segunda-feira, 30 de março de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Meus sentimentos!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Meus sentimentos!

... – Conforme me informei meus sentimentos tem como sinônimo meus pêsames. Ensinam-me que é um substantivo masculino plural que expressa um sentimento de pesar, dor e compaixão em relação à morte de uma pessoa. Muito utilizado nos dias de hoje, principalmente entre idosos que se arriscam a saírem do seu domínio no seu Campo de Patrulha, se arriscando com um bicho dos “brabos” nas matas do Corona.

- Perdido nos meus pensamentos, hoje meio azombado e cismarento levantei-me calmamente tentando pisar com o pé direito. Não deu. O danado do pé esquerdo enxerido pisou primeiro no chinelo do pé direito. Coisa danada de ruim eu previa que ia acontecer. Foi uma noite cismativa, sonhos que nem sempre mostravam a luz do luar e a suave madrugada com o nascer do sol. Andando aleatoriamente nas nuvens do céu, eis que vi um antigo amigo, de longas eras, de apetitosos acampamentos e grandes excursões. O chamei alegre e ele de cara fechada reclamou severamente dos novos tempos que estavam passando. Escriba! (na Patrulha Lobo fui escriba por bons pares de anos) melhor voltar para a terra. O Grande Acampamento está lotado de chefes europeus e americanos e pressentia que não haveria mais lugar para eu ficar pois os subcampos estavam lotados de todo tipo de escoteiros e velhos escoteiros. Belisquei de leve no braço e vi que estava sonhando. Bom isso, ainda não fui coronado pelos vírus 19.

Sentamos próxima a Estrela Aldebaran uma das mais lindas da Constelação de Touro (nada há ver com a Constelação do Lobo que foi minha Patrulha e esquecida pelos cientistas estelares) e embaixo de um pé de Amoreira ficamos a conversar sobre a nova leva de Escoteiros e Chefes que chegaram e os demais que ainda vão chegar. – Vado Escoteiro, cuidado, tu tá na lista dos chamados. Se arriscar vai pru beleleu e aqui não tem mais lugar! Não vá no papo do Presidente, nem pense que uma voltinha na rua o bicho não vai pegar... Olhei para ele. Tinha doze anos que desembarcou na estrela do Castor da Constelação de Gêmeos por morte morrida e nem pude comparecer ao seu desenlace para dizer que sentia muito sua partida. Costumo palavrear esperando que com isto conforto a ele e aos familiares.

Tentei mudar de assunto. Tínhamos tantas coisas para lembrar. Ele riu e me disse: - Sabe nunca esqueci o “assalto” que fizemos na descida do Morro do Cavalo. Foi demais, encontrar aquele canavial só de Cana Cayana e eu adoro, convidei vocês para cortarmos alguns pés e levar para chupar quando chegássemos a Barra do Cuieté. Ri com ele. Nem cortamos um pé e na cerca apareceu um sujeito mal encarado, com uma carabina no ombro e gritou para pararmos. Quando vimos àquela figura achamos que iriamos ser metralhado sem dó e sem piedade. – Ele em silencio por minutos nos convidou a ir até a casa dele. – Olhe escoteiros, lá tenho uma plantação da Cayana especial. Nem precisa de faca. Você com os dentes chupa até a casca! Ele e eu caímos na gargalhada. E assim foi, ficamos horas a lembrar das caminhadas, do sol, da lua das estrelas, coisas que os bons escoteiros não esquecem jamais.

Mesmo sem relógio vi aparecer no céu a Estrela Dalva, como sempre linda, aparece no Brasil sempre entre quatro e cinco da manhã. Hora de acordar. Ele de novo me disse para me precaver. Vado, aqui não tem mais lugar. Tem gente na fila e a espera leva anos. Infelizmente chegaram há alguns anos alguns dirigentes Escoteiros terráqueos do Brasil e quiseram acabar com os subcampos. Só deixavam entrar quem tinha registro no tal PAXTU. Eu não concordei, mas você sabe não sou convincente e ninguém ligou para mim. Hoje eles tomam conta de tudo. Contei para ele rapidamente como era na terra, agora só gente nova e recebendo uma lavagem cerebral do que será o novo escotismo. E os mais velhos? Ele me perguntou... Alguns saíram e outros concordam com as normativas impostas. Outros se satisfazem com seus cargos, suas medalhas e seu passado de Grande Chefe.   Nos abraços, um aperto de mão esquerda forte, calcanhar batendo “ploc” e um sorriso. Deixou-me próximo ao Céu de Osasco. Ainda fiquei algum tempo entre cochilar e acordar.

