sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. A Lei da Selva e as leis dos homens.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.

Nota - Rudyard Kipling narra à história do menino-lobo Mowgli e apresenta uma visão sofisticada da relação entre humanos e a natureza.

                         O escritor Rudyard Kipling é um representante perfeito daquilo que os acadêmicos de hoje desprezam. Já foi tachado de imperialista, racista, reacionário e de todo tipo de adjetivo que a histeria politicamente correta procura impingir àqueles nomes difíceis de enquadrar nos cânones da leitura simplista da história que divide a humanidade em duas metades – uma ocupada em dominar e maltratar a outra. No final de sua vida, enquanto o Império Britânico ruía, Kipling caía em desgraça. Passou a ser visto como um ideólogo do domínio sobre outros povos e países, sobretudo a Índia, onde nascera e passara a primeira infância, nos anos 1860.

                        Quando escreveu seu clássico Orientalismo, mais de 100 anos depois, o intelectual palestino-americano Edward Saïd escolheu um trecho de um conto de Kipling, “Servos da rainha”, para ilustrar a submissão do Oriente ao Ocidente: “Mula, cavalo, elefante ou boi, ele obedece ao seu condutor, e o condutor ao sargento, e o sargento ao tenente, e o tenente ao capitão, e o capitão ao major, e o major ao coronel, e o coronel ao brigadeiro que comanda três regimentos, e o brigadeiro ao general, que obedece ao vice-rei, que é um servo da imperatriz”. Está aí, resumida numa frase, a hierarquia a que estavam sujeitos os súditos de Sua Majestade nos tempos de Kipling.

                      Animais em baixo, homens comuns no meio, militares acima – nobres e a rainha lá no alto. A obra de onde Saïd tirou a frase, Os livros da selva, é a mais conhecida de Kipling. O motivo são os contos que narram à história do menino-lobo Mowgli, abandonado e criado numa alcateia no meio da selva – ou Mowgli, na grafia adotada em português no novo filme da Disney, que tem quebrado recordes de bilheteria.

                      O fascínio exercido por Mowgli em adultos e crianças até hoje desmente os críticos de Kipling. Sua visão da relação entre o homem e a natureza e entre os diversos povos nada tem de simplista. É limitador considerar Os livros da selva – são dois; Mowgli aparece em oito dos 15 contos – apenas uma alegoria da dominação imperial ou da hierarquia social do final do século XIX. A narrativa de Kipling faz uma reflexão profunda, apenas pincelada no filme, sobre o que distingue homens de animais. Se há simpatia do autor por um dos lados, ela certamente está com os bichos, transformados em exemplos de valentia, astúcia, sabedoria, ternura e amor.

                     O herói que mata o cruel tigre Shere Khan é um menino, dividido o tempo todo entre seu lado homem e seu lado animal; entre sua mãe loba na selva e aquela que se diz sua mãe na aldeia; entre seus amigos bichos – um urso, uma pantera-negra, um píton e seus irmãos lobos – e sua humana solidão existencial. “Essas duas coisas brigam dentro de mim assim como as cobras brigam na primavera”, diz ele a certa altura. “Eu sou dois Mowgli, mas a pele de Shere Khan está sob meus pés.”

                      O urso Baloo – mais sério e sábio que o hippie simpático do desenho animado de 1967, repetido no filme em cartaz – que ensina a Mowgli a Lei da Selva. Sua essência não está apenas na obediência, vista como anátema pelos críticos de Kipling. Está também na regulação sofisticada de um ambiente em que a morte é necessária para alimentar a vida. Alimentos e água se tornam escassos, e apenas a Lei da Selva garante a sobrevivência das espécies, no ciclo eterno de eras e estações da natureza. Na alcateia de Mowgli, a lei ensinada por Baloo é repetida por todos os lobinhos: “Esta é a Lei da Selva, tão antiga e imutável quanto o céu; quando um lobo a viola, ele morre, mas prospera o lobo que é fiel. Como a hera que envolve o tronco, a lei sobe, desce e volteia – pois a força da alcateia é o lobo, e a força do lobo é a alcateia”.

                     É a lei anterior às religiões, à escrita, às constituições e aos tribunais. É a lei de todo grupo que precisa permanecer unido para sobreviver, daqueles que se protegem porque nada mais há para protegê-los, do “nós” contra “eles”, das máfias e partidos. Necessária, mas insuficiente para Mowgli. Quando, no penúltimo conto, sobrevém o ataque dos selvagens cães vermelhos, ele usa sua astúcia para conduzi-los às abelhas ferozes; depois sucede o enfrentamento sangrento da alcateia com a matilha, que termina com dúzias de mortos.

                     – Uma cena ausente do filme, que revela toda a arte de Kipling como narrador. Mowgli cresce e, aos 17 anos, incapaz de resolver seu conflito interior, vai buscar abrigo entre os homens. Os livros da selva terminam aí. Mas o primeiro conto que Kipling escreveu sobre Mowgli, “No Rukh”, ficou de fora. Mostra Mowgli anos depois de sair da selva, quando ele usa seus talentos para se tornar funcionário de um parque florestal. Sem deixar de ser selvagem, Mowgli começa a entender como as leis dos homens protegem mais que a da selva. Para desespero de tribos e alcateias, casa-se com a mulher por quem se apaixonara – uma muçulmana. 

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Conversa ao pé do fogo. Dia do Voluntário.



Conversa ao pé do fogo.
Dia do Voluntário.

Nota – Meu cordão do Colar de Gilwell partiu. E daí Chefe, o que tem a ver com o dia de hoje? Hoje se comemora o dia do Voluntário. Estes bravos que fazem um novo escotismo. Seu cordão partiu? Sim meu amigo, dou um volta a Gilwell, tiro meu lenço meu anel ajoelho na grama verde e digo: Obrigado BP por ter me feito um Escoteiro!

                Nada a ver com meu lenço da IM, mas hoje dia 28 de agosto se celebra o dia do voluntario. Aqueles que dão seu tempo e seus préstimos sem soldo, sem agradecimentos. Mas foi também a data que em 1968 recebi meu lenço pelas mãos do Chefe Darcy Malta em Minas Gerais na Sede da Região Escoteira. Presentes? Três assistentes regionais e dois chefes escoteiros do interior em visita a Região Escoteira. Como sempre faço o tiro dos guardados, dou uma olhada e sem ninguém perceber fico em posição de sentido e faço uma saudação escoteira. Calma... Coisas de velhos escoteiros esclerosados.

