domingo, 29 de julho de 2012

“Deja vu escoteiro” Será mesmo?



Este artigo foi publicado no grupo que possuo no Facebook, Escotismo e suas Histórias. Lançado aqui no blog pois é um tema que quem sabe os leitores poderão tirar conclusões.  

“Deja vu escoteiro” Será mesmo?

                         Sabe aquela sensação quando você está numa cena e tem impressão que já passou por aquilo? Você está conversando com pessoas e acha que já conversou aquilo tudo e com as mesmas pessoas? Pois bem, é quando uma parte do seu cérebro que tem a função de lembrar coisas passadas é acionada no momento errado e daí lhe dá essa impressão. Viu como tem explicação científica? E tem gente que aplica isso em mediunidade, paranormalidade, e não tem nada á ver, ou será que tem? Mas e daí? Porque estou escrevendo isto? Risos. Não sei. Mas hoje tive um “deja vu” só meu. Lembrei-me quando comecei aqui no facebook. Tem um ou dois anos. Era Orkutiano. Dos bons, ainda sou, mas me transferi de mala e cuia e aqui finquei raízes.
                          Quando cheguei minha saga era uma só e ainda é claro. Tentar mostrar um escotismo oculto que nossos esplendidos escotistas não conheciam. Pelo menos assim pensava. Alem de minha página fiz um grupo e aos poucos tudo cresceu. Gosto de escrever e como tal não perdi tempo. Artigos, histórias, lendas, comentários todos falando de escotismo. Só no blog do grupo já passam de 270 publicações. Não abandonei minha linha oposicionista. Não. Mas sempre disse que era uma oposição sadia. Melhorar mais e mais o que temos hoje. Duas lutas duas frentes foram às primeiras escolhas da batalha que julgava ser de um homem só. Nasci na UEB e mesmo não fazendo o registro anual (com ele já teria sofrido represálias) a defendo com unhas e dentes. Sempre respeitando os demais irmãos escoteiros que tiveram seus motivos para criar ou organizar outra associação paralela. Acredito que eles têm esse direito. Indiscutível e Inalienável.  Mas nunca foi a minha escolha.
                             Escolhi como tema de minha luta a democracia Escoteira. Centenas de artigos falando sobre isto. Poucas respostas. Depois entrei na área que começou a render subsídios. O Escotismo e suas tradições o que ao incluir o uniforme Escoteiro deu o que falar. Pensando em divertir meus amigos, coloquei modelos femininas de uniformes extravagantes. E aí o céu caiu sobre minha cabeça. Fui chamado de tudo. Risos. Os arautos que representavam a direção Escoteira prontamente a defenderam. Outros escotistas aqueles mais a direita e com uma visão mais idealista também demostraram suas posições a favor. Mas o tema foi crescendo. Outros grupos e sites ligados ao facebook apareceram. Vozes aqui e ali se levantaram.  Começou uma discussão sadia. Não era um levante ou um motim nada disto. Cada um pelo menos agora tinha dois lados para pensar. Interessante que desde que aqui comecei convidei muitos que participavam da cúpula Escoteira brasileira. Alguns se desligaram da minha página e do grupo tão logo viram minha linha de ação e outros nunca em tempo algum retrucaram ou mesmo disseram alguma coisa. De vez em quando aparece um antigo ou mesmo um novo membro da UEB que se manifesta.
                             Muitos, ou seja, a maioria quase absoluta sempre olhou e com razão o lado bom, simples, amigo, irmão de um voluntariado singelo dedicado única e exclusivamente aos jovens. Perfeito. Os dirigentes adoram. Mas tentei mostrar o outro lado. Não poderíamos ser muito mais? Atingir melhor os objetivos? E até exemplifiquei a evasão como uma das causas principais da falta de crescimento e continuidade dentro do escotismo dos jovens e adultos. Porque não tínhamos uma participação mais efetiva de todos? Porque não havia uma consulta às bases dos temas mais importantes que eram apresentados como fato consumado? Sabíamos e sabemos que temos direitos e deveres, mas nossos direitos param em estatutos e regimentos internos que foram escritos de maneira tal que não nos dão nenhuma participação efetiva. Se menos de 0,5% do nosso efetivo são os que decidem e elegem não posso aceitar como um movimento democrático.
                            Sei que muita coisa está mudando. Sei que tem membros na alta direção que já pensam de maneira diferente. Uma vez escrevi um artigo que poucos conhecem com o título “Onde está o Wally?” Wally era para mim a UEB. Inatingível. Sozinha, soberana, nunca se aproximando dos seus súditos e sempre esperando ser consultada ou procurada para dar a palavra final. Até hoje ainda vejo essa Wally aqui no Facebook. Tem aqueles que dizem – Querem saber as ultimas mudanças no escotismo? Procurem o site tal e tal. Não seria uma Wally? – Como diz o comediante – “Tudo eu? E eles nada?” Risos.
                           E para terminar, um dois ou mais anos aqui deram para me sentir feliz. Muito. Vi mudanças de atitudes vi grupos interessantes discutindo seriamente o escotismo de hoje, participei de listas onde as ideias floriram nas mentes sábias dos seus participantes. Não sei o futuro. Não sei se um dia teremos plena democracia Escoteira, não sei se nossos dirigentes irão fazer pesquisas sérias de nossas falhas e terão a audácia necessária para fazer ampla consulta as bases em tudo aqui que acharam válido mudar. Não sei. Não sei mesmo. Mas nestes últimos anos tenho visto tantas coisas que acredito que até agora valeu a pena tudo que escrevi. Se uns concordaram e outros não, valeu a pena. Parabéns a todos que se manifestaram. Se pudesse daria um abração apertado e um aperto de mão a “lá Baden Powell” em todos, de norte a sul do Brasil. Não sou Deus. Não posso fazer isto. Mas meus amigos – P A R A B É N S!  


