sexta-feira, 31 de julho de 2015

O meu querido distintivo de lapela.


Conversa ao pé do fogo.
O meu querido distintivo de lapela.

                          Quem já teve nunca o esqueceu. Houve uma época que tínhamos que correr atrás para conseguir um nas lojas escoteiras. Quando vi o meu pela primeira vez me encantei. Só não chorei porque o meu sonho agora era real.  Pequeno, dourado, com uma linda flor de lis em cores verde e amarelo. Minha mãe me entregou e disse: - Um presente que seu tio Vadim trouxe para você do Rio de Janeiro. Parecia que ele foi feito para mim. Até seu formato era a Flor de Lis perfeita. Com sua presilha se prendia facilmente na gola da camisa ou no paletó social. Um ano depois comprei outro. Eu mesmo na Cantina Escoteira da capital.

                         Foi uma época de identificação de qual organização você pertencia. Era comum vermos os rotarianos, os do Lions Club, partidos e religiosos e tantas outras organizações onde todos postavam com orgulho o seu botton de lapela. Os padres também usavam o seu. O prefeito também. Na Câmara de Vereadores idem. Naquele tempo não saímos por aí com o lenço no pescoço tentando nos identificar de maneira diferente. O botton era tudo. E que orgulho amigo eu o colocava na lapela e íamos desfilar para que os outros soubessem que ali estava um Escoteiro. Quando pela cidade encontrávamos alguém com ele, logo corríamos para cumprimentar: Sempre Alerta! Escoteiro de onde? Prazer. Eu sou o terceiro Escoteiro Escriba da Patrulha Lobo. (tem gente que não gosta quando me apresento assim, risos). Abraços, aperto de mão, histórias, lembranças tudo em questão de minutos era conversado entre nós. Nossos chefes nos ensinavam que o uniforme se vestia completo. Nada de usar peças por aí. Usar só o cinto? O Lenço? Nem pensar.

                       Já contei aqui quando fizemos uma vaquinha, que rendeu além do esperado. Todos que participaram do Grupo Escoteiro na minha cidade e aqueles que procuramos colaboraram. Como se fosse hoje, chegamos a ter mais de quinhentos reis! Uma fábula para a época. Para que? Para custear uma viagem de um escoteiro até a capital, o Rio de Janeiro. Motivo? Comprar bugigangas escoteiras e  distintivos de lapela para todos. Iriamos presentear também alguns ex-Escoteiros. Fui o escolhido e lá fui eu viajando nos meus treze anos. Viagem perfeita. Nunca mais esqueci.

                     Era para comprar também a moeda da boa ação. Poucos tinham. Mas o dinheiro não deu. Eu já tinha a minha há tempos. De manhã bolso esquerdo. Feita a boa ação, bolso direito. Claro, nunca nos contentávamos e voltávamos para o bolso esquerdo novamente como a dizer: - Uma boa ação só hoje? Nunca! Tinha de ser várias. Pelo menos mais uma e mais uma.  Quantos distintivos tinham lá. Quantas coisas bonitas. Quantos livros. Fiz questão de trazer um que passou de mão em mão por todo o tempo que fiquei lá no Grupo Escoteiro. - O Guia do Escoteiro do "Velho" Lobo. Lindo! Espetacular! Quando o levei para casa não queria dormir. Ficava ali sentado na cama lendo, relendo.

                A escoteirada e a lobada sorriam pelas esquinas com seu distintivo de lapela. Quando seu Leôncio o prefeito recebeu o dele, logo colocou com orgulho (fora Escoteiro quando menino). Agora todos sabiam quem era ou quem foi escoteiro na cidade. E claro, um orgulho em usar na escola, no trabalho (eu era engraxate) na igreja, ou seja, em qualquer lugar. Não precisa dizer – Era como o distintivo de lapela falasse - Olhem! Estou sem uniforme, mas sou Escoteiro de coração!

Meu lindo distintivo de lapela que nunca esqueci. Se vocês tiverem um devem sentir o que eu sentia. O orgulho em usar e dizer a todo mundo: - Eu sou um Escoteiro! Se hoje os políticos lá no seu habitat usam eu não sei. Mas ainda lembro-me de muitos profissionais, médicos, engenheiros e tantos outros que orgulhosamente o colocavam como a dizer, sou isso mesmo, esta flor de lis fez parte da minha vida.  Eu sempre amei o escotismo e hoje sou o que sou graças a ele.


São coisas do passado. Mas que ficaram gravadas até hoje no presente. Será que hoje ainda tem alguém que usa a linda Flor de Lis de Lapela em todos os lugares aonde vai? Que se orgulha em se mostrar como Escoteiro? Claro, tenho certeza que sim. Mas porque escrevo isto? Não sei. Gosto de lembrar-me dos meus velhos tempos e quem não gosta? Foram tantas e tantas coisas que marcaram. Tradições gostosas que permanecem para sempre em todos nós, Escoteiros do Brasil.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Bandeira do meu Brasil!


Crônicas de um Velho Escoteiro.
Bandeira do meu Brasil!

Bandeira minha, de encantos mil, imagem linda do meu Brasil!
Quando te vejo bandeira amada, graciosamente assim hasteada,
E minha boca ainda infantil, fala bem alto, viva o Brasil!

                Tudo no escotismo é maravilhoso. Os acampamentos, a marcha de estrada, a fogueira crepitando, o nascer e o por do sol. Mas para mim o cerimonial de bandeira marca. Ali é onde o valente Escoteiro treme. Não é um tremor de medo e sim de orgulho. Convidado ele olha para o monitor, o Chefe e parte como se fosse fazer um ato que ficará gravado em sua história escoteira, onde irá contar para seus pais, seus amigos o dia que foi privilegiado e escolhido para hastear ou arriar a Bandeira do Brasil. É um cerimonial realizado em todos os Grupos Escoteiros do mundo.  No inicio e no fim das atividades Escoteiras lá está ela lembrando que nossa pátria é nossa morada. Eu não sei mais de quantas cerimônias eu participei. Para mim e meus irmãos Escoteiros é um orgulho e uma honra estar ali, honra múltipla ser escolhido entre muitos para o líder do cerimonial. Seja em um hasteamento ou arreamento. Não importa onde seja, na sede ou no campo, no mastro ou arvorada sempre é um espetáculo que ninguém esquece.

                 Cada país, cada grupo costuma ter seu cerimonial próprio, mas inigualável. Ali em ferradura, em círculo, com a saudação Escoteira o objetivo é sempre o mesmo, elevar aos céus nosso amor à pátria. Não importa se ela sobe ou desce por um só Escoteiro ou lobo, por dois e já vi até três com sua bandeira no cerimonial. Já vi um Grupo Escoteiro que ela sobre enrolada e ao meio mastro ele se abre como se o vento a tocasse para ela mostrar todo o seu brilho. Tem aqueles que sobem ou descem devagar, tem outros que ela sobe ou desce por parte do cabo. Uma vez vi um cerimonial de Escoteiros do mar. Foi lindo, Enquanto ela subia um silvo de um apito de marinheiro se fazia ouvir. Quando jovem ainda existia na prova de Segunda Classe saber  desenhar, conhecer sua história e quem foi seu idealizador. Saber o que representa as cores é fácil. Difícil é desenhar.