                No dia que recebi nem sabia que um dia seria meu dia. Afinal também sou voluntário apesar de não me achar como um. Foi em 28 de agosto de 1985 que o presidente José Sarney assinou o decreto e as entidades que possuem estes colaboradores festejam sua participação. Voluntário eu? Não sabia e nem sei se até hoje me considero voluntário. Bem fui um antecessor da data do voluntário ao receber minha Insígnia de Madeira antes do decreto e quem sabe o precursor ao festejar uma data tão querida e nunca esquecida.

                Não foi fácil “tirar” a Insígnia. Comecei em 1959 com o CAB escoteiro, logo depois a IM parte Campo e aí a porca torceu o rabo. O tal caderno era um terror para os chefes escoteiros. Ninguém sabia que era seu leitor e eu mesmo pensei que seria um Chefe idoso, cheio de manias com seu cachimbo a ler meu caderno. Feito a mão (caneta) cheio de firulas para agradar. Foram quase três anos de vai e vem sinal que não era um Chefe bem preparado escoteiramente. Será?

                Que adiantou minhas 18 especialidades dentre as quais as mais difíceis de Cozinheiro, Sinaleiro, Construtor de Pioneirias e a de Enfermeiro? Contar para o Leitor que fora lobinho, escoteiro sênior e pioneiro não valeu. Um dia quase desisti dela. Reclamei com o Escoteiro Chefe e eis que o próprio chegou uma noite na Sede da Região escoteira. O Chefe Darcy Malta uniformizado, batendo com o lenço em cada ombro duas vezes e dizendo: Chefe Osvaldo você não é mais um Pata-Tenra, agora pertence ao primeiro grupo de Gilwell e deve honrar este lenço por toda sua vida!

                Confesso que chorei. Sou um chorão por natureza. Minha mente voou no passado quando na IM fizemos um jogo e depois discutimos a Lei Escoteira dentro de um lago com água até o umbigo. Inesquecível. E vem um jovem iniciante a propor mudanças em parte de um artigo da lei e outros que querem alterar a Promessa. Foi assim pensando que sem perceber notei que o cordão do meu colar partiu. Meu coração bateu. Cinquenta anos! Cinquenta anos com ele pendurado no meu pescoço me dando o orgulho de ser um membro do Primeiro Grupo de Gilwell.

                Sai e fui comprar outro cordão. Não é de couro, mas parecido. Aquele antigo está guardado para sempre. Foi meu companheiro de uniforme, de atividades incríveis, foi comigo a centenas de acampamentos de fogo de conselho de atividades mil por este Brasil imenso. Devo estreá-lo brevemente. Fui convidado para uma atividade escoteira e se minhas lindas pernas e meu pulmão raivoso permitirem lá estarei. A vida é uma constante de lembranças, e dói fundo ver as mudanças sem nada poder fazer.

                 Meu escotismo é outro, não é mais aquele da vida ao ar livre de dizer lá vou eu e nem sei quando vou voltar. Brinca-se hoje de bugigangas tiradas da imaginação do Chefe e o jovem nem é consultado. Brinca-se de faz de conta pra atingir o mais alto cargo no escotismo e brigar para não mais sair. Os adultos hoje sentem vontade de fazer o que ensinam, afinal são voluntários e uma grande maioria não viveu os sonhos dos escoteiros nas suas aventuras imagináveis. Não tem volta, cada um vai vivendo seus tempos.

                Como me disse um antigo Chefe Escoteiro: - Chefe tem voluntário que nunca desceu de uma árvore com um nó de evasão. Tem outros que não sabem o nó de fateixa ou pescador. Tem alguns que não sabem sorrir, tem muitos que fazem questão de manter a pose de chefão para seus meninos e tem aqueles que ainda não se tocaram na grande filosofia que Baden-Powell nos deixou.

             Disseram-me que não se fazem mais “escotismo dos antigamentes” como antes. Não fico triste com o andar da carruagem escoteira, sigo a pista da roda da carruagem. Quem sabe ela vai me levar onde sempre sonhei estar? Volta Gilwell, terra boa... Um curso assim que eu possa eu vou tomar. Há! É mesmo mais verde a grama lá em Gilwell.

Pelo sim pelo não, meus parabéns aos voluntários escoteiros. Graças a eles ainda podemos sonhar com um amanhecer cheio de doces lembranças de uma vida dedicada ao escotismo!

domingo, 26 de agosto de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Miscelânea de um domingo sem sol.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Miscelânea de um domingo sem sol.

Nota – Apenas uma crônica de domingo. Sem eira nem beira, guardada levemente na algibeira. O frio, o céu pedrento que diz chuva ou vento, os políticos brasileiros sempre os mesmos, a liderança escoteira aprendendo com eles o que de pior tem naqueles que não querem deixar o poder.

Domingo friento, sem vento, gelando os ossos carcomidos dos Velhos Chefes Escoteiros. Enche-se de roupa quase não se anda os braços presos por diversas blusas de frio. Saudade do frio dos acampamentos bastava um Fogo Espelho e pronto, a gente podia contar causos a vontade na barraca. Com esse frio não dá para minha jornada diária. Sempre caminho pela manhã uns oitocentos metros. Treinamento para a São Silvestre onde pretendo ficar entre os primeiros colocados. Vou acabar com a hegemonia dos Etíopes que sempre estão em primeiro lugar.

Dou-me ao luxo de dormir até as sete. Sempre levanto as seis, mas debaixo dos dois cobertores e a manta escoteira que não abro mão tava quentinho demais. Como sempre vou até a varanda saudar o dia frio e agradecer a Deus por ter me dado até este dia a vida e dizer a ele que na próxima morada que me leve para um planeta de clima nem quente e nem frio. Será que existe? Olho para o chão da varanda e vejo dezenas de santinhos. Quantas "porcagens" desses políticos.

