quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Ainda o uniforme?


Conversa ao pé do fogo.
Ainda o uniforme?

               Um tema que tinha decidido não mais comentar. As paixões as vissitudes e escolhas foram tantas que cheguei à conclusão que não era mais um problema meu. Perdi a conta de quantos artigos fiz e o retorno não foi satisfatório. Sei que muitos escolhem e decidem conforme as regras atuais. Se uma direção nacional toma uma decisão sem consulta sem pesquisa e autoritariamente decide em nome de todos não sou eu quem deve contradizer. Afinal eu sou um Velho Escoteiro que presa à tradição e mesmo sendo contradito que a modernidade não pode ficar esquecida, já era hora de deixar cada um escolher o que vestir e o que achar que fica bem na sua apresentação. Lendo na internet o significado vi que a farda o uniforme, traje e vestimenta são roupas padrões que geralmente identificam os participantes de uma organização ou associação. Desde que entramos para uma escola, colégio e afins aprendemos a usar um uniforme.

               Lembro-me de uma época que os colégios mais modernos abriram mão do seu uniforme e as escolhas pessoais foram tantas que voltaram a exigir o uso. Hoje nota-se um certo garbo e padrão em cada aluno o que é exigido pelo colégio, pois sabem que isto faz parte do reconhecimento da sociedade local. Alguns dizem que o espírito da Lei e Promessa de cada um na filosofia é mais importante do que vestir um uniforme. Não sei se concordo. As roupas usadas pelas organizações e associações nós sabemos que é uma norma e não uma escolha pessoal, pois o uso nos identifica e também é uma forma de fazer marketing mesmo que involuntário da organização ou associação que pertencemos. Apesar de não sermos militares somos oriundos de um militar que se dispôs um dia a criar o Movimento Escoteiro que se tornou uma epidemia mundial. Sabemos que as forças militares tais como a polícia, serviços de emergências, seguranças e muitas empresas usam o uniforme. Com ele são identificados rapidamente e isto faz bem a liderança funcional.

                Criamos por dezenas de anos uma imagem junto ao público sobre o Movimento Escoteiro. Éramos reconhecidos em toda parte onde atuamos e para acompanhar a nova época que surgia alguns lideres chegaram à conclusão que precisávamos mudar. Isto tem acontecido em alguns países de primeiro mundo e sabemos que adoramos copiar. Infelizmente as mudanças não foram levados em consideração o que pensavam a maioria. Ninguém foi ouvido, não ouve pesquisa e nem foi discutido em termos nacionais. Não tivemos em nenhum momento o lampejo de uma democracia participativa. Sabemos que abrir o leque para opiniões e escolhas costuma nos levam a situações estapafúrdias, mas é isto que chamamos democracia. Portanto a maneira que a UEB decidiu sem ouvir os membros associados deixou a desejar para um movimento que se diz aberto a todos os participantes. Mantiveram secretamente o que estavam fazendo e alguns pequenos senões vieram a público. Criaram uma expectativa e numa bombástica apresentação finalmente os associados da UEB puderam conhecer o novo uniforme chamado de vestimenta.

                 Certo ou errado para que ela fosse logo reconhecida exigiu-se que a liderança seja ela nacional regional ou distrital usassem. Isto para que todos seguissem seus exemplos. Extinguiu-se o traje e num gesto de boa vontade permitiu-se o uso do caqui. Ele serviu como base de escolha das unidades locais (Grupos Escoteiros) que podiam decidir democraticamente o que usar. Sinceramente? Isto não foi lá muito correto. Primeiro alguns poucos decidiram sem consulta, segundo foi determinante que os lideres locais informassem o que estava sendo proposto e então votassem. Uma votação onde jovens e adultos tinham o mesmo peso de voto. Correto? Tenho lá minhas dúvidas. O Chefe sempre é visto como o professor o exemplo o irmão mais velho. Sua palavra serve de base para que todos o sigam.
              
                   Onde o Chefe tinha como escolha o caqui este foi escolhido. Onde o Chefe tinha simpatia pela vestimenta idem. Até aí tudo bem. O que ficou foi à impressão pouco explicada sobre uma vestimenta cuja confecção e preço deixa a desejar. Desbota, o tecido é pobre na durabilidade e tem um preço alto para a maioria dos associados. Lembremos que somente a UEB tem autorização para confecção e venda. No entanto a vestimenta foi escolhida pela maioria dos associados no país. Até aí tudo bem, mas a apresentação da vestimenta não está sendo benéfico para nosso reconhecimento como um movimento educacional. Todos nós sabemos que não temos prestígios com as autoridades locais, regionais e nacionais. A maioria dos Grupos Escoteiros lutam quase inteiramente sós. Se na sociedade local não nos levam a sério e o uniforme e a vestimenta são parte fundamental na apresentação em pouco tempo o escotismo deixará sequelas que podem durar por muitos anos.

                   Sei que existe uma autorização no POR no uso da vestimenta. Dizem que são mais de 18 tipos e a escolha é de cada um. Muitos Grupos Escoteiros fazem questão da boa apresentação de todos. Não é o jovem quem decide se usa camisa para fora, para dentro, se usa calça comprida ou curta se usa meia branca, preta e etc. A decisão é tomada por todos. Pelo menos se vê ainda algum resquício de uma apresentação formal, baseada no garbo, no espírito Escoteiro e no Marketing que tanto precisamos. Alguns defendem que devíamos ficar somente com um uniforme. Hoje a vestimenta. Abolir-se quem sabe as escolhas da modalidade do ar e mar. Vai ser uma luta inglória, pois estas duas modalidades mantem um pé na tradição e não abrem mão. Não vamos discutir as possibilidades de uso da vestimenta. Quem as fez não pensou que levamos mais de cem anos para ser reconhecido com o caqui e vamos levar outros tantos com a vestimenta.   