                  Todos brasileiros sabem que o verde simboliza a pujança das matas brasileiras, o amarelo as riquezas minerais do solo, o azul o céu e o branco a paz. As estrelas os estados brasileiros, dizem que a frase “Ordem e Progresso” teve a influência de Augusto Comte, filósofo francês. Mas desenhar a bandeira me tirou o sono por muitas noites. É fácil? Tente e depois me diga. Você sabia que para calcular a bandeira toma-se por base a largura desejada? Esta é dividida em quatorze módulos  iguais. O comprimento será de vinte módulos, a distante dos vértices do losango amarelo ao quadro externo será de sete décimos. O círculo azul no meio do losango terá um raio de três módulos e meio. O centro dos arcos da faixa brancas estará dois módulo a esquerda do ponto de encontro do prolongamento do diâmetro vertical, do círculo com a base do quadro externo. O Raio do arco inferior da faixa branca será de oito módulos e meio. A largura da faixa branca será de meio módulo. Chega, estou tremendo, já fiz mas hoje? Ainda falta os módulos da largura da faixa branca, da posição das estrelas. Um estresse grande para quem não é bom matemático.

                   A bandeira tem normas, horas de hastear e arriar, A lei número 5.700 de primeiro de Setembro de 1971 define tudo sobre ela. As normas protocolares dos diversos órgãos governamentais e das Forças Armadas, embora divirjam nos detalhes concordam na maioria dos procedimentos. Mas não vou muito longe. O que sei é que todos nós Escoteiros temos um grande amor pela bandeira. Nosso respeito, nosso amor não tem como explicar. Dobrar, guardar ou preparar para as solenidades nos faz sempre ter um carinho enorme, ter noção da sua importância e quando somos os escolhidos muitas vezes temos medo de errar. Já vi chefes tremerem, já vi chefes assustados com a bandeira virada, já vi chefes correndo para corrigir seus Escoteiros e lobinhos, mas eu nunca fiz isto. Sou daqueles que só se aprende a fazer fazendo. Quem não erra nesta vida? Tão fácil dizer – Firme! E consertar? Deixai os jovens na bandeira a sorrir, a ver ali seu orgulho de ser brasileiro!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!


Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha 
Brasil, talvez.

domingo, 26 de julho de 2015

Qual o caminho para o sucesso?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Qual o caminho para o sucesso?

                   Em uma nova fase nas mudanças de liderança na União dos Escoteiros do Brasil, tais como as eleições no CAN (Conselho de Administração Nacional) já realizadas e as do DEN que serão como todos sabem uma indicação do DEN (Diretoria Executiva Nacional), tenho visto uma revoada de novos lideres que se apresentam com novas ideias, falam em transparência, estarem mais próximos as bases ou unidades locais. Muitos assumem compromissos, prometem tornar publicas as prestações de contas, evolução do efetivo e objetivo do tal Planejamento Estratético. Este todo ano se comenta, mas sempre em quatro paredes e até hoje nem sei aonde chegou. Sempre tem uns que querem criar novas comissões, diretorias e um fato importante é dizerem sempre que o escotismo é para todos.

                    Eu como um Chefe meio inculto não entendo muito do palavreado que usam os novos lideres Uebeanos, afinal sempre falaram assim, temas bonitos, palavras que Rui Barbosa ficaria embasbacado. Mas como diz o maior poeta já falecido Chico Anísio palavras são palavras nada mais que palavras. Falam tantas coisas bonitas que ainda fico pensando porque não somos ainda uma potencia como movimento de educação. Há anos que sempre aparecem planos lindos, com recheios miraculosos e ao final nada de concreto se realiza. Nesta escolha do CAN dos novos diretores da DEN é um exemplo. Não deveria ser uma eleição por parte de todos os conselheiros nacionais? Mas esta minha implicância não resulta nada de bom. Os Estatutos são os mesmos. O método eletivo idem, as escolhas idem. Mas “deixa prá lá”. E pisar no molhado para escorregar na casca do quiabo como dizia o Zé das Quantas e seu amigo o Escoteirinho de Brejo Seco.

                     O carro anda, a estrada vai seguindo seu destino. E nós? Quando realmente teremos a transformação de um escotismo forte, sadio, para todos, sim para todos, pois hoje só ricos podem fazer o tal escotismo da UEB e suas Regiões. Ler o site da UEB é me perder em ambiguidades. Quando teremos lideres que se preocuparão com a transparência no seu melhor sentido da palavra? Quando teremos lideres que não vão pensar no eu, mas no todo? Não adianta citar um ou outro estado, um ou outro grupo que deu certo, nada disto. Temos muitas coisas para mudar, com o pé no chão, sem enfeites, sem demagogias que nunca se concretizam ou se realizam. Cobram-me o que eu faria. Será que ainda poderia fazer? Neste emaranhado da teia de aranha que criaram nos últimos trinta anos o primeiro passo é bem claro: - Um novo estatuto. Participativo, voz e voto a todos os membros associados da UEB. Nada de sistema representativo, de escolhas já conhecidas onde os mesmos sempre estão lá a digerir ou dirigir um escotismo que nunca tem o respeito que merece pela sociedade brasileira.

                   Quer saber mais? Eu se tivesse voz, voto e liderança para dirigir o escotismo nacional iria fazer tudo para falar a voz do povo Escoteiro. O Escoteiro humilde, aquele que luta dia a dia para comprar seu uniforme, para fazer um acampamento, para estar presente em muitas atividades escoteira. Eu iria me preocupar com ele não com esta farra de eventos criados única e exclusivamente para ricos. Não faria nada sem antes por um ou dois ou mais anos conversar, ouvir, criar seminários, indabas, congressos, assembleias e o escambal em todas as Unidades Locais. Todos iriam participar. Seja o tema que for. Nada seria feito sem uma grande consulta nacional. Nada seria realizado sem uma aprovação formal de todos os associados. Utópico? Se tivessem feito assim no passado o que hoje acontece poderia ter sido diferente. Tomaram atitudes, mudaram tudo, não houve transparência, nunca soubemos de uma só pesquisa séria feita pelos dirigentes nacionais. Sempre colocando por debaixo do pano os motivos porque perdemos tantos associados a cada ano. Alguns eventos nem apresentação de contas existem.