Imagino que um pais que entrou no atoleiro politico como o nosso dificilmente vai sair. Os políticos sempre os mesmos escolhidos por eles mesmos com nosso rico dinheirinho para gastar com santinhos propagandas e afins. Os partidos escolhem. E nós vamos escolher a quem? Até pensei que tudo poderia mudar. Mudar? Agora não acredito mais. Veja os candidatos a presidente. Velhos politiqueiros prometendo as mesmas promessas do passado. Alguns valentes dizendo eu prendo e arrebento, um faz tudo, um líder que nem sabe ser líder e assim vai. Escolher a quem?

Hoje também acontece a reunião do CAN em Curitiba. Depois da mesma politicada feita na politica nacional, vão eleger novos dirigentes da DEN. Eleger? Uma briga de foice nunca vista em uma liderança escoteira. Chapa tal e chapa tal. Qual chapa? Farinha do mesmo saco. Aonde chegamos? Nunca em minha vida vi tal barafunda. - BP, por favor, me traga de novo ao vivo algum que você me fez acreditar. Uma padiola cheia de doentes loucos se dizendo escoteiros. O pior que assim como a politicagem dos partidos políticos, fizeram na nossa liderança normas que nos prendem aos mesmos sintomas sem poder tomar nenhum remédio para sarar.  

Como dizem alguns mais entendidos, os “tempos são novos” Chefe Vado. Precisamos mudar. Não está tudo mudando? Onde? Como? Qual mudança à vista? Lembro-me de muitos chefes Pata-Tenras saindo dos cursos: - Chefão! Vou mudar tudo na minha tropa, agora o senhor vai ver a metodologia sistemática do delatório clavicórdio auricomado em ação. Saudades do Chiquinho que sempre chegava correndo na oficina de meu pai dizendo: - Vado hoje tem reunião de Patrulha, vamos votar e escolher o novo intendente. Coisa de louco meu. Voto no Rael!


Olho melhor o céu da minha varanda. Cheio de nuvens, algumas escuras outras claras, significa que o frio está indo embora. Frio... Sempre ele para amedrontar os velhos escoteiros. Quantas saudades dos meus sete anos, dos meus onze anos, dos meus dezesseis anos. Lobinho, escoteiro e sênior. Frio? Sai desta meu! Uma mochila um Vulcabrás e um rataplã na mente não tem frio que me segurava. Ah! Tempos bons, tempos que não voltam mais. Que agora os novos escoteiros acompanhadas das guapas escoteiras aproveitem para quando chegarem na minha idade lembrar dos velhos e saborosos bons tempos.

E lá em Curitiba? 2018 vão ficar na história. Ano que a politica enfronhou no escotismo como uma chaga para ser esquecida.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Crônicas de um Chefe Escoteiro. O poder do nada.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
O poder do nada.

Nota – E o velho Chefe sorrindo completou: - Vocês não podem mudar certas circunstâncias ou situações, mas podem adaptar-se a elas sempre, escolhendo a forma do mal menor. Pode não ser o ideal, mas será o melhor. Aproveitem as oportunidades que lhes derem, mesmos que sejam aparentemente pequenas. As grandes árvores vêm de pequeninas sementes. Abraços fraternos.

            Quem lê ou ouve alguém falar da Filosofia Escoteira, fica estupefato. É linda demais. Juventude unida por um só ideal. Voluntários que fazem de tudo para que esta estupenda ideia de um General Inglês possa dar frutos criando homens e mulheres dentro de um paradigma de amor ao próximo, lealdade, caráter honra e porque não uma ética escoteira em que todos possam viver fraternalmente.

             Muitos vieram dos velhos tempos outros dos novos tempos. Acredito que ambos deviam conhecer a fraternidade, a cortesia e o respeito daqueles que se prontificaram a colaborar. Sem soldo, muitas vezes sem um muito obrigado. Brinco educadamente que o escotismo não tem dono, não pode ter. Ele é universal e o Fundador dizia que seus frutos seriam manter a paz entre os homens para um mundo melhor.

             Mas eis que apareceram normas, regulamentos, regimento, leis, roteiros de ação, estatutos, código de conduta e tantas outras para dizer o que cada um pode fazer. Não existe mais o salomônico Chefe para mostrar o caminho e dizer o que é certo ou errado. Antes um escotismo alegre, solto, livre como o vento a correr pelos montes, pelas trilhas que nem se sabia onde ia dar. Hoje? Tudo mudou. Primeiro as normas, pedido escrito se pode ou não fazer. Autorização do Chefe do Poder.

              Se isto fosse feito de uma maneira fraterna, educada, sem o cunho de imposição poderia ainda haver aquele sonho dos meninos correndo pelas matas de Londres ou outro país qualquer sem um adulto ao seu lado para dizer o que fazer. Mas não, sem perceber apareceram os “donos do poder”. Alguns com um sorriso outros arrogantes, ríspidos a dizerem o que é certo e errado, mostrando o artigo, a norma e a lei escrita depois que o General se foi para dizer onde pisar e escoteirar.

              Não critico normas, leis e o escambal. Precisamos delas na sistemática moderna onde se perdeu a liberdade de ir e vir no escotismo que tinha sim um sabor todo especial. A liberdade da responsabilidade já não é mais a mesma. O confiar na palavra escoteira deixou de existir. Agora se agarra ao artigo tal, a lei tal, a norma diretiva que um bando de lideres acreditou que seria o melhor a fazer.

              Onde foi parar a mística? Aquele sorriso ao correr pelos campos para descobrir o imponderável? Onde foi parar o sonho da descoberta, a mangueira alta sombreada a beira de uma cascata de águas cristalinas para que se possa sorver seu néctar e a sede matar? Tudo agora é norma, é lei, ande reto e não pare a não ser quando eu mandar. Olhe você só vai se cumpriu seu dever se pagou a soma que lhe quiseram cobrar. E dizem que ele o General se vivo fosse faria assim também.

               Mas ainda vejo sorrisos, sonhos, vontade de acertar e caminhar como Caio Martins sempre caminhou. “Com as próprias pernas”. São meninos, meninas que se formam em um punhado de sonhadores a fazer um escotismo que acreditam poder realizar. Ainda temos chefes que fecham os olhos para os adoradores do poder e se metem a sair por aí com um bornal, cheios de fantasia, imaginação, encantamento a procura de um escotismo encantado. Não foi assim que disseram para eles?

