terça-feira, 11 de junho de 2013

O Sucesso a qualquer preço.

Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.

Crônicas de um Chefe Escoteiro.
O Sucesso a qualquer preço.

           Alguns me consideram um pessimista. Pergunto-me se sou.
Eu gosto de procurar quem vê a luz do escotismo brilhar para sempre. Se isto não é errado então não sou um pessimista. Não é porque vivi com o brilho próprio de quem já foi que eu posso desejar que hoje não tivesse mais nenhum Escoteiro que poderia pensar como eu. Tem dias que escrevo “buzinando” para ver se tem alguns que podem decidir e mudar. Mudar? Ao meu modo de pensar. Sou o dono da verdade? Só eu sei? Não. Claro que não. Tem milhares a perder de vista que possuem o brilho próprio de boas ideias que podem levar nosso movimento ao caminho do sucesso. Mas isto tira meu direito de opinar? Para alguns sim para outros não. Poetas já diziam que assim como em cada lado a lua toda brilha é porque alta vive. O escotismo não está lá no alto, inacessível. Não pode ser considerado propriedade particular.

           Eu peco pela insistência em achar que a trilha poderia ser outra. Mas será mesmo verdade? Alguns amigos me dizem que devo dar um voto de confiança, mas dando ou não isto implica em alguma coisa? Lao-Tsé escreveu um dia que o sábio não se exibe, por isso brilha. Ele não se faz notar, e por isso é notado. Ele não se elogia, e por isso tem mérito. E, porque não está competindo, ninguém no mundo pode competir com ele. Verdade mesmo. A frase toda me lembra de Baden Powell. Podemos dizer sem sombra de duvida que ouve avanços. Muitos. Poderia pensar que quem tem bastante luz própria não necessita apagar ou diminuir as luzes dos outros para poder brilhar. Será que me encaixo nesta frase? Tenho luz própria ou tento diminuir as luzes dos outros?

           Escrevi dezenas de artigos, uns com críticas ácidas outros não. Mas de todos eles aprendi que o mais importante para o sucesso é não ser o dono da verdade. Se ela não é minha então não é de ninguém. Eu sempre tive junto de mim algum de que me orgulho. Ouvir as pessoas, opiniões, ideias, sugestões. Pode até ser que não aceito todas, mas o que a maioria pensa para mim é sagrado. Porque então critico tanto nossos dirigentes? Afinal eles não estão tentando acertar? Não estão se sacrificando dias, horas, família e trabalho para ajudar o escotismo? Poxa! Acho que estou errado e muito. Mas me pergunto – Tem alguém que não faz o mesmo o que os dirigentes fazem? E quem sabe até mais? E nem sempre são reconhecidos por isto? – Prestem atenção - Na Tropa as patrulhas decidem democraticamente, nas alcateias ouvir a Alcateia faz bem a saúde, no Grupo Escoteiro o Conselho de Chefes é ouvido frequentemente. Ora, se no Grupo Escoteiro insistimos em ouvir todos, em dar a palavra, voz e voto e isto é um bom exemplo democrático porque não acontece o mesmo nos órgãos acima? Se pensarmos em termos de estes órgãos seguissem o mesmo sistema não seria bom? Sabemos que não é assim.  E como se estivéssemos entrando em um túnel que desemboca em um funil aonde as regras vão mudando a cada aperto que sofrem. Completamente diferentes das que existem no Grupo Escoteiro.

            Dizer que eles estão certos é como dizer que ainda somos lobinhos pata tenra e que devemos ser levados pela mão para não nos perdemos na floresta. Todos ou quase todos dizem em uníssemos que devemos mudar, pois hoje os tempos são outros. Temos que nos adaptar para não sucumbirmos. Sem dúvida. Concordo plenamente. Mas mudar com os pés no chão. Sem perder as raízes e olhando o passado para viver o futuro. O que acontece, no entanto é que todos acreditam nas normas estatutárias atuais e quase ninguém contesta seus artigos como se o que está ali é imutável. Alguém pode me dizer se existem consultas às bases? Se temos pesquisas reais e não por amostragens? Alguém pode me dizer que exceto as normas do POR que pediram sugestões houve outras? Estão a decidir por todos como se eles são os únicos que sabem o que é bom para o escotismo? O que tenho visto ultimamente é uma imposição de ideias, sem contestação e a maioria a dizer: - Eles sabem o que é bom para nós. É BP, você disse – tem gente que é um gansinho daqueles quem vão atrás, nas pegadas do pai ganso vai seguindo o filho atrás...

             A aceitação é geral. Sempre foi assim. Afinal todos ou quase todos entraram no escotismo onde a direção nacional tinha seu sistema estatutário e que nunca em tempo algum se preocupou em consultas. Assim aprendemos e alguns defendem a ferro e fogo o sistema que eles não criaram e não participaram.  Até o final da década de setenta ainda tínhamos uma maior participação no Congresso Nacional. Lá estavam os Comissários Regionais, a Diretoria Regional, o Presidente da Assembleia Regional, os membros da equipe de formação e os comissários distritais. Destes sobraram poucos. Era melhor assim? Aqueles que entraram no movimento e encontraram esta maneira de ação por parte dos estatutos nunca se insubordinaram. A aceitação no escotismo é de uma lealdade sem tamanho. Mesmo lembrando o que BP escreveu que tem gente que só vê a ponta do nariz poucos dentro da disciplina escoteira se arriscam a ir mais além. Toda vez que escrevo isto sempre tem alguns a dizer que existe os fóruns próprios para reclamar sugerir e mudar. Acreditam nisto? Tente. Me parece à frase do “me engana que eu gosto”. Com raras exceções você sempre será uma figura apagada e anônima.