                    Se você meu caro que me lê é um dirigente, ou tem poderes para sugerir sem se tornar um ditador ou autocrata não pense como hoje. Pense democraticamente. A plebe tem muitas ideias e olhem muitas vezes eles sabem aonde chegar para o sucesso. Lembre-se você não é o único, a saber, que rumo seguir. Precisamos olhar mais o escotismo como um todo, ele não é meu e nem seu é de todos. Enquanto não levarmos a sério que somos parte de um movimento de jovens, que só nas democracias ele pode florescer as ideias não pode ficar restrito a um só ou a uma equipe só. Que ela apresente seus objetivos, mas que ouça todos de norte a sul do Brasil. A UEB tem capacidade de fazer amplas pesquisas, ouvir, pensar, saber o caminho a seguir rumo ao sucesso. Deve esquecer esta maneira autocrática mesmo que um estatuto hoje lhe dá estes poderes. Ele não foi feito a quatro mãos, nunca foi. Menos de 0,5% do efetivo nacional participam das tomadas de decisões. A escoteirada através dos adultos que a orientam nunca foram ouvidos e consultados. Mudaram o que quiseram e até hoje não provaram nada que os resultados foram bons.

              Hoje já não se fala nas ideias de B.P. Ele para muitos se tornou somente uma lenda que trouxe o escotismo e suas palavras foram dirigidas para os rapazes de sua época. Ninguem mais o cita em suas andanças em cursos, em seus projetos, em seus mirabolantes estudos que nada leva ao final esperado. Continuamos com um programa que não agrada, continuamos a nos apresentar através da nova vestimenta como um movimento sem orgulho, sem garbo e os politicamente corretos nem querem saber de apresentação mais digna que podem nos apresentar como um movimento militarizado. Uma liberdade que eles escolheram e nem ao menos se deram conta das suas virtudes e vantagens no passado. Sempre termino estas minhas crônicas lembrando John Thurman, chefe de campo de Gilwell Park em 1957, ele escreveu:

          - Sem dúvida, Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou. Os únicos capazes e possíveis de pôr o Escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.


                 Precisamos falar mais alguma coisa? Que os novos candidatos e eleitos pensem melhor e vejam que sem dar as mãos em uma associação de ideias em todo o território nacional continuaremos a ser nada mais nada menos como somos hoje. Um movimento que parou no tempo e esqueceu que tem milhares de mentes prontas a colaborar para encontrar o verdadeiro CAMINHO PARA O SUCESSO!

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Um sapato chamado Vulcabrás!


Crônicas de um chefe Escoteiro.
Um sapato chamado Vulcabrás!

            Eu estava com doze anos quando ele surgiu. Meu último sapato comum sofreu uma pane na subida do Morro do Papagaio. Josias o sapateiro me disse que não dava mais meia sola. Eu não tinha outro. Sempre o mesmo para andar pela cidade, ir à reunião a missa namorar (de longe) acampar e passear com amigos. Ainda não havia as famosas sandálias havaianas que dois anos depois surgiram fazendo um grande sucesso. Era só para ricos que podiam importar da capital e pagavam uma nota preta. Tênis? Nem pensar. Nem se sabia o que era isto pelo menos para nos de uma cidade que pouco falava com o mundo. Conversei com meu pai, ele me olhou com aqueles olhos que me explicavam tudo. - Vamos ver filho, vamos ver. Vou entregar uma sela no sábado e se o Seu Joviano me pagar à vista pelo menos a metade posso lhe dar para comprar seu sapato novo. Meu pai era um grande sujeito, eu sabia que ele queria tudo de bom para nós eu e minhas duas irmãs, mas a luta pela vida era incessante. Primeiro a alimentação e depois o supérfluo. Sapato não era, mas naquela hora entrava na lista.

                     Andava com meu Velho sapato com um pedaço da sola solta amarrada com uma cordinha fina. Nem pregar dava. Lembro-me do barulho que fazia plec, plec quando esbarrava no chão. Ainda bem que no Cerimonial de Bandeira, na Inspeção e oração a gente permanecia em posição de sentido ou descansar. Os jogos de corrida eu tirava o sapato e ficava descalço. Sabia que era por pouco tempo. Já tinha juntado uma pequena quantia para comprar um canivete para mim. Tinha visto um nas Casas Abil e me encantei com ele. Levi me disse que era suíço. Bem ele ficaria para outra ocasião. Era assim no passado a gente saia da escola, passava a mão na caixa de engraxate e saia para ganhar uns tostões. Foi assim que comprei meu uniforme completo, meu cantil, minha faca, minha bússola e meu chapéu. Faltava o canivete. Agora era a vez de um sapato novo. Consegui duas semanas depois o que faltava. Meu pai me acompanhou até a Loja de Calçados do Seu Tinoco.

                      Foi ele quem nos mostrou a novidade. – Seu Totim (meu pai) chegou um novo tipo que dizem durar mais de vinte anos! Olhei para ele espantado. Vinte? Isto mesmo Vado, se chama Vulcabrás. Quer ver? Ele trouxe dois pares um marrom e um preto. Eram bonitos, nada de extraordinário. Será que era isto mesmo a duração? Custa um pouco mais caro que os outros, mas vejam o solado, é feito de borracha vindo do Amazonas. Não tínhamos todo o dinheiro, mas seu Tinoco disse que poderíamos pagar o saldo em trinta dias. O levei na caixa. (sem a caixa a tínhamos descontos) Amei a primeira vista. Calçava 36 na época (hoje calço 38). Nada como uma boa engraxada para deixar o coro no ponto. Fiz isto seis vezes em um só dia! O bicho ficou tinindo de rosca. Lindo, brilhante. Era como o Chefe dizia: - Um Escoteiro está sempre bem apresentado, do calçado ao chapéu. Na reunião todos queriam ver o tal Vulcabrás, souberam que ele durava vinte anos! Ninguem acreditava. Serviu como uma luva, mas duas semanas depois fomos acampar em Serra Vermelha. Doze quilômetros empurrando a carrocinha e o danado me mordeu o calcanhar e o dedão. Não foi fácil ficar descalço no acampamento, mas fiquei.

                       A gente levava à graxa e a escova para o acampamento. Nas inspeções não serviam desculpas que choveu, tem barro e a poeira não deixou ficar limpo. Um sapato sujo era nota menor e nenhuma patrulha perdoava um Escoteiro que tirasse nota baixa. Para isto sabíamos lavar e passar a moda escoteira no sol quente. Meu Vulcabrás foi um grande companheiro. Acompanhou-me por muitos anos na minha vida escoteira. Fomos longe eu e ele. Andávamos a pé de ônibus, de trem e no meu cavalo de aço (bicicleta). Se tempo valesse todos os anos ele devia receber junto comigo uma estrela de metal de um ano de atividade. Um dia levantei e faltou um pé. Sabia que não eram meus companheiros de patrulha, eles nunca fariam este tipo de brincadeira. Todos saíram à procura do pé direito do meu Vulcabrás. O encontramos na boca de Jacaré, pequeno, não mais que uns sessenta centímetros próximo à lagoa querendo engolir e ficou preso na sua garganta.