              Entristece-me a discussão de normas, regulamentos e o escambal. – Chefe, esta difícil... Não dá para continuar... Não dá? Se todos que são achincalhados e humilhados na sua sina escoteira pensar assim, quando iremos vencer esta batalha para dar aos jovens pelo menos uma parte deles que ainda acreditam na graça, no encanto na grandiosidade de um escotismo que julgam perfeito para viver? Belo é o escotismo de quem acredita de quem luta e não desiste quando na curva encontram espinhos sem olhar direito e ver rosas formosas mostrando o caminho da felicidade.

             Sei que os donos do poder dificilmente vão mudar. Eles não tem histórias e querem fazer histórias. Qual delas? A do escotismo puro, com cheiro de mato, com trilhas pisadas sem saber aonde ir? Pode ser. Mas isto só irá acontecer se ombrear ideias, valores éticos sem dissabores que muitos querem criar. Mas olhe, por favor, não me venha dizer que as normas vieram para ficar! Não foram feitas por BP e eu não preciso delas, nunca precisei. Elas sempre existiram na minha maneira escoteira de viver!

sábado, 18 de agosto de 2018

Conversa ao pé do fogo. Panelas.



Conversa ao pé do fogo.
Panelas.

Nota - Sinceramente? Quando Escoteiro adorava lavar panelas. Depois fui crescendo e correndo delas. Mas soube que tem patrulhas com técnicas paneleiras e com escoteiros ou seniores expert em panelas. Estou até pensando em um moderno Escoteiro, smart fone na mão e lavando panelas. Será que dá?

¶No acampamento, o nosso tormento,
é ter que usar PANELAS.
Pois o alimento requer cozimento,
e ao fogo vão as PANELAS¶.

                 Dizem e eu assino embaixo que o escotismo é maravilhoso. Dizem também que nosso líder afirmava que escotismo se faz no campo e o acampamento é o melhor meio para ensinar honra ética e formar caráter. Perfeito. Tem aqueles que adoram um grande jogo, outros amam fazer uma bela pioneira. E tem aqueles que se sentem bem com uma lauta refeição no campo. São coisas que marcam principalmente o Fogo do Conselho. Mas meus amigos, e lavar panelas? Até hoje ainda não vi um testemunho de alguém que dizia lavar panelas era inesquecível. Dei uma olhada no filme da minha vida Escoteira. Consultei amigos daquela época, fiz uma pesquisa tipo as da UEB em Grupos Escoteiros e a conclusão? – Ninguém, mas ninguém mesmo gosta de lavar panelas.

              Fiquei sabendo que um Escoteiro novato adorava lavar suas panelinhas barrentas e sebentas. O Chefe estranhou e conversou com seu pai.  Agora ele faz terapia de grupo com um Psiquiatra. Não entendo esta exigência dos chefes nas limpezas das panelas. Se não lava em sua casa porque lavar no campo?

¶Lá o carvão e a fumaça, põe tisna no caldeirão.
Dentro se é macarrão, fica um grude que não sai não¶.

         O magnífico hino do Ajuri Nacional do Rio de Janeiro tem uma estrofe que diz – ¶ Se ele é gaúcho, você do Amazonas, debaixo das lonas são todos irmãos, qualquer cor ou classe, qualquer raça ou credo lavando as panelas são todos irmãos¶. Arre! É isto mesmo? Lavar panelas para sermos irmãos? Tô fora! Afinal pegar as sebentas e agachar em um riacho ou ficar curvados em um tanque, limpando, esfregando aquelas negras queimadas, nojentas, sebentas, para muitos é um horror. Os coitados dos novatos é que sofrem com isto. Sempre são escolhidos por unanimidade. Já vi alguns gritarem – Deixa que eu lavo! Depois da experiência dizem que nunca mais! Risos. – Mesmo com as palmas dos demais ele olha de olho torto e pensa: Se for assim não acampo mais! O pior era o cozinheiro: Isto é sua limpeza? Faz favor Escoteiro, toma vergonha na cara e lave direito! Uns cresciam e se divertiam com os novatos. Panela nele diziam. Ele agora tinha ficado livre daquela nobre função de lavador de panelas!

¶Foi-se o alimento, chegou o momento, de ter que lavar, PANELAS.
Negras, queimadas, nojentas, sebentas, nas mãos, nos dão as PANELAS¶.

              Não esqueço o dia que o Pinta Silgo da Patrulha Coruja chegou correndo na casa do Jaci Cata Prego o Monitor e disse para ele: - Monitor! Monitor! Acabou o suplicio! – Porque respondeu Jaci Cata Prego – Elas estão sendo aceitas. – Elas quem? As meninas Monitor, as meninas. Agora a função é delas, minha irmã é quem lava lá em casa! - Não é a mamãe, a titia a vovô quem lavam? Monitor, que elas comecem agora desde cedo a aprender!

          - Bem nem todas as patrulhas os patrulheiros são revoltados em lavar panelas. Eu mesmo em cursos Escoteiros sorria azedamente quando lavava só para demonstrar meu espírito Escoteiro. Putz! Que idiotice! Mas pense bem, se você é menino e entrou em uma patrulha, sempre foi orientado a pedir a sua mãe uma panela velha para a Patrulha. E sabia muito bem que seria escolhida as amassadas, as mais negras e as mais sebentas. Aconselho a tomar cuidado com a doação.

¶Chega à chefia no meio dia, para inspecionar, PANELAS.
E os escoteiros respondem fagueiros, não existem mais, PANELAS¶.

           Sei que existem exceções. Conheci um grupo que de tão podre de rico levava senhoras contratadas para lavar as panelas. Quem pode, pode quem não pode se sacode! E tem aqueles que lutaram para arrumar um dinheirinho e compraram aqueles famosos conjuntos de panelas. Uma cabia dentro da outra. Beleza. O ruim era que no segundo acampamento não se encaixavam mais. Amassavam, a sujeira formava uma casca dura, sebentas e logo viravam sucatas. Existem exceções. Já vi panelas brilhando e fazia gosto fazer a inspeção na sua intendência. Era sempre a Patrulha mais organizada e adestrada. Poucas é verdade. Quase sempre todos da mesma idade, com o mesmo conhecimento técnico Escoteiro, cada um mais experiente que o outro. Era mesmo a Patrulha ideal sonho de todo Chefe escoteiro. O segredo era que só havia mateiros sabidos. Ou todos lavavam ou ninguém lavava nada. E sem essa do Monitor mandar e ficar numa boa.