terça-feira, 24 de julho de 2012

“Geração sem memória”


A tradição não é dada por direito de herança, e, se a quiser, é preciso muito trabalho para obtê-la.

“Geração sem memória”

                 Há tempos queria fazer um artigo sobre este tema. Escrevi vários, mas ainda não tinha analisado bem a nova geração Escoteira. Em um artigo li que a psicóloga norte-americana Hara E. Mannara escreveu criticando a forma frouxa como os pais daquele país estão criando os filhos, formando uma geração de cidadãos apáticos, indiferentes, alienados, e sem compromissos com nada. No Brasil, palestras e artigos acadêmicos também vêm alertando para os efeitos da educação chamada por alguns de “pós-moderna”. Educadores mais ‘à direita’ criticam os pais por criarem uma geração sem compromisso com os valores do lar, da família, da tradição cultural local e do país. Outros não poupam críticas aos efeitos da educação geradora de pessoas individualistas, consumistas, sem gosto pela leitura, sem atitude crítica, desinteressada para transformar o mundo. Poderia me aprofundar por aí, mas o meu tema é outro - “Escotismo”.
               Sempre me perguntei por que a nova geração Escoteira não se preocupa com os valores do passado e com as tradições e quase nunca os adultos que hoje participam ativamente não dão sinal de preocupação e fatos importantes são sempre relegados ao segundo plano. São poucos os velhos escoteiros que um dia aprenderam tudo isto e vem à tona para tentar alterar ou mostrar que os rumos tomados estão conduzindo a um caminho sem volta. O escotismo com sua disciplina, suas leis, e uma promessa que fica firme na mente de todos nós, nos conduz muitas vezes a não questionar e aceitamos com submissão tudo que nos chega às mãos pelos nossos dirigentes, instrutores e chefes. Os nossos costumes e crenças do passado, não mais estão sendo passados de uma geração para outra. Ainda bem que mantemos uma série de vantagens que nos traz a alegria de saber que ainda somos um movimento oriundo das ideias e valores de Baden Powell (BP). Infelizmente alguns já dizem e o chamam de ultrapassado e cada um ao seu modo analisa suas crenças dentro de uma metodologia moderna. Um dia desses um desses novos formadores me disse que Baden Powell (BP) é oriundo de uma Inglaterra colonialista e sua formação militar pode ser considerada retrógrada hoje em dia. O que esperar dos seus alunos no futuro e os jovens? Quem sabe estão surgindo novos BP da época moderna?
              Tentando rememorar ou compreender tudo isto, juntei diversos fatos e não sei se eles são peças importantes nesta mudança de comportamento. No passado, nos cursos de formação, os dirigentes faziam questão de estar devidamente uniformizados, exigindo dos alunos se postarem de maneira tal que seus jovens os seguiriam em tudo que fizessem. Não se via nenhum deles mal uniformizados. As normas de condutas eram levadas a sério e o que determinava o POR era sagrado. Sem polemizar não acontece o mesmo hoje. Não importa qual uniforme. Em fotos se vê diversos escotistas e até dirigentes que se pelo menos apresentassem com garbo poderia até servir como um exemplo a ser seguido. Ver um IM trajado inadequadamente na frente dos alunos ou dos jovens ficará marcado na memória e nunca no futuro isto será contestado quando ele for dar exemplo em sua sessão escoteira. Claro, será aceito como moderno.