Levantei as seis, bem tarde, afinal tinha meus medicamentos para me fartar com meu respirador artificial e fazer alguns trambeques para o corpo não piorar. Na varanda onde aspiro meus medicamentos pulmonares fiquei pensando até quando poderei evitar a pandemia. Melhor não me preocupar, que seja tudo que Deus quiser. Enquanto isso vou até a sala, ligo na Globo News, passo para a CNN Brasil e dou uma voltinha na Band News. Uma hora e estou bem informado. Volto para a varanda pensando até quando conseguirei criar meus artigos, histórias que chamo fruto de minha imaginação. Na calada do meio dia pensei quantos pêsames ainda ia dar. Não é fácil. Uma tristeza só. Já não existem para os que se vão com o vírus um velório onde possamos abraçar os familiares e tentar demostrar nossa compaixão e solidariedade. E o Presidente nem fala nisso.

E perdido em meus pensamentos, sentado em frente ao meu computador, bato na tecla e vou escrevendo sem saber quando terminar. Um sorriso? Um abraço? Um aperto de mão? Um dia sim outro não. Que cada um ponha a mão na consciência e veja até onde chegar. Volto no tempo e vejo Olavo Bilac escrevendo um dos poemas que mais gosto e que recitava nas noites de belos acampamentos noites que não voltam mais: - Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, perdeste o senso! “E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muita vez desperto e abre as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto a Via Láctea, como um pálio aberto, cintila! E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, inda as procuro pelo céu deserto... Direis agora: - “Tresloucado amigo”! Que conversas com elas? Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las”! Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas!



domingo, 29 de março de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Liberdade de pensamento.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Liberdade de pensamento.

... – Liberdade de pensamento liberdade de consciência, liberdade de opinião ou liberdade de ideia é a liberdade que os indivíduos têm de manter e defender sua posição sobre um fato, um ponto de vista ou uma ideia, independente das visões dos outros. Consta na “Declaração Universal dos Direitos Humanos” em seu artigo XVIII, que expressa que “todas as pessoas têm direito a liberdade de pensamento, consciência e religião”. Os sábios complementam que ele é diferente e não deve ser confundido com a liberdade de expressão. Quanto a esse deixo para meus diletos amigos procurar nas paginas do Google, um mestre na arte de informar e deixar a gente às vezes cheio de dúvidas confusão e dubiedade.

- Como muitos também estou de quarentena sem reclamar. Há tempos me acostumei a ficar na minha barraca, no acampamento onde moro, saindo pouco do meu Campo de Patrulha. O Chefe suspendeu a física das seis, a inspeção das nove e até as jornadas e jogos de pista, sem contar o fogo de conselho que ficou na saudade dos tempos que não voltam mais. Fora o cozinheiro que às vezes me pede para pescar alguns lambaris ou uma traíra para o almoço ou jantar, fico pioneirando aqui e ali, fazendo o que sempre fiz. Sinceramente gostaria de dar um mergulho nas águas claras e límpidas do Rio Doce, mas hoje sei que está sujo barreado e ninguém pode se aproximar. Queria dar uma volta na floresta do Quati, catar coquinho, jabuticabas, amoras, araçá, Gabiroba, Goiabinhas, banana da terra, Cambuci, cereja e tantas outras que na Mata do Tenente era só pegar e por no bornal. Mas os homens do jaleco branco, um uniforme desconhecido da Escoteiros do Brasil e conhecido dos escoteiros idosos que gostam de ficar nas UBS nos postinhos de saúde e unidades de socorro, dizem que não. Eu um amante da Rede Globo (adoro) e demais emissoras sigo direitinho às instruções.

Dando uma de mestre coisa que não sou, leio atentamente pela manhã, antes das estripulias de uma caminhada dentro de casa, algumas flexões e lá vou eu me arriscar a ler noticias e postagens do Facebook, um velho camarada que aceita a tudo e a todos. Lá estão os a favor e os contra do que fazer nesta fase da Pandemia Global. São noticias do Covid-19, das orientações dos entendidos do vírus e como fazer para evitar. Comandantes eleitos em diversos estados brigam para todos ficarem em casa enquanto o Capitão o mandatário supremo discorda. A cambada do poder sabe que menos de 10% da populacho tem alguma reserva na famosa Poupança Brasileira. E a contra gosto vem o Presidente aplaudido por uns detestados por outros dar uma carambola do seu rico dinheirinho do PIB ao populacho trabalhador, mas sempre dizendo para todos voltarem a se esbaldar nas trilhas escoteiras deste mundo perdido chamado Brasil.