¶Lá o carvão e a fumaça, põe. . .

           Estou sabendo que no escotismo moderno isto não vai mais existir. Já tem curso de como fazer um acampamento sem fazer força. Ensinam a pedir uma “quentinha” e elas chegam rapidamente. Um bifinho, um arrozinho, um feijãozinho, um tomatinho e dois pedacinhos de batata frita e pronto. Dizem que será lei e que breve estará nas paginas do POR. Adoro estes dirigentes cheios de planos. Afinal se muitos sonham com as barracas existentes na nave Enterprise e que os Escoteiros do futuro usam porque lavar panelas?

            Veja o que existe na nave NCC-1701-D a mais moderna: - Aperta-se um botão e lá está a barraca armada. Dentro cama de casal, geladeira, TV por assinatura, Kit completo de chuveiros e banheiros. Telefone, interfone, vídeo game, Tablet e smart fone, e o melhor, é só apertar um botão e a comida sai quentinha e pronta! O que mais você vai querer? Lavar panelas? Putz Chefe, nem morto, nem morto já dizia Mikael Temer de Lulinha. Afinal agora temos uma vestimenta ultramoderna e o senhor quer nos levar aos tempos da caverna?

  ¶Lá o carvão e a fumaça, põe tisna no caldeirão.
Dentro se é macarrão, fica um grude que não sai não¶.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. “Eu prometo"! Pela minha honra...



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“Eu prometo"! Pela minha honra...

Nota – Quando tantos falam em mudanças, em esquecer pequenos trechos da promessa, da impossibilidade da palavra dada, do sentido de uma palavra quem tem tudo para ser a maior eis que aparecem os estudiosos, tentando mudar o que é o de mais sagrado para um escoteiro que um dia jurou cumprir a lei. Jurou pela sua honra que para muitos podem não significar mais nada, mas significa muito para mim. Então pensativo volto no passado quando jurei, jurei sim a Bandeira a Pátria e a meu Deus. Disseram-me que ela seria por toda a vida. Este é o meu escotismo, aquele que vive em mim e com ele morrerei.

- Fiquei três meses meu amigo, três meses para me preparar. Aprendi a Lei e seus dez artigos, aprendi a Promessa de cor e salteado, aprendi a desenhar a bandeira, a fazer sinais, a armar minha barraca, aprendi a coar um café no coador de pano, aprendi oito nós, aprendi o hino Alerta e o Hino Nacional. Fiz minha primeira Pioneiría aos onze anos. Tive duas conversas com meu Chefe que me disse sobre o que eu iria fazer. Vado, quando fizer a Promessa terá que fazer o Melhor Possível para cumpri-la. Ele me falou da minha palavra de escoteiro, da minha honra da minha ética e do meu caráter... Sim foram três meses e eu jurei!

Jurei pela minha honra, nem me lembrei do melhor possível. Todos meus amigos escoteiros sabiam do valor da promessa. Não eram santos, mas faziam de tudo para cumprir. Honra Vado? É aquilo que ninguém pode tirar de um escoteiro. Um dia meu amigo eu pensei comigo, fazer o melhor possível? Vou fazer. E passei uma semana tentando cumprir todos os artigos. Até dei a mão ao Pato Loco que uma vez pelo menos por semana saiamos às raias da discussão para uma boa sessão de pescotapas! (ele não era escoteiro).

Nos seniores mais crescidos e sabidos ainda sabíamos o que era honra caráter ética e não precisava ninguém perguntar: - Palavra de Escoteiro? – Não, não precisava. Nossa palavra era nossa lei individual. Aprendemos a cortesia e dávamos enorme valor à lealdade. Cresci, virei homem, virei Chefe. Era minha vez de ensinar aos novos que estavam chegando. E hoje? Hoje meu amigo querem tirar de mim o que fui e sabem por quê? – Porque estamos na virada do tempo, hoje tudo mudou... Mudou? Mudou o que? A Honra? A Palavra do Escoteiro perdeu o valor? A promessa de crer na paz do Senhor?

Sabe meu amigo eu não sei quanto tempo de escotismo esta plêiade de jovens chefes recém-chegados ao Escotismo que querem mudanças têm. Alegam que nos países mais avançados estão mudando. Eles mudam eu mudo. Eles saltam no buraco e eu vou atrás. Obrigar alguém a dizer aquilo que não quer? Então vamos mudar. Mudar! Só porque eles pensam assim? Joga o tema de supetão só para ver a reação dos demais? Então eu tenho de mudar só porque ele novato vem me dizer que os tempos são outros? Como disse o Lobo Gris onde me aninharei amanhã?

Não é a primeira vez meu amigo. Estão aí em pequenos grupos recém-chegados e batalhando para tirar Deus da Promessa. Por quê? Eles são agnósticos? Não acreditam em Deus? Quantos eles são? Quanto apoiam estas novas ideias para deixar de lado aquelas que para mim deram certo no passado? Eles são quantos torno a repetir. Meia dúzia? Quantos? Não respeitam mais o meu passado? Um me chama de lado e diz: - Chefe, não há como fugir, um dia tudo vai mudar. – Pode ser que sim. Mude, mas fique para ver os resultados, não vá fugir depois como muitos fugiram. Resultado? Não sei se deu ou se vai dar resultado!

Meu amigo eu fico me perguntando onde estão nossos direitos de longevidade no Escotismo. Fizemos uma promessa, foi nossa escolha individual e alguns poucos querem tirar nosso direito só porque não acreditam nas palavras da Promessa e da Lei. Se eles não aceitam o que encontraram não seria melhor fazer outra associação onde poderiam mudar a vontade? Agora me fazer aceitar algum que não acredito? Mudar minha crença? Com que direito? Ou será que setenta anos de escotismo me fez perder o direito que adquiri?