               De geração em geração, as mudanças foram sendo implantadas e acreditando-se nas suas boas intenções foram absorvidas sem nenhuma contestação. Aceitaram-se todas as mudanças acreditando que seriam para melhor.  Um Escotista ou dirigente com uma camiseta e um lenço, short e de sandálias havaianas agora é um o exemplo a ser seguido. Muitos defendiam e defendem tal tipo de apresentação pessoal. Moderno eles dizem. Barato dizem outros. Mas acho graça, pois só jovens classe média estão se uniformizando assim. O exemplo maior foi dado no Jamboree onde a maioria de jovens com boas condições financeiras estarão presentes. Outro exemplo foi dado de um Escotista, sem meias só de tênis branco, mas com uma bermuda azul, lenço de Gilwell recebe em solenidade oficial uma condecoração por elevados serviços prestados ao escotismo. Errado isto? Para a nova geração não. Estão aprendendo assim.
              Quando se conversa sobre tradições, existem diversas ramificações que não dão de maneira nenhuma um caminho para se chegar a um consenso. Afinal o que é uma tradição para alguém que não a viveu, não teve quem lhe passasse os seus valores de uma organização tão importante como a nossa? Alguns definem que a tradição é tudo aquilo que foi incorporado ao estilo de vida de um grupo especifico e que foi mantido e repetido através dos tempos conferindo-lhe um aspecto cultural. Claro para manter precisa-se de um conjunto de hábitos e tendências, pois sem isto se perde o equilíbrio das forças que lhe deram origens. Quando um Chefe Escoteiro ou uma Chefe de Lobinhos novatos aprendem que se faz assim, ela ou ele desconhece o passado e aceita normalmente o que lhe foi transmitido. Estão começando agora.
               Quando comento sobre atividades aventureiras, grandes jornadas, acampamentos e reuniões dentro dos padrões ensinados em Gilwell Park, monitores bem adestrados, diversos escotistas me contradizem dizendo que tudo isto está no novo programa e me dão explicações que não condizem com a realidade. A sua maneira acham e prosseguem acreditando que o escotismo hoje caminha para a modernidade, que nossos dirigentes fazem grandes pesquisas e tudo que é alterado é feito de maneira a dar maior grandiosidade ao movimento, pois a ideia geral é que no passado tudo isto estava estagnado e precisava ser modificado. Interessante. A atividade de campo que mais vejo é de jogar os jovens na lama, em luta de scalps ou brincadeiras divertidas. Ou então um comando Crow feito sem muita aventura, com uma fila enorme esperando sua vez. Isto é que é modernidade? Bem muitos jovens sempre dizem que adoram isto. E se dessem o verdadeiro escotismo para eles?
             Procurem achar fotos ou artigos sobre atividades escoteiras ao ar livre. Acampamentos, jornadas, excursões, ou mesmo atividades aventureiras. Difícil. As fotos que vejo são de promessas, chefes em cursos, encontros nacionais e assim por diante. De vez em quando aparece uma ou outra, mas em menor número. Quando se fala em tradição todos em pensamento pensam sempre no uniforme Escoteiro. Mas não é somente ele o importante. Mudamos muito desde que veio para o Brasil. (alguém sabe quem trouxe o escotismo para o Brasil? Os nomes? Como tudo começou?) No novo programa para jovens ali se comenta muito sobre o passado, sobre o que cada um deve saber, e assim a nova geração vai assimilando, aprendendo o que está escrito e o que seria importante para manter um pouco das tradições vão sendo delegadas ao segundo plano.