                         Depois que o retiramos tive que lavá-lo, por para secar e dar uma boa graxa. Afinal brincava que ele foi batizado e já podia fazer a promessa. Seis meses depois que comprei o sapato fui orgulhoso nas Casas Abil comprar meu canivete Suíço. Não tinha mais. Que tristeza! Levi me garantiu que em três meses chegaria uma nova remessa. Para quem esperou tanto tempo mais uns meses não ia fazer a diferença. Em menos de dois anos toda a Tropa escoteira, os lobos e os seniores usavam o Vulcabrás. Era o sapato do momento, o sapato dos escoteiros podia-se dizer. Seis anos depois entrando nos meus dezoito e quando recebi meu primeiro soldo na Construtora Techint onde trabalhava como anotador, comprei um marrom. Usei por vários anos e até casei com ele cinco anos mais tarde. Fez muito sucesso naquela época a marca Vulcabrás. Claro que depois de um tempo era considerado sapato de pobre, rico não usava mais. Precisavam mostrar que tinham vários calçados, bico fino, bico chato e aqueles com presilha de ouro. E os tais italianos?

                         Não sei se existe ainda a fábrica Vulcabrás. Faz anos que não o uso mais. Hoje em dia eles não teriam vez com a escoteirada. Os tênis tomaram seu lugar e as escolhas são diversas. Disseram-me que existem alguns de mais de dois mil reais. Madre Mia. Haja dinheiro, mas quem pode, pode e quem não pode se sacode, não é assim que se diz? Fui uma vez Chefe de um grupo onde os tênis já tinham voz e voto. Ninguem usava com o uniforme tênis que não fosse preto. Questão de costume, de apresentação pessoal, coisas de um Escoteiro que tem orgulho do seu uniforme. Depois ninguém ligava mais para isto. O que um calçado não podia fazer para significar um orgulho no uniforme Escoteiro. Mas acredito que hoje também os jovens se mantem firmes na sua apresentação pessoal. Antes éramos uma só alma um só coração. Ninguem queria ou podia ser diferente dos outros.


- Paulo Coelho disse: Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá no futuro é repetir o que fizemos ontem e hoje. Mas, se prestarmos atenção, vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro. Cada manhã traz uma benção escondida; uma benção que só serve para esse dia e que não se pode guardar nem desaproveitar. Se não usamos este milagre hoje, ele vai se perder. Este milagre está nos detalhes do cotidiano; é preciso viver cada minuto porque ali encontramos a saída de nossas confusões, a alegria de nossos bons momentos, a pista correta para a decisão que tomaremos. Nunca podemos deixar que cada dia se pareça igual ao anterior porque todos os dias são diferentes, porque estamos em constante processo de mudança. 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Um por todos? Sim Chefe, um por todos e todos por um!


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Um por todos? Sim Chefe, um por todos e todos por um!

                       Fico a olhar hoje os doces momentos escoteiros que muitos se divertem riem colocam fotos se abraçam dão adeusinhos e o nosso sinal para lembrar que pertencem a fraternidade, em uma grande atividade escoteira. E o Jamboree do Japão? Quantas belezas os brasileiros estão vendo por lá. Pena que são poucos, só aqueles mais bem aquinhoados e ou que passaram anos fazendo  uma poupança para ter a felicidade de estar presente. Nestas horas eu sinto uma tristeza enorme em saber que milhares ou milhões de escoteiros em todo o mundo nunca poderão estar presentes em uma apoteose de um Jamboree. Claro alguém já disse para mim que isto é impossível, como colocar junto milhões em um só lugar? Concordo e concordo também que quem deseja algum tem de lutar para conseguir. Pena que nem todo ser humano é igual. As diferenças fazem de um lutador e outro de perdedor. Escoteiros são perdedores? Bem não foi isto que quis dizer, mas acho que me entenderam.

                        Mesmo sabendo que tem aqueles que acreditam e não sonham como eu ou muitos sonhadores do bem comum, da fraternidade, do direito universal que todos são iguais perante a lei nós sabemos que não é assim. Já contei inúmeras histórias sobre jovens meninos sonhadores que seus olhares enchiam-se de lágrimas e ver fotos, manchetes e nunca iriam poder participar de um evento maior do escotismo nacional ou mundial. Conheci um chefe há muitos e muitos anos que trabalhava duro um ano inteiro só para ir aos Jamborees. Seu grupo, sua família sofria com isto. Interessante que quando chegava destes eventos sua casa ficava cheia de amigos só para ouvir suas histórias como foi lá, os distintivos que trouxe e as fotos. Uma vez fui a sua casa, vi sua família tristonha, seus filhos em um canto da sala, quem sabe revoltados, pois sabiam que a alimentação nunca faltou, mas faltou ter um pouco mais do que tinham, um amor maior e presente, uma TV nova, um fogão que sua esposa sonhava roupas e participar do mundo que seus amigos participavam.

                         Sei que isto é uma exceção. Mas eu me entristecia quando o via em uma atividade, cheio de distintivos, estrelas, medalhas e seu sorriso de vencedor. Eu mesmo sabia que todos seus amigos se sentiam feliz com a felicidade dele, e isto é bom, mas será que isto basta? Eu fui a um Jamboree uma vez. Um só, nunca mais voltei. Gastei o que não tinha e me arrependo até hoje por isto. Sei que sou errado, mas jurei a mim mesmo que as oportunidades deveriam ser iguais para todos. Onde labutei nos diversos grupos que passei fazia questão disto. Ninguem ia a não ser se todos fossem. Ensinei que ou somos irmãos para tudo ou não somos. Em nossos acampamentos fazíamos uma romaria no bairro, nas lojas, nos supermercados e armazéns e todos ajudavam sem reclamar. Não faltava nada para a intendência das patrulhas e chefia. Quando convidados para uma atividade fora do nosso distrito, todos iam.

                          Aqui mesmo em São Paulo um grupo que colaborei fazia questão de um acampamento de grupo uma vez por ano em outra cidade confraternizando com o grupo local. Chegamos em um uma vez com mais de três ônibus lotados. Foram seis dias de felicidade total. Todas as sessões tinham seus campos e os lobos perto em uma escola rural. Sei que muitos fazem isto, mas eu me perguntava se não devia ser assim a fraternidade escoteira. Nunca me esquecia da lição de Athos, Porthos e Aramis sem esquecer do jovem D’Artagnan. Quando eles diziam um por todos e todos por um era para valer. Sei que isto são coisas de sonhadores, daqueles que acham que o mundo é feito de historias da Távola Redonda, das incríveis histórias de Avalon, do Rei Arthur e seus cavaleiros que junto a ele juntavam forças para vencer o mal. Nunca me esqueci de Sir Dagonet o bobo da corte, de Sir Agravaine o filho do rei Lot, de Sir Lancelot, Sir Galhard o filho de Lancelot, Sir Gawain, Sir Palamedes o Sarraceno e tantos outros.