                   Todos nós somos responsáveis por nosso futuro. Seja o caqui ou a vestimenta seremos responsáveis pelo que a sociedade brasileira pensará no futuro a nosso respeito. Daqui a vinte trinta anos deixaremos nossa marca e nossa individualidade escoteira. Cabe a cada um de nós ser dignos de uma boa apresentação. Temos um compromisso com o jovem, mas ele advém da comunidade. E ela é quem nos julgará se somos um movimento sério e responsável para colaborar na sua formação para que seja um cidadão de caráter em nosso amanhã.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Chico Cerca. Ele era um analfabeto.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Chico Cerca. Ele era um analfabeto.

                 Vez ou outra vejo amigos ou não publicando sobre os erros de português de muitos que viajam nas páginas do Facebook. Sei que as intenções são as melhores, pois temos realmente uma população que deixa a desejar na sua escolaridade, vejamos: Para a UNESCO, “uma pessoa funcionalmente analfabeta é aquela que não pode participar de todas as atividades nas quais a alfabetização é requerida para uma atuação eficaz em seu grupo e comunidade, e que lhe permitem, também, continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo a serviço do seu próprio”. Perfeito. Data vênia eu me penitencio. Sempre soube que fui e ainda sou um analfabeto, pois minha vivencia foi feita na escola da vida. Quando iniciei minha saga de pseudo escritor, meus erros eram enormes (Ainda são). Muitos me escreviam dizendo que eu precisava melhorar para ser entendido, que devia entrar em uma escola e outros educadamente se ofereceram para revisar meus artigos e contos. Desistiram logo quando viram a quantidade. Risos.

                  Se não fosse o Word eu estaria perdido na Selva de Mowgly. Nele eu me arranchei nas margens do Rio Waingunga e lá assentei praça escoteira até hoje. Ele me ajuda “pacas”. Continua ainda os erros de concordância, pontuação e demais amarras da língua portuguesa. Nunca digo para que os demais façam como eu. Eu sei que cada um sabe onde amarrar seu cadarço para não se esborrachar no chão. Recebo dezenas de e-mails, contatos no Facebook e até cartas (usam ainda os Correios do Brasil). Entendo tudo que escrevem. Fico feliz pelo esforço e sempre respondo. Nunca critiquei ou deixei de responder. Nunca corrigi os erros e se eles o cometeram foi porque não tiveram a oportunidade que outros tiveram e se esforçaram para conquistar um lugar ao sol nos meios educacionais. Quando fui Chefe tive orgulho da minha atuação. Até hoje recebo cartas e-mail e outros dos meus antigos escoteiros. E olhe que já era meio analfabeto. Quando Comissário um Escoteiro Chefe me disse certa vez: Vado Escoteiro tome cuidado com os analfabetos, os desdentados os mal vestidos, eles podem dar uma falsa impressão do que podemos realizar na formação da juventude.

                  Sei não. Não desmereço nunca uma boa formação intelectual. Ela faz parte do crescimento interior e espiritual. Se não for hoje viremos novamente a terra para crescer nos estudos e na formação moral. Ainda ontem vi alguém corrigindo um ser vivente que rabiscava suas poucas letras querendo participar mais de suas lembranças, passagens, e porque não contar que também é um ser humano. Isto me fez voltar no tempo e lembrei-me do Chico Cerca. O conheci em um curso e apesar de não sermos da mesma patrulha ficamos amigos por todo o sempre. Era analfabeto de pai e mãe como dizem por aí. Um dos diretores viu logo o simplório, pois ele não escrevia nada no seu caderno (antigamente era distribuído um para anotações nos cursos). Chamou-o em particular e disse que só daria a ele o certificado de aprovação quando aprendesse a ler e escrever. Pelo menos. Hoje não sei se dariam esta oportunidade a ele.

                 O tempo passou e um belo dia fui fazer uma visita a sua Tropa em uma cidade próxima a minha. Fui de bicicleta com mais seis chefes amigos. Fomos recebidos como reis. Insistiram que fossemos hospedar em suas casas, mas levamos barracas e dormimos nela. Fiquei mais amigo dele que nunca. Chico Cerca era um apelido. Ele era um construtor e consertador de cercas das fazendas da região. Por isto o apelido. Seu nome era Francisco de Arimatéia. Olhe meus amigos nunca vi tanta gente o abraçando, e falando tão bem dele que fiquei surpreso. Eram tantos pais que foram escoteiros dele, falando maravilhas de sua chefia que pensei que o saber não era tanto para ser um bom Chefe Escoteiro. O próprio prefeito veio até a mim para dizer que homens como Chico Cerca são poucos. Ficamos lá dois dias e me encantei com a cidade e seus habitantes. Uma fraternidade que dava lições enormes as outras tantas espalhadas pelo Brasil.


                   No dia da partida perguntei: - Chico conseguiu receber seu certificado? Ele riu. Um sorriso gostoso, amigo sincero cheio de amor para dar. – Vado, nunca me enviaram. Um dia sonhei em ter pelo menos o anel de Gilwell, mas nem ele um dia vou usar. Para dizer a verdade entrei em uma escola noturna. Aprendi a ler e escrever com dificuldade. Foi bom, pois agora consigo ler mesmo devagar os livros que comprei de Baden-Powell. O Doutor Morgado, Juiz de Direito da cidade chegou abraçando Chico. Olhou-me e disse: - Fui seu Escoteiro, devo o que sou a ele. Chico escreveu para mim seu endereço da sua nova casa. Trabalhou muito para comprar. Vi que ainda eram garranchos cheios de erros de português. Eu sempre soube que Chico nunca iria ter uma medalha, um agradecimento dos Lords Escoteiros. E daí? Eu na minha simplória memória escoteira o guardei para sempre no meu coração. Eu sempre aconselho aos jovens que devem estudar muito. Sempre digo a todos que o estudo é muito importante para o seu sucesso e seu futuro. Mas me desculpem. Nunca vou condenar aquela que na sua simplicidade tem erros homéricos de português! Afinal, ele é um ser humano que merece nosso amor e consideração.

domingo, 25 de setembro de 2016

Um domingo qualquer.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Um domingo qualquer.

