimos colocar 25 de nós lá, o restante ficou abaixo do ponto de reunião naquela árvore.

          Foi um adestramento e tanto. Divertido, nos tirou da sala, do cochilo, pois alguns membros da equipe nos fazia dormir. A noite outra chamada dele, na pequena mata em volta do Campo Escola. Quando tentávamos nos aproximar, ele desaparecia. Ficamos assim aturdidos, sem saber onde ele estava e logo seu berrante nos chamava novamente. Meia hora depois o encontramos, sentado em uma pequena tora de madeira, a tomar um café quente e fumegante. (onde tinha feito não sei). Convidou-nos para ascender um fogo, que logo crepitou iluminando a área. Estávamos dentro da floresta. O amarelo da chamas dava um aspecto magnífico à pequena clareira. Cantou conosco lindas canções, improvisou danças escocesas (difíceis) canadenses, nos mostrou como os Índios Guaranis dançavam quando do descobrimento do Brasil, e mostrou como era fácil, pular a fogueira de olhos vendados por três vezes, e receber um nome de guerra indígena, escolhido individualmente por cada um. Uma tradição que deve existir em todas as tropas. Todos foram batizados. Eu recebi o nome de Araquém: que em tupi significa o Pássaro que dorme.  Ele não disse, mas achamos que no seu batismo foi chamado de Tupã, o trovão da chuva. Porque não sei. Explicou-nos que o jovem ao receber um cordão ou um distinto maior ali era o local certo para receber. Ele tinha de acender sua fogueira somente com um palito, e depois seu nome de guerra acompanhado do seu padrinho, escolhido na patrulha, após saltar por três vezes a fogueira de olhos vendados.

           O curso foi se desenvolvendo de maneira extraordinária. Olhe meus amigos, tinha feito muitos outros cursos, mas aquele estava me surpreendendo. Uma noite, às três da manhã, o berrante do chefe Trovão se fez ouvir novamente. O ponto de reunião era próximo da lagoa. Ali refletido nas águas calmas vimos um grande e belo espetáculo. Como se fosse um espelho, as estrelas davam um belo visual se refletindo no lago. Inimaginável! Foi a primeira vez que vi aquilo. Foi fácil identificar as Três Marias, o Escorpião, o Cruzeiro do Sul e tantas constelações que nos dão a posição exata onde estamos e onde podemos ir. Foi um verdadeiro adestramento técnico de orientação noturna. No sexto dia, estávamos esgotados. As patrulhas tentavam acompanhar, mas as pernas não ajudavam. Ouvimos de novo a trombeta do Chefe Trovão. Eram duas e meia da tarde. Com dificuldade conseguimos chegar até ele, na encosta do sopé da montanha, a trezentos metros do acampamento. Lá estava ele, deitado em uma esplêndida grama verdinha, e nos convidou para uma soneca. Incrível! Sem pestanejar ali deitamos e dormimos. Sonhamos sonhos lindos, pois soube que não houvera roncos e nem reclamações. Acordamos lá pelas tantas da noite. E o Chefe Trovão? Sumiu. Vimos que era mais de duas da manhã. Estávamos sem café e sem jantar.

            De novo o berrante do Chefe Trovão. Agora mais revigorados corremos e chegamos onde estava. No salão do Campo Escola, onde na mesa uma suculenta sopa de macarrão, com batatas, ovos, lingüiças, e pães fresquinhos nos esperavam. Um jantar fraternal às duas da manhã, 32 adultos, de calças curtas e chapelão de três bicos, a cantar, sorrir como meninos traquinas. Quem por ali passasse acharíamos que éramos um bando de malucos, excêntricos ou lunáticos. Quem sabe éramos mesmos? Tinha esquecido completamente da parte do “coisa-ruim” do o Chefe Trovão. Agora era um novo escotista. Um novo chefe. Diferente daquele que conheci no passado. Seus conhecimentos nos atingia dentro na nossa mente, seus ensinamentos eram impecáveis e sua maneira de mostrar como o escotismo deve ser era soberba. Segunda, sete dias depois, penúltimo dia. À tarde o jantar de confraternização. Cada patrulha escolheu seu cardápio e convidou dois de outras patrulhas. À noite o Fogo de Conselho. O Chefe Trovão orientou os Touros (ele dizia que o chefe nunca faz, só orienta) montaram um fogo diferente. Fez um estrado de um metro de altura, em cima montou um fogo Estrela e embaixo do estrado um fogo acolhedor (tipo quadrilha). Disse que assim não precisaríamos alimentá-lo durante o tempo que ali ficaríamos, ou seja, uma hora e meia. Foi lindo. Queimando suavemente em cima, e após algum tempo, o estrado deixava cair brasas e o fogo acolhedor acendeu com suntuosidade.

            O clarão amarelo do fogo na mata, as fagulhas, nos mostrava que não havia perigo de incêndio na floresta. O final foi uma apoteose. Quando cantávamos a Canção da Despedida, no meio da cadeia da fraternidade, desceram milhares de pequenas estrelas brilhantes, faiscantes, iluminando toda a clareira e quando terminou a canção. Com lagrimas descendo em todos os rostos ali presentes, uma coruja enorme, pousou no ombro do Chefe Trovão e piou seu uivo já conhecido, de uma maneira harmoniosa. Em seguida levantou vôo e foi pairar sobre as cabeças de todos os cursantes. Incrível! Era um espetáculo. Impossível não se comover. Impossível pensar algum ou mesmo como o Chefe Trovão estava fazendo tudo aquilo. Acho que só eu sabia e só eu o via agora, no meio do circulo dos chefes, a levitar acima do chão, com seus cabelos brancos soltos ao vento, braços estendidos, sorrindo, em sua volta aparições sem rosto, vestidos de branco e azul. Ficaram em volta de todos nós, jogando pétalas de rosas brancas como se fossem chuviscos ao amanhecer, cujo perfume era inigualável. Junto ao orvalho que começa a cair naquela clareira linda, todos, sem exceção estavam maravilhados, pois jamais tinham visto nada igual. Era Impossível descrever a beleza, a poesia do momento. Foi um fato que marcou em mim e creio em todos. Uma recordação tão fecunda que ficou gravado para sempre em minha memória.