                           Escotismo para mim sempre foi uma saga de BP. De sentir no corpo e no coração a força que ele nos traz quando colocamos nosso uniforme, nosso chapéu, olhamos o céu para ver se vai chover e partimos por aí em busca de aventuras mais gostosas junto a companheiros fieis. Uma vez, quanto tempo não me lembro, acho que tinha quinze ou dezesseis anos, estávamos indo para Aimorés, a convite de um grupo novo, resolvemos cortar caminho (160 km) e nos perdemos em uma encruzilhada. Pela primeira vez não estávamos com nosso bornal cheio de coisas gostosas. O sol ia se por no horizonte e procuramos sem parar a estrada certa e a fome apertava. Chegamos em uma tapera na beira da estrada. Um botequim pequeno, Só o dono, no balcão alguns doces, mas me encantei com um lindo pedaço de pudim, daqueles parecido da TV que balançam prá lá e prá cá. Ai meu Deus, que fome! Quanto? Três reais. Quem tem? Comprar para todos nós sabíamos que ninguém.


                          Partimos, havia entre nós quase cinco reais se fizéssemos uma vaquinha. Mas ou todos comem ou não come ninguém. Afinal ninguém morreu e no outro dia pela manhã chegamos a Aimorés e na casa do Chefe Armindo nos refastelamos com um belo bolo de tapioca. Que bolo gostoso, parecia um manjar dos Deuses. São coisas assim que nos fazem lembrar, que a fraternidade, o amor, a igualdade traz um orgulho danado e saber que um dia poderíamos dizer sem errar: - Um por todos? Sim Chefe, um por todos e todos por um!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Como alcançar a estabilidade escoteira.


Conversa ao pé do fogo.
Como alcançar a estabilidade escoteira.

                Baden-Powell no seu livro o Guia do Chefe Escoteiro escreveu que o mínimo para se formar um Escoteiro pensando que ele quando adulto tivesse a formação esperada do caráter, da palavra, da honra dentre outros do programa Escoteiro, ele precisaria passar pelo menos dez anos no escotismo. Dez anos? Isto hoje podemos dizer que é impossível. Sem perceber estamos passando por uma fase que se o jovem ficar um ano acredito que está bom demais. Temos uma evasão enorme, evasão que até hoje eu não sei por que ainda não foi atacada de frente. Outro dia um Chefe Escoteiro quando comentei que o SIGUE deveria ser o caminho lógico para se saber quantos entram e quantos saem, ele me confirmou que sim. O SIGUE é capaz. E porque não se faz uso dele neste pormenor? Quem sabe estudando profundamente a evasão chegaríamos à conclusão do que ela é a culpada pela falta de crescimento do nosso efetivo nacional.

               Infelizmente nossa direção peca pela falta de ação. Se ela própria é capaz de colocar em seu relatório de 2014 que estamos crescendo, e ao mesmo tempo mostrando números menores que 2013 ficamos na duvida até que ponto podemos acreditar na verdade. Se começarmos a “papear” sobre o tema sem sombra de duvida que cada Chefe cada dirigente tem seu ponto de vista formado e poderia dizer onde atacar para que fosse reduzida ao máximo. Estamos caminhando para uma formação de opiniões que os chefes emitem em nome dos jovens. Sei que se o jovem ou a jovem aprende que se pesca baleia em uma lagoa, ninguém vai demovê-lo disto. O Chefe ensinou, o Chefe fez, o Chefe disse que é o melhor. Mas vai chegar a hora que ele vai desistir de pescar, afinal onde está a Baleia? A própria direção nacional é prodiga em alterar, mudar, substituir tudo que poderia afetar como está afetando o programa Escoteiro e até posso pensar que isto justificaria esta evasão tão grande.

                 No final da década de oitenta as mudanças tiveram seu início. Tivemos muitas, mas hoje vou me segurar somente no Programa Escoteiro. Se formos ao site da UEB ficaremos maravilhados com o que ela apresenta para que o jovem se sinta motivado em continuar. O programa de progressão é bem apresentado. Alcançar a Lis de Ouro e o Escoteiro da Pátria deveria ser a meta final para cada um jovem na formação escoteira. O que se faz hoje  não é nada comparado pelo menos com o que se fazia no passado, onde a sede de aventuras era explorada e o desejo de vencer mais uma etapa era frequente. Se alguém conheceu e se ainda lembram-se do exigido para o Escoteiro Noviço, Segunda Classe e Primeira classe deve saber que isto era motivo da permanência de muitos. Isto sempre foi motivador entre os jovens escoteiros.

                    Não vou entrar no mérito do programa Rumo e Travessia da UEB para tropas Escoteiras. Em princípio parece bonito, bem feito bem organizado. Mas e então porque muitos jovens não estão interessados nele e a ficar por mais tempo no escotismo? Quando a UEB resolveu acabar com o sistema de progressão de classes não perguntou, não pesquisou e nem ouviu pelo menos vinte por cento dos jovens escoteiros no Brasil. O número de chefes que não concordaram foi grande. Tentei entender e documentar as vantagens ou desvantagem do novo programa e da extinção do outro. Havia uma grita geral por terem acabado com o sistema de classes. Sempre os adultos resolvendo em nome dos jovens. O que me chama atenção é que todos os chefes que conheço sempre dizem que o jovem deve ser ouvido e ser levado a sério. Sei que ainda tem muitas tropas que fazem isto. Os jovens em primeiro lugar para dar sua opinião e sugestão. Mas a grande maioria não faz assim.

                     A UEB na sua falsa interpretação que seu programa era o melhor para os jovens nunca deu ouvidos a eles. Se notarem bem, foi a partir dai que a evasão começou a surgir levando todo um trabalho de roldão. Até hoje a UEB (seus lideres é claro) não dá a mínima para ouvir os interessados. Tudo que faz é de seu livre arbítrio. Dizem que os Jovens Lideres estão aí para opinar. Será verdade? Será que eles representam toda a gama de escoteiros e Escoteiras do Brasil? Jovens lideres de 16 a 27 anos? Com dezoito ele já responsável sobre si mesmo, Com 27 anos tem muitos que dirigem empresas e até politico eles são. Eu casei com 23 anos. Seria na época um jovem líder? Os que realmente estão na linha de frente, os escoteiros atuantes nas tropas Escoteiras nunca foram consultados. Fico pensando porque nossos lideres ainda não se tocaram que tem alguma coisa errada no reino da Dinamarca. Eles não se preocupam? Não discutem o tema? O importante para eles são os números e não o individuo?  