Cochicham por aí que se BP ainda estivesse vivo, ele iria mudar, mudar seu estilo inglês, mudar seu uniforme, seu chapéu, quem sabe uma nova bengala elétrica, deixar o cavalo para um transporte rápido para chegar onde ele pensou que nunca iria chegar. Falam em nome dele e quando não em nome da modernidade... Que ele iria aplaudir! Modernidade... Será ela tão importante para acabar com a flauta mágica que ouvi quando era menino tocando divinamente o Rataplã? Não vou mais seguir meu Flautista de Hamelin a me chamar?

A lei Chefe, ora a lei... Quem disse isso? Foi Getúlio Vargas? O que ele queria dizer? Será que a Lei, ora, a Lei devia ser aplicada ao cidadão comum enquanto a própria legislação concede imunidades e benefícios às classes privilegiadas? Seria a Lei para beneficiar aos que assumiram para servir e hoje querem ser servidos? Ah! A Lei... Eu prometo... Sim eu prometi fazer o melhor possível, ate hoje me lembro daquele dia que empertigado, segurando no bastão da minha Patrulha e firme olhando a bandeira disse a viva voz: - Cumprir os meus deveres para com Deus e Minha Pátria ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e por último falei alto para todos ouvirem: - Cumprir a Lei do escoteiro!

E como dizem por aí nas redes sociais, nos sites históricos, nos filmes e na TV: - Palavra de Escoteiro! Querem acabar com ela? Bah! Tirar o meu direito de escolha? Será que eles tem mais direito do que eu? Esses Pata Tenra ainda tem muito que aprender...

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Quebra Coco. O último desafio!



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Quebra Coco. O último desafio!

Nota: Há tempos era uma tradição cantar a canção Quebra Coco nos fogos de conselho. Quebra Coco é uma tradicional canção escoteira, provavelmente adaptada do folclore do Estado do Para. Conforme o Chefe Fabio Neiva, o primeiro registro desta canção foi de uma publicação da revista Escoteiro da Gloria, do Rio de Janeiro de fevereiro de 1926´. Provavelmente parodiando antigos repentistas e com o tempo se tornou muito popular nos fogos de conselho.

                 Acho que o tempo apagou estas lembranças incríveis. Quase não vejo alguém cantar ou falar desta canção. Sempre foi um desafio incrível. Deve ser os novos tempos, novas músicas, novas canções. E quem se anima a cantar as antigas? Elas devem ter ficado no tempo presas na mente dos antigos escoteiros que ainda vivem seus sonhos em um passado distante. Acredito que devem ser poucos que ainda lembram-se do desafio em um Quebra Coco que só foi terminar lá pelas tantas com o sol dando as caras pela manhã. Na minha época um tremendo e bom desafio.

Como era gostoso cantar e ver os desafiantes meditando e montando a estrofe que iria cantar. Até quando fui Chefe de tropa tentei incutir em todos o desafio do Quebra Coco. Acho que não fui feliz. Os jovens não se interessavam mais. Tudo foi mudando, novas ideias novos Fogos de Conselho. Quem diria que naquela época teríamos um animador de fogo? Nunca! Animador? Nem pensar. O fogo era espontâneo.

               Lembro-me do meu primeiro acantonamento/acampamento no sitio do Vale Feliz. Lobinhos cantavam as canções antigas com vigor. Fizeram um desafio e eu aceitei sem saber como montar uma estrofe. Lobos acampando? Risos. Claro, era comum. E porque não? Era mais divertido. Lembro-me do Miúdo (era nosso Balu, nunca fiquei sabendo seu nome real) e do Munir Boca Grande (nosso Bagheera) a fazer os almoços e jantas e que manjar! Eles eram bons e todos nós em volta ajudando, buscando água, lenha, cantando e contando “pataquadas”.

                Bons tempos. Já tinha participado de dois Fogos de Conselho. Não sabia como era o Quebra Coco. Foi o Akelá Laudelino quem explicou. Tratava-se de um desafio entre escoteiros. A tropa antes de encerrar o Fogo de Conselho fazia o desafio. No começo todos participavam, mas depois de algum tempo ficavam dois ou três. Os demais não eram bons repentistas e se quisessem podiam ir dormir. Mas ninguém arredava o pé enquanto não houvesse um ganhador.  

              Quando escoteiro e sênior o quebra coco era minha diversão favorita nos Fogos de Conselho. Desenvolvi uma facilidade grande em criar versos. Nada dos conhecidos. Isto era para Patas Tenras. Poucos tinham a “audácia” de me desafiar. Iniciava o quebra coco cantando: – “Meus amigos, escutem bem, hoje estou um pouco rouco, mas é bom ficar sabendo, sou o campeão do Quebra Coco” e daí em diante não parava mais.

              Mas tudo mudou quando quebraram meu orgulho de cantador. Fui humilhado por um matuto de uma pequena cidade do fim do mundo. Fomos acampar em Serra Vermelha com uma Tropa da cidade de Guanhães e foi um desastre. Todos perguntando se tínhamos bons “cantadores” do Quebra Coco. Apontavam-me e eu ficava todo orgulhoso. Não falaram nada do Mandinho. Um Escoteiro magrelo, desengonçado e achei até que ele era gago. Quando chegou a hora e ele em pé aceitou meu desafio, sorri de leve. “Este está no papo”.

               Deus do céu! Onze horas, meia noite e o danado lá aceitando todos meus versos e devolvendo em dobro! O Chefe disse que quem quisesse podia ir para as barracas, mas ninguém arredou o pé. Minha cabeça fervilhava, a busca de versos era medonha. Mais de quatro horas e o danado do Mandinho ali com um sorriso simples, sem afetação me colocando no chinelo! – Entreguei os pontos. Fui lá do outro lado à fogueira cumprimentá-lo. Parabéns Mandinho. O elogiei. Faz parte da Fraternidade Escoteira. – “Mandinho, estou orgulhoso de você”! Pensei em encerrar minha carreira de cantador, mas quando se canta pela primeira vez a gente mantem no coração a chama escoteira. Ganhar é bom, mas se perdeu paciência. (Nosso Chefe Jessé dizia).

               Os tempos foram mudando. Participei de muitos Fogos de Conselho. O Quebra Coco se tornou saudades de um tempo no passado. Chegaram novas canções e ele, o meu amado Quebra Coco ficou na história de um livro que não foi escrito. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Piá, Escoteiro Quebra Coco e depois vai trabalhar! Até hoje eu canto com boas lembranças.