           Na terça, pela manhã, final de curso, despedidas, abraços, lagrimas aqui e ali, alegria e a certeza de que foi um belo curso da Insígnia da Madeira. Histórico, sem precedentes e acredito que nunca mais haverá outro igual. Após a cerimônia de encerramento o Chefe Trovão desapareceu. Por muitos anos nunca mais ouvi falar nele. Até hoje tenho saudades de sua trombeta de suas aparições, de seus ideais, de seu conhecimento e de sua maneira grandiosa de dar a todos o conhecimento escoteiro que precisavam na labuta do seu dia a dia com a tropa. Cinco meses depois, absorto em uma reunião de tropa, eis que apareceu o Comissário Regional, pedindo se possível uma formatura de todos, pois ele tinha algum a comunicar. Ali, em ferradura ele me chamou e orgulhosamente me entregou o certificado da Insígnia da Madeira e pediu ao Chefe do Grupo que me colocasse o lenço e o colar. Não sabia o que pensar. Estava esperando pelo meu observador da parte III e soube então que o Chefe Trovão tinha avalizado esta parte e me mandou um pequeno bilhete, que dizia: – A um Chefe Escoteiro que por tudo que fez e faz, merece ser um membro da Equipe de Giwell. Volta a Giwell, terra boa, dizia. Um curso assim que eu possa vou tomar com você!

           Dez anos depois, muito tempo passado, estava eu absorto em um Acampamento Internacional de Patrulhas no Peru, conversando com alguns escoteiros da tropa, ouvi uma trombeta soando e aquele som não me era desconhecido. Tinha quer ser ele. Corri até lá e vi... Fica para uma próxima. Ninguém esquece assim o Chefe Trovão. Ele é imprevisível. Que saudades do banho das três e meia da manhã, do sabonete mágico, do curso da Insígnia da Madeira. Que saudades, tempos que já se foram e não voltam mais. Esteja você meu amigo Chefe Trovão onde estiver, lembre-se, sou e serei sempre seu admirador. Nunca vou esquecê-lo. Você entrou no meu coração e lá ficará para sempre.














AGORA EM PDF: - BLOCO 31 – OS CAMINHOS DA JÂNGAL. RECEBA PELO MEU E-
MAIL.

Costumo oferecer aos meus amigos e irmãos de ideal, muitas das minha publicações escoteiras sempre gratuitamente. Ainda me sinto um Pioneiro no seu lema Servir. Gosto de ajudar mesmo com os parcos conhecimentos que tenho do escotismo. Tenho notado que um bom número de Chefes e Assistentes do ramo Lobo têm apreciado muitas das minhas publicações, curtindo, compartilhando e comentando o que me dá uma enorme alegria. Pensando que poderia ajudar os novos que estão adentrando na Selva de Mowgli, simplesmente como um colaborador, estou disponibilizando várias publicações minhas ou retiradas da internet aos que estiverem interessados. Para tanto devem me enviar um e-mail dando dados de sua função na alcateia e me dando um Melhor Possível como pagamento. Vejamos alguns títulos oferecidos:
- Os contos da selva – Os contos do livro da selva – O Aguilhão do Rei. – A história da canção Gin Gan Goole. (sensacional) - Historias do Ramo Lobinho – A história do Lobo de Gubbio – Tigre, Tigre, Tigre! – Os Livros da Selva de Rudyar Kipling -  Os Lobos da Alcateia de Seeonee – Histórias para os lobinhos – A Embriagues da Primavera – As Danças da Jângal – Livro da Jângal Interpretação.
Muitos já possuem vários títulos do que publiquei anteriormente. Lembro que só posso atender com pedido no meu e-mail. Portanto não coloque seu pedido na pagina em que faço esta oferta. Meu e-mail: - Ferrazosvaldo@bol.com.br
Agora é com você. Se um dia nos encontrarmos aqui na terra ou no céu, aceito um aperto de mão e um fraterno abraço. Sempre Alerta para Servir!... Você!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Surpresa! Eu tenho muitos amigos que me querem bem!




Surpresa! Eu tenho muitos amigos que me querem bem!

Ontem despretensiosamente publiquei no meu boa noite diário que faço sempre quando vou dormir uma despedida de um escritor que desiludido decidiu encerrar sua participação na área que atua. (veja no Blog boanoiteescoteiro ou nas minhas páginas do Facebook). E eis que assustado vi que muitos acharam que era eu, outros que seria uma “pegadinha”. Emocionado vi que tem muitos que me acompanham na trilha escoteira das redes sociais que escolhi e se entristeciam com minha saída. É bom saber que tenho muitos amigos e irmãos escoteiros que se preocupam comigo. Difícil receber tantos incentivos mesmo sabendo que ainda não é hora de parar. Às vezes me declino em dizer que poeta e escritor nunca fui quem sabe um arremedo de aprendiz o que sempre fiz na minha lide escoteira. Na juventude toquei violão e harmônica por necessidade já que na Patrulha ninguém tocava um instrumento musical. Gaiteiro de terceira riam de mim quando tentava acompanhar uma “árvore da montanha” ou outra melodia escoteira. Violonista só sabia duas posições e mais nada. Depois à medida que a idade avançava comecei a escrever minhas memorias que ficaram na gaveta do esquecimento.

Foram assim meus primeiros passos a escrever histórias Escoteiras e crônicas algumas com intuito de informação ou aprendizado e outras devido aos meus contratempos com a nossa liderança, com sua falta de ética, e o estilo prepotente daqueles que tinham mil ideias para o escotismo que achava seu. (não são todos). Para evitar contratempos com a direção da Escoteiros do Brasil me desliguei do cordão umbilical Uebeano. Precisava ter liberdade para dizer o que sentia e pensava sem receber admoestações e censuras por parte de alguns que ainda não tinham revisto com carinho os artigos da Lei do Escoteiro. Quando dei meus primeiros passos no escotismo nem sabia que exista uma Associação que nos dava condições de conhecimento, material e incentivo no nosso Brasil. Só mais tarde é que descobri a UEB e dela nunca mais me separei.

Os tempos são outros. Já não estou mais correndo pelas campinas ao lado dos jovens idealistas que se arriscam a escalar as serranias, ou a arvorar uma bandeira em um vale qualquer. No meu percurso por todos estes anos vi e senti na pele que ainda temos muito a aprender dos ideais de BP, seja pelo exemplo, seja pelo respeito e também pela fraternidade que ele acreditava que iria existir entre nos participantes do Escotismo. Muitas vezes me desiludi. Muitas vezes fui perseguido e caluniado como sendo um farsante escoteiro querendo ser o que não era. Também confesso que nunca fui santo. Pensei em sair, pensei em abandonar tudo que um dia fez parte da minha vida. Fui convidado por outros que se sentiam como eu a mudar o rumo em uma nova associação escoteira. Não era o que queria. Meu coração era da UEB.

