Pedaços da
vida.
Um cerimonial
de bandeira.
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Não te direi o
nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
(Vinicius de
Moraes)
Tentei ontem pegar no mouse
e correr pelas várzeas do Facebook. “Nekas” não consegui. Agora é assim um dia bengalando,
outro rasgando o ar para ele entrar no pulmão. Aproveitei que não tinha forças
para pensar. Pensar é bom, nos faz ver que a vida ainda vale a pena viver. Foi
então que me lembrei de um poeta: - Vado Escoteiro, se você me pedisse um conselho, eu te diria pra viver a sua vida
com calma. Viva um dia de cada vez e de forma bem atenta, assim nunca correrá
os riscos de perder as surpresas da vida. É isto mesmo. Cada um com seus “probremas”
e cada um cuida do seu pensando se dá para dizer bom dia, boa tarde e boa noite
a alguém ou quem sabe um Sempre Alerta vistoso.
Aconchegado na minha
barraca de duas lonas, com as portas da frente aberta me vi em um cerimonial de
bandeira. Gosto, amo, ali me sinto um homem probo, orgulhoso do seu pais.
“Necas” de o maldizer, pensar que ele é da laia dos “sacripantas” que não lhe
dão valor. Já observaram com atenção no cerimonial? Veja o realizado lá da
fronteira de Roraima, pode ser na terra dos índios Raposa Serra do Sol, ou
nascente do Rio ailã. Viaje até o sul no Arroio Chuí do Rio Grande do Sul. Veja
o garbo, a apresentação o medo de errar, mas o orgulho de ser um que tem a
honra de hastear ou arriar a bandeira. O Chefe de olho na lobada e escoteirada.
Ele os treinou bem e sabe que não podem errar.
E quando algum dá errado?
A bandeira sobe de cabeça para baixo, a roldana trava, o cabo arrebenta? Nossa
todos ficam em polvorosa. A canção de roda popular, “marcha soldado” traz em
seu contexto o sentimento patriótico muitas vezes cantarolado por crianças e
adultos e termina assim: “Acode, acode, acode a bandeira Nacional”. Dizem que é
para salvá-la do fogo que ateou-se no quarte. Na realidade esta cerimônia
incuti preceitos cívicos nas crianças e jovens. Pena que isto está sendo
esquecido por muitos adultos que não ensinam as suas crianças.
Na minha cama feita de capim e dois sacos de aninhagem, coloco as mãos atrás da cabeça e sorrio de leve. Tenho meu orgulho pessoal, é lindo ver seja o que for um cerimonial de bandeira escoteiro. Olho aquele noviço, aquele lobinho pata tenra que ainda não aprenderam a ficar em posição de sentido e fazem a saudação de maneira desigual. Eles se assustam, olham para quem está de lado, não sabem o que fazer. Será com a mão direita ou à esquerda? E o Chefe? Ele ali é o exemplo. Empertigado, fazendo a saudação nos trinques e sabe que sua silhueta é exemplo para os demais.
Tento fechar os olhos na
minha barraca, mas as lembranças continuam. Lembro que uma vez, Ops! Não era
uma vez e sim um conto real. A tropa formada para o cerimonial. Fizeram um belo
mastro de bandeira. Naquela época ainda não podíamos arvorar. Isto facilitou
para evitar cortar um bom bocado de um mastro na floresta. Mas eis que um
vendaval aconteceu. Vento de oitenta ou cem quilômetros por hora. A bandeira
ainda não chegando ao topo. O vento a pega de jeito. Ela se solta do cabo e
sobe como um balão pelos ares.
A chuva cai arrebentando
meio mundo. Pingos e pedaços de gelos para alegria geral arrebentam o solo
ressecado. A escoteirada grita: - Salvem-na! Ela é nossa pátria! E todos saem
correndo atrás da Bandeira do Brasil que corre nos céus com estrondos de
trovões que amedrontariam aos mais bravos chefes escoteiros. Eles não perderam
de vista e a seguiram através da floresta. Ela começa a cair e fica presa no
alto de um jequitibá. E quem disse que um valente escoteiro não foi até lá?
“Trepou" na arvore” de galho em galho foi lá nas “grimpas” e sorrindo
pegou a bandeira, dobrou com honra, como aprendeu a dobrar.
Desceu, sangramentos
nos braços, uniforme com rasgos, rosto cheio de fuligem e a tropa atrás
gritando: - Chefe, Chefe! Salvamos a bandeira do Brasil! O Chefe chorou de
emoção. Que orgulho, que vontade de medalhar a todos eles! E a chuva? A chuva
meu amigo se foi, era daqueles que a quadrinha dizia, - Escoteiro! Se tens agua
e depois vento põem-te em guarda e toma tento. – Mas se tens vento e depois
água deixe andar que não faz mágoa!
Bem gosto de
relembrar. Gosto de um cerimonial, assisti milhares deles em Paco Manso e por
varias cidades do Brasil. Amo minha bandeira e tenho por ela o maior orgulho.
Os olhos querem fechar, o ar parece querer voltar... Preciso escrever este
conto, que não é somente um conto, mas uma história real! Olá escoteirada, de
volta a minha pátria amada!
Nota de Rodapé: - Bandeira minha, de encantos
mil, imagem linda do meu Brasil!
Quando te vejo bandeira amada,
graciosamente assim hasteada,
E minha boca ainda infantil,
fala bem alto, viva o Brasil!