             Domingos são dias iguais para um Velho Chefe Escoteiro. Como sou aposentado e nada faço a não ser pequenas rotinas cheias de manias, lá ia eu caminhando no mesmo rumo de todos os domingos que caminhei. Era uma avenida, a placa dizia que era uma avenida para mim uma rua mais larga. Gostava de andar por ela indo e vindo mesmo sendo uma avenida sem graça, sem tchan, sem grandes atrativos, mas era a única mais próxima de minha morada. Despretensiosamente, bengalando na calçada espúria, um carro preto, tipo SUVs, acho que era um Mitsubishi Pajero preto freou ao meu lado. Saltaram quatro homens de preto. Assustei. Seriam do filme MiB? Afinal eu não era um alienígena e meus conhecimentos ufológicos eram chegados à zero.

             Dois deles parecendo o Tommy Lee Jones e o Will Smith se aproximaram de mim. – Chefe entre no carro! Um deles falou. Olhei de soslaio. Era “boca escura” aquele convite. Agradeci dizendo que ia comprar mortadela para a Célia. Pegaram-me pelo cotovelo me levantando do chão e me jogaram na poltrona trazeira. Enfiaram-me um saco preto na cabeça e não vi mais nada. Eu sem defesa me lembrei do meu bastão com ponteira de aço, que fiz de um pé de goiabeira a anos e anos passados. Ele agora seria de serventia, pois era bom em bastonadas e fui um excelente Escoteiro campeão em salto do bastão. Nem mesmo meu canivete suíço eu levava. Tiraram a venda e vi que estava no Aeroporto de Cumbica em Guarulhos. Pensei em fugir, mas na Base Aérea impossível. Arrastaram-me até um avião da Policia Federal e em segundos o bicho levantou voo.

              Ninguem falou nada durante o voo e os brutamontes sentados ao meu lado calados como se fossem bonecos de cera de um filme de terror só olhavam para frente. Quarenta e cinco minutos depois taxiaram em um pequeno aeroporto de uma enorme fazenda. De novo me arrastaram até uma caminhonete e me levaram a sede central. Fui recebido efusivamente pelo Juiz Sergio Moro. – Putz Grila! Pelas barbas do Profeta! Entrei de gaiato na lava jato? – Ele com sua voz calma e simplória me agradeceu por ter aceitado o convite. – Aceito? Generalíssimo me obrigaram! – Calma Velho Lobo, ninguém pode saber desta nossa conversa! – Que conversa? – Preciso do Senhor. A turma do Senado e da Câmara contrataram oito dos mais famosos pistoleiros do mundo, e vinte soldados do Estado Islâmico para dar cabo da minha vida. Preciso um lugar para me esconder e urgente!

                - Chefe eu fui informado que quando de sua juventude e mesmo depois de ter assumido como chefão, o senhor acampou em lugares nunca antes imaginado. Pensei que poderia me indicar uns dois para que eu me esconda lá por uns tempos. – fiquei calado pensando. A Mata do Tenente? O Vale das Corujas? O Pico do Gavião? Podia ser nas dunas macabras do Vale do Rio doce? Ou quem sabe a Caverna do Lobo Cinzento? Precisava pensar. Precisava dar uma mãozinha ao Doutor Juiz. Afinal ele era o herói brasileiro e graças a ele muitos grandões foram passar umas temporadas no xilindró. Quem diria eim? – Doutor, tem um lugar supimpa. Subindo a Serra da Piedade, existe uma pequena abertura na Trilha do Capenga, lá um túnel vai levar o senhor até um grande vale que ainda é desconhecido pela civilização!

                   - Perfeito, Vado Escoteiro. Leva-me até lá? – Preciso avisar a Célia. Posso telefonar? – Nem pensar ele disse. Estamos sendo monitorados! – Bem o jeito é ir assim mesmo. – Vamos de avião até Crenaque, para não dar na vista saltamos de paraquedas e de lá damos uma volta no Pico do Labrador e chegamos à serra da piedade por trás. – Antes que disse mais alguma coisa uma bomba de enorme poder explosivo caiu no pátio da fazenda. Tommy Lee Jones e o Will Smith pegaram o Juiz gritando: - O exercito do Estado Islâmico descobriu onde estamos. Vamos fugir! Uma balburdia dos infernos. Milhares de policiais do legislativo, com Eduardo Cunha a frente avançavam armados até os dentes para a fazenda. – Arregacei a manga da blusa de frio. Afinal sabia dar um rabo de arraia com perfeição. Ainda tinha o soco da Cocada Preta. Não ia entregar o Moro para a bandidada.

                  - Levei uma coronhada na testa. Olhei e vi o Cunha rindo feito uma hiena. Que falta fazia meu bastão de ponteira de aço agora. Levei outro catiripapo na “cacunda” e cai feito ovo podre no galinheiro. Fui pisoteado por oito deputados e seis senadores. A coisa engrossava. Comecei a dar meu grito de guerra e alguém me enfiou um picolé de limão na boca. Eu gosto de picolé de limão e pensei em saboreá-lo devagar e com gosto. Alguém me puxava pelo nariz. Acordei sorrindo e apanhando. Era a Célia como sempre a me acordar de meus pesadelos. – Mulher eu gosto de picolé de limão, devia deixar pelo menos em saboreá-lo! – Ela riu. – Marido você estava enfiando o pão seco que estava comendo e engasgando!


                  - Pois é. Nem sei se o Cunha venceu, se o Moro se entregou ou se sumiu. Eu agora acordado pensei em continuar meu passeio na Avenida do meu bairro que nem avenida é. Desta vez botei meu canivete suíço no bolso, minha faca escoteira escondida e meu bastão de duas e meia polegada com ponteira de aço na mão. Que venham os Homens de Preto. Desta vez estava preparado para dar a eles uma lição, uma lição que só escoteiros sabem como é. E viva o Brasil! 

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A Insígnia de Madeira.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
A Insígnia de Madeira.