Coço meu cangote, pensando que é sinal do corona, que deixei de lado no meu banheiro e troquei por um Lorenzetti garantido por um mestre italiano que se escondeu nas serras de Teresópolis com medo do vírus, não sobe e nem deixa ninguém subir, pois fechou a porta de sua barraca e não abre de jeito nenhum. Diz ele que apesar de ser italiano, é melhor que o Corona que sempre me deixou na mão. E lá vou eu escorregando os dedos na face do meu celular, ainda com medo, pois não sei se ali posso pegar a tal moléstia e de olhos abertos já ensaboado vou lendo sem dar muito crédito a alguns e a outros parabenizando pela brilhante ideia criada ou copiada. São tantas tolices, pachouchada e disparates sem menosprezar a inteligência de muitos que são meus amigos virtuais a quem devo obediência nas palavras e que volto novamente no artigo XVIII da liberdade do pensamento. Serei eu o único que vê o perigo que estamos passando, ou quem sabe estou errado e devo voltar a minha vida errante, cheias de obstáculos e sinais de pista incríveis nas incríveis florestas do meu Brasil?

E lá vou eu pelas trilhas de Derribadinha, atravesso o Rio Doce na minha jangada de piteira, nos meus tempos de criança e vou correndo nas Tabas e Ocas dos Crenaques ou Krenak, conhecidos também como Aimorés a procura do Cacique Itagiba, que um dia sentado debaixo de um Pé de Jequitibá Rosa, sorrindo com aquele ar de sonhador ilustrado comentou: Vado Escoteiro não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência. Olhei para ele desconfiado, a frase não era dele e sim de Leon Tolstói. Quem sabe ele seria um erudito que eu desconhecia? Deixo de lado as lembranças e retorno ao meu campo de Patrulha. Sentado na porta da barraca onde construí uma Poltrona do Astronauta, pilotando uma vara verde em um fogo brando cravado na ponta um pedaço de Paca aquele espécie de roedor da família Cuniculidadae, ainda só, com meu bule esmaltado cheio de café, vou meditando o que leio e o que devo seguir... Eu? Logo eu? Um contumaz mongolão, um rebelde sem causa justificada vou pensando naquele poeta que escreveu:

- Nem quero saber quem foi o inventor do Corona Vírus. Nem quero saber o resto da história. Eu quero mais é que o “Chinês” suma do mapa. Eu quero que mundo fale uma língua só. Não Sei, mas a do coração parece não ser entendida. Epa! Nada disso, precisamos dos chineses, eles compram dedeu do Brasil e nós recebemos em troca quinquilharias vendidas nas lojas de real zero noventa cada uma. Agora eles tem coisas que nem os americanos não tem. Tudo bem ainda não posso comprar um Caoa Chery, um iphone 11, um Galaxi S10 Plus, um... Sei lá! O melhor meu amigo escoteiro é não confundir com os falastrões apelidados de Zero um, Zero dois, Zero três e o Zero Quatro que aprendeu a ficar calado. E para não dizer que eu não falei das flores, vou despistando no pedaço de onde avistava a Cachoeira do Sonho e onde pegava peixes com a mão nos meus tempos de criança dizendo o que disse o poeta: “Fuja dos três acidentes geométricos da vida: Círculos viciosos, triângulos amorosos e bestas quadradas”!


sábado, 28 de março de 2020

Conversa ao pé do fogo. A fantástica “Banda” do Maestro Munir. (qualquer semelhança é mera realidade).




Conversa ao pé do fogo.
A fantástica “Banda” do Maestro Munir.
(qualquer semelhança é mera realidade).

... Nos tempos do Covid-19 uma pequena história para mudar de assunto dos a favor e dos contras de como proceder conforme a Organização Mundial de Saúde ou conforme as razões do Presidente. Que toquem as cornetas para seus mortos!

... Sempre Alerta corneteiro! Toque por favor, para eu dormir o toque do Silêncio. E ao amanhecer o toque da alvorada! Amo ouvir o toque quando a lua cheia rasgava o céu da noite cheio de estrelas ou quando o sol vermelho, escondido pelo orvalho da noite, resolvia aparecer em um céu de brigadeiro. Quantas saudades... Se quiser faça silêncio, vou cantar para você a mais linda canção da alvorada de todos os tempos! Sei que irá adorar! “Amanheceu... O céu é cor de anil! Alerta, Alerta, de pé pelo Brasil"!  