Os anos marcam, a vida nos ensina caminhos que muitas vezes achamos que não iriamos encontrar. Até hoje me lembro de quando lobo e depois escoteiro prometi a Deus e a Patria cumprir a Lei. Ainda costumo falhar nesta minha missão, mas fiz o melhor possível. Respeito às novas associações escoteiras, mas todas elas não seriam uma escolha razoável para um Velho Chefe Escoteiro como eu. Mas vamos falar de coisas boas, e olhe que surpreso não sabia que tantos me seguiam sem eu saber quem são. Afinal ter amigos assim me envaidece e me sinto como um Velho Professor Escoteiro que não arreda o pé de suas ideias e seus ideais e tem em sua volta tantos que pensam como eu seguindo na sombra dos meus textos e espero que eles possam um dia ficar guardado na memória de cada um de vocês.

Muito obrigado a todos que me querem bem. Meu fraterno abraço e sorrindo digo: O Escoteiro é amigo de todos e irmãos dos demais escoteiros. Não será agora que vou subir a montanha. O futuro a Deus pertence. Um dia irei seguir o meu destino. O meu acampamento final ainda não aconteceu. Há vocês meu Bravôo e meu agradecimento. De pé, fazendo uma saudação e uma curvatura tiro meu chapéu para todos que mesmo longe sem ouvir a voz ou ver a meiguice do olhar estão batalhando nesta bela ideia de Baden-Powell. E eu a moda antiga os saúdo...
 Arrê! Arrê! Arrê! Pru Brasil? Maracatu!

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Era uma vez... O Escotismo de Baden-Powell.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Era uma vez... O Escotismo de Baden-Powell.

... – Apenas um desabafo, uma decepção. Há tempos escrevo que estão roubando o meu sonho de menino e de Chefe escoteiro... Não condeno, não tenho direitos. Nem registro tenho! Afinal nem menino eu sou! Sou apenas um Velho Chefe Escoteiro perdido no meio da multidão, que se agarra com vento que parte sem direção... Adeus meu Chefe BP, para alguns você nem existe mais. Adeus meu garbo, adeus minha farda, adeus minha primeira classe, adeus meu sonho de Gilwell, tempos que não voltam mais! 

- Meus escritos muitas vezes não são para os que estão começando no escotismo feito sob encomenda pelos detentores do poder da Escoteiros do Brasil. Sei que isto não é novidade. A linda disciplina escoteira não deixa que mude de direção. A tradição o passado ficou para trás. Seu APF lhe mostra o novo caminho. Dificilmente vai lhe dar conhecimentos de como era o escotismo no passado. Poderá sim contar histórias de BP, mas sempre ferrenho no que aprendeu em seu curso e que hoje tem orgulho de ser quem é. Como eu são poucos que ainda mantem suas raízes escoteiras. Muitos dos antigos, dos velhos escoteiros, dos Lobos que nunca dormem, dos Impisa, dos chamados Velhos Lobos, dos camaradas que se foram e já guardaram no fundo do baú, sua tralha, sua farda, sua manta, seus apetrechos que tão duramente conquistou. Os antigos adestradores, chamados de DCB e DCIM colocaram a viola no saco e saíram por ai cantando baixinho: - Mudei de nome, minha sina escoteira agora é outra. Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus!

- Os defensores dos novos tempos dizem que o Sistema de Patrulhas, o método e o programa de BP não perdeu a memória. Mas não explicaram por que eles na maioria dos cursos estes temas nem acontece mais. Agora é uma metodologia, mais burocrática, menos técnica e o antigo Sistema de Patrulhas de Gilwell deu lugar à sala de aula com cadeiras mesa e quadro negro. Os doutores do saber escoteiro em nome de uma nova metodologia deram adeus às tradições, tão desrespeitadas e sempre alteradas para satisfação de um ego, busca da fama e ter seu nome marcado nos anais da história escoteira. Sempre a dizer que temos um escotismo moderno, vivo, com novas nuances de programação, apresentação e conhecimento. Dizem que uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade.

Mas eu na minha inocência de velhote do passado pergunto: ... Onde estão os resultados? Onde os homens escoteiros desta nova fase estão? Temos lideres empresariais? Temos pensadores famosos defendendo o valor da formação escoteira na comunidade? Tem educadores com PHD, Professores de alto saber com suas teses enaltecendo o Escotismo de Baden-Powell? Se existem desconheço. Vi há tempos um cantor que vestiram nele o vestuário, fotografado e sumiu na multidão. Gritaram Bravôo com a apresentação da Turma da Mônica apresentada com o novo vestuário escoteiro dando ideia que agora sim, o escotismo seria reconhecido pela juventude brasileira. Até agora nada vi e nada vejo. Morreu no nascedouro? O que estão fazendo com meu escotismo? Meu escotismo não, de muitos que como eu simbolizaram uma época de ouro, enaltecida para desgosto de alguns que não tiveram uma infância aventureira.

Outro dia postei um pedaço da história de Caio Vianna Martins. Muitos compartilhamento. O que a Escoteiros do Brasil fez? Um pequeno apanhado do desastre e mais nada. Investigaram? Ou será que a vida do jovem Caio não tem nada de interessante? Dizem que logo chegaremos aos duzentos mil... Tento entender a democracia escoteira, pois nem sei se ela existe. Só vejo alguns dizendo: - A EB baixou uma norma, a Região disse que agora é assim, o Distrito com novo nome nas reuniões determina o certo e o errado. Quem ousa manifestar está fadado a uma admoestação ou uma exoneração. Bendito “Conselho de Ética” dizem alguns. Sei que falo para o vento, quem sabe para os que partiram nada mais que um alento, uma lembrança do seu escotismo. Ou seja, “aquele que anda só”. O que nos diferenciava de um sindicado, de uma associação local ou nacional acabou. Agora temos assembleias e não mais conselhos. Diretores estão para todo lado. O Velho Chefe de Grupo mudou para presidente e uma briga de foice no escuro acontece nas assembleias de qualquer hierarquia.

- Os cursos se tornaram burocráticos. Agora se faz com cadeiras, mesas, quadro negro e uma parafernália eletrônica de fazer inveja. Vivencia escoteira? Adestrando chefes? Trabalhando com monitores? Não meu caro. Os novos Grupos admitem centenas e já dão direito a usar lenços escoteiros e num belo dia lá estão todos “Jurando a Bandeira”. Promessa por atacado! Lobo não vai mais para a Jangal. Vai para atividades distritais, regionais e nacional. É mais fácil, mais divertido para os chefes da Jângal se confraternizarem. Só falta aparecer uma líder nacional para dizer que agora acabou a Jangal, vamos valorizar os Arranha-céus. E assim de passo em passo vão mudando e esquecendo as tradições. Serão eles responsabilizados pelo fracasso algum dia? Quem em sã consciência irá dizer que estavam errados? Souberam alguma vez de um alto coturno nas lides do poder escoteiro que foi para a Comissão de Ética, admoestado e exonerado?