             Como discutir o passado e o presente para quem não vivenciou ou tem conhecimentos concretos do que foi? Lembro e não esqueço que até a vinda das moças ao movimento, era comum encontrar na maioria dos grupos, tropas com quatro patrulhas, com seis ou sete membros cada uma e a maioria postando duas ou três estrelas de atividade (de metal, as mais lindas). Sempre em cada Patrulha três ou quatro segundas classes e um ou dois primeiras classes. Nas alcateias o mesmo acontecia. Matilhas em número de quatro, completas, a maioria com as estrelas de atividades, muitos primeira estrela um grande número de segundas estrelas. E hoje? Mudaram tudo. Para melhor dizem. Vieram as moças. Sou totalmente a favor. Mas o que houve? Misturaram tudo e agora o que se vê é duas ou três matilhas mistas, duas ou três patrulhas mistas e assim por diante. Onde foi parar os rapazes que saíram? Porque saíram? O que houve? Não era para ter aumentado as tropas e alcateias por grupos com o advindo da coeducação? Porque esta média anual de membros por grupo se mantem?
               Porque não mantiveram o que era um orgulho para os jovens, tais como as estrelas de metal, a segunda e primeira classe as eficiências Sênior e claro sem considerar a segunda e primeira estrela? Se o programa estava ultrapassado era só adaptar ao existente sem mudar as etapas de classe. Claro, são unânimes em dizer que eles não querem mais isto. Quem disse? Quem pesquisou? Seria capaz de apostar que se dessem oportunidade aos jovens de vivenciarem um pouco do passado se esqueceriam do presente. Perdemos milhares de jovens. Os meninos estão abandonando o escotismo mais rápido que as meninas. Elas se sobressaem mais. Por quê? Não quero entrar agora nesta polemica, mas o Sistema de Patrulhas se torna difícil quando as patrulhas são mistas. Um dia entro nesta seara. Mas existem outros motivos para o abandono. Poderia enumerar aqui, mas fica para outro artigo.
          Um amigo escreveu um dia em uma discussão sobre uniformização que salvo ocasiões especiais, todos os trajes e uniformes foram mudados unilateralmente pela direção, sem opinião daqueles que o usariam: Jovens e adultos. Continua ele – Se de verdade o escotismo pretende formar cidadãos, deveríamos começar ensinando jovens a lutarem por uma democracia, a terem visão crítica e a não serem mera massa de manobra. Diz ele que discutir cores e modelos a essa altura do campeonato é não querer enxergar a manobra não muito honesta dessas decisões que tem visto nestes últimos anos, que pecam pela falta de transparência e por ir dentro ao que entendemos por escotismo. Declino-me a dizer seu nome, pois sei que ser oposição no escotismo no Brasil não é saudável. Amigos que terminaram a IM não recebem e alguns as condecorações que tinham direito idem e em alguns estados são admoestados e com ameaças de julgamento em uma Comissão de Ética. Risos. Casos isolados, mas existem.
          Dificilmente teremos uma geração que irá lembrar-se do passado. Não vivenciaram, não foram informados e a maneira disciplinar dos nossos dirigentes é informativa, objetiva e ditatorial. Sem direito a réplicas. Dizer que temos órgãos onde podemos nos dirigir quem conhece sabe que é uma utopia. Dizia Albert Einstein que além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos. E eu, até quando não sofrerei admoestações por não concordar com tudo? Não sei e não me importa. Minha luta é que o escotismo cresça, dentro das fileiras da UEB, pois não vou procurar outra organização.
           Muitos que me leem não irão concordar. Fazem parte da nova geração. Um direito. BP dizia que devemos enxergar além da ponta do nariz e penso que muitos deveriam pelo menos se perguntar: - Este é o caminho? 70.000 mil na década de 80 e o mesmo hoje? Jovens entrando e saindo sem pelo menos ficar um ano em atividade. Será isto que queremos?

Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais.