quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Pedaços da vida. Um cerimonial de bandeira.


Pedaços da vida.
Um cerimonial de bandeira.

 Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha 
Brasil, talvez.
(Vinicius de Moraes)

                    Tentei ontem pegar no mouse e correr pelas várzeas do Facebook. “Nekas” não consegui. Agora é assim um dia bengalando, outro rasgando o ar para ele entrar no pulmão. Aproveitei que não tinha forças para pensar. Pensar é bom, nos faz ver que a vida ainda vale a pena viver. Foi então que me lembrei de um poeta: - Vado Escoteiro, se você me pedisse um conselho, eu te diria pra viver a sua vida com calma. Viva um dia de cada vez e de forma bem atenta, assim nunca correrá os riscos de perder as surpresas da vida. É isto mesmo. Cada um com seus “probremas” e cada um cuida do seu pensando se dá para dizer bom dia, boa tarde e boa noite a alguém ou quem sabe um Sempre Alerta vistoso.

                      Aconchegado na minha barraca de duas lonas, com as portas da frente aberta me vi em um cerimonial de bandeira. Gosto, amo, ali me sinto um homem probo, orgulhoso do seu pais. “Necas” de o maldizer, pensar que ele é da laia dos “sacripantas” que não lhe dão valor. Já observaram com atenção no cerimonial? Veja o realizado lá da fronteira de Roraima, pode ser na terra dos índios Raposa Serra do Sol, ou nascente do Rio ailã. Viaje até o sul no Arroio Chuí do Rio Grande do Sul. Veja o garbo, a apresentação o medo de errar, mas o orgulho de ser um que tem a honra de hastear ou arriar a bandeira. O Chefe de olho na lobada e escoteirada. Ele os treinou bem e sabe que não podem errar.

                      E quando algum dá errado? A bandeira sobe de cabeça para baixo, a roldana trava, o cabo arrebenta? Nossa todos ficam em polvorosa. A canção de roda popular, “marcha soldado” traz em seu contexto o sentimento patriótico muitas vezes cantarolado por crianças e adultos e termina assim: “Acode, acode, acode a bandeira Nacional”. Dizem que é para salvá-la do fogo que ateou-se no quarte. Na realidade esta cerimônia incuti preceitos cívicos nas crianças e jovens. Pena que isto está sendo esquecido por muitos adultos que não ensinam as suas crianças.

                     Na minha cama feita de capim e dois sacos de aninhagem, coloco as mãos atrás da cabeça e sorrio de leve. Tenho meu orgulho pessoal, é lindo ver seja o que for um cerimonial de bandeira escoteiro. Olho aquele noviço, aquele lobinho pata tenra que ainda não aprenderam a ficar em posição de sentido e fazem a saudação de maneira desigual. Eles se assustam, olham para quem está de lado, não sabem o que fazer. Será com a mão direita ou à esquerda? E o Chefe? Ele ali é o exemplo. Empertigado, fazendo a saudação nos trinques e sabe que sua silhueta é exemplo para os demais.

                      Tento fechar os olhos na minha barraca, mas as lembranças continuam. Lembro que uma vez, Ops! Não era uma vez e sim um conto real. A tropa formada para o cerimonial. Fizeram um belo mastro de bandeira. Naquela época ainda não podíamos arvorar. Isto facilitou para evitar cortar um bom bocado de um mastro na floresta. Mas eis que um vendaval aconteceu. Vento de oitenta ou cem quilômetros por hora. A bandeira ainda não chegando ao topo. O vento a pega de jeito. Ela se solta do cabo e sobe como um balão pelos ares.

                       A chuva cai arrebentando meio mundo. Pingos e pedaços de gelos para alegria geral arrebentam o solo ressecado. A escoteirada grita: - Salvem-na! Ela é nossa pátria! E todos saem correndo atrás da Bandeira do Brasil que corre nos céus com estrondos de trovões que amedrontariam aos mais bravos chefes escoteiros. Eles não perderam de vista e a seguiram através da floresta. Ela começa a cair e fica presa no alto de um jequitibá. E quem disse que um valente escoteiro não foi até lá? “Trepou" na arvore” de galho em galho foi lá nas “grimpas” e sorrindo pegou a bandeira, dobrou com honra, como aprendeu a dobrar.

                        Desceu, sangramentos nos braços, uniforme com rasgos, rosto cheio de fuligem e a tropa atrás gritando: - Chefe, Chefe! Salvamos a bandeira do Brasil! O Chefe chorou de emoção. Que orgulho, que vontade de medalhar a todos eles! E a chuva? A chuva meu amigo se foi, era daqueles que a quadrinha dizia, - Escoteiro! Se tens agua e depois vento põem-te em guarda e toma tento. – Mas se tens vento e depois água deixe andar que não faz mágoa!


                         Bem gosto de relembrar. Gosto de um cerimonial, assisti milhares deles em Paco Manso e por varias cidades do Brasil. Amo minha bandeira e tenho por ela o maior orgulho. Os olhos querem fechar, o ar parece querer voltar... Preciso escrever este conto, que não é somente um conto, mas uma história real! Olá escoteirada, de volta a minha pátria amada!

Nota de Rodapé: - Bandeira minha, de encantos mil, imagem linda do meu Brasil!
Quando te vejo bandeira amada, graciosamente assim hasteada,
E minha boca ainda infantil, fala bem alto, viva o Brasil!

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Quanto custa ser honesto?


Conversa ao pé do fogo.
Quanto custa ser honesto?

                  Um escoteiro andando pela rua encontra um envelope pequeno, destes para guardar documentos. O apanha e abre para ver o que tem dentro. 600 reais em dinheiro e algumas contas para pagar no total de 580 reais. Ele deduz que o dinheiro seria para pagar as contas. Foi para a escola e ao retornar se dirigiu a uma lotérica e pagou todas elas. Sobraram 20 reais. Nas contas viu que estava em nome de uma senhora chamada Cecília. Na conta telefônica viu o número e ao chegar em casa ligou. Explicou o que aconteceu e que as contas estavam pagas e sobraram 20 reais.

                    Ele fazia questão de devolver e disse que iria levar o troco e as contas pagas ao seu endereço. Ela uma senhora de mais de 70 anos sorria sem parar e contou para todas as amigas, todos os filhos enfim contou para Deus e o mundo. – Diziam que estamos vivendo com marginais, bandidos, ladrões, mas não é assim dizia ela. Estes são uma pequena, mas bem pequena parcela, no mundo têm muitas pessoas honestas!

                 A imprensa falada e escrita sempre coloca em suas manchetes os casos mais escabrosos, os roubos e os assaltos com morte. Tomemos o caso da grande São Paulo. Mais de 17 milhões de habitantes. Veja a porcentagem dos assassinatos, roubos etc. Comparativamente é uma pequena parcela comparada com a população. No entanto as coisas boas não dão ibope, portanto não são publicadas. Claro que casos com o acima descrito dão manchete, mas quantos a imprensa utiliza como notícia? Somos milhões de pessoas honestas. O número é incrível de pessoas que lutam, que trabalham, sofrem e estão aí com seu caráter a toda prova.

                  A cada segundo, minuto milhões colocam sua honestidade acima de tudo. Portanto acredito que não estamos partindo para o caos e sim para um mundo melhor. Qualquer boa ação não tem preço. Nunca devemos fazer uma pensando que teremos algum em troca. A boa ação faz parte do nosso movimento Escoteiro. Os jovens desde cedo estão a aprender a ajudar o próximo e fazer diariamente sua boa ação. Isto se tornando um hábito de comportamento vai trazer para ele vantagens enormes e ele sabe que as faz não para mostrar a coletividade, mas sim para provar a si mesmo que sua consciência está em paz consigo mesmo.

                  Todos sabem que sem boas obras as portas do céu estarão fechadas para nós. Os poetas sempre dizem que a beleza da vida não está em se moldar ao que os outros esperam de você, e sim na simplicidade em viver de acordo com sua verdade. Ser gentil tem de ser a essência do ser humano. Quem não é suficientemente gentil não é suficientemente humano. Devemos pensar que Deus está olhando para nós o tempo todo. Está olhando agora e vai olhar por toda a sua vida. Não adianta falar, mostrar, realizar se dentro de si como Escoteiro não tem a felicidade que nos trás em ajudar o proximo.

               Como Chefe Escoteiro temos uma responsabilidade com nosso exemplo e mostrar aos nossos jovens a vantagem de ser honesto, de ser altruísta, de ter um caráter ilibado e dizer a sua própria consciência e para aqueles que precisam ouvir: - “podes acreditar, eu sou um Escoteiro e o Escoteiro tem uma só palavra” Não preciso acrescentar que ele tem honra, tem alma limpa e reconhece que seus valores são dignos de todos que estão a sua volta. Honestidade se pratica e não se veste não se mostra e nem se faz alarde. Um Escoteiro tem de dar este exemplo sempre. Não basta dizer que sou Escoteiro. Tenho de parecer um Escoteiro que toda a sociedade acredita! E cá prá nós, como disse Homero, se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade.

                 Muitas vezes me lembro de Rui Barbosa o que ele disse sobre felicidade: - Onde está a felicidade? No amor, ou na indiferença? Na obediência, ou no poder? No orgulho, ou na humildade? Na investigação, ou na fé? Na celebridade, ou no esquecimento? Na nudez, ou na prosperidade? Na ambição, ou no sacrifício? A meu ver, a felicidade está na doçura do bem, distribuído sem ideia de remuneração. Ou, por outra, sob uma fórmula mais precisa, a nossa felicidade consiste no sentimento da felicidade alheia, generosamente criada por um ato nosso.
Sempre Alerta!


Nota de rodapé - Não basta uma informação de como ganhar a vida simplesmente com honestidade e honra, mas que tal ato seja atraente e glorioso, pois se ganhar a vida não for atraente e glorioso não é a vida que se ganha. Uma boa tarde aos amigos e irmãos escoteiros e boa leitura!

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Mensagens de Baden-Powell. Rastros do fundador.


Mensagens de Baden-Powell.
Rastros do fundador.

                 Lembranças de Baden-Powell escritas para todos os escoteiros do mundo e que pode também servir para os chefes e dirigentes.
                  
A CORAGEM DO ESCOTEIRO.
Ao escoteiro (militar) exige-lhes valentia no mais alto grau.
Na presença do perigo, não te detenhas a medi-lo - quanto mais o fizeres menos te agradará enfrentá-lo -, atira-te de cabeça, avança para ele sem receio, e uma vez metido nele chegarás à conclusão que não é tão mau como parecia.

Certos homens nascem bravos, outros precisam que a coragem lhes seja insuflada. Mas na grande maioria dos casos, a coragem é uma virtude que pode ser cultivada. Quando estiveres em apuros, nunca o dês a entender seja sob que pretexto for. É nessa altura que deves assobiar e sorrir como se estivesses a gostar.

O EXEMPLO DE JESUS CRISTO.
Acho bastante curioso que homens que se dizem bons Cristãos se esqueçam tantas vezes, perante uma dificuldade, de fazerem a si mesmos esta simples pergunta: - “O que é que Cristo teria feito nestas circunstâncias”? E então decidir em conformidade. Lembra-te de fazê-la na próxima vez que estiveres em dificuldades ou que não saibas como proceder.

Cristo deu a sua vida para nos dar o exemplo, nomeadamente, de que devemos estar “Sempre Alerta” - qualquer que seja o preço que tenhamos de pagar para cumprir o nosso dever para com os outros.