- Quando Escoteiro eu tinha um sonho. Ou melhor, dois, acampar no Pico da Bandeira e participar da Banda do Maestro Munir. Com doze anos um caminhão da prefeitura nos levou até Caratinga. Lá pegamos a Maria Fumaça para Caparaó (Águas que rolam nas pedras). Minha alegria não tinha limites. Afinal estive no Pico da Bandeira. Uma linda história para contar, mas fica para outra vez. Agora precisava entrar na Banda. Osso duro. Munir era magro e alto. Usava o chapéu Escoteiro virado, mas muitas vezes preferia uma boina preta tipo Montgomery. Eu nem sabia quem era esse tal Montgomery. Usava o uniforme caqui curto e uma bota cano longo. Sujeito estranho o Munir. Chamá-lo de Munir era briga na certa. Senhor Maestro Munir! Ele encarava você nos olhos, uns dois minutos, você não sabia onde esconder.

A Banda treinava todas as quintas feiras entre sete e dez da noite atrás do cemitério do Azarão. Um campinho de futebol, próximo à cidade, mas cujo barulho não incomodava os vizinhos. Só os coitados dos “defuntos”. A Banda não era grande, se não me falha a memória tinha quatro tambores, mais quatro surdo mor (daqueles enormes quase um metro de altura) cinco tarois, oito caixas claras, quatro bombos, seis cornetas e três clarins. Clarins? O meu sonho. Um dia iria tocar um. Mas precisava ter curriculum na banda para pelo menos encostar um dedo nele. Munir era severo. Ria pouco. Um olhar dele gelava todo mundo. A Banda dos Escoteiros era famosa. Nas festividades todos aguardavam ansiosos a Banda passar. Em frente ao palanque das autoridades fazia evoluções e depois ia em algumas ruas para saudar os moradores que saiam para aplaudir a Banda dos Escoteiros.

Munir tinha pose dos oficiais ingleses. Aquela fleuma que só os ingleses têm. Com sua varinha, seu chapéu virado, sua bota cano alto a marchar à frente da Banda fazia gestos como se estivesse regendo uma grande orquestra. Ali era o Rei. Exigente o Munir. Marchar bem, com honra, respeito, garbo e boa ordem. Bastava um para destoar e ficar fora da banda por meses. Sua palavra era a lei. Ninguém contestava. Nem mesmo o Chefe João Soldado e o Chefe Jessé. Eu era freguês de carteirinha dos seus treinos. Ficava abobalhado olhando o ribombar dos instrumentos. Trinta minutos de ordem unida. Munir não gritava. Seus gestos eram graciosos. Sabia com perfeição fazer os sinais manuais de formaturas. Apito? Detestava. Na frente da banda um sinal seu bastava. Todos obedeciam: - Em frente marche! Se alguém errasse valha-me Deus! Eu olhava tudo, caixas, tarol, tambores, bombos, cornetas, mas meu xodó era o clarim. Jasiel e Marquinhos eram senhores da banda. Sentiam-se importantes para olhar para mim. Eram seniores corneteiros. Uma dádiva de poucos.  

Só faltava ao treino da Banda quando ia acampar. Este era sagrado. Uma excursão, bivaque, acampamento sempre estiveram em primeiro lugar. Um dia achei em um pé de Manga, um galho que se cortado iria ficar igual a um clarim. Preparei meu instrumento medieval com carinho. Ficava em casa horas com ele na mão. Levava a boca, fingia que tocava, balizava e sorria. Sonhava em tocar a Alvorada, o Silêncio, o reunir, debandar, a saudação à autoridade e tantos outros toques. Decorei todos. A Patrulha me absorvia. Eu amava minha patrulha Lobo. Entre ela e a Banda só tinha uma escolha. A patrulha. Um dia tomei coragem. Procurei o Maestro Munir. Conferi meu uniforme, tinha que estar nos trinques como se fosse uma inspeção. Munir era exigente. Posição de Sentido, meia saudação – Sempre Alerta Senhor Maestro Munir, gostaria de participar da Banda! – Tinha treinado em casa em frente ao espelho como falar com ele. Se errasse ele nem na minha cara ia olhar mais.