                        Quantos me afirmam que o jovem agora quer uma vida moderna, interagir e participar, estar junto com as necessidades locais eu fico em dúvida. Estes chefes nem de longe pensaram que o jovem poderia pensar diferente. Uma vez um deles me garantiu que para isto existem os chefes. Para resolver, programar e fazer o que os jovens precisam e para isto não se precisa ouvi-los. Eu sempre me pergunto a mim mesmo: - Onde estão os resultados? Onde? Se estamos perdendo milhares deles se existe uma falta de interesse e a motivação porque esta insistência em não ver onde está o erro? Me preocupo muito com a aceitação absoluta de muitos. Entram para o escotismo, aprendem o de hoje, não sabem não sabem do passado e concordam com tudo. Se cada um enfronhasse mais na sua Tropa ou Alcateia, procurasse saber o porquê esta saída abrupta dos jovens, conversasse, os ouvisse, então quem sabe poderíamos chegar a uma conclusão satisfatória.

                       Acho que para muitos chefes as idas e vindas de meninos e meninas que entram e saem é deprimente. Deve dar uma sensação de vazio, de trabalho perdido e ter sempre que recomeçar com os novos. Patrulhas de dois, três ou quatro  nem dá para fazer uma boa reunião de Tropa quiçá um acampamento. Não preciso ir longe, qualquer um de nós pode ver que se o menino se sente motivado ele fica se desmotivado ele sai. Dizer que o sistema antigo de classe não era bom é faltar com a verdade. Vejo hoje muitos bons escotistas alguns até na liderança nacional mostrando suas ideias, o que deveria ser mudado e alterado. Seus palavreados são para mim difíceis de entender. São doutores nas ideias e muitos pretendem discutir e mostrar como podem dar vazão a um maior contingente Escoteiro nacional. E onde estão os jovens para opinar? Eu fico pensando se eles estão certos, se viveram outra época para opinar onde está o certo e o errado.


                         Qualquer jovem que tivesse a disposição uma vida de aventuras, de descobertas de saber que pode conquistar sem sombra de dúvida seria uma motivação para ele continuar. Não gosto de muitos que dizem que a culpa é do Chefe. Sempre ele. E a nossa liderança da UEB não tem responsabilidade nenhuma? Colocar os pés no chão, ouvir mais e falar menos então e só então iremos conseguir atingir o que todos nós escoteiros do Brasil sonhamos.           

sábado, 18 de julho de 2015

Matar, morrer ou correr!


Conversa ao pé do fogo.
Matar, morrer ou correr!

             - Abri os olhos devagar. Uma luz forte me cegava. Minha cabeça girava a mil. Tentei levantar e não consegui. Estava amarrado a uma cadeira. Meus pés firmes estavam presos por um volta de fiel duplo, daqueles que só eu sabia fazer. Minhas mãos estavam presas atrás por uma amarra paralela perfeita. Quem a fez tinha experiência de campo. Por quê? Minha cabeça estava a mil. Onde estava? O que queriam comigo? Sou um Velho Escoteiro babão com dizem, mas de paz, briguei quando criança e apanhei muito. Nunca fui bom de briga. Não me lembrava de como fui parar ali. Meus olhos foram se acostumando com a luz e me vi em um quartinho pequeno, na parede uma bandeira do Brasil. O DOI CODE? O DOPS? Mas a democracia não existia agora? A porta abriu. Vi um Chefe Escoteiro magro, simpático com a vestimenta escoteira. Adorava ela com a meinha branca. Sorri, agora sabia que ia ser solto.

              - Sabe quem sou eu? Disse o Chefe. Não meu senhor! – Sou dirigente da UEB, e você é nosso prisioneiro. Macacos me mordam! E agora? O que eu fiz de tanto errado? – Vamos dar uma lição a você! Vai aprender a respeitar as associações bem organizadas! – Mas Chefe! – Ele não me deixou continuar. – Vou acabar com sua raça e destes chefetes do passado que se julgam dono das ideias de um escotismo perfeito! – Madre minha! Eu pensei. O que fiz de tão errado? – Você chefinho se acha o bom, se acha o tal, critica todo mundo, mete o pau na vestimenta, fala mal de nosso amado e querido SIGUE, cria revolta em muitos chefes e até um que é seu amigo se afastou de você. Era verdade, fiquei chateado, mas fazer o que? Afinal nasci assim um Chefe chato de galocha, e não tinha duvidas em sabia que ia morrer. – Ele implacavelmente continuou: - Só porque fez a jornada, tirou a primeira classe e foi Correia de Mateiro acha que pode dar lições? – Humildemente respondi: - Não senhor, não senhor!

                      - Velho Babão, você nem imagina o que vai acontecer com você. Aqui não adianta estas medalhas que nem existem mais, para mim pouco importa se foi regional, se fez três insígnias, se foi formador e dirigiu centenas de cursos. Aqui para mim você não é nada! – Vamos lhe dar uma lição, este teu uniforme de tergal caqui vai fazer de você mais um da patrulha da onça. Ninguem vai lhe salvar. Se você é o tal, se acha que sabe tudo então venha assumir no nosso lugar! – Sorri, será que iriam me deixar assumir? – Está sorrindo em Velho Escoteiro idiota, acham mesmo que vamos deixar? Nesta boquinha ninguém tasca! – Abaixei a cabeça, os nós perfeitos em meus pés e braços doíam. – Mas Chefe! Eu só quero ajudar? – Ajudar? Você? Com esta panca de Velho babão sabe tudo? Só porque foi Lobinho, Escoteiro e Sênior acha que pode dar lições? Afinal suas quase oitocentas noites de acampamento não é nada comparado às viagens do nosso Diretor Internacional. Sabe quantos países ele conhece? Sabe quantos idiomas ele fala? Você Velho babão precisa ter mais respeito. Se mudamos foi para melhor. Se na sua época era outro escotismo então volte para lá! – Sim senhor! Sim Senhor! – era só o que eu sabia dizer.

                      - Ele deu um grito: - Chame o Chefe Coronel Facão. Ele vai dar uma lição neste belho babão metido a sabe tudo. – Tremi, agora sim estava no papo da UEB. Não havia como escapar. Ele entrou e achei que fosse o Demônio, mas era um Chefe Escoteiro, assim diziam. Alto, enorme pançudo, cabeludo, barbudo, dentuço e portava um bastão de dois metros com ponteira de aço. Seu corpo cheio de distintivos, o cara era mesmo o tal. – Chegou perto de mim e sorriu: - Deus do céu que horror! O cara além de feio, nem me disse sempre alerta, foi logo dizendo – Be Prepared! I am an American scout CIA. Secret agent. Son of President Obama. – Pelas Barbas de Maomé. Desta vez entrei pelo cano. – Tentei rezar, precisava. Onde foi que amarrei minha égua? Agora estou frito. Língua maldita que tinha eu pensei. Língua não escrita. Quem mandou ser metido a saber como resolver a situação do escotismo mundial!