SOBRE A HONRA.
“A Honra para um Escoteiro é ser digno de toda confiança”. Como um Escoteiro, nenhuma tentação, por maior que seja, e embora seja secreta, irá persuadi-lo a praticar uma ação desonesta ou escusa, mesmo muito pequena. Você não voltará atrás a uma promessa, uma vez feita. A palavra de um Escoteiro equivale a um contrato. Para um Escoteiro, a verdade, e nada mais que a verdade.

Sobre os deveres para com Deus.
Ao cumprires o teu dever para com Deus, sê-Lhe sempre grato. Sempre que apreciares um prazer ou um bom jogo, ou conseguires fazer uma boa ação, dá-Lhe graças por isso, quanto mais não seja com uma ou duas palavras. Como fazes às refeições.

Ser leal para com Deus significa nunca te esqueceres Dele e recordá-Lo em tudo o que fazes. Se nunca O esqueceres, nunca farás nada de mal. E se te lembrares Dele quando estiveres a fazer qualquer coisa errada, deixarás logo de fazê-la.
Deus tem sido bom para contigo, por isso cabe-te fazer alguma coisa em troca que Lhe agrade; é esse o teu dever para com Deus.

O rapaz tem de compreender que uma parte do seu «dever para com Deus» consiste em cuidar e desenvolver como uma obrigação sagrada os talentos com que Deus o dotou para a sua passagem por esta vida: o corpo com a sua saúde, a sua força e as suas faculdades de reprodução, para serem usadas ao serviço de Deus;

A mente, com as suas maravilhosas capacidades de raciocínio, de memória e de julgamento, que o colocam acima do mundo animal; e a alma, essa parcela de Deus que o homem traz dentro de si - e especialmente o Amor, que se pode desenvolver, e fortalecer mediante a prática e expressão contínuas. E assim que podemos ensinar-lhe que cumprir o seu dever para com Deus não significa simplesmente confiar na Sua misericórdia, mas fazer a Sua vontade praticando o amor para com o próximo.


DEVER
Um escoteiro faz o seu trabalho porque é esse o seu dever, não para receber alguma recompensa. O Escotismo não é apenas divertimento, mas exige muito de ti. Cumpre primeiro o teu dever, e os teus direitos ser-te-ão reconhecidos. Nenhum bom Escoteiro se furta aos seus deveres. Pelo contrário, o normal é que ele faça mais do que a parte que lhe cabe em benefício dos outros.

Cumpre o teu dever mesmo que seja desagradável ou que ninguém dê por isso. Sê leal para com o teu amigo, mas ao mesmo tempo nunca sejas desleal para com o teu dever. É possível que isto te coloque frequentemente num dilema; mas a única maneira de resolvê-lo é por o teu dever em primeiro lugar, e agir em conformidade. A eficiência é uma excelente coisa, mas tem que haver algo mais por detrás dela: tem que haver coragem e valor e a determinação de cumprires o teu dever quaisquer que sejam os riscos de perigos que isso te acarrete.
Baden-Powell of Gilwell.

Nota de Rodapé   -  O Chefe Escoteiro que é o herói dos seus rapazes possui uma poderosa alavanca para o desenvolvimento destes, mas ao mesmo tempo assume uma grande responsabilidade. A tarefa do Chefe Escoteiro é como o golfe, ou a ceifa, ou a pesca à mosca. Quem se apressa não chega ao fim, pelo menos não chega com o resultado que se obtém com um andamento alegre e calmo. Os princípios do Escotismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação depende do Chefe e do modo como ele os aplica. Baden-Powell.


domingo, 20 de agosto de 2017

Kim - de Rudyard Kipling


Conversa ao pé do fogo.
Kim
Por Rudyard Kipling

                       Kim, ou, para lhe darmos o nome completo, Kimball O’Hara, era filho de um sargento de um regimento irlandês da Índia. O pai e a mãe morreram quando era criança e ele ficou entregue aos cuidados de uma tia. Por companheiros tinha só rapazes indígenas e pôde, assim, aprender a falar a língua deles e a conhecer todos os seus costumes. Ele e um velho sacerdote ambulante tornaram-se grandes amigos e juntos percorreram todo o norte da Índia. Um dia, Kim encontrou por acaso o antigo regimento do pai, em marcha, e quando fazia uma visita ao acampamento foi preso por suspeita de furto. Encontraram-lhe a certidão de nascimento e outros documentos e o pessoal do regimento, vendo que ele lhe pertencia, tomou conta dele e mandou-o educar. Mas, todas as vezes que conseguia ir passar férias fora, Kim vestia-se à moda indiana e andava entre os indígenas como se fosse um deles.

Aqui um pequeno trecho do seu mais famoso livro onde Kim é um pitoresco espião. Escrito por Sir Rudyard Kipling e publicado em 1901. A historia é baseada no conflito político na Ásia Central entre o Império Russo e o Império Britânico, chamado The Great Game. Notável para o retrato detalhado do povo indiano.

Resumo da historia:
Kimball O’Hara, chamado Kim, é um órfão, filho de um soldado inglês e uma mãe branca pobre. Ele sobreviveu implorando e fazendo recados nas ruas de Lahore durante o período da Índia colonial. Ele está tão imerso na cultura local, que poucos percebem que ele é branco. Ele ocasionalmente trabalha para Mahbub Ali, um comerciante de cavalos e também um agente do Serviço Secreto Britânico, a quem Kim mais tarde entra.

Kim faz amizade com um antigo lama tibetano que está em busca do lendário Arrow River, através do Samsara. O menino se torna seu discípulo ou chela, e eles se deixam juntos em uma viagem atravessando uma antiga estrada chamada Great Trunk. No caminho, aprende-se sobre o Grande Jogo, um conflito político entre o Império Russo e o Império Britânico. Ele é fortuitamente comissionado pelos britânicos para levar uma mensagem ao comandante britânico em Ambala.