- Tudo que tínhamos para manter nossas tradições, nossos valores, nossos símbolos aos poucos são esquecidos e cancelados. Vi e não acreditei que uma nova normativa uma norma chamada de 010/2019 acabou com as Siglas DCB e DCIM. Há tempos não existem mais os ADCC DCC e os AAKL. Agora temos o DCI e o DCA! Basta você ser da corte, fazer os cursos avançados solicitados e sai de lá com sua terceira conta e fazendo outros com a quarta! As exigências técnicas e de vivencia escoteira acabaram. Será assim em Gilwell Park? Como não tenho direitos as passagens internacionais não fui lá e nem sei se as velhas tradições iniciadas por BP, por Francis Gidney e quem sabe para ver como é. Quem sabe alguém irá dizer que foi ele quem introduziu o anel traçado? Adeus Dinizulu o rei dos Zulus! Acredito que em pouco tempo alguém vai mudar o “tartan” dos Maclaren e colocar o seu! Mas temos lords aqui? Pois é se Bolsonaro dispensar o Abraham Weintraub, ele irá organizar e melhorar nossos cursos. Não é elogiado pelo ENEM?

A continuar assim breve Brownsea vai perder o iceberg da história. O Major Keneth MacLaren nunca mais irá contar o que se passou naqueles dias junto a BP e viver com os Corvos, os Lobos, os Maçaricos e os Touros. Pela primeira vez postei meu certificado de um Curso Avançado que fiz. Estava no fundo do meu Baú devidamente catalogado! Sei que ele não vale nada, mas tem um enorme valor para mim. Gosto de repetir John Thurman, antigo Chefe de Gilwell e seu artigo chamado de “Os Sete Perigos”. Suas palavras marcaram fundo. Um dia vou publicar novamente tudo o que ele escreveu, Mas fica aqui suas últimas frases para que os chefes e dirigentes meditem. (Se é que valorizam tais frases): - “É por isso que devemos manter o escotismo dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou. - OS ÚNICOS CAPAZES E POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES”!

domingo, 26 de janeiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O tempo, o vento... E eu!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O tempo, o vento... E eu!

... – Inspirado com a longevidade que me acomoda ou me incomoda, soletrei palavras inconsistentes nesta narrativa e no meu modo de pensar resumi o meu Escotismo de ontem e de hoje. Se não me fiz entender peço escusas e me isentem da caduquice de que sou possuído. Afinal queira ou não meu coração ainda é escoteiro!

- Longevidade... Quem passou por isso? Uma vida inteira percorrendo caminhos sem saber se eram os melhores para prosseguir. Dizem os doutores linguísticos que longevidade é a longa duração da vida, característica do que dura muito tempo. Estou eu assim tão preocupado com minha velhice? Talvez... Dizem os filósofos que cada dia que amanhece é um novo amanhã que acontece. Absorto nos meus pensamentos voejo no tempo caminhando de mãos dadas com minhas várias estradas que percorri sem saber onde ia dar. Leio com desgosto que alguns preferiram voltar... Não deu... Recomeçar? Talvez quem sabe! Grego? Latim? Que idioma preferem que eu diga do saudosista escoteiro que sabe que o caminho a seguir mudou de rumo e direção?

Ah! Minha primeira estrada escoteira... Amigos em profusão, respeito e abnegação. Mas o longevo escoteiro teve de pular etapas para chegar ao seu apogeu... Que não aconteceu. Pedras soltas parecendo pedaços de gelo na mata do Quati no meio do caminho. Ainda imberbe moço metido a Chefe, brinquei, corri, cantei fiz de BP meu ídolo ideal. Jogaram-me responsabilidade... Não de meninos, nada disso. De varões como eu que devia comandar! Comandar? Logo eu? Mas nas tratativas do programa lá fui eu percorrendo uma nova trilha, até então desconhecida para navegar. Tropecei nas cores bipidiana fazendo um escotismo de serras a sotavento, seguindo o vento pensando até onde ele ia me levar...

Pulo o obstáculo no meio do caminho. Alguns se interpõe entre eu e meus ideais. Acreditava e ainda acredito que temos uma combinação, uma empatia desembocando numa fraternidade incrivelmente bela! Não... Não era assim. Pisaram no meu pé, tentaram me desqualificar alguns até mesmo a odiar esse pobre escoteiro que nunca fez mal a ninguém. Pensei em correr, desistir, afinal qual era o meu salário? Olhei de banda, não vi meu holerite. Dei uma pausa na jornada, meus amigos eram poucos e em poucos eu podia confiar. Corri como uma desengonçada gazela procurando o esconderijo... Cheios de miúdos, curumins de farda, sorrisos largos, alguns me dando a mão e dizendo: - Vamos Chefe acampar por aí, barraca no costado, lampião a querosene, fogão de barro... Ufa! Ali sim encontrei o meu lugar, e era aonde eu ia ficar.

Procurei ficar longe da soldadesca escoteira no alto dos seus coturnos de chicote na mão! Faça isso! Faça aquilo! Pulem a cerca de BP, esqueçam o velhinho encantado! E eles como feitores de escravos determinavam novos caminhos, perseguiam o método que aprendi, diziam que um novo sol iria aparecer. E ai de quem atravesse seu caminho. Pensei em contestar a controvérsia dos novos eruditos que diziam ter um saber sem igual. Mas eis que descobri o novo projeto, como se fosse um sonho de liberdade, corri a mais não poder. Eles queriam fora os longevos, para eles traidores da nova ortodoxia que implantavam em uma verdadeira lavagem cerebral...

Tornaram senhores feudais do engenho escoteiro. Os novos inocentes que chegaram para ajudar sem soldo, pensavam em ver bambinos alegres, bandeiras ao vento, curtindo acampamentos nas matas do meu Brasil. Não era isso? Engano meu? Mas e as normas, o tal do ECA? Eca meu Deus! BP no alto do seu saber, no céu não sabia o que dizer. Alguns mais afoitos diziam: - Adoro ver o novo programa escoteiro da novela das oito! Dizer o que? Alinhar com seus novos pensadores? Revoltar? Isto posto tinha normas, tinha malevolência, insinuações, repreensões dos que movidos pelo desejo de comandar não perdoavam os que se arriscavam a perguntar: - E BP? E BP? E eles no altar da sabedoria diziam: - Faria o que fazemos e ainda aplaudiria com a palma escoteira se estivesse aqui! Fico pensando se ele sabia dar essa palma...