Tomei um susto. Ele olhou para mim. Nem piscou. Cara fechada. Ficou também em posição de sentido. Bateu um calcanhar sobre o outro. Plok! Sinal Escoteiro estilo militar. - Quinta! As sete em ponto! Se chegar atrasado não venha nunca mais! – Sai gritando de alegria. Contava para todo mundo. A Patrulha me parabenizou. E agora como você vai fazer? – Fácil disse. Os treinos são as quintas e dificilmente saímos em atividade neste dia. Nos desfiles vão todos. Portanto dá para conciliar. – Não dá disse o Romildo Monitor. Quinta agora não vamos acampar em Bom Jesus? É feriado lá e aqui. Minha nossa! Eu pensei e agora. – Bom Jesus ficava a vinte quilômetros de distancia. Iríamos de bicicleta. Não podia perder meu primeiro dia na Banda e nem no acampamento. Tinha uma menina em Bom Jesus que me olhava e ria. Quem sabe estava ficando apaixonado?

Dito e feito. Na quinta às quatro da tarde voltei sozinho a minha cidade no meu cavalo de aço correndo como um louco estrada a fora. Cheguei no campinho as sete em ponto. Suando, cansado, mas com um sorriso no rosto. Posição de sentido e lá estava eu me apresentando ao senhor Maestro Munir. No primeiro dia só treino de ordem unida. Ele só me deu um tambor pequeno oito treinos depois. Terminando voltei correndo para Bom Jesus. Só três anos após comecei na corneta e depois no clarim. A “embocadura” demorei seis meses para adquirir. Meu sonho na Banda aconteceu. Toquei clarim por muito tempo. Quando servi o exército era com muito orgulho o corneteiro do dia. Nunca faltei a um treino, desfile e nem tampouco nas minhas atividades ao ar livre.

Encontrei Munir anos depois em Colatina. Ele bem velho. Eu com meus trinta e cinco anos. Olhou-me com aquela cara feia, ficou em posição de sentido. “Ploc” ouvi seu calçado bater. Sempre Alerta! Ele disse. Eu fiz o mesmo. Maestro Munir! Que prazer! Já com aquela idade ainda tinha medo do Senhor Maestro Munir. Ele riu. Nunca o tinha visto dar um sorriso. Abraçou-me. – Sabe Vado Escoteiro, eu sempre gostei de você. Nunca o esqueci. Aquele abraço foi demais. Uma alegria, pois nunca o vi dar um abraço em ninguém. 

Os tempos são outros. Muitos sem ter nenhuma base da formação futura dos jovens abominam bandas e ordem unida. As bandas e fanfarras não são como antigamente. Não existem mais os Maestros como o Munir. Sei de muitos grupos escoteiros que venderam ou doaram sua banda. Imposição dos dirigentes? Que pena. Dá para conciliar. Da para treinar sem incomodar. Até hoje olho com saudades os desfiles. Amava a banda dos Fuzileiros Navais. Ainda existem Maestros Munir por aí? Não sei. Mas ainda tenho saudades daqueles tempos, da minha Patrulha, da minha banda do meu clarim! 

quinta-feira, 26 de março de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Paranoia!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Paranoia!

... – Epa! Fiquei em dúvida... Paranoia com acento ou sem acento? Corro no Google para tirar a duvida. – Lá está: - “Segundo as regras de acentuação do novo acordo ortográfico, foi abolido o acento agudo nos ditongos abertos oi e ei nas palavras paroxítonas”. Muito bom! Melhor assim, pois temos que tomar cuidado com os “Professores do Facebook” que estão prontos a te corrigir com palavras simples ou ásperas. Afinal sou um eterno analfabeto das palavras do alfabeto. Rs.

- Mas vamos lá, estou entrando pouco nas redes sociais. Preocupado. Muito. Há uma espécie de alienação, insensatez, um desvario de alguns poucos “facebocucanos”. De um lado, “Todos os homens do Presidente” (parece que tem um filme com este título) e do outro os “Eu sou contra o Presidente”. Ainda bem que tem os Cavalheiros, as Damas todos repletos na formação escoteira, ou melhor, imbuídos na cortesia, na gentileza e no uso das palavras sem ofender ao oponente. É uma luta sem igual. Por um lado os primeiros dão um viva ao Presidente pela sua esplêndida atuação, por outro lado os segundos duvidam da palavra do presidente. Razões são expostas de ambos os lados. Uma contenda que seria interessante se ficasse restrita na fidalguia escoteira (ela existe?).