                     Ele se mexeu para um lado e outro, vi na mão dele um enorme facão. Afiado, o cara sabia afiar. Rodopiou o facão no ar. Senti que precisava fazer as pazes com Deus. Comecei a rezar. Senhor, me mantenha calado dora em diante, faça com que eu não fale mais mal da nossa querida, simpática, maravilhosa, estupenda UEB. Olhei para o gringo Boy Scout que sorria com o facão na mão. – Mas não aguentei, mesmo na hora da morte gritei: - Onde foram parar os quase seis mil escoteiros que se mandaram da UEB o ano passado? O facão girou no ar. Me vi liberto, abri a porta e sai correndo nas ruas de Curitiba. Atrás uma chusma de chefes da UEB com a vestimenta. Muitos com calça comprida, outros calça curta, camisas do lado de fora, para dentro e até com saia eu vi. Dois meteram a mão nos bolsos da camisa. Enormes, grandes e tiraram de lá duas metralhadoras israelense. Eu gritava pela rua afora! Acudam-me!


                     - Chefe, Chefe! Quer um cafezinho? Abri os olhos. A clareira era a mesma quando chegamos ali para acampar. O céu estrelado com uma lua enorme fazendo bonito para quem quisesse ver. Graças a Deus! Eu estava entre amigos em uma pequena conversa ao pé do fogo. Olhei para o monitor que tinha me chamado e espantado sorriu sem jeito e perguntou? – Chefe! O que houve com o senhor lá na UEB?

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O fantástico e extraordinário SIGUE!


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O fantástico e extraordinário SIGUE!

                Quem ainda não ouviu falar? O Super. MUC da Alemanha é fichinha perto dele. O Vulcan da IBM quando falam nele se esconde em uma sala fechada de medo. O K Computer no Japão tem uma inveja danada dele. Ninguem supera o fantástico SIGUE. Pergunte aos escoteiros do Brasil. Não sei o tamanho dele, Dizem e eu não posso afirmar que este monstro da informática, desenvolvido pelos especialistas Uebeanos, foi criado no Laboratório da sede nacional em Curitiba, com quase 700 Terabytes de RAM, 40 Petabytes de HD e um fluxo constante de 17,5 petaFLOPS de informações por segundo. Impressionante! Ele sabe de tudo. Especialistas do Google tentam descobrir suas mil e uma utilidades com medo que ele um dia passe a ser um programa de buscas e informações o que já é.

                  A escoteirada brasileira se esbalda com ele. Orgulham-se dele. Quem não tem a sua senha está por fora e não sabe de nada e já está mortinho da silva escoteiramente. Quer saber quem você é no escotismo? Vá ao SIGUE. Quer saber sua utilidade no escotismo? O SIGUE está lá para isto. Lá além das futricas que você provoca, tem tudo sobre a UEB, Institucional, programa, agenda, downloads, registros, convênios loja e o escambal. Dizem que está surgindo um novo programa que irá quadruplicar o número de escoteiros no Brasil, basta apertar a tecla ENTER. Ali estão currículos de cursos, currículos dos membros da corte, mais vulgarmente conhecidos como casta dos nobres. E você meu nobre amigo ou amiga está lá também. Ele é carinhosamente chamado de Meu SIGUE. Sua sigla significa SISTEMA DE INFORMAÇÕES E GERENCIAMENTO DE UNIDADES ESCOTEIRAS. Pera la! Só das unidades? Não posso ter informações dos grandões das regiões, da UEB e dos famosos formadores do Brasil?

                   Convenhamos que a utilidade do SIGUE é fantástica. Já pensou? Eu quero saber quantas especialidades tive no escotismo, quais foram às datas e ele sorri para mim e começa sua tagarelice maneira imitando ser MATRIX? (- Neo: O que é Matrix? - Morfeu: Você quer saber o que é Matrix? Matrix está em toda parte […] é o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade. - Neo: Que verdade? - Morfeu: Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver cheirar ou tocar. (Uma prisão para a sua mente). Risos. Mas convenhamos a sua maneira o SIGUE presta enormes serviços para a sociedade escoteira local. Não sei se os Uebeanos copiaram de outros países, pois são mestres nisto, ou se um futuro Escoteiro brasileiro ganhador do Tapir o concebeu. Mas olhe cuidado, muito cuidado, pois se você não tem registro meu amigo Escoteiro você é um eterno desconhecido para ele. Você é um nada, um perdedor um Zé Ninguém!

                  Não vai adiantar ajoelhar nos seus pés, começar a ladainha que tem X anos de escotismo, que foi lobo, Escoteiro e Sênior. Que é Chefe há muito tempo. Não adianta gritar no ouvido dele que você quer uma Medalha! pois você merece! Nada o fará mudar. Sem o registro e senha você nem consegue falar com ele. Você meu amigo é igual ao escoteirinho choroso de Brejo Seco. Só quem pode ganhar só quem pode dar risadas, só quem pode ir para o Japão, só quem pode comprar os dezoito tipos da vestimenta na loja são os registrados. Pagou? Valeu. Não pagou? Danou-se! Outro dia vi um amigo mineiro com foto de um curso que estavam dando do SIGUE. Já pensou? Tem curso meu amigo, você que não é bom de internet entre nele e vá passear nas suas entranhas e saber da vida de todo mundo! Dizem que os Sigheanos no futuro serão os primeiros a poder acampar na Estrela Verde próximo a GILWEL onde moram os felizes escoteiros do além que nunca ouviram falar no SIGUE! Rarará!

                    Eu perguntei a um amigo, formador, registrado, bem relacionado, se o SIGUE tem democracia. Ele riu: - Claro que sim Velho Chefe Escoteiro Chato de Galocha! Lá tem muita democracia. Já estão colocando um sistema de relacionamento humano, um sistema de consultas, um sistema de pesquisas, você vai ver muita coisa nova! – Fiquei embasbacado! Parece que tudo vai mudar mesmo. Insisti com meu amigo formador bem relacionado e pertencente à casta dos nobres: - Posso ver os julgamentos dos que feriram as normas Escoteiras, posso saber o que dizem nas reuniões sigilosas do DEN e do CAN? Posso saber qual o nome de quem tem o direito de confeccionar a vestimenta, qual a porcentagem recebida nas compras e vendas? o que a E.N.I.T. resolve e o que ela está estudando para mudar mais no escotismo brasileiro? Insisti e não obtive mais resposta do chefe formador da casta, O SIGUE está orientando os currículos dos cursos de formação? Será que teremos novamente a volta do orgulho Escoteiro ao vestir sua vestimenta? Será que seremos um dia todos iguais aos olhos do público?