A supremacia era o mal menor. Poucos se arriscavam e em um belo momento ouviam o sussurro amplamente gritado: - Ou obedece ou rua! A garotagem enganada dos marmanjos sabidos seguiam o rumo da boiada... Aonde a vaca vai, o boi vai atrás! Aqueles novos autores dos direitos autorais da Escoteiro do Brasil, soltavam as velas, rumo? Risadas geral... A bussola quebrou, as estrelas sumiram do céu... O sol que caminhava para o oeste se perdeu no vendaval que se formou. Enquanto isso a luta pelo poder continuava. Não importava onde. Briga de foice no escuro? Quem dera... Pelo menos iria sentir a dor da duvida se devia ou não lutar.

E eu, forçado na quimera, na fabula da fantasia, já na longevidade dos meus dias, vendo o caminho sem volta pensativo burlava o burlesco fanfarrão de alguns que nos auspícios do poder sonhavam a mais no poder, em crescer, chegar a um milhão! O reduzido lacônico da contribuição paga pelo Escoteirinho de Brejo Seco submergiam nas asas dos Boeing voadores nas fenomenais viagens dos Diretores Internacionais. Enquanto os portentosos se refastelavam em hotéis mil estrelas, os novos chegados se contentavam em quartinhos salameques único que podiam financiar.

Enfim... A longevidade está chegando ao fim. O Velho Chefe Escoteiro sorrindo nesta bela tarde de verão, se lembrou do que disse o replicante Roy Batty a Deckard enquanto chovia no filme Blade Runner: Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. “Caio Vianna Martins” Uma história de heróis para ser lembrada por todo o sempre!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“Caio Vianna Martins”
Uma história de heróis para ser lembrada por todo o sempre!

          Nada poderia impedir o desastre. Nada. A velocidade do cargueiro era grande e ambos os maquinistas sabiam o que ia acontecer. Os freios rangeram, os apitos soaram e a batida veio forte. Estrondos se fizeram ouvir. Vagões foram expulsos da linha, jogados em uma ribanceira. Eram duas horas e cinco minutos da madrugada. Uma madrugada que entrou para a história. Um engavetamento monstro se formou. Alguns vagões ficaram irreconhecíveis. 19 de dezembro. A cinco dias do natal. Ano de 1938.

           O carro dos escoteiros saltou dos trilhos e atravessou para a direita. Outro carro colidiu com ele engavetando e o partindo ao meio. O vagão prensado deitou-se em um barranco sendo comprimido por muitos outros. Gritos. Pedidos de socorro, tudo escuro, não se via nada. Noite sem lua. O chefe Clairmont e o chefe Rubens acordaram e sentiram tudo. Estavam apenas com alguns arranhões. Atônitos viram o desespero dos passageiros.

         Gritos de socorro, gemidos, o barulho da colisão agora se fazia em menor escala. Clairmont e Rubens se puseram na ativa. Ali começou seu trabalho de escotistas na hora do perigo. Os chefes Escoteiros sabem que um dia terão de agir e esta hora chegou para Clairmont e Rubens. A seu modo eles também foram heróis. Poucos se lembram deles. Seus nomes foram esquecidos. Reuniram todos os jovens em um ponto da estrada. Deram falta do Escoteiro Hélio Marcos e do Lobinho Gérson Issa Satuf. Procuraram e os encontraram mortos embaixo de escombros.

          Impossível descrever tudo nos seus detalhes mais íntimos. Era uma carnificina. Feridos gritavam e a escuridão não ajudava na localização. As duas patrulhas e os pioneiros fizeram uma grande fogueira. Usaram madeiras destroçadas dos vagões. A única luz que ali poderia ajudar naquela hora fatídica. O pânico reinava.  Clairmont e Rubens batalhavam. Com os pioneiros e escoteiros que nada sofreram socorriam os feridos, fizeram macas para os casos mais graves e o resgate prosseguia, mas agora mais devagar.

        Caio cambaleante ajudava como podia fazendo tipoias, estancando sangue de feridos, e até ajudou na remoção de alguns feridos até o um vagão dormitório que permaneceu intacto e serviu de pronto socorro. Caio havia recebido uma forte pancada na região lombar. Quase não comentava a dor intensa que sentia. Só às sete da manhã chegou o socorro com médicos e enfermeiros da cidade de Barbacena.

         Fora uma madrugada terrível. Os passageiros que nada sofreram trabalharam incansavelmente. Clairmont e Rubens estavam esgotados. Não pararam um só instante. Dois heróis. Dois homens que tinham a carisma dos grandes heróis anônimos que surgem e nunca são lembrados. Quando a maioria dos feridos tinha sido removida, viram Caio claudicando, sentindo dores terríveis. Tentaram levá-lo. Ele não aceitou. Disse e apontava para as vitimas que pareciam em estado mais grave e dizia, há muitos feridos. Eu não estou tão ferido como eles. Recusou a maca.

       A história como disse é cheia de fatos heroicos. Eles surgem assim do nada. Caio Vianna Martins é um deles. Nunca pensou que ficaria como o grande herói do escotismo nacional. Não disse suas belas palavras por dizer. Saiu naturalmente. Viram que ele estava cambaleante, e seus olhos piscavam. Seus lábios tremiam uma golfada de sangue saiu de sua boca e mesmo assim não deixou em tempo algum que o carregassem. Disse para todos o que ficaria como a mais bela frase já dita por uma legião de heróis – “Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os outros, eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”!

         Saiu caminhando e desfaleceu sendo levado à cidade de Barbacena. Morreu horas mais tarde em consequência dos rompimentos das vísceras e de uma intensa hemorragia interna. Poucos o ouviram pronunciar essas palavras. Alguns escoteiros e alguns enfermeiros. Elas foram comunicadas a nação e ao mundo graças a dois homens públicos que lá estavam na hora. Eles foram testemunhas da história. Alcides Lins e Otacílio Negrão de Lima. Este último ficou conhecido como um grande político mineiro. Eles ficaram impressionados com o que viram. Não só pelas palavras de Caio como a ação dos escoteiros na ajuda aos feridos.