                 Há muitos e muitos anos recebi minha Insignia de Madeira das mãos do Chefe Darcy Malta. Chefe Darcy foi nosso líder e um exemplo por muito tempo em Minas Gerais. Tive orgulho em ser seu amigo. Nunca esqueci as palavras que me dirigiu: - Chefe é uma honra para mim fazer a entrega da Insignia de Madeira. Lembre-se que o Colar pesa. As contas mais ainda e o lenço vai distinguir você de outros tantos chefes que estão a fazer o mesmo que você. Não pense que isto vai mudar sua maneira de ser, que vai ficar mais importante. O que a Insignia de Madeira está lhe concedendo é o inicio na sua luta para formar melhor os jovens de sua Tropa. Não pense também que você é agora um instrutor diferenciado. E nem tão pouco tem o direito de ambicionar ir mais longe. A Insignia só tem a importância para que os jovens acreditem que tem um Chefe capaz, um instrutor diferenciado e um irmão mais velho. Quando olharem para você saberão que sendo um Membro do 1º Grupo de Gilwell será sempre um exemplo na sua apresentação e no seu garbo. Seja humilde, não seja arrogante. Você não é melhor que os demais chefes. Evite ser o antidoto do “chefão” que muitos detestam.

                Tive o prazer de ver centenas de chefes recebendo sua IM. Fico feliz em ver que sua responsabilidade é agora maior que antes. Costumo dizer que o lenço pesa. Muito mesmo. Fico triste quando vejo um Chefe IM não dando seu exemplo pessoal e mal uniformizado. Isto está acontecendo principalmente em cursos de formação ou em atividades onde a apresentação deveria ser exemplar. B-P comentava sobre o uso do uniforme não só por parte dos jovens mas também dos chefes. – “Mostrem-me um desses tipos e lhes afianço que provarei que ele é um daqueles que não conseguiu pegar o verdadeiro Espírito Escoteiro e não se orgulha de ser membro da nossa Grande “Fraternidade”“. – Por ser um membro do 1º Grupo do Gilwell sua responsabilidade na apresentação e garbo é maior ainda. Um IM demonstra a todos que o vêem que podem confiar nele como um educador exemplar. Para um Insignia não existe modismo, escolhas individuais e sim uma apresentação digna de alguém que pertence ao 1º Grupo de Gilwell. Não podemos deixar de lado esta tradição, afinal não é um lenço que se adquire com a lei do menor esforço.

                     Muitas vezes eu dizia a todos que tive a honra de entregar o lenço da Insignia de Madeira de sua nova responsabilidade com o escotismo como um todo. Li uma vez na internet e repetia para aqueles pretendentes a Insignia de Madeira uma história interessante sobre um novo IM e como ele se achou importante por isto. Vejamos: - Quando soube que ia receber a IM o Chefe ficou tão eufórico que quase não se conteve. Serei um grande homem agora – disse a um outro escotista. - Preciso de um novo uniforme imediatamente. Que faça jus a minha nova posição na sociedade, no Grupo Escoteiro e em minha vida.

- Conheço um alfaiate perfeito para você – replicou o amigo, um IM há muito tempo. – Ele o alfaiate é um "Velho" sábio que sabe dar a cada cliente o corte perfeito. Vou lhe dar o endereço. - E o novo futuro IM foi ao alfaiate, que cuidadosamente tirou suas medidas. Depois de guardar a fita métrica, o sábio alfaiate disse: - Há quanto tempo o senhor é IM?
- Ora, o que isso tem a ver com a medida do meu uniforme? – perguntou o cliente surpreso. – Não posso fazê-lo sem obter esta informação senhor. É que um IM recém fica tão deslumbrado que mantem a cabeça altiva, ergue o nariz e estufa o peito! Assim sendo, tenho que fazer a parte da frente maior que a de trás.

- Anos mais tarde, continuou – Quando está ocupado com o seu trabalho e os transtornos advindos da experiência o tornam sensato, olha adiante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito a seguir. Aí então eu costuro o uniforme de modo que a parte da frente e a de trás tenha o mesmo comprimento. - E mais tarde, depois que está curvado pelos anos de trabalho cansativo e pela humildade adquirida através de uma vida de esforços, então faço o uniforme de modo que as contas fiquem mais longas que a frente.

- Portanto, tenho de saber a quanto tempo o senhor foi nomeado para que a roupa lhe assente apropriadamente.

E o novo futuro IM saiu da alfaiaria pensando menos no seu orgulho e mais no motivo que levou seu amigo a mandá-lo procurar aquele sábio alfaiate.


                   Portanto meu amigo Chefe Insignia de Madeira lembre-se que você é um exemplo para todos nós. Tens a obrigação de ser aquele que podemos copiar e ver que estamos diante de um exemplo padrão de um Chefe Escoteiro. Tem de mostrar a humildade de um portador da Insignia de Madeira cumpridor da Lei e da Promessa. O lenço pesa e a responsabilidade mais ainda. Mantenha seu padrão de apresentação, seu garbo, um olhar meigo, carinhoso, mostre ser um amigo fraternal e isto fará de você um “Insignia de Madeira” que todos seus amigos sentirão orgulho. Nunca se esqueça disto!

domingo, 18 de setembro de 2016

CONSTITUINTE OU ESTATUINTE ESCOTEIRA. Os Estatutos da União dos Escoteiros do Brasil.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
CONSTITUINTE OU ESTATUINTE ESCOTEIRA.
Os Estatutos da União dos Escoteiros do Brasil.

                A União dos Escoteiros do Brasil ou melhor Escoteiros do Brasil tem em seus estatutos toda sua diretriz funcional. Estatutos é um regulamento ou conjunto de regras de organização e funcionamento de uma coletividade, instituição, órgão, estabelecimento, empresa pública ou privada. Têm-se um conjunto de leis que disciplinam as relações jurídicas que possam incidir sobre as pessoas ou coisas. É nele que a EB dirige com seus dirigentes eletivos ou não toda a funcionalidade do escotismo brasileiro. Através de normativas, resoluções entre outros, tem como responsabilidade dirigir e determinar o que é bom ou ruim ao movimento Escoteiro do Brasil. A Diretoria Executiva Nacional órgão executivo da EB é responsável por tudo que diz respeito à gestão e orientação institucional. É escolhida (não eleita) pelo Conselho de Administração Nacional que tem plenos poderes sobre tudo que diz respeito ao escotismo Brasileiro.