Cai no deslize de postar um artigo de um famoso articulista sobre os dizeres do Presidente. Deixei que comentassem e não retruquei. Como é mesmo aquela frase que tantos gostam? – “Me reservo o direito de ficar calado como cantou o Grupo Inglês Depeche Mode na musica Enjoy the silence”. – Emoções são intensas e palavras são banais. Entretanto as lutas linguísticas “batem perna” em todos os cantos. (língua tem perna?) Rs. Me eximo de dizer o que penso. Não vale a pena. Cada um sabe onde enfiar a “viola no saco”. Todas as noites ao dormir tenho sonhos alguns interessantes outros mortuários. Anteontem pensei em me mudar para Fernando de Noronha. Com uma população de pouco mais de três mil habitantes seria fácil controlar o “Corona”. Pensando bem se o turismo dá sustentação à ilha e agora “turiscar” está fora de cogitação, é melhor seguir o conselho do meu Espelho: - “Se cuida meu velho, tu tá mais prá lá do que prá cá”!

Enquanto evito ler a as “escreveduras” dos valorosos defensores e das “agruras” dos acusadores, vou me cuidado e tentando lembrar-me do meu sonho da semana passada. De novo meu espelho a bafejar suas ponderações que às vezes sigo e outras não. – Dizia ele: - Vado Escoteiro, rezar “tu” reza demais, é hora de fazer seu testamento, sua carta de despedida e seu epitáfio em letras góticas para cravar na lápide do seu tumulo. Boa lembrança. Mas o que deixarei para a escoteirada? Minha família sabe que sou um aposentado “duro” sem “Money” e só posso deixar para eles doar umas poucas calças, camisas meias e cuecas furadas. Quem vai querer? Quanto aos meus amigos escoteiros pretendo ser incinerado com meu uniforme caqui, me lenço de IM, minhas duas contas (devolvi duas ao Dono da Formação em 1998), minhas “mixas” medalhas, e mais nada. Meu baú a Wells Fargo levou e os índios Cherokee esganaram o condutor ao ver que estava vazio.

Continuo na moleza de andar pela casa, zanzar na porta, e quando alguém se aproxima ou bate palma dou cinco passos para trás e de longe falo sem voz: Bum dia! Eita quarentena querida por uns odiadas por outros amadas. É por ela que alguns se pegam defendendo seu ponto de vista. O meu é: - Levantar cedo, alguns exercícios leves de velho xexelento, que como dizem por aí... Empregos sim, velhos enterrem na curva do rio enrolado em um lençol ou saco de amianto. Opa! Enterrem? Se morrer do Corona dizem que nem terei exéquias. Meus amigos corneteiros já se foram, não terei direito ao toque do silêncio e serei queimado na fogueira do crematório. As cinzas só serão entregues meses depois. Ainda bem que sempre amei ficar olhando as brasas adormecidas de um fogo de conselho, quem sabe poderei assistir as fagulhas baterem no teto do crematório.

Enfim, meus filhos exceto um que trabalha em casa os demais foram dispensados pela sua empresa. “Daqui a quinze dias nos falamos” disseram os patrões. Portanto não adianta esta alegoria desfigurada de dizer que devemos voltar ao trabalho. Eu todo dia primeiro tiro meus minguados proventos da minha aposentadoria (E o salário oh!). Nem quero saber se a “mula é manca” se eles perderem o emprego a culpa será do Dória ou do Presidente! Opa criei novamente uma celeuma? Nenhum deles tem culpa, a culpa é do Zé das Quantas, aquele Chefe pobretão de Brejo Seco que mandou seus escoteiros para casa e ficou de quarentena sem um tostão. Enquanto isso vamos orar, orar faz bem, não enche barriga, mas nos aproxima de Deus, nos fortalece e nos prepara para enfrentar as dificuldades da vida.

E vou parando por aqui. O Velho Chefe Escoteiro ainda cansado, às vezes senil, sem ar, sem voz e dores aqui e ali. A tosse é velha companheira, amiga escoteira de longa data nas barracas de duas lonas nos acampamentos que fiz quando virei um caminheiro nas trilhas da velhice. Sinceramente não tenho medo do “Corona”. Se ele ou ela vier que venha, sei que entubado terei poucas horas de vida, mas se foi essa minha sina escrita no meu livro da vida, aceitarei sem reclamar. Mas ainda vou viver muito, sem epitáfio, sem carta de despedida. Anrê... Só B.-P. teve este privilegio, só peço a Deus uma coisa, uma “coisita” só, se tiver que ir para o Grande Acampamento que seja uma estadia breve, pois pegarei uma carona no primeiro cometa que passar e me mando para o espaço sideral. E como se estivesse na nave espacial Enterprise direi: - “Espaço, a fronteira final. Estas são as viagens do Falecido Chefe Vado, prosseguindo em sua missão de conhecer novos mundos, procurar novas formas de vida novos escoteiros e novas Associações tradicionais Interplanetárias, para audaciosamente ir onde ninguém jamais esteve.”.


segunda-feira, 23 de março de 2020

Nos tempos do Corona Vírus Lembranças em Volta do Fogo que nunca esqueci. É mais verde a grama lá em Gilwell.