             Levaram aos jornais o que tinham assistido. O mundo inteiro ficou sabendo que o Brasil também forja homens e jovens com a desenvoltura de Caio Vianna Martins e seus amigos escoteiros. As manchetes dos jornais e rádios correram por toda a parte. Reconheciam no gesto de Caio Martins um fato marcante na mente dos jovens que fazem parte desta nossa bela fraternidade. Caio foi escolhido e eleito como o símbolo Escoteiro no Brasil.

            Seu nome ficou gravado na história. Praças, monumentos, e até um estádio de futebol tem seu nome. Estádio Caio Martins. Sua fama faz parte do nosso orgulho Escoteiro. Caio Vianna Martins, Gerson Issa Satuf e Hélio Marcos de Oliveira Santos, foram sepultados em uma tarde de dezembro, véspera de natal, no cemitério Bom Fim, na zona norte de Belo Horizonte.   
     
           Hoje seu Grupo no Colégio Afonso Arinos não existe mais. Mas uma placa de bronze é vista por todos do herói e seus amigos Escoteiros pelos alunos que por anos e anos cursaram suas salas. Esta é uma historia contada aqui e ali em pedaços imaginários e reais. Caio e seu gesto foram uma realidade. Ninguém pode duvidar.
                 
Em memória a Caio Vianna Martins, Gerson Issa Satuf e Hélio Marcos de Oliveira Santos, saudemos no panteão da glória e dos heróis nacionais com o nosso:
SEMPRE ALERTA! E tiramos o chapéu com o Grito de guerra da União dos escoteiros do Brasil – Anrê – Anrê – Anrê! – Pró Brasil? Maracatu! 

“Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. Ajudem os outros, Eu sou um Escoteiro e o Escoteiro caminha com suas próprias pernas”!

Estoicismo
(Noticia publicada em jornais em todo Brasil) – dezembro 1938.
Passou provavelmente despercebida, nas notícias pormenorizadas sobre a última catástrofe da Central, a serena coragem daquele pequeno Escoteiro, uma criança de quinze anos, que estando gravemente ferida, os que o queriam levar em maca para o hospital, dizendo com um sorriso de homem forte: "Um Escoteiro caminha com suas próprias pernas". E caminhou. E foi, mas foi para morrer, poucas horas depois, no leito em que o colocaram para uma tentativa de salvação. Este menino de quinze anos honrou o nome e deu um exemplo a todos os Escoteiros do País. E mostrou a muita gente grande que um Escoteiro sabe sorrir para morte que o acompanha de perto.
Se um dia for erguido qualquer monumento ao "Escoteiro Desconhecido", a lembrança do estoicismo desta criança resumirá a bravura de uma geração de Escoteiros do Brasil.
                                                                                                   
                 Descrição: Descrição: Grupo Escoteiro Tabapuan


Nota do autor
Em julho de 1973, na cidade de Matozinhos, comemorando o cinquentenário de nascimento de Caio Vianna Martins, fizemos a entrega da medalha de Valor ouro, post-mortem a Caio Viana Martins através de seu irmão ali presente. Foi uma cerimônia simples, com altas autoridades executivas, educacionais e políticas. Presentes mais de 600 escoteiros mineiros e uns poucos convidados de outros estados que ali fizeram o primeiro acampamento da fraternidade.

Chefe Osvaldo Ferraz.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Livros em PDF a disposição.




A disposição gratuitamente 5 livros em PDF de Grandes histórias e aventuras Escoteiras.

- Há alguns anos resolvi escrever histórias escoteiras mais longas, contando a saga de patrulhas nas suas atividades aventureiras. Foi prazeroso ver o numero de pedidos atendidos por e-mail. Recebi centenas de comentários sobre os livros em PDF. Passados cinco anos resolvi coloca-los novamente a disposição. Tudo começou quando escrevi “A PATRULHA DA ESPERANÇA” onde seis meninas escoteiras fizeram um pacto de sangue para permaneceram juntas por toda a vida e até na eternidade sob a égide da mesma Patrulha. Contada em flashback a história vai se desenrolando no passado e no presente. Surpreendente e emocionante. Vale a pena ler. Posteriormente escrevi “O ESTRANHO FUNERAL DO CHEFE GAFANHOTO”. Um jovem Chefe é surpreendido com a morte por linchamento do seu antigo Chefe Escoteiro que sempre amou. Não acreditou no que leu nos jornais e partiu para investigar o que aconteceu em sua cidade de origem. Os fatos, os culpados, os antigos amigos da Patrulha o ajudaram a desvendar a trama que fizeram contra ele. Uma história digna de “Hercules Poirot”. Meses depois escrevi “O COMISSÁRIO LEOCÁCIO”. Um simples Chefe do interior, de origem humilde sem ter cursado faculdade, é escolhido para ser o Comissário Regional de um Estado Brasileiro. O conto se passa entre os anos de 1930 a 1940 onde os valores universitários estavam sendo valorizados no escotismo. O final surpreendente dá uma visão do Escotismo naquela época. Porque não um Grande Jogo noturno? E eis que escrevi “O FANTÁSTICO JOGO NOTURNO NA ILHA DO GAVIÃO NEGRO”. Uma ilha misteriosa, quatro patrulhas sedentas de aventura, o enfrentamento dos gaviões, o silencio da floresta e o homem misterioso que transformou um simples jogo numa grande aventura. Vale a pena conhecer o Sistema de Patrulhas nas mãos de grandes Monitores. Nesse interim escrevi um conto sobre a história de um jovem palestino recém-chegado ao Brasil. Foi então que surgiu a ideia de escrever o quinto conto da série: - A LENDA DO TESOURO PERDIDO NO DESERTO DE NEGEV. Um tesouro escondido, um pirata ainda vivo, história passada na palestina tem todo o sabor da Terra Prometida onde o Senhor viveu e morreu.

Á ideia era que fossem editados como livro de bolso para ser levado facilmente pelos aficionados de histórias escoteiras. Não foi possível assim os coloquei a disposição de quem quisesse ler as histórias em PDF.  

Gostaria de ler? De ter em seus arquivos esses cinco contos escoteiros? Não são longos, média de 30 a 70 páginas por conto. Se interessar me mande um e-mail solicitando o BLOCO 30 (os livros escoteiros em PDF) e terei prazer em atendê-lo.

Escreva para mim no e-mail ferrazosvaldo@bol.com.br e não esqueça, fale um pouco de você. Gostaria de saber quem está lendo minhas histórias escoteiras.

Não faça seu pedido aqui. Só atendo pelo meu e-mail. Obrigado.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Qual o melhor acampamento para você?




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Qual o melhor acampamento para você?