               Temos nos Estatutos toda lógica administrativa e funcional da EB em âmbito nacional regional ou distrital e local. Não vou entrar nos detalhes dos Estatutos, pois ele está à disposição no site da EB para quem quiser ler ou tomar conhecimento (sei que muitos já o leram). A cada espaço de tempo ele é discutido sem uma participação de toda comunidade escoteira nacional. Sabemos que hoje menos de 0,3% do efetivo Escoteiro discutem e modificam quando solicitados. Tornou-se um círculo vicioso, onde poucos podem opinar alterar ou mesmo sugerir quaisquer mudanças desde que elas sejam necessárias. É um sistema viciado e não democrático se chamarmos o que hoje faz andar o Escotismo em nosso País. Vez ou outra se comenta de sua modificação, alteração ou mesmo modificação de seus itens. Sempre sem uma participação efetiva.

                Muitos defendem este sistema participativo, onde a célula mais importante o Grupo Escoteiro pouco pode participar das decisões da EB. Se os estatutos defendem até onde os membros da Associação Local têm seus direitos sabemos que na prática isto é quase nulo. A região escoteira também tem como base o que diz os estatutos e sabemos que na sua maioria (existem exceções) seu relacionamento com os membros nacionais tornou-se mais um “compadrio”. (qualidade ou condições de compadres, sentimento ou expressão de amizade e de cordialidade). Sabemos que os delegados eleitos nem sempre tem livre-arbítrio para decidir, votar ou mesmo discordar sem anuência da Diretoria que pertence. Vota-se quase que em bloco. São raros os casos de discordâncias e muitos desistem e preferem não mais participar como delegado ou mesmo por outra forma proposta pela diretoria regional. Sem entrar em detalhes sabemos que ele será sempre patrulhado ideologicamente por alguns dos seus pares.

               Há alguns anos tem-se falado sobre modificações dos Estatutos. Uma falácia pois quando em um Congresso ou Assembleia ele é lembrado é sempre “empurrado” para o ano seguinte sem que nada se confirme nas possibilidades de quando, onde e quem irá determinar um novo Estatuto Escoteiro. Como somos um movimento disciplinado, muitas vezes chegando às raias da subserviência (nem todos) e da descrença não prestamos atenção no que estão fazendo ou mesmo modificando, pois sabemos que a aceitação por parte dos adultos voluntários sempre será unanime e poucos irão reclamar. A chance de discordar ou sugerir é nula. Muitos dizem que temos direitos de voto e ideias nas Assembleias regionais como na Nacional. Já disse, isto é uma falácia. Dos mais de 12.000 adultos voluntários pouco mais de 0,3% poderá ter esta regalia de um dia participar de uma Assembleia Nacional com direito a voz e voto. Chamam isto de sistema representativo.

                 Não existe oposição no escotismo, ou você é amigo dos mais poderosos ou você perde a chance de subir não só na hierarquia como ser premiado em alguma comenda ou outra qualquer que teria direito adquirido. Alguns dirão que isto não é verdade. Bem eu passei por isto, pois nunca aceitei esta democracia participativa de que somente uns poucos decidem sem consultas, sem pesquisas muitas vezes fugindo da ética e do bom senso. Meus artigos sobem as dezenas sobre este tema e muitos outros que postei estão lá em meus blogs escoteiros. Mas e daí? Pensando bem se temos um bom número de seniores e guias maiores de 16 anos, temos pioneiros e mais de 13% do efetivo nacional de adultos na liderança em Grupos Escoteiros porque não fazermos uma CONSTITUINTE ESCOTEIRA? Não sei se deveria ser chamada de ESTUINTE ESCOTEIRA. Não seria possivel germinar uma ideia e assim fazermos um estatuto com a participação de todos?

                    A CONSTITUINTE/ESTATUINTE seria apenas uma ideia para termos um Estatuto exequível dentro de padrões democráticos mais moderno, mais atual e com pensamento voltado para os direitos dos associados. Como seria, quando seria e o que seria é tema para boas discussões em seminários nos grupos nos distritos e nas regiões. Culminando é claro com a votação e escolha dos Constituintes/Estatuintes escoteiros que darão sua contribuição final. A Constituinte/Estatuintes iria substituir hoje a Assembleia Nacional e teria poderes de avalizar, elaborar e aprovar um novo Estatuto onde poderíamos dizer que foi feita sem subterfúgios, sem imposições e democraticamente participativa.


                  É um tema que sei para muitos não tão importante. O escotismo está se tornando um movimento subserviente, onde poucos são consultados e tudo que é determinado pela direção nacional não tem respaldo opinativo dos seus associados.  Sabemos que os resultados da permanência e da formação escoteira deixa a desejar. Basta ver os homens que hoje temos na direção da nação, seja através dos políticos ou mesmo grandes lideres nacionais que só se lembram do escotismo na época das eleições. Sem resultados nunca teremos o escotismo que sonhamos. B-P recomendava que precisávamos pelo menos de dez anos para aplicar o método Escoteiro e obtermos os resultados pretendidos. Isto hoje se tornou uma utopia. A CONSTITUINTE/ESTATUINTE ESCOTEIRA não irá resolver tudo mas dará um grande passo para que um maior número de membros do escotismo possa usar seu direito democrático de votar e ser votado.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Assim escreveu Baden-Powell.


Conversa ao pé do fogo.
Assim escreveu Baden-Powell.

FAZER O MELHOR POSSÍVEL
[O Grande Uivo] significa que deverás fazer o melhor possível com AMBAS as mãos - e não com uma só como a maior parte dos meninos, que só se servem da mão direita. O teu melhor será duas vezes melhor do que o dum jovem vulgar. «Fazer o melhor possível» é o lema do Lobinho.

Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontraste e, quando chegar a vossa vez de morrer, podereis morrer felizes sentindo que ao menos não desperdiçastes o vosso tempo e fizestes o melhor que podíeis.