O capelão do regimento do pai de Kim descobre que o último pertence à Maçonaria, observando que ele carrega o símbolo do Mason que envolve seu pescoço e o obriga a se separar da lama. Kim opõe-se à separação, mas o lama o convence de que é melhor para ele e, finalmente, Kim é enviada para estudar a cidade de Lucknow, uma prestigiada escola britânica, financiada pela lama.

O tempo passa e Kim mantém a comunicação com o lama, para quem o menino continua a ter carinho. Kim também esteve em contato com o serviço secreto britânico, e durante um feriado de Kim, é recrutado e treinado como espião, pelo saur Lurgan, um joalheiro, que também é agente britânico na cidade de Simla. Parte da educação inclui um exercício de memória visual chamado The Game of Jewels. Depois de três anos de treinamento, Kim recebe um trabalho do governo, de onde ele começará a operar no The Great Game, mas antes de ser concedido um merecido descanso. Kim retorna para encontrar o lama e, por ordens de seu superior, babuíno Harry Chunder Mookherjee, faça uma viagem ao Himalaia.

Neste ponto, o mundo da espionagem e os fios espirituais da história colidem, quando o lama inconscientemente entra em conflito com agentes de inteligência russos. Kim, por sua parte, consegue obter dos mapas russos, documentos e outros detalhes importantes, que mostram o trabalho do Império Russo nas áreas sob controle britânico. Mookherjee se aproxima secretamente dos russos sob o pretexto de ser um guia, e assim garante que os elementos obtidos por Kim não voltem às mãos dos russos.

Com a ajuda de porteiros e aldeões, Kim consegue resgatar o lama. O lama percebe que ele se desviou ao descobrir que sua busca pelo rio Arrow deveria ser feita nas planícies, não nas montanhas, e ordena aos porteiros que retornem o caminho. Já de volta, Kim e o lama descansam e recuperam sua saúde após a difícil viagem.

Kim entrega os documentos russos aos seus superiores e é visitado por Mahbub Ali, que está interessado nele. O lama finalmente encontra o Rio Seta e consegue a iluminação espiritual. Kim está na encruzilhada entre o restante de uma peça no Grande Jogo, seguindo o caminho espiritual do budismo tibetano, ou seguindo uma combinação de ambos.

A moral dessa história, caro leitor, é que hoje em dia precisamos ficar atentos a todas as conquistas humanistas, as quais permitem que a educação seja inclusiva, ecumênica, antirracista ou etnocêntrica, e instauradora da noção de que não há povos ou culturas superiores ou inferiores; mas, ao mesmo tempo, nunca devemos deixar que se perdesse o crescimento da imaginação e da sensibilidade que o desejo pela aventura carrega consigo. Os Grandes Jogos mudam, mas os pequenos Kims, cada um na sua medida, sempre estarão aí para o que der e vier.

Kim é não apenas um dos livros mais importantes de Rudyard Kipling o Criador do Livro da Jângal, mas ocupa também posição de destaque na literatura de língua inglesa. Foi lançado em 1901, quando a Índia, onde se passa o romance, era ainda uma possessão britânica e doze anos após Kipling, tendo nascido na Índia, haver migrado para a Inglaterra. Kim se insere numa segunda etapa dessa literatura, na qual predominava um ponto de vista predominantemente britânico e que buscava afirmar a legitimidade do império. 

Nota de Rodapé: - Baden-Powell comentou em suas memorias: - “Um bom exemplo daquilo que um Escoteiro pode fazer encontra-se na história do Kim, da autoria de Rudyard Kipling”. vejam algumas de suas frases mais conhecidas: - Tenho seis servos que me ensinaram tudo o que sei: O quê? Por quê? Quando? Como? Onde? E Quem? - Não há prazer comparável ao de encontrar um velho amigo, a não ser o de fazer um novo. Nenhum homem tem o dever de ser rico ou grande ou sábio: mas todos têm o dever de serem honrados. Divirtam-se com Kimball O´Hara mais conhecido com Kim uma das personagens mais famosas de Rudyard Kipling.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Anotações de Baden-Powell. O Caráter.


Anotações de Baden-Powell.
O Caráter.

                     É pelo caráter dos cidadãos, e não pela força das suas armas, que uma nação se revela superior às outras. Reconhece-se que o caráter é mais importante para fazer um bom cidadão do que a simples instrução livresca. E, todavia, não existe nenhum esquema prático que permita incluí-lo na educação, nem mesmo em grau equivalente.

                     É sem dúvida a influência materna que, em regra, dá o primeiro impulso ao caráter. Mas uma mãe não pode dar aquilo que ela mesma não possui. É por isso que é tão importante que as mães da nossa pátria possuam um caráter da maior qualidade, a fim de o inculcarem nos seus filhos.

                    O caráter é em grande parte uma questão de ambiente e de formação e, mais tarde, de experiência. O caráter forma-se mais por influência do ambiente que reina fora das paredes da escola do que pela instrução ministrada dentro delas; esse ambiente tanto pode agir no bom sentido como, ao mesmo tempo, desviar muito facilmente para maus caminhos.

O saber sem o caráter não é mais do que a crosta de uma empada.
O caráter tem mais valor do que qualquer outro atributo na vida.
O êxito nos negócios não é tanto uma questão de sorte, de favor ou de interesse, nem sequer de saber, como de capacidade e de caráter.
Uma especialização no teu trabalho será decerto útil e proveitosa, mas para a promoção a postos superiores, o caráter - isto é, o ser-se digno de absoluta confiança, enérgico e ponderado - é essencial.

                    O caráter não pode ensinar-se numa turma. Tem, necessariamente, de ser desenvolvido no indivíduo, e em grande medida graças a um esforço por parte dele mesmo.

Por caráter equilibrado entendo uma maneira de ser calma e imbuída de bom senso por parte de indivíduo, que lhe permita resistir ao pânico ou a deixar-se arrastar pelo espírito de rebanho e, pelo contrário, manter a cabeça no lugar e olhar em frente com coragem e optimismo apercebendo-se do que é melhor para a comunidade, e desta forma ajudar a conduzir a nação em segurança através do nevoeiro das ideias contrárias para a atmosfera límpida da paz e da prosperidade.