... - Acampar! Bom demais! Viver em plena natureza, ouvir o cantar dos pássaros, brincar com o pé na água fria cristalina de um riacho, de gritar “Madeiraaaa”! De um nó de frade, um de pescador, um Balso pelo seio, uma amarra quadrada e finalmente uma costura de arremate... E então olhar sua construção e se orgulhar. Bom demais uma pescaria, construir uma armadilha para pássaros e depois soltar! Bom demais um Comando Crow, uma cadeira de bombeiro em cima de um remanso, cair na água e morrer de rir. E construir o Caminho de Tarzan? Ou em uma tardinha esperando o cozinheiro terminar sua boia em volta da mesa lonada, dos bancos construídos, dos jogos noturnos e o barulho dos pratos nas mãos esperando o jantar. Depois, pois, pois... O fogo de Conselho. Demais. Aplausos, Esquetes, o fogo crepitando, uma coruja pia, ao longe ouvir o Uirapuru cantar. E já terminando com a fogueira só brasas, dar as mãos, cantar, e finalmente dizer: Meu irmão escoteiro, não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus!

- Todos dizem e repetem que não existem nada melhor no escotismo que o acampamento. Acampar realmente é uma aventura sem igual. Tem acampamentos que deixam saudades, mas tem outros que duram uma eternidade e existe uma torcida silenciosa pedindo para ele não acabar. Hoje dizem que já não se pode fazer acampamentos nos moldes de Gilwell. Falta de local, falta de material, falta de madeirame, falta de tudo. É discutível. Vejo filmes e fotos de escoteiros europeus e americanos no Youtube e no Google com a escoteirada mandando ver. Fazem pioneiras, fossas, fazem excursões em lugares lindos de morrer. E aqui não pode? Ou não tem? Beleza! Lá todos estão sempre uniformizados! E aqui?

Acredito que cada um sabe onde o sapato aperta. Fico com pena dos jovens de hoje nos acampamentos de mentirinha que chamam de Jamboree, Jampam, ajuri, ELO e tantos mais. Todos na fila para pegar suas “quentinhas”; Existem “acampamentos” com as sessões misturadas, chefes sentado em cadeira de praia, pais dando “pitaco” de olho no seu rebento. Dizem que é um sistema de Patrulha diferente... Será? Já vi um deles, monitores cansados e preparando a Patrulha para pular no barro. Só assim se divertem. Pelo menos isto não? Sem desmerecer nenhum barreiro que encontraram ou fizeram por aí. Mas o verdadeiro acampamento, por Patrulha, com seu campo próprio, com sua cozinha, com suas pioneirías, com sua liberdade sem o Chefe ensinando é bom demais.

Algumas tropas adoram acampamentos distritais, regionais e ou mesmo os Jamborees Internacionais e Nacionais. Tem chefes que juntam seu rico dinheirinho para pagar os gastos de passagem, de hospedagem, das taxas de campo dos lenços feitos para trocar ou vender, dos distintivos do escambal. Não vejo muitos falando nos meninos. Até mesmo fico em dúvida se não são chefes turistas. Largam seus lobos para trás ou dão férias. Alguns levam de Mulambo alguns seniores ou guias que papai tem Money para pagar. Não confundir, nem todos são assim. Eu tive a sorte de participar de acampamentos de tirar o chapéu. Descrevê-los hoje seria uma leviandade para alguns novos e teria que ter um tempo enorme para contar. Acampamento bom é aquele difícil, com chuva da boa, com vento jogando a barraca no chão, com pioneirías caindo, com bois invadindo, com onça rosnando a noite, com feijão queimado, com bife torriscado e uma sopa cheia de preparados de capim, mosquitos e o diabo a quatro!

Dizem que no passado tínhamos bons acampamentos Distritais, Regionais e até mesmo os Nacionais. Dizem que ainda existem bons acampamentos a moda de Gilwell em muitos grupos por aí. Sei que cada estado tem sua característica quando monta seu Jamboree.

Mas necas de taxas, de soberba, de ser o maior, de chefes pagando para ser “Staff”. Ali o sistema de patrulhas é mera fantasia que nunca existiu. Dizem que nos grandes acampamentos é difícil ter a Patrulha completa participando. Já pensou o maior Jamboree do mundo que aconteceu na Suécia com mais de 40.000 participantes? Gente demais. Dizem que nos Estados Unidos foram mais de 80.000 e só não foi mais porque fecharam as inscrições. Nem sei se dava para abraçar todo mundo. Sei que a Escoteiros do Brasil tá em todas. A maioria chefes. Um dia vão organizar o Escotismo Adulto que hoje já é praticado na Europa.

Mas aqueles menorzinho, de 400, 600 e até 1000 participantes eram “supimpas” como se diz, feitos à moda antiga. Patrulha completa, entrando no campo cantando o Rataplã levantando seu totem, sorridentes e dizendo: - Chefe Onde é nosso Sub. Campo? Existia isso assim. Sub. Campo, com Chefe e Assistente. Eu mesmo tive a honra de ser um Chefe de um Sub. Campo Sênior com 36 patrulhas e não me cobraram taxas. Que orgulho em formar, vibrar com seus gritos de patrulha, seus abraços e apresentar: - Chefe De Campo, orgulhosamente apresento o Sub Campo Sênior Anhanguera... Sempre Alerta! As patrulhas se preparavam com antecedência. O material nos trinques. Sapa bem oleado e afiado. As panelas brilhavam. Muitas levavam seu bornal de víveres. Nada de ganhar ou comprar. Ali o intendente ficava de ouvido aberto esperando o berrante tocar para correr e receber a cesta de alimentos na Intendência geral. A taxa qualquer um poderia pagar. O Chefe o Distrital ou o Regional davam duro para conseguir uma intendência de víveres para todos. Era mesmo uma festa quando se ouvia um silvo longo de um chifre de Kudu. A turma batia palmas vendo os intendentes correndo a galope para atender ao Intendente Geral do campo. Eita, que saudades... Bom demais!

Hoje tudo mudou. É moderno. Tem restaurante tem gente que paga taxa para ser um “Staff”. Tem outros que prefiro chamar de turistas que vão para papear, ficar com as chefes, guias e os escambal e depois contar prosa do que fizeram ou deixaram de fazer. Dizem que o palavrão faz parte, que a indisciplina também, mas sei que tem uma turma que obedece a lei, e sabe como se porta um escoteiro no campo. Dizem que tem um bom numero de chefes que se divertem gostam das brincadeiras, dos desafios e da liberdade que em outros lugares não tem. Nada diferente de Acampamento de Férias muito usado por aí!