FELICIDADE
O único triunfo verdadeiro é a felicidade.
Duas chaves da felicidade:
- não levar as coisas muito a sério, mas aproveitar ao máximo o que se tiver, e olhar a vida como um jogo e o mundo como um campo de jogos;
- deixar as nossas ações e pensamentos serem orientados pelo Amor.
A felicidade está ao alcance de todos, ricos ou pobres. E todavia os felizes são comparativamente poucos.
Julgam muitos que «prazer» é o mesmo que «felicidade». E aí é que se extraviam.
A verdadeira felicidade é como a radiação. É uma forma de amor que aumenta na medida em que se dá.
Um lar cheio de alegria, combinado com a capacidade de servir os outros, produz a melhor felicidade.

Antes da partida (para o acantonamento) e durante todo o tempo que andares fora de casa, diz para contigo «vou fazer com que este seja o melhor acantonamento que jamais houve para os outros lobinhos».

A felicidade não chega por nos sentarmos e esperarmos por ela. O mais feliz é aquele que consegue olhar para trás sabendo que nunca vai se arrepender. Lembrai-vos: por muito mal que estejais de saúde ou de finanças, podeis sempre trazer um lampejo de alegria à vida de outras pessoas, e ao fazê-lo trazeis a melhor espécie de alegria às vossas próprias vidas.

Passei uma vida felicíssima, e desejo que cada um de vós seja igualmente feliz. Acredito que Deus nos colocou neste mundo encantador para sermos felizes e apreciarmos a vida. O verdadeiro caminho para alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros.

A felicidade não vem da riqueza, nem simplesmente do êxito de uma carreira, nem da ciência aos prazeres. Um passo para a felicidade é tornardes-vos saudáveis e fortes enquanto sois rapazes, para poderdes ser úteis e gozar a vida quando fores homens.
Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes.


Guiai o outro rumo à felicidade, e sereis felizes vós mesmos; e, ao fazerdes isto, estareis a fazer o que Deus pretende de vós. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Um fantástico desfile de Sete de Setembro.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Um fantástico desfile de Sete de Setembro.

Pátria Minha.
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vinicius de Moraes.

           Semana da Pátria. Sempre foi uma semana importante na vida de um Escoteiro. Quem um dia não sonhou em participar de um desfile? Mochilas cheias de capim, sem ninguém saber, mas pareciam carregadas das “coisas secretas” dos Escoteiros. E o bastão? Hoje sei que foi suprimido, mas naquela época... O Chefe dizia – Todos muito bem uniformizados, afinal vocês terão a cidade inteira observando e tirando conclusões. A gente olhava com orgulho o Pelotão das Bandeiras. Lindo de morrer. Eles colocavam os bastões sobre um cinto (talabarte) prezo ao pescoço, elas ficavam desfraldas todos de luvas brancas, sapatos engraxados, cintos polidos, chapéus de abas retas, ufa! Pose de herói!

          As reuniões de sábados continuavam como sempre, mas as terças e quintas eram dias de treinamento para o desfile. Sabíamos marchar com orgulho. A continência a autoridade era perfeita. E a banda? Ah! A banda! Nunca vi igual. A melhor da cidade. O Grupo Escoteiro se orgulhava dela. Em cada instrumento uma bandeirola do Brasil e olhe todos afinados. O Mestre Munir tinha ensinado e todos sabiam o que fazer. Coitado de quem tocasse uma nota errada ou deixasse cair uma baqueta. Se o seu talabarte estivesse sujo ouvia poucas e boas claro, se não fosse defenestrado da banda. Mau exemplo para o público nunca! A ordem do desfile nunca mudou. Primeiro a Guarda de Honra das bandeiras. No meio a Nacional, à direita a do estado, a da esquerda da cidade. Atrás mais três a do grupo, do Clube onde funcionávamos e de vez em quando a da Igreja.

        A cidade em peso corria para ver os desfilantes. O Tiro de Guerra, um Batalhão da Policia Militar Grupos Escolares Colégios e claro os Escoteiros. Palmas e palmas. No palanque o Chefe do Grupo orgulhoso com suas estrelas de atividade brilhando. Quando saiamos da rua transversal, sempre na Frente o Pavilhão Nacional em seguida a banda, depois os lobos, os Escoteiros, os seniores e pais. Estes eram poucos, não mais do que vinte ou trinta. O trecho do desfile não era mais que oitocentos metros. A apoteose era em frente ao Palanque das autoridades e sempre fazíamos evoluções, malabarismo e nosso caminhão com a carroceria aberta estava lá à barraca armada, uma mesa e um fogão suspenso que na hora exata quando passava pelo palanque o café está sendo coado. Já tinha um Escoteiro preparado com uma bandeja, xicaras e ia servir o café para o Prefeito, O doutor Juiz, O padre, o delegado e o comandante militar e o Exercito.

             Quando terminávamos sempre dávamos uma volta em algumas ruas. As famílias saiam de suas casas e vinham aplaudir. Ao chegar à sede, mesas cheias de salgados e você podia escolher: – Coxinha de galinha, bolinhos de carne, empadinhas da dona Armênia, croquete, bolinhos de bacalhau, pastel de carne, de queijo, pasteis de mandioca, e você ainda tinha suco de uva, de limão de groselha, de laranja todos naturais para sua escolha pessoal. Ainda não existiam os copos plásticos, mas todos tinham sua caneca guardava no almoxarifado do grupo. Em volta da mesa os comilões se regozijavam, cantavam, contavam causos e alguns sonhando. Sonhando com sua bela que lá foi para aplaudir e piscou um olho para ele. Piscada que nunca seria esquecida.

            Sete de Setembro. Sonhávamos o ano inteiro com ele. Uma época de amor à pátria, respeito à bandeira, cidadania levado ao extremo. Época em que nós meninos acreditávamos no brilhantismo de uma data, de lembrar-se de um Don Pedro I em seu cavalo branco mesmo que não seja a insurgir-se com Portugal. E antes de ir embora, um cerimonial de bandeira diferente. Ela já tinha sido hasteada antes pela patrulha de serviço. Todos formados. Cantamos com dignidade de um infante o hino Nacional, depois os lobinhos cantavam o da Bandeira e por último o grupo cantava orgulhosamente o Rataplã. Nunca esqueci. Os chefes vinham em fileira cumprimentar a cada um. – Parabéns lobinho/Escoteiro pela sua contribuição com a pátria. Sempre Alerta!