             Todas as mudanças e alterações sofridas até hoje que eu sabia nenhuma foi através de consulta às bases. É um paradoxo. Onde está o órgão mais importante da estrutura escoteira? As sessões é claro. O Grupo Escoteiro. Todos que ali estão são incansáveis na luta de formar e motivar os jovens e não tem direito de opinar. Como isto já se tornou um hábito de comportamento não
há o que contestar. Se perguntar a cada um dos mais de onze mil adultos hoje atuantes poucos irão dizer que isto seria uma preocupação. Não é. Se aparecer alguém insistindo em ter voz e voto e se esta insistência não for de acordo o que reza os estatutos as admoestações irão aparecer. Não posso e nem tenho o direito em dizer que não existem rumos de acertos em tudo que os dirigentes fizeram. Existem muitos. A uma juventude participativa e alegre, mas não sei quantos deles estão permanecendo por mais de dois anos no escotismo. A evasão nunca foi discutida. Sabe-se que existe, mas não se pode provar. 

            Alardeia-se que estamos crescendo. Acredito em partes. Nos últimos três anos só um estado brasileiro contribuiu com mais de trinta por cento do efetivo. (vide relatório nacional 2012). Parabéns a este estado e se os demais estivessem conseguido o que ele conseguiu o número de novos membros seria bem maior. Não sei por que a UEB não deu o merecimento devido no relatório nacional. Interessante, saiu lá de trás para hoje ser o terceiro em efetivo Escoteiro no Brasil. Maior que muitos estados que sempre estiveram a frente não só no crescimento populacional como o escoteiro. Se observarmos um pouco mais, iremos ver que nos últimos três anos um número considerável de isentos tem crescido ano a ano e sabemos que isto sempre existiu. Os Grupos Escoteiros nem sempre registravam todo seu efetivo. Os próximos dez anos irão dizer se este crescimento será continuo ou não.

             Enquanto em alguns países este crescimento faz parte de anos e anos, com dividendos excelentes por parte de adultos que participaram do escotismo, nós ainda não tivemos um retorno e os poucos que se manifestam não são significativos na sociedade brasileira, principalmente política e empresarial. Quando na imprensa alguém desmerece nosso movimento, uma grita geral se faz ouvir de nossa parte. De quem é a culpa? A maioria sempre vai dizer que são dos chefes. Verdade mesmo? Se isto acontece não seriam eles que deveriam decidir o destino do escotismo no Brasil? São errados sem direitos a opinarem? Não sou um expert em escotismo fora de nosso país. O que sei é por pesquisa e estes dias vi uma que me interessou. Lá estava escrito que no Reino Unido o Escotismo voltou a ser uma atividade bacana segundo escreveu o Jornal “The Guardian”, por quê?

          Vejamos o que o jornal escreveu. – A Associação Inglesa relata que as coisas começaram a mudar quando em 2002 fizeram a primeira revisão do Programa Educativo, que não era atualizado deste 1967. Tudo foi revisado: - Uniforme, treinamento, imagem e principalmente as ATIVIDADES oferecidas. O Programa Educativo tornou-se ATUAL, DINÂMICO e RELEVANTE para a Sociedade! Ao mesmo tempo, Peter Duncan, famoso apresentador de TV e, atualmente, Bear Grylls, hiper conhecido aventureiro mundial, assumiram o cargo de “ESCOTEIRO CHEFE”, cada um contratado por cinco anos para a função. A atual tendência mundial de super proteger os filhos passou a ser vista como uma oportunidade.

          Trabalharam a confiança dos pais que voltaram a interessar-se em que suas crianças praticassem o Escotismo e saissem nos finais de semana para atividades de ar livre, acendendo suas fogueiras, correndo pelas matas e tendo contato direto com a Natureza! Resultado, Escotismo agora é visto como uma forma moderna de educação não-formal e ao mesmo tempo “cool”, atraindo jovens e adultos! Moderno na forma, mas preservando seus valores e seu Método. O crescimento foi só consequencia!
            Se estas mudanças pela associação inglesa foi feita por poucos ou com uma consulta as bases não sei, mas observem que o programa praticamente retornou as suas origens. Enquanto lá se preocupou com um marketing agressivo nós nos esquecemos disto. Só agora estamos contratando profissionais, e dando condições a outros nas regiões com cursos específicos. Espero que o curriculum destes cursos não seja burocratizado. Para treinar auxiliares de escritório não precisamos destes cursos. Não temos aqui nenhuma figura que possa ser reconhecidamente um exemplo como os dois ingleses. Dizer que o que é bom para o escotismo inglês não é bom para nós pode até ser. Mas como não temos meios de decidir, e como tudo que aqui acontece vem de cima para baixo é impossível termos ideias claras e objetivas de uma participação mais efetiva com ideias e práticas de um crescimento sustentável.

           Enquanto acharmos que devemos ser dependentes e submissos a tudo que nos determinam, enquanto aceitarmos com esta humildade passiva sem discordar nunca, acredito que dificilmente teremos um escotismo praticado conforme as bases necessitam. Lembrem-se que quem vive o dia a dia junto aos jovens, quem sente na pele a luta para incentivar e manter uma seção e um Grupo Escoteiro é quem sabe melhor o que deveria ser mudado. Da maneira atual seremos sempre subordinado as ideias que nem sempre concordamos e que nos foram impostas. Claro que poderemos ter um escotismo bom, amigo, fraternal, mas isto será feito com o próprio esforço de cada um. Está na hora de se pensar em um escotismo para todos e isto só será feito se a participação de ideias, sugestões e discussões nas bases forem uma realidade. Não é possível sermos submissos a toda uma gama de alterações que muitos não tiveram voz, voto ou um dia qualquer foram consultados.


Sempre Alerta!