             Aqui na minha salinha mágica onde viajo pelo mundo escoteiro, olhei para o passado e fui para minha varandinha querida. Meu recanto. Onde penso e faço minhas histórias. Sentei na minha cadeira rústica e olho pela fresta do portão e vejo a meninada jogando bola. Uma rua íngreme. Poucos carros. Cada um se diverte como gosta. Cantava baixinho o Quebra Coco. Saudades vêm e vão e eu "Velho" Escoteiro vou lembrando como posso dos meus tempos de criança. Quebra Coco, O meu Chapéu tem Três Bicos, o Yupy Aia, a Árvore da Montanha e tantas outras. Onde está meu violão? Acho que as cordas arrebentaram. Preciso comprar novas e ficar aqui na minha varandinha relembrando. Fazer a melodia brotar de novo pelo som do meu violão. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Piá... Escoteiro quebra coco, e depois vai trabalhar!


“Minha mãe chamava Caca, E meu pai Caco Maria,
Juntando caco com caco, Eu sou filho da Cacacaria!

A turma do Facebook, Não são doidos varridos,
É uma turma das boas, Turma de muitos amigos.

Fui na horta apanhar couve, esqueci apanhei repolho,
Vou mandar cê prús infernos, pru capeta fazer molho.

Não chorem na minha partida, Hora de o Velho sumir.
A hora passou no tempo Desculpem, preciso dormir.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Crônicas de um Chefe Escoteiro. Escotismo é só para ricos?



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Escotismo é só para ricos?

Nota - John Thurman Chefe de Campo de Gilwell Park já falecido escreveu que Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. Se nos mantermos dizia, o mais possível dentro a simplicidade, alegria e entusiasmo o sucesso será real. No entanto os únicos capazes e possíveis de pôr o Escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado autossuficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.

                     Há dias vi uma postagem de chefes reclamando dos altos preços cobrados pela Loja Escoteira. É um tema que muitos comentam sem sucesso. Afinal queira ou não boa parte dos participantes hoje do escotismo já entram sabendo que tem gastos e eles não irão medir esforços para que seus filhos tenham tudo que precisam. O jovem de hoje não luta para ter seu material com seu próprio esforço pessoal. Muitas atividades tem o sabor de aprendizado pelos novos chefes e estes não medem esforço para estarem presentes.

                     Quando Baden-Powell criou o escotismo, tinha como meta os mais humildes, principalmente a juventude que morava em bairros pobres de Londres e pudessem receber outro tipo de formação. Hoje isto ficou para trás. Não existe mais esta preocupação. Se por um lado tenta arrebanhar um maior numero de associados que não podem pagar por outro lado se cobra preços absurdos dos materiais escoteiros a venda na Loja Escoteira. Os eleitos para postos mais altos não estão lutando para conseguir que o mais humilde também possa participar.  

                      No passando nos orgulhávamos em ver uma tropa ou alcateia completa com seus uniformes desbotados, mas com apresentação impecável. Sinal que ali o jovem ficava por muitos anos e davam valor ao que tinham. Dava gosto de ver lobinhos primeira e segunda estrela, escoteiros segunda e primeira classe. Nos acampamentos distritais e regionais era bom demais ver as patrulhas chegando completas, desfraldando seu totem, dando seu grito de patrulha e trazendo seu próprio farnel e sua tralha. Os sub campos ferviam de bom escotismo. Patrulhas completas se orgulhando do seu grito de sua participação visando conquistar uma simples bandeirola de eficiência.

                      Mas tudo mudou. Em vez do formidável sistema de patrulhas passou-se a considerar o jovem e não sua equipe. Qualquer atividade tem taxas que nem todos podem pagar. Nas atividades regionais e nacionais dificilmente as patrulhas participam completas. Parece que o lucro vem em primeiro lugar. Li um artigo que dizia: - Quanto tempo leva uma empresa para dar lucro? Será que já somos uma empresa ou somos uma associação? Onde estão as empresas que poderiam estar fazendo seu Marketing nas atividades escoteiras? Onde estão os profissionais escoteiros para fazerem isso?

                     Criou-se uma vestimenta com diversos tipos de uso. Para que? Para vender mais? Alguns reclamam das péssimas condições de confecção e do próprio tecido, que não é próprio para o campo e desbota com rapidez. Penso até que isto foi premeditado para que as trocas sejam feitas mais amiúdes. Afinal a Loja Escoteira é um truste sem sócios e onde só ela tem os direitos dos produtos que comercializa. Chega ao ponto que a UEB exige que nas suas atividades realizadas em regiões ou distrito, a taxa deve cobrir todas suas necessidades assim como ter o devido lucro na sua gestão financeira. É como o lema: - Nada pode dar prejuízo!

                       Muitos dirão que isto é o correto. Não vou discutir. Aldous Huxley no seu livro Admirável Mundo Novo, dizia que uma organização não é consciente nem viva. Seu valor é instrumental e derivado. Não e boa em si, é boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são partes do todo. Dar primazia as organizações sobre as pessoas é subordinar os fins aos meios. Temos hoje uma associação que quer ser servida e não servir. Em uma promessa ela mesmo exige que todos digam em alto e bom som que irão servir a União dos Escoteiros do Brasil.

                      Muitos discutem o porquê o escotismo não cresce levando em consideração o crescimento populacional. Quem sabe este pode ser um dos motivos. Pense nas enormes despesas para montar e manter um Grupo Escoteiro. Dizer que compete ao grupo se preparar para as despesas para mim é uma falácia. E onde entra a UEB neste contexto? Quando o grupo se torna uma pequena empresa na minha humilde opinião deixa de ser tudo aquilo que pensamos de uma filosofia fraterna e onde o lema um por todos e todos por um deixa de existir. Parodiando John Thurman quando B.P assentou as bases do escotismo, disse que ele nasceu entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoram deste então, ainda existem rapazes tão pobres como naquela época que precisam do escotismo. 

                 É um estado de coisas difícil de ser modificado. Se este é o escotismo que queremos sinceramente não é o que vivi. Eu sempre pensei que nossa associação teria que fazer o máximo para servir ao associado e não o contrário. Ela existe para isso e deve lutar para conseguir os meios necessários para que o escotismo possa evoluir de maneira simples buscando seu verdadeiro objetivo que é a formação do jovem dentro dos princípios e métodos idealizado por Baden-Powell.  