            E a gente saia da sede com os olhos brilhando e sonhando. Sonhando com um novo Sete de Setembro. Quanto tempo, quantos Sete de Setembro eu vivi. E hoje nas capitais não querem os lobos desfilando. Tem base a proibição, mas a culpa é de quem? Das autoridades que deixam os meninos por último enquanto os fortes e guapos rapazes da pátria vão primeiro. Mas a vida é assim mesmo, o moderno está aí e as mudanças não param de acontecer. Viva o Sete de Setembro. Para ele o meu amor.


Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha 
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
 “Pátria minha, saudades de quem te ama”...

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Apenas uma homenagem aos escoteiros do Nordeste. Lembranças gostosas que o tempo escondeu.


Apenas uma homenagem aos escoteiros do Nordeste.
Lembranças gostosas que o tempo escondeu.

                    Eu conheci Zeca Boleia, meninote rapazote de meia dúzia de dente, mas escoteiro macho prá xuxú. Não no sentido de conquistas, de farras de nada que pudesse desfazer seu sonho de menino, pois sempre foi um Escoteiro de verdade, lealdade a toda prova caráter e fibra de um nordestino que escolheu o escotismo para amar. Zeca não perdia um sorriso, sabia dar um abraço amigo aqui ali e em qualquer lugar. Tinha facilidade no papo, ficava horas a prosear e não era invenção, pois ele era um Escoteiro, homem de palavra e de ação. Foi lá pela invernada que a escoteirada resolver confraternizar. Vieram chapéus do sul, lenços do norte alvissareiro, do leste muitos mateiros e finalmente do oeste o sol trouxe dezenas de escoteiros. Jamborees? Necas meu caro amigo. Apenas um encontro para matar a saudade e contar prosa, tocando uma boa viola, pois lá no norte é assim. Em volta de uma fogueira não tem quem não conta causos, que fala a noite toda e enquanto correr a viola o papo não vai acabar.

                    Mas se aqui estou a contar, foi porque estava lá, nos idos anos cinquenta, em uma cidade chamada Caroço da Pimenta, bem no meio das catingas ou Mata Branca todas com muitas Xerófilas, mas floridas prá daná! Tinha Batata de Purga, Palma e Baba de Sapo, tinha Bromélia e Catingueira, Cajueira e Crisântemo. Chico Nolasco trouxe batata, Mano Pinta banana Caturra. Foi Bastião da Macaxeira que matou três bodes para que “nóis” pudesse churrascar. A festança da escoteirada foi até de madrugada e naquele dia a alvorada se assustou com cantoria de versos, improvisadas na viola que nem deu bola ao sol que despontou. Os velhos cantadores escoteiros, nordestinos do Brasil xavecavam seus pandeiros com cantos e desafios ali no meio do sertão. Foi ali que na despedida, Zeca Boleia subiu na árvore e lá de cima empacou de susto a escoteirada quando declamou em voz cortante, com o vento assobiante que eu nunca mais pude esquecer.   

- Disse ele em voz rasante, cortante possante como um homem do lugar: - Sou nordestino valente, Escoteiro e domador de boi. Este é meu destino, sou o rei do rodeio amanso cavalo “brabo” e desde menino, amansando boi bravo pelo caminho, seguindo meu destino, armo barraca no vento, na lua em qualquer lugar. Por que nordestino Escoteiro nunca desiste, é um povo guerreiro sonhador e corajoso e assim eu sou desde menino... E a vida da muitas voltas e o mundo segue a girar, vendi meu cavalo, meu arreio, deixei a espora de lado, joguei a mochila nas costas e pelo mundo fui acampar... Viajando pelas estradas descobri que existe um mundo novo a explorar, me tornei um estradeiro um Escoteiro explorador, dominador de cavalo, mas não de pelo e patas e sim de fazer o bem nas cidades ou na estrada onde puder armar minha barraca, onde fiz muitos amigos e deixar o mundo girar. Não mudei muito e se mudei foi para enfrentar a vida do Escoteiro, valente e grande guerreiro e onde passo e acampo digo a todos com orgulho, que eu sou um Escoteiro e com muita satisfação eu grito prá todo mundo, eu sou eu e me mando pelo mundo e montado no vento eu vou por aí a escoteirar...


                       Nada mais a dizer, a não ser que Gustavo Barroso que era um homem do povo ficou todo afogueado, e Manoel Bandeira nome de nossas letras, diante daquele cantador disse que ele era um poeta, pois soube escoteiramente fazer uma boa improvisação. E como bom violeiro Escoteiro se tornou um cantador do Sertão! Eu aqui vou terminando, pois eu amo meu povo do meu Brasil, aqueles que estão no sul ou no norte que metem a viola no saco, a pé vão pelo mundo de Deus, arrumando ideias e dando asas a imaginação! 

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Cozinha mateira? Sei não!


Conversa ao pé do fogo.
Cozinha mateira? Sei não!

          Tenho visto por ai muitas ideias de Cozinha Mateira. São bons mateiros que se divertem no campo a improvisarem e se fartarem da boa comida mateira. Nos dias de hoje porque não? É o pão do caçador? A sopa de cebola? O pão do minuto? Ovo no espeto? Ovo na casca de laranja? Ovo no barro? Milho assado na brasa? A maçã recheada? Frango no barro? Carne moída na batata? Arre! São centenas se deixar os mateiros Escoteiros engordam esta lista em minutos ou horas. Dizem os bons técnicos mateiros que a comida mateira escoteira é a técnica de se cozinhar sem a utilização de utensílios domésticos. Dizem também que é a comida típica dos Escoteiros nos acampamentos. Um deles disse que preparar a própria comida é um desafio e sempre uma grande distração para os jovens. Saber improvisar, ter paciência ver como substituir as tradicionais panelas (pelo menos se tem uma vantagem, evitar lavar panelas, arre!).