- Ajudando um novo membro da Patrulha.
                       Você lembra quando iniciou no Escotismo? Tudo era novidade, você não sabia como fazer as coisas direito, e recebeu a ajuda de seus companheiros para se ambientar. Agora que você não é mais um novato, e já está bem integrado na Patrulha e na Tropa, é a sua vez de ajudar quem está chegando.
Vamos ver algumas formas de fazer isso: 

                    - Orientando o novo membro da Patrulha sobre como adquirir o traje ou uniforme, bem como os distintivos necessários; Ajudando o Monitor a ensinar os procedimentos básicos de formação, saudação e cerimônias;  Emprestando livros que ajudem a conhecer a história de Baden-Powell e do Escotismo; Contando passagens interessantes das atividades que já participou que motivem o novo escoteiro;

                    - Ajudando-o para que entenda bem as tarefas que lhe cabem na Patrulha, e como devem ser feitas; Orientando-o na aquisição de material de acampamento, como mochila, saco de dormir, etc., para que ele não desperdice dinheiro e tenha o necessário. . Ajudando o novo escoteiro a sentir-se membro da Patrulha e da Tropa, e a conquistar os itens do Período Introdutório, fazer sua Integração e sua Promessa Escoteira. 

                   - Sendo um exemplo a ser seguido. 
Um escoteiro ajuda a quem precisa; Quando tinha apenas oito anos de idade, em uma carta endereçada ao avô, o menino Robert Baden-Powell inseriu uma página intitulada: "Leis para mim quando ficar velho", com o seguinte texto:
 “Farei com que as pessoas pobres sejam tão ricas como nós. Elas, por direito, devem ser tão felizes como nós. Deus fez os pobres serem pobres e os ricos serem ricos; e eu posso dizer-lhe como ser bom, e agora vou dizer-lhe:
você deve rezar a Deus sempre que puder, mas você não pode ser bom apenas com sua prece. Tem, também, que tentar, com muito empenho, ser bom.”. 

                 - Com este seu código infantil, Robert Baden-Powell já definia parâmetros que mais tarde seriam muito importantes para escrever a Lei a Promessa Escoteiras, totalmente positivas e ativas, ou seja, não basta saber a Lei, é necessário agir para aplicá-Ias e ser, então, verdadeiramente um "escoteiro”.


BP. 1911.

Nota de Rodapé: - A atitude do Chefe é da maior importância, já que os rapazes moldam os seus caracteres em grande parte a partir do dele; o Chefe tem, pois, a obrigação de ter uma visão do seu cargo mais ampla do que se baseada em critérios meramente pessoais, e de estar disposto a sacrificar os seus próprios sentimentos para o bem do conjunto. É isto a verdadeira disciplina. B.P.

domingo, 13 de agosto de 2017

Lembranças de meu Pai.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Lembranças de meu Pai.

               Hoje me lembrei de meu pai. Afinal é seu dia. Que Deus o tenha. Tivemos poucas chances de nos conhecermos melhor. Mas ele se foi e conversamos pouco. Caladão circunspecto me olhava de um jeito especial. Sei que não foi o melhor pai do mundo, mas foi o meu pai. Ensinou-me a ser educado, obediente, cumpridor dos meus deveres em qualquer tempo ou lugar. Fazia questão de dizer que meu direito terminava onde começava o do outro. Tinha apenas o quarto ano primário. Não fora doutor. Um sapateiro, um fazedor de selas para cavalo e depois o técnico de conserto de TV. Se ele fosse vivo eu poderia dizer que ele copiou as palavras do Dalai Lama a dizer aos seus discípulos: - Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar mais Velho e pensar no passado, poderá obter prazer uma segunda vez.

                      Meu pai foi um homem do seu tempo. Fazia questão da honra, exigia muito dos filhos quando se pensava em caráter. A palavra para ele era tudo. Era daqueles que dizia que o fio do bigode valia mais que uma assinatura. – O homem que não tem palavra não pode ser considerado homem dizia sempre. Não foi um pai severo, nada disto, nunca o vi levantando a mão para qualquer filho. Bastava seu olhar e todos obedeciam sem pestanejar. Errado seu estilo? – Hoje quem sabe muitos poderiam condenar sua maneira de agir e interpretar diferente da educação moderna que muitos alardeiam como a melhor.

               Meu pai não foi Escoteiro. Não teve oportunidade. Levou-me a pescar, a dormir em grutas, a subir em árvores e me ensinou a engraxar, a costurar uma botina e muitas coisas do seu saber que hoje nem existe mais. Meu pai acredito que foi único, quando pedi para fazer uma jornada de 48 horas com outro Escoteiro e mais ninguém ele pensou e balançou a cabeça dizendo: - Pode ir, confio em você! Nem me perguntou o que era uma jornada de primeira classe. Primeira Classe? Risos. Um pensador antigo dizia que de nada valeria o que vivi, se meu passado não estivesse tão presente em meu futuro. De nada valeria dizer que eu trocaria todos os meus amanhãs por um único ontem. Ah! Meu pai. Viveu lá no passado e dele fez sua vida. Ao seu modo acho que ele foi feliz apesar de não sorrir muito.

               Meu pai se estivesse no mundo de hoje se sentiria como extraterrestre. Ele e muitos outros de sua raça iriam se assustar com a nova tecnologia. Um pensador e poeta escreveu que o passado é uma percepção do que aconteceu. Já o futuro como ainda não é lembrança, não precisa fazer nenhum sentido. Sinceramente pouco foi ao grupo escoteiro ou em algumas atividades escoteiras como visitante. Mas era um eterno admirador do que o escotismo tinha em mente. Ele dizia que o caráter de um homem não muda. Muda-se sim uma interpretação do que foi e do que é.