Como diz um frequentador assíduo hoje tudo é moderno. Tenho minhas dúvidas se esta mania de grandeza já está em curso o Jamboree dos cem mil e quem sabe de um milhão de chefes e duzentos escoteiros presentes? Como dizia meu Compadre Wander, lá no céu nos espiando: - “tem gente que gosta”. Mas meus amigos e inimigos (juro que não sei quem são) o melhor acampamento, o melhor mesmo é aquele de Patrulha, todos amigos e irmãos, construindo um belo fogão, uma bela mesa, uns bancos rústicos e na hora das refeições brincar, bater a canequinha no prato, o garfo zanzando no prato, comer, cantar e dizer: - Chefe! Quando vai haver outro como este? Pois é, quem já fez sabe como é e sabe também que o verdadeiro acampamento é aquele que faz a Patrulha unida e prepara o escoteiro ou escoteira em uma pessoa de verdade, com ética, com honra, com lealdade e sem esquecer com grande fraternidade!

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020



Crônica de um velho Chefe escoteiro.
Escotismo vale a pena à dedicação?

Nota: - Ouvi de um Chefe declarando o seu amor ao Escotismo: - No dia que entrei no movimento Escoteiro, não tinha ideia do nível de importância que ele conquistaria em minha vida. Sem saber, cruzei meu caminho com ele e, de repente tudo passou a fazer mais sentido. Foi então que me completei até o dia que descobri que meus caminhos poderiam ser outros.

                         Em uma roda de chefes em volta de uma fogueira, escutava uma discussão acalorada entre os mais afoitos escotistas que o mundo já conheceu. Pelo menos na palavra deles. Surpreso ouvi essa pérola: “No escotismo descobri que o mínimo já é o máximo”. E só de estar junto aos jovens e meus amigos escoteiros sinto que a vida flui e se torna mais fácil! Bom isso. Se entregar a uma causa tem enormes valores não só como princípios de ajuda ao próximo como se sentir importante dentro do conceito pedagógico na formação do caráter.

                        A principio o Movimento Escoteiro encanta, traz uma chama diferente, afugenta o medo da amizade insincera. Ao pisarmos o primeiro sinal de pista na trilha do descobrimento, sentimos um sopro de aventura desconhecida de uma vida nunca antes vivida. Meninos e Meninas cativam. Enchem-nos de graça e de valores cujos princípios morais, regras, conceitos bate fundo no intimo de qualquer voluntario que vê no escotismo algum diferente que antes não conhecia. Impossível não se entregar. Difícil não mudar o estilo de vida e que muitas vezes é motivo para discórdia familiar.

                          Tudo teve o antes e o depois. O antes uma vida cheia de rotina, seja profissional ou a dedicação aos mais próximos inclusive com os comprometidos com a família. As reuniões, os encontros de chefes, as Indabas, Os Acantonamento e acampamentos, os Conselhos, as Assembleias os cursos... Estes são demais. Saímos de lá cheio de vontade de praticar a metodologia escoteira para sempre. Alguns tem o privilegio de ter ao seu lado sua cara metade e seus filhos cuja entrada neste belo Movimento surgiu entre eles um compadrio muito mais abrangente do que a vida que antes levavam.

                          Ali surge um novo abraço, um novo aperto de mão, uma saudação gostosa de fazer. E chega o dia de tremer, não de medo, mas de orgulho por ser mais um pertencente a Grande Fraternidade Mundial. Dia da promessa, dia de sorrisos, de abraços e naquela cidade dos sonhos que nunca na vida real tinha concretizado tudo muda e para melhor. Será? O amor aos filhos se espalha aos outros filhos que não são seus. A entrega é total. Alguns pagam para manter toda essa felicidade nunca antes encontrada. Pagam para os filhos, para ele ou ela e até mesmo de meninos e meninas que antes nem conhecia. Coisas de voluntário!

                          Os amigos mais chegados espantam. Que houve? Quanta mudança? Antes o chopinho, a visita fraterna, o churrasco, as idas a praia ou ao sítio para comemorar anos de convivência. Agora nada. Muitos quando se aproximam é para ouvi-lo o mesmíssimo novo amor que o escotismo está proporcionando. Os familiares que convivem em outra rede social assustam com tamanha entrega. Nem pense em dar conselhos, vai ouvir o que não gostaria de ouvir.

                           E quando a esposa ou vice versa não participa? Aí começam as incertezas, as contrariedades, as reclamações e até mesmo a separação o que não é bom nem para um ou para o outro. Nossas lideranças sejam no próprio grupo, no distrito ou nas Regiões, sem falar na Direção Nacional não tem pessoas preparadas para agir como aconselhador. Tudo tem seu tempo e sua hora e chega àquelas velhas frases que ninguém gostaria de ouvir: - Ou o escotismo ou eu!

                           Diferente daqueles que germinaram no escotismo desde seus tempos de criança. Já tem uma rotina de vida formada dentro dos princípios escoteiros que sempre viveu e reconhece como sua estrada do sucesso. Muitas vezes precisamos de anos e anos para estabelecer uma moral padrão de participação que não prejudica nem um nem outro. E quando achamos que nosso rebento não quer continuar e você acha que ele está sendo prejudicado? O que fazer? Entrar onde não é chamado para dar vasão aos seus pendores de sua criação? É duro de lascar não poder fazer nada sem prejudicar um ou outro.

                            É um tema ingrato. Para alguns um tema adorável que nunca interferiu em sua vida familiar. Para outros e posso garantir as centenas o abandono de uma causa que antes era tida como um caminho a seguir rumo ao sucesso e deixou de existir. Não há conselhos. Ninguém vai deixar a entrega só por alguns escritos ou orientações que não tem nada a ver com sua vida pessoal. Escotismo é assim, uma trilha ilhada de sinais de pista. Caminho a seguir, caminho a evitar, saltar o obstáculo e chegar incólume ao ponto de reunião!

                            Assim a evasão de pessoas magnificas que poderiam trazer valores e contribuições enormes a associação vai perdendo na trilha de BP muitos que acreditaram na esperança de ajudar e viver feliz. Mas nem tudo é amargo. A receita fica com a Chefe de lobos que me disse: - Chefe... O que antes caos, hoje é tranquilidade. O que era medo, hoje é confiança. O que era vazio, hoje é completo. O que era tristeza, hoje é sorriso largo. O que era busca hoje é certeza. O que me faltava era o “mosquito” me morder para viver e morrer Escoteiro!