Nos tempos do Corona Vírus Lembranças em Volta do Fogo que nunca esqueci.
É mais verde a grama lá em Gilwell.

... – Em quarentena criei minha rotina não tão nova, pois aposentado e caminheiro dentro da minha barraca já estou acostumado com meu andar prá lá e prá cá. Rodeando meus cartapácios pensei em reler o que escrevi. Isto sempre me fez bem. Eis que me dou com este artigo, “É mais verde a grama lá em Gilwell”. Não que me sinto triste, melancólico... “Nada disso, mas foi assim que comecei o dia e o terminei sorrido, apesar do Corona que no meu banheiro foi substituído pelo Lorenzetti”.

                  Hoje levantei com pensamentos abstratos, tristes, tentei usar meus truques para sorrir. Mudei o fundo musical e não adiantou. Dei uma busca na floresta encantada do meu pensamento.  Quando penso muito me lembro do poema de Ana Jácomo: - “Jogo a minha rede no mar da vida e às vezes, quando a recolho, descubro que ela retorna vazia. Não há como não me entristecer e não há como desistir. Deixo a lágrima correr, vinda das ondas que me renovam, por dentro, em silêncio: dor que não verte, envenena. O coração marejado me arrumo como posso, os meus sentimentos. Passo a limpo os meus sonhos. Ajeito, da melhor forma que sei a força que me move. Guardo a minha rede e deixo o dia dormir. Com toda a tristeza pelas redes que voltam vazias, sou corajoso o bastante para não me acostumar com essa ideia. Se a gente não fosse feito pra ser feliz, Deus não teria caprichado tanto nos detalhes. Perseverança não é somente acreditar na própria rede. Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas. Hoje, o dia pode não ter sido bom, mas amanhã será outro mar. E eu estarei lá na beira da praia de novo”.

           Dizem que nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas em levantarmos sempre depois de cada queda todos dizem. Mas isto é fato? Quão difícil é perseverar, insistir, permanecer e persistir nas sendas Escoteiras. Se voltar meus olhos ao passado vejo uma multidão de jovens em um desenho escoteiro, seguindo uma trilha que não vai a lugar nenhum. Se vão para não mais voltar. Entristeço-me. Posso culpá-los? Os motivos que os levaram a outros caminhos não tem significado? Quem sabe eles tem a razão que eu desconheço. Dez anos, quinze, vinte, quarenta e chegando aos setenta e três anos vivenciado uma senda escoteira sem desistir. E quantos ainda estão ao meu lado? Uns minguados como eu? Eu sei que dizem que boas atividades grandes jornadas e belos acampamentos amarram nossas vidas a esta bela coisa que se chamam de “Coração Escoteiro”. Mas quantos dizem isto e quantos conseguem fazer por anos a fio? – Não é tão fácil. É difícil mesmo que,, ”mormente” façamos tudo para permanecer para sempre nas sendas de Lord B.-P.

                 Pensei em cantar melodiosamente minha volta a Gilwell. Mas onde está Gilwell? De novo outro curso? Seria bom demais. Ouvir um mestre escoteiro nos ensinar nosso caminho para chegar ao sucesso e a felicidade. Sei que quando chegar a hora de partir não haverá volta para muitos como eu. Sei que em meus sonhos, volto sempre a Gilwell. Onde alegre e feliz eu acampei Vejo os fins de semana com meus velhos amigos, e o campo em que eu treinei. É mais verde a grama lá em Gilwell, onde o ar do Escotismo eu respirei. E sonhando assim vejo B-P que sempre viverá ali.

                É tão bom sentir o perfume das flores lá em Gilwell. O ar puro que respirei, o sol chegando, voltar de novo a minha patrulha, cozinhando, construindo belas pioneiras, fazendo desafio às outras patrulhas, sem chefões, jogar quando der na telha e sentir o chilrear dos pássaros, colocar os pés na água fria do riacho. Olhar para o céu e tentar entender as nuvens brancas que se espalham, sentir o vento soprando gostosamente no rosto. E quando a noite chegar, quando a fumaça da lenha do fogão se espalhar, alguém irá dizer que a boia esta pronta. Hora de sorrir pois vamos contar belos causos. Causos que se estenderão pela noite no Fogo de Conselho, na conversa ao pé do fogo. É bom demais estar lá em Gilwell, ver a noite cantar sonolenta chamando a orquestra das estrelas para acompanhar.  