                Outro dia li um artigo da educadora Adriana Friedmann, que contou sua tese de doutorado desenvolvida no âmbito da antropologia da infância. Seu principal foco foi dar voz às crianças a partir de expressões verbais e não verbais, fazendo incursões nos universos infantis, no sentido de escutá-las, conhecer sua cultura, sua realidade, suas angustias, seus interesses e necessidades. Sua linguagem seu pensamento não é mais o que pensamos do método Escoteiro no seu verdadeiro sentido. Ela escreveu dizendo que não podia de maneira nenhuma achar que sua época era única. Eu acredito. Sei que os jovens de hoje também irão dizer que sua época era a única.

               Darcy Ribeiro comentou que o presente, passado e futuro não existem. A vida é uma ponte interminável. Vai-se construindo e destruindo. O que vai ficando para trás como o passado é a morte. O que está vivo vai adiante. Quando leio isto penso que se meu pai estivesse aqui hoje tenho certeza estaria deslocado no tempo. Acredito mesmo que ele não teria sido Escoteiro. Ele teria duvidas se o que dizem pelos escaninhos escoteiros é real. Meu pai não aceitaria isto. Se alguém dissesse a ele que era ultrapassado, que usar bobagens de roupas que não dizem nada, que métodos que foram ontem não são mais e de uma maneira jocosa, sensacionalista, querendo atrair sobre si sinais de competência ele não daria atenção.

               Ele nunca iria me dizer que os resultados são os mais importantes e o método é um mero caminho para se chegar lá. Se o presente forja homens e mulheres que podemos nos orgulhar temos que aplaudir. Como dizia o poeta à leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados. O passado de cada um é o que determinou o seu futuro.      

              Meu pai não está mais aqui. Eu seu descendente estou. Agora um Velho Chefe Escoteiro ultrapassado. Um Velho que se orgulha do pai que teve. Um pai que mesmo não sendo escoteiro acreditava na fraternidade, no respeito, principalmente com os mais velhos, coisa que hoje não se leva tão a sério. Sou um filho perdido no tempo. Um Velho de calças curtas, de chapelão, um Velho que faz questão do respeito do garbo e que se orgulha do seu passado. Meu pai não fez curso escoteiro, não acampou nas mais altas montanhas, não foi ao pico dos Marins para ver se um menino sonhador desapareceu para nunca mais voltar. Meu pai se estivesse aqui saberia onde iria pisar e entender que o futuro não é incerto é uma realidade.

                      Se meu pai estivesse aqui ao meu lado ele iria olhar para mim e repetir as palavras de Richard Back: - “Quase todos nós percorremos um longo caminho. Fomos de um mundo para o outro, que era praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viemos, não nos preocupando para onde íamos, vivendo o momento presente.”. Mas meu pai nunca iria aceitar a maneira desatenciosa, mal educada, mistura de pessoas sem formação que acham que suas palavras são as melhores. Ele iria ficar calado e sair sem responder. Ele era assim. Eu penso diferente, como Goethe, direi que o que passou, passou, mas o que passou luzindo resplandecerá para sempre! Não importa o passado ou o presente importa sim se os resultados são alcançados. O resto é historia da Carochinha para boi dormir!


                     Nossa! Que falta que meu pai me faz! 


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Você lembra do penacho usado no chapéu escoteiro?


Conversa ao pé do fogo.
Você lembra do penacho usado no chapéu escoteiro?

                     Publiquei este artigo há pouco tempo. Muitos chefes, no entanto me escreveram perguntando o que era o penacho e outros por que foi desatualizado. Quando ao que era respondi prontamente e porque foi retirado até hoje não sei por quê. Acredito que queriam acabar com o chapelão escoteiro e o penacho não teria lugar para ficar. São conjecturas somente. O penacho sempre foi uma tradição, sendo usado no chapéu, na boina e em outras coberturas. Dava status o penacho. A cor identificava o ramo e o cargo na chefia. Se os dirigentes tivessem feito uma consulta às bases garanto que ele estava sendo usado até hoje. São coisas que a gente vê, sente falta e não sabe o porquê.

               Com o penacho muitos símbolos desapareceram. As estrelas de atividade de metal um sabido disse que eram perigosas e substituíram pela de pano. Houve uma época que criaram um distintivo de Chefe por ramos e modalidade. Ficou por pouco tempo. Foi criado o uniforme Social, avacalharam com ele e foi extinto. Agora temos uma vestimenta que cada um veste como quer. A jarreteira com exceção dos escoteiros portugueses foram extintas. Interessante é que meia dúzia na liderança nacional decide e nem pergunta as bases o que elas acham. Assim as tradições vão desaparecendo como se fosse um planejamento não escrito para tudo mudar e um novo escotismo surgir. Sempre pensei que extinguindo uma tradição estamos perdendo parte de nós mesmos. Estamos apagando o passado e esquecendo parte de nossa memória. Já estamos sendo um movimento sem memória.

               Sei que o penacho assim como a jarreteira são usados em alguns países que não perderam suas tradições principalmente em Portugal onde é levada a sério. A preocupação em ter o distintivo de lapela, a moeda da boa ação e as estrelas de metal ficou no passado e quase ninguém fala mais deles. Não é mesmo uma piada dizerem que a estrela de metal poderia provocar acidentes? Poxa! Usei por muitos anos e nunca vi ninguém acidentar. O chapéu escoteiro também virou peça de museu. Alguns usam outros não. Pelo que saiba não é obrigatório. Soube que se encontra nas Lojas escoteiras, mas com preços proibitivos.

                O penacho foi usado por muitos anos identificando o ramo e modalidades de todos participantes do escotismo. Mesmo não me lembrando ele tinha suas cores para identificação dos ramos, modalidades ou cargos. O amarelo era para lobos, verde para escoteiros, marrom ou grená para os seniores, vermelho para os pioneiros e os chefes de ramo usavam as cores de sua sessão meio a meio com sua posição de chefe. Dirigentes, Diretor Técnico e formadores usavam o azul. Mas como surgiu o penacho? A explicação logica é que ele é geralmente colocado acima da cabeça, nos elmos, capacetes, cocares, chapéu e etc., expressam o esforço do ser para elevar-se a uma posição além da que se encontra. Pode também representar o amor, a alma e a personalidade.

                 Sei que até hoje existe muitas reclamações da extinção do uso do penacho. Muitos chefes se ressentem de não ter nenhum distintivo de identificação. A IM o Anel de Gilwell não são todos que conquistam. As estrelas de pano não dão visibilidade. Insisto que não dá para fazer comparação entre as de pano e as de metal. O simbolismo, a apresentação o orgulho em mostrar seu tempo de escotismo sempre era destacada com as estrelas de metal. O penacho trazia uma mística própria. Usei o penacho por anos até sua extinção quando Chefe escoteiro. Sei que hoje no Brasil não se encontra para comprar. Se alguém quiser ter um para recordação quem sabe no exterior. Soube que na Inglaterra se encontra fácil nas lojas Escoteiras. Bom mesmo os ingleses. Ainda mantém muitos distintivos do passado e o chapéu de abas largas nunca é esquecido. Sua Loja Escoteira tem sempre em estoque.

                    Dizem que sou um critico nato de muitas coisas realizadas pela Liderança da UEB. Mas não dá para engolir um dirigente resolver mudar alguma coisa, na Reunião do CAN ou similar apresenta suas questões e lá vem uma resolução mudando. Muitas vezes nem dão satisfação e se alguém pergunta as respostas não vêm. Milhares de escoteiros, lobos, sêniores pioneiros e voluntários que não são perguntados, não puderam opinar e muitos já aprenderam que é melhor sorrir e aceitar. Veja o caso da Flor de lis. Dizem que a nova é estilizada (tirar o máximo de detalhes de uma figura para que se possa ser identificada). Será mesmo este o motivo para sua mudança? Um desenho de muitos anos é trocado sem mais nem menos?

                    O que acho interessante é que os dirigentes nunca aparecem para dar explicações. Dizem que isto só pode ser feito nos Congressos ou nas Assembleias. Mais interessante ainda é que a UEB tem dezenas de chefes para defender sem ao menos ter estado presente na hora da mudança. Soube que é obrigatório o uso da vestimenta nas atividades internacionais. Verdade? Ainda bem que temos uma plêiade de chefes que não estão nem aí para determinações da EB. Vejo dezenas de chapéu de pano, bibico de pato, cores diferentes até na vestimenta, uma verdadeira Torre de Babel. Sei que a cada geração sempre aparece os sabidos para mudar. Tudo é vendido. O distintivo de Patrulha, o da monitoria, agora é de pano pelo preço X.  
               
                    Tivemos muitas tradições que se perderam nos escaninhos da UEB. Muitas delas agora são lembradas em órgãos especializados com a Memória Escoteira. A sede do lucro vai mudando a fim de beneficiar o caixa que dizem não pode nunca dar prejuízo. Enquanto em Portugal fizeram um Acampamento Nacional com mais de 27.000 participantes pela módica quantia de noventa euros, (cinco dias), enquanto os desbravadores na mesma arena onde vai ser realizado o Jamboree Brasileiro teve taxa de menos de trezentos reais (muitos não concordam, sempre tem eles para defender o indefensável), iremos ter nosso Jamboree por módica quantia de seiscentos e poucos reais sem alimentação. E a petição para reduzir o preço parece que a EB nem tomou conhecimento. Servir ou ser servido? É... Viramos sim pedintes da UEB!


                 Dizem que saudosismo não enche barriga. Dizem que agora somos modernos e temos uma nova era pela frente. O passado ficou só na lembrança e o presente sim irá dar uma nova mentalidade ao escotismo do Brasil. Sou um Velho Escoteiro feliz. Usei minha jarreteira, meu penacho, meu chapelão, minhas estrelas de metal, meu cinto com fivela que não entorta minha flor de lis de lapela, minha medalha da boa ação e andava por aí de lenço no uniforme com nó nas pontas para não esquecer que o “ESCOTEIRO FAZ TODOS OS DIAS UMA BOA AÇÃO”!

Nota de rodapé: -  Este artigo do penacho escrevi há tempos atrás com outras palavras. Alguns chefes me pediram para explicar o que significava e o porquê foi extinto. Resolvi reescrever agora mais ácido, pois não me abstenho de criticar as mudanças e as tradições que no Brasil são feitas por tempos em tempos. Estamos sem memória, sempre tem um que quer ficar na história mudando o que nunca deveria ser mudado. Ele poderia ter esse direito sem consultar ninguém? 

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Aplicando o Sistema de Patrulhas.


Conversa ao pé do fogo.
Aplicando o Sistema de Patrulhas.

                       Falar aqui sobre o Sistema de Patrulhas é demasiado para muitos Chefes Escoteiros. A maioria conhece melhor que eu. Afinal sem ele não existiria o Escotismo. Verdade? Vejamos. Será que todo tem consciência da importância de uma patrulha completa na tropa por anos e anos com os mesmos patrulheiros masculinos ou femininos com evasão mínima? Como manter a unidade? Quando jovem participei por anos em uma Patrulha escoteira e uma sênior. Todas duas com poucos saindo e quase ninguém entrando. Quando fiz meus primeiros Cursos Escoteiros já adulto senti a dificuldade em manter a unidade na Patrulha no início. Mesmo ficando cinco dias ou mais acampados, dependendo o curso, não foi muito fácil para nós. Nos primeiros dias todos cavalheiros e cortesia demasiada. Todos eram irmãos. Beleza! Como dizem os jovens hoje.

                      A simpatia e a cortesia impera nos primeiros dias depois a dúvida aparece, pois começamos a nos conhecer melhor. Já sabemos quem é preguiçoso, o mandão, o dorminhoco, o bobão (tem sim, desculpe) o bajulador, o metido a sabe tudo. Não esquecer o doente, sempre reclamando. Claro eu era perfeito! A amizade era um vai e vem que a cada dia transparece de uma forma. Nos últimos dias começávamos a nos entender. Mais amigos e respeitando um ao outro. A união dos Touros, dos Lobos dos Maçaricos e Corvos começava a se desabrochar. Diferente do meu tempo na Patrulha onde fazíamos escotismo todos os dias, sempre juntos, decidíamos, a casa de um e outro podia ser a sede para uma reunião. Já éramos amigos de longa data.

                     Quando comecei a atuar como Chefe escoteiro em outros grupos notei que muitas vezes os jovens eram advindos de comunidades diferentes. Normas de condutas diferentes. Formação individual diferente. Não se conheciam. Características que devem prevalecer até hoje. Quando se aplica corretamente o Sistema de Patrulha demora-se meses e anos para que todos adquiram o respeito e a amizade que deve existir entre um e outro em uma equipe. Aprendi muito estudando e observando como manter uma união duradoura. Tenho visto hoje e claro havia naqueles tempos também patrulhas que só servem para jogos, para alegria do chefe em ver um grito de patrulha e a sua satisfação em receber uma apresentação dos meninos.

                      Patrulha? Não. Conta-se a dedo uma Patrulha que os meninos permanecem nela por toda a vida no ramo escoteiro ou sênior. Três ou quatro anos dependendo a idade que se inicia. Isto era e é uma dificuldade imensa para fazer um bom programa de tropa. Sei de muitas tropas que andam desmanchando as patrulhas para formar outras. Jogos? Os touros têm três? Tira dois da lobo. Por quê? Por quê? Para que servia a união de uma patrulha? Que tipo de amizade iria sair dalí? Era o começo para desistir. O programa na minha rua é melhor deviam pensar. Lá meus amigos me respeitam. – Os acampamentos não tinham a consistência que se espera. Os campos de Patrulha eram um abandono com ninguém se interessando.

                        Não sei vocês chefes, mas me dói formar uma tropa e lá ver patrulhas com três ou quatro e quando se vai realizar um jogo começa o tal complemento. Tira um para por ali, tira outro para por acolá. Esta é a hora para meditar e analisar o porquê as patrulhas não ficam completas. Onde erraram? Sei e até compreendo que muitos chefes não admitem estar errados. Acham-se mais velhos, experientes e até dizem a todos que sabem o que o jovem quer. Reclamar de reuniões ruins? Reclamar do Monitor mandão? Reclamar de ficar tempo ouvido palestras do Chefe de ficar tempo demais no cerimonial de bandeira e sem contar jogos sem graça e sem motivação?

                        Pergunto-me sempre se os chefes tem conversas individuais com seus escoteiros, se frequentam suas casas, se procuram saber o porquê estão faltando ou mesmo porque saíram do escotismo. Sei de muitos que ainda não se colocaram na posição de educadores. Não tem culpa. Não aprenderam como fazer e agir. Conheço alguns que estão no lugar errado. Esquecem-se dos monitores e eles mesmos saem a ensinar ou adestrar seus escoteiros, não perguntam não pedem opiniões. Sei que tem alguns mais durões, com aquele rompante em dizer que ser Escoteiro é ser homem. Ou então vir com aquela frase que se não tem amor pelo escotismo é melhor sair.

                       Tenho minhas dúvidas de quantos chefes temos que procuram entender, ouvir sem ficar retrucando e se explicando. Tropa com patrulhas de três ou quatro significa mau programa, má formação dos monitores (ou mau chefe, risos) enfim, uma série de fatores que só mesmo os dirigentes da tropa podem analisar com carinho olhando para dentro de sí.
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                         Não posso afirmar, pois não estou atualizado, mas antes cursos eram feitos no sistema de Patrulha. Seja lá o curso que for. As sessões, as unidades didáticas tudo era feito de maneira que ficasse claro a todos que esta é a base correta para termos a metodologia Badeniana. Ensinávamos as vantagens de aprender fazendo, a ouvir e corrigir se necessário. Não adianta repicar que o escotismo é para os jovens se o chefe se acha perfeito, acha que sabe o que fazer e se julga superior aos jovens e sabendo o que ele quer. Posso afirmar sem ser antipático que a evasão é culpa da formação inadequada do Chefe Escoteiro. Nenhuma Tropa ou Alcateia sobrevive sem ter chefes preparados para orientar e dirigir.

                           Baden-Powell colocou todas suas fichas no Sistema de Patrulha e na formação dos monitores. Temos que nos atualizar, aprender e compreender como atuar na liderança de uma sessão. O Chefe deve procurar ler muito e principalmente os livros do fundador. Ouvir, sorrir, entender, ler e participar sem ser o dono quem sabe seria a fonte inesgotável de como podemos ter sucesso. Mas antes e preciso ver. Muitos não querem ver. Não sabem o porquê o jovem saiu, não aceitam que a evasão em sua sessão é uma realidade.


                          Faça o “feijão com arroz”. Não complique muito. Estamos caminhando para um escotismo pedagógico cheio de verdades que não as de Baden-Powell. Converse com seus monitores. Ensine-os aprenda com eles e a tropa vai andar firme no rumo ao caminho do sucesso! E lembre-se você Chefe é o único responsável para isto dar certo!

Nota de rodapé: -  Nada que a maioria dos chefes não conhecem. Outros assim pensam também, mas a verdade é que ainda não se tocaram o porquê muitos estão saindo. É difícil ter jovens por mais de dois ou três anos na tropa e olhe, Baden-Powell dizia que dez anos seria o mínimo necessário. Será que estamos caminhando rumo ao sucesso com esta enorme evasão?