            Nada como um bom fogo, boas achas para brasa e já pensou colocar ali uma banana verde uma cebola, uma batata e enrolar o pão do caçador para depois de cozido se deliciar? Só não vale um churrasco no campo de patrulha. Não vale? Vale sim, uma noite fria, um bom fogo mateiro, caçar uns patos do mato ou marrecos, quem sabe uma carninha de tatu, uma cobrinha bem limpa e cortar em rodelas pequenas ficadas em espetinhos, ou de um belo Gavião que voou baixo e se danou? Bom demais. Bem sei que hoje isto não pode, mas quantos patos selvagens ainda existem por aí? Está dando sopa nas lagoas o pato-do-mato, pato-crioulo, pato-bravo, cairina, pato-selvagem e o pato-mudo. Haja patos para encher a “pança” dos escoteiros. Risos. Não pode? Bem o respeito à natureza e a liberdade dos animais e pássaros precisam ser respeitados. Mas ouve uma época que nós Escoteiros vivíamos da natureza selvagem. Na mochila não faltava meio quilo de sal, um vidro de gordura de porco, (quase não havia óleo de cozinha) eu gostava de uns dentes de alho e dependendo o lugar a acampar isto bastava. Lista de mantimentos? Meu Deus! Nem pensar.

             Será que teríamos jovens para um acampamento assim? Uma mochila, uma manta, mudas de roupas e material de higiene, uma pequena lona, claro não podia faltar uma boa faca mateira ou um facão, um canivete Escoteiro, uma machadinha pequena e mais nada. Ops! Esqueci o sal a gordura e o alho. Sem eles dava para se virar, mas no máximo alguns dias. E você quer ir comigo? Use de sua imaginação e lá vamos nós. Para onde? Para onde o vento nos levar. Quem sabe na lagoa do Epaminondas? Gente boa. Sempre a nos presentear com um franguinho vivo ou morto. Risos. A lagoa era o máximo. Dela tirávamos belas traíras, bagres e quando chovia enormes corvinas. Pegamos uma vez um pequeno Jacaré. Coitado serviu a seis seniores sem saber que eles adoraram. E os patos selvagens dando sopa a pedir: - Nos faça no espeto bem tostado, por favor! Risos. Uma sopa? Era só desencavar a macaxeira, ou melhor, o aipim, mandioca-doce, mandioca mansa e frita então? Bela lagoa. Era como dizia Pero Vaz de Caminha, nesta lagoa se plantando tudo dá. Mas ele estava errado, nela não precisava plantar, pois tudo dava.

           Mas vamos lá, não vamos ficar somente na lagoa, quem sabe ir até o Rio Chorão? Gente ali vamos nos fartar de peixe, Zé Bigode o intendente da Patrulha Leão, aquele que não tinha bigode disse que pegava com as mãos. Verdade ou não na piracema lá na curva da Cachoeira do Cavalo eu mesmo peguei vários. Mochila nas costas desfraldem a bandeira e lá vamos nós continuar nossa jornada. Cuidado ao atravessar o Riacho do Piraçu, a correnteza é forte, mas se amarre no cipó e fique frio. Melhor arranchar ali. Tem uma clareira na Mata do Guaporé linda de morrer. Cada um faz uma coisa. Um prepara o fogo mateiro, outro busca lenha, eu vou buscar uns timburés e uns chuchu do mato. Aqui tem dos grandes. E você Boca Larga entre na selva e veja se encontra uma colmeia e devagar sem alarde retire um ou dois favos. Não tenha medo das abelhas. Afinal elas sabem que você é um escoteiro. Vamos retirar da cera todo mel que precisarmos. Vamos nos empanturrar de doces de mel. Tem vasilhame? Que isto meu caro amigo, estava na lista?

         Acho que não vai chover turma portando durmam com Deus. Que o céu seja sua barraca. Fiquei a vontade para contar as estrelas, façam seu pedido ao passar um cometa brilhante no céu. Eu hoje nem papo quero, estou cansado e preciso de descanso, pois amanhã o dia não vai ser mole. Sei onde estão as galinhas d’angolas selvagens. Muitos as chamam de Cocar. Vamos pegar três e vamos nos regalar. Um bom cipó e aqui na floresta eles abundam em todo lugar. Você sabia que temos uma grande variedade deles? Tem espécies medicinais, são bons para diarreia, hepatite, leishmaniose e até câncer. Bem não sou médico, mas além de servirem como uma boa corda, eu os uso como tempero e conheço um com aroma e sabor de alho e cravo. Putz! Sua meia está furada Chefe? Troque já. Calo nas jornadas não é bom. E vamos dar belos galopes atrás delas e não acreditem se começarem a gritar. São danadas para cantar: - Tô fraco! Tô fraco! Risos, não acreditem nelas! Se forem bons escoteiros vamos pegar umas três rapidamente. Depois abrimos o bucho, deixamos as penas, dentro um pouco de óleo e sal e já devemos ter prontas as assadeiras. Três buracos de uns 40 de fundo por 12 polegadas de diâmetro. Cobrir com barro (as galinhas d’angola) e colocar na brasa fechando o buraco em seguida.



            Agora pé na taboa. Deixe as gostosas galinhas d’angola se aquecendo. Vamos voltar em três horas e elas estarão prontas. Ao tirar o barro saem as penas. E que delicia! Mochila nas costas e lá vamos nós novamente. Na Floresta do Jangadeiro vai ser fácil encontrar a Castanha e o Açaí. E olhe o que não falta lá é o Palmito (uma delícia) e na descida vamos passar pelo Lago Vermelho. Uma vez encontrei lá belos inhames, maracujás bananas da terra e folhas de Lobrobô. Não conhecem? Risos. Vais ver o ensopado que vamos fazer sem panelas. Sem panelas? Calma. É o truque que uso. Não conto para ninguém, só para quem acampa comigo risos. É como o sabonete das três e meia da manhã um belo banho principalmente no inverno! Quem vai aguentar cinco dias assim? E dez dias? É não é fácil. O melhor mesmo é voltar a Comida mateira. Tudo é levado da sede. Lá é só preparar. Mas você que esteve comigo nesta bela viagem de sonhos aventureiros não gostou? Lembra-se do Macaquinho que pulou em seu ombro na selva do Soldado? São tantas lembranças que tenho certeza estes cinco dias vão lhe marcar para sempre. Quem sabe um dia vamos voltar?