                    O Chefe formador da casta me olhou, franziu a testa e ia me mandar para... (acampar é claro) e disse: - Aceite Chefe, é a revolução escoteira. A norma agora é a modernidade. Não podemos ficar parado no tempo. – Aproveitei para dar mais uma mordida no tal Chefe formador da casta: - E os quase seis mil membros da UEB que se mandaram, o SIGUE sabe o porquê? Ele fechou a cara deu meia volta e me mandou... Entrar no SIGUE! – Fiquei pensando, se é um programa tão espetacular não iria servir para saber o motivo de muitos saírem? Não seria uma maneira fácil de estudar o porque da evasão escoteira? Não seria supimpa saber porque muitos não conseguem terminar o programa Escoteiro tão falado? É quando tenho respostas elas não me satisfazem. Só sei que o SIGUE nem sabe que existo. Não sou registrado. Minha promessa minha vida de Lobinho, de Escoteiro, de Chefe e Formador ele não está nem aí comigo. Acho que nem sabe a data e os nomes das oito medalhas que ganhei quando era da casta dos nobres em Minas Gerais. Ele nem sabe quem é o Chefe Osvaldo. Afinal ele é uma criatura matemática com uma coleção de instruções com um código fonte e uma linguagem própria de programação ou arquivo. Portanto não sou nada para ele.  


                   Aí eu fico pensando se vale ainda minha ficha modelo 120. Quem se lembra dela? Linda anotei item por item. Quantos ajudei a preenchê-la? Mas ela coitada, foi desprezada, virou artigo descartável, Afinal agora estamos em 2.015, avançando a cada minuto a cada dia semana mês e ano rumo ao infinito. Não precisamos mais de consultar se o caminho para o sucesso é o de Baden-Powell. O SIGUE é nosso guia. Não precisamos saber como funciona o Sistema de Patrulhas, técnicas Escoteiras são contos da carochinha, Corte de Honra e a glória de ser um Primeira Classe ficou na história. Ouvir o ponto de vista do rapaz é um ponto de interrogação já respondido pelos adultos no movimento Escoteiro. Eles sabem de tudo. Sabem o que o rapaz quer e o que ele merece. Não acredita? Vá ao SIGUE se não estiver lá, vai estar mais breve do que pensar. Pergunte ao Neo ou ao Morfeu. Eles sim venceram a MATRIX, mas o SIGUE não. Ele é o futuro do escotismo no Brasil!                   

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O dia que o Sênior Apolônio, acabou com a vida do Demônio.


Cantigas de fogo de conselho. Belos contos de cordel.
O dia que o Sênior Apolônio, acabou com a vida do Demônio.

Medo? Já dizia Zé barrica, meu amigo isto é coisa de maricas.
Pois a verdade lhes digo, e vou contar a história...
Seu nome era Apolônio, não nasceu de um belo sonho,
Do jeito que sempre viveu e eu guardei na minha memória.

Era um Sênior bonito, grandão metido a valente,
Namorava a guia Dorita, Submonitor intendente.
Vivia contando prosa, de graça a fama não veio,
Todo mundo o admirava, quando tinha fogo de Conselho.

Orgulhava do que era, pois era filho do norte,
Chapelão de abas largas, e a faca na cintura,
Saía de calças curtas admirando o seu porte.
Adorava o escotismo e uma bela aventura.

Uma tarde encontrou Marreco que era bom cozinheiro,
Disse-lhe ao pé do ouvido, se queres ser bom mateiro.
A hora é agora, meu caro amigo Apolônio;
Eu sei onde encontrar facilmente o seu amigo Demônio.

E ele não se fez de rogado, desta vez eu mato o moço
Capa preta, esculacho, vou ver o diabo mocho.
Desta vez não me escapa, vai dormir o sono eterno,
Se for Satanás vai voltar prás prefundas do inferno.

A patrulha foi na frente, não iam enfrentar o diabo,
O sol queimando a testa, estrada igual quiabo.
Acamparam dia ainda ali na rocha vermelha,
Comeram uma sopa gostosa, e depois mingau de aveia.

A cidade em polvorosa, se assustou com Apolônio
E se o valente Escoteiro não matasse o Demônio?
Sem lua e sem estrela, onze da noite em ponto
Ele partiu rumo à porteira, do Fazendeiro Afonso.

O vento se acalmou, e veio uma pequena aragem.
O povo bateu palmas pra este Escoteiro de coragem.
Lá foi ele, na trilha do defunto à frente,
Apareça Satanás, e te quebro muitos dentes.

Apolônio foi Lobinho Escoteiro e monitor,
Nunca correu de nada, sabia do seu valor.
Dizia pra todo mundo e até a escoteirada,
Comigo é mais embaixo, não tenho medo de nada.

Zefiraldo Balantaines, seu Chefe Escoteiro,
Tinha orgulho do Sênior, um valente a se orgulhar...
Pensou em seguir com ele na fazenda aventureira
Mas sabia de antemão, tinha medo de Satanás.

A estrada era pequena, tinha cercas de montão.
A lua correu de medo e ficou a escuridão.
Andando pisando forte, na poeira de argila,
Eis que Apolônio sentiu um peso enorme
Nas suas costas, alguém sentou na mochila!

Deu um salto pra direita, e outra bem pra frente
Eu juro que é verdade, pois Escoteiro não mente,
Seu facão triscou no ar em busca do Satanás,
Desta vez tu não me escapa, sua cabeça vou decepar!

Dizem as almas penadas, que nas noites de segunda,
Apolônio Escoteiro mandou lá pras prefundas
Gritou alto e altaneiro vai dormir seu sono eterno!
Seu Capeta seu diabo, bem no meio do inferno!

A noite não acabou, e eu repito Escoteiro não mente,
Apolônio seguiu sorrindo na estrada sempre em frente.
Ao chegar à encruzilhada, sentiu seu belo momento,
Avistou lá nas montanhas o seu lindo acampamento.

Olha, quem me contou foi o Chefe Zé Barrica,
Bom amigo e admirador do deputado Tiririca.
Verdade eu não afirmo, pois não serei seu algoz
Afinal Apolônio, sempre foi um Escoteiro feroz.

Mas para finalizar eu confirmo, e digo pra todo mundo
Escoteiro não tem medo, quem tem medo é o Edmundo.
Ele é Chefe e Chefe meu chapa só reclama na corneta,
E acredite meu amigo, ele tem medo danado do chifrudo do Capeta.

Vou parando por aqui, eu conheci Apolônio
Um valente Escoteiro que um dia matou o Demônio.
Se não acredita no que digo, vá vestir a sua tanga,
Esqueça-me e nem comente, por favor passe de banda!

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!