                 O escotismo não é para ricos. Os direitos do rico e do pobre deveriam ser iguais. Visar lucros sem ver a necessidade de seus associados é uma maneira de estagnar a alavanca de um escotismo para todos. Programas e metas devem ter papel importante no caminho que procuramos seguir. Um escotismo que visa lucros em todas suas atividades e esquecendo o que é mais importante seria abrir um leque para alavancar e dar possibilidade a um maior número de jovens possa usufruir.

                  Não sei não, somos um movimento que não luta por seus direitos. Poucos procuram ver e quando sente na pele tal situação saem do escotismo, para sempre ou para outra das novas Associações escoteiras que estão chegando. Mas o futuro é inexorável. Quem viver verá se o caminho foi realmente o sucesso esperado. Quem sabe se tivéssemos uma associação que se preocupasse com as condições sociais dos jovens o Jamboree de Barretos teria tudo para ser um dos maiores em quantidade que o Brasil já pode conhecer. Não foi o que aconteceu. Paciência, quem sabe um dia?        

terça-feira, 7 de agosto de 2018

A vida na Jâmgal. O fundo de cena na Alcateia.



A vida na Jâmgal.
O fundo de cena na Alcateia.

Chamamos fundo de cena à atmosfera que criamos na Alcateia e que está ligada a um marco simbólico, que é a socialização motivadora que se reflete nas diversas atividades, colocando ao alcance das crianças a compreensão de formas de comportamento e modelos de sociedade através de imagens e símbolos e não de idéias e conceitos.

Como todas as fábulas, o Livro da Selva oferece ensinamentos por meio da ficção e da personificação dos animais e propõe valores e modelos a imitar ou a rejeitar, possíveis de serem identificados na vida cotidiana das crianças.

A selva, por exercer sobre todas as pessoas igual sentimento mescla de excitação e medo, admiração e curiosidade, o aguçar dos sentidos e o fascínio pelo mistério que encerra que extrapola tempo e espaço, nunca será um fundo de cena ultrapassado.

Então somente a Jângal pode ser fundo de cena da Alcateia?
- Sim! Ainda que por vezes (raras vezes!) brinquemos de “faz-de-conta-que-hoje-eu-sou-um-...”, quando a brincadeira termina voltamos aos nossos marcos simbólicos.

Como Mowgly, nossos lobinhos e lobinhas vivem como o Povo livre e aprendem a serem livres por meio da solidariedade e do respeito à lei. Aprendem também a distinguir as atitudes negativas de alguns personagens das atitudes próprias de amigos verdadeiros como Baloo, Bagheera, Lobo Gris, e muitos outros.

Para que as crianças sintam que fazem parte das aventuras de Mowgly, precisam ser conduzidos pelos chefes pelos caminhos da Jângal. A evocação constante dos episódios lá ocorridos, introduzidos em nossas conversas com os lobinhos, nos relatos, nas dramatizações, nos cantos e danças, nos jogos e brincadeiras, que as crianças vivenciam de maneira divertida como atores e não como espectadores, cativam suas mentes e estimulam sua imaginação fazendo-as sentir que conhecem e convivem com os personagens, os lugares e os grupos da Jângal.

A transferência simbólica do ambiente dos lobos da alcateia de Seeonee para alcateia que as crianças integram está presente em quase todos os aspectos da vida do grupo.

Esta série apresenta as aventuras do jovem Mowgly, criado por lobos na selva indiana, que se aventurou na selva de Cyconie para escapar da supervisão de seus pais quando eles tinham apenas alguns dias de vida. Ele foi encontrado pela primeira vez por Kaa a cobra que não tem comido, a fim de cumprir a lei da selva que não atacam os seres humanos. Embora tenha sido criado na família de lobos, a mãe Louri, o considera seu próprio filho, tentando salvá-lo de Shere Khan, o tigre manco.

Oito anos se passam, Mogli é muito ligado a seus irmãos lobos Backus, Shura, Lala e seus companheiros inseparáveis Baloo e Baghera. A última é a neta de Akela, o líder da matilha. Alguns lobos não aceitam Mogli como sua própria família. Ele deve passar o teste da cerimônia de aceitação para provar que merece ser um lobo.

Um dia, quando Mowgly escapa da floresta, ele cai em uma armadilha de elefante. Um velho quer salvá-lo, mas Mogli acha que ele é ruim. Ele está convencido de outra forma depois de alguns dias ao seu lado. Um ano se passa, Mowgly encontra o velho com sua menininha Messua. Ela o ensina a viver na sociedade com os seres humanos. Na sequência do acidente do avô, Mowgly entra na aldeia de homens, onde era mais ou menos aceito no clã. Um caçador mentiroso patológico chamado Bouldeo diz que as pessoas da aldeia têm um monte de mentiras a fim de ter respeito e impressioná-lo.

Quando Mowgly diz que ele está mentindo, ele corre o risco de deixar a vila quando ele traz a pele de Shere Khan, logo após o assassinato. Poucos dias após a saída de Mowgly, a família em que foi adotada está prestes a ser levada para o sótão. Mowgly fica desconfiado dos dois caçadores: Bouldeo e Garo. Este passa a ser o amigo de Bouldeo. Uma vez que a aldeia foi destruída pelos animais da selva, Mowgly deixa a selva para ir para a cidade chamada Kaniwara, uma grande cidade no deserto da Índia. Ele está preso por Garo que após a crença equivocada na ajuda torna-se seu amigo. Ele fez isso apenas para vendê-lo em um circo localizado em uma das maiores cidades da Índia, Abouldala. Mowgly escapa por pouco após ser perseguido pelo chefe de Garo.

Quando ele voltou para a selva, alguns dias depois, Akela é ferido e morre pouco depois. Um dia, Mowgly encontra sua família e decide reconstruir a aldeia. Os aldeões, implorando seu perdão, ajudam e aceitam Mowgly. Uma vez que a aldeia é reconstruída, Mowgly diz adeus à selva e passa a viver permanentemente com os humanos na companhia de Baghera.