quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Crônicas de um Chefe Escoteiro. Escotismo é só para ricos?



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Escotismo é só para ricos?

Nota - John Thurman Chefe de Campo de Gilwell Park já falecido escreveu que Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. Se nos mantermos dizia, o mais possível dentro a simplicidade, alegria e entusiasmo o sucesso será real. No entanto os únicos capazes e possíveis de pôr o Escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado autossuficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.

                     Há dias vi uma postagem de chefes reclamando dos altos preços cobrados pela Loja Escoteira. É um tema que muitos comentam sem sucesso. Afinal queira ou não boa parte dos participantes hoje do escotismo já entram sabendo que tem gastos e eles não irão medir esforços para que seus filhos tenham tudo que precisam. O jovem de hoje não luta para ter seu material com seu próprio esforço pessoal. Muitas atividades tem o sabor de aprendizado pelos novos chefes e estes não medem esforço para estarem presentes.

                     Quando Baden-Powell criou o escotismo, tinha como meta os mais humildes, principalmente a juventude que morava em bairros pobres de Londres e pudessem receber outro tipo de formação. Hoje isto ficou para trás. Não existe mais esta preocupação. Se por um lado tenta arrebanhar um maior numero de associados que não podem pagar por outro lado se cobra preços absurdos dos materiais escoteiros a venda na Loja Escoteira. Os eleitos para postos mais altos não estão lutando para conseguir que o mais humilde também possa participar.  

                      No passando nos orgulhávamos em ver uma tropa ou alcateia completa com seus uniformes desbotados, mas com apresentação impecável. Sinal que ali o jovem ficava por muitos anos e davam valor ao que tinham. Dava gosto de ver lobinhos primeira e segunda estrela, escoteiros segunda e primeira classe. Nos acampamentos distritais e regionais era bom demais ver as patrulhas chegando completas, desfraldando seu totem, dando seu grito de patrulha e trazendo seu próprio farnel e sua tralha. Os sub campos ferviam de bom escotismo. Patrulhas completas se orgulhando do seu grito de sua participação visando conquistar uma simples bandeirola de eficiência.

                      Mas tudo mudou. Em vez do formidável sistema de patrulhas passou-se a considerar o jovem e não sua equipe. Qualquer atividade tem taxas que nem todos podem pagar. Nas atividades regionais e nacionais dificilmente as patrulhas participam completas. Parece que o lucro vem em primeiro lugar. Li um artigo que dizia: - Quanto tempo leva uma empresa para dar lucro? Será que já somos uma empresa ou somos uma associação? Onde estão as empresas que poderiam estar fazendo seu Marketing nas atividades escoteiras? Onde estão os profissionais escoteiros para fazerem isso?

                     Criou-se uma vestimenta com diversos tipos de uso. Para que? Para vender mais? Alguns reclamam das péssimas condições de confecção e do próprio tecido, que não é próprio para o campo e desbota com rapidez. Penso até que isto foi premeditado para que as trocas sejam feitas mais amiúdes. Afinal a Loja Escoteira é um truste sem sócios e onde só ela tem os direitos dos produtos que comercializa. Chega ao ponto que a UEB exige que nas suas atividades realizadas em regiões ou distrito, a taxa deve cobrir todas suas necessidades assim como ter o devido lucro na sua gestão financeira. É como o lema: - Nada pode dar prejuízo!

                       Muitos dirão que isto é o correto. Não vou discutir. Aldous Huxley no seu livro Admirável Mundo Novo, dizia que uma organização não é consciente nem viva. Seu valor é instrumental e derivado. Não e boa em si, é boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são partes do todo. Dar primazia as organizações sobre as pessoas é subordinar os fins aos meios. Temos hoje uma associação que quer ser servida e não servir. Em uma promessa ela mesmo exige que todos digam em alto e bom som que irão servir a União dos Escoteiros do Brasil.

                      Muitos discutem o porquê o escotismo não cresce levando em consideração o crescimento populacional. Quem sabe este pode ser um dos motivos. Pense nas enormes despesas para montar e manter um Grupo Escoteiro. Dizer que compete ao grupo se preparar para as despesas para mim é uma falácia. E onde entra a UEB neste contexto? Quando o grupo se torna uma pequena empresa na minha humilde opinião deixa de ser tudo aquilo que pensamos de uma filosofia fraterna e onde o lema um por todos e todos por um deixa de existir. Parodiando John Thurman quando B.P assentou as bases do escotismo, disse que ele nasceu entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoram deste então, ainda existem rapazes tão pobres como naquela época que precisam do escotismo. 

                 É um estado de coisas difícil de ser modificado. Se este é o escotismo que queremos sinceramente não é o que vivi. Eu sempre pensei que nossa associação teria que fazer o máximo para servir ao associado e não o contrário. Ela existe para isso e deve lutar para conseguir os meios necessários para que o escotismo possa evoluir de maneira simples buscando seu verdadeiro objetivo que é a formação do jovem dentro dos princípios e métodos idealizado por Baden-Powell.  

                 O escotismo não é para ricos. Os direitos do rico e do pobre deveriam ser iguais. Visar lucros sem ver a necessidade de seus associados é uma maneira de estagnar a alavanca de um escotismo para todos. Programas e metas devem ter papel importante no caminho que procuramos seguir. Um escotismo que visa lucros em todas suas atividades e esquecendo o que é mais importante seria abrir um leque para alavancar e dar possibilidade a um maior número de jovens possa usufruir.

                  Não sei não, somos um movimento que não luta por seus direitos. Poucos procuram ver e quando sente na pele tal situação saem do escotismo, para sempre ou para outra das novas Associações escoteiras que estão chegando. Mas o futuro é inexorável. Quem viver verá se o caminho foi realmente o sucesso esperado. Quem sabe se tivéssemos uma associação que se preocupasse com as condições sociais dos jovens o Jamboree de Barretos teria tudo para ser um dos maiores em quantidade que o Brasil já pode conhecer. Não foi o que aconteceu. Paciência, quem sabe um dia?