E melhor ainda, conseguir ver B.-P. em pé correndo em volta do fogo e dizendo aos maravilhados escoteiros que sentados observam seus entremeios e sua voz melodiosa: - Escoteiros... A divisa do Escoteiro é “Nunca dar-se por vencido até que venha a morte” e, seguindo-a, livrar-se-á de muitos apuros, quando tudo parece correr-lhe mal. Para isso é preciso um misto de audácia, paciência e força, a que chamamos “tenacidade”. - Quando tudo parece correr mal, sorri e canta o estribilho: “Insista, insista, insista” e verás como afinal tudo sai bem. Um grande passo para o êxito é ser capaz de suportar as desilusões. Um Escoteiro de verdade é sempre o mais paciente dos homens; não fica aborrecido se não conseguir logo à primeira; antes espera e trabalha serenamente e com determinação até que por fim “vai lá” - tanto nas pequenas coisas como nas mais importantes.

- “O carvalho foi em tempos uma plantinha”. Se alguma vez sentires fugir a esperança de vires a ter êxito na vida partindo de um modesto princípio, lembra-te de que até mesmo o carvalho, essa árvore tão grande e vigorosa, começou por ser uma pequena planta caída no chão. - Nunca te dês por vencido até o estares mesmo; continua a lutar contra os perigos e dificuldades não cedas perante eles, e acabarás provavelmente por sair vencedor. Quando o teu entendimento te disser que tal é impossível, responde-lhe: - “Não, impossível não. Vejo bem o que poderia ser. Posso tentar. Posso vencê-lo, posso, posso, posso, e vou mesmo vencê-lo!” E aposto dez contra um que vencerás. - “Nada é difícil para um homem com força de vontade”. Se tiveres vontade de conseguir alguma coisa, consegui-la-ás mesmo, seja o que for que se erguer no teu caminho. (Do livro “Rastros do fundador”).

              Aquela silhueta do fundador sorridente se foi deixando um lusco fusco de sua criação no meu pensamento. E se nos meus sonhos eu volto sempre a Gilwell, se eu era um bom lobo e não estou mais lobeando, preciso urgente voltar. Preciso voltar a me motivar, acampar com a escoteirada que dependem de mim e de muitos outros como eu. Mas penso com meus botões, existem ainda estes acampamentos? Podemos voltar a Giwell para viver o escotismo que sonhamos?

É mais verde a grama lá em Gilwell
Onde o ar do Escotismo eu respirei
E sonhando assim vejo B-P
Que sempre viverá ali.
“Be Prepared”!

quinta-feira, 19 de março de 2020

Nota de um Velho Chefe Escoteiro. Fomentando o Espírito de Patrulha.




Nota de um Velho Chefe Escoteiro.
Fomentando o Espírito de Patrulha.

Em uma pequena postagem de boa noite que faço sempre quando vou dormir, abusando de algumas frases ou mesmo temas interessantes sobre escotismo, escrevi sobre “O Espírito de Patrulha” o que seria e como deve ser entendido. Um excelente Chefe meu amigo me perguntou se eu poderia escrever sobre como fomentar o Espírito de Patrulha, já que esta seria a duvida de muitos jovens e chefes. Costumo dizer que isto tem de ser estimulado e incentivado pelos monitores. São eles o coração da Patrulha. Não basta nomear e dizer, você agora é o novo Monitor o novo líder... Ou mesmo que ele seja eleito pelos jovens sem nenhuma formação de sua liderança dada pelo Chefe. Tudo isso se resume a Patrulha de Monitores. Ela deve existir e o Chefe é o Monitor de seus monitores. Se o Chefe se preocupa e adestra seus monitores, se ele faz atividades internas e externas com eles, principalmente acampamentos e outros (Ver meu artigo “Conversa ao pé do Fogo, A Patrulha de Monitores” ou peça no meu e-mail.) já é um passo dado para que ele compreenda bem seu papel. Claro que o Chefe tem de estar bem preparado intelectualmente e se possível com cursos próprios neste sentido. (não sei se existem).

- Escrevi minhas opiniões para formar monitores que não são eleitos eternamente. Dependendo das normas criadas pela corte de honra ou mesmo quando um deles passa da idade e vai para os Seniores, a Patrulha tem liberdade para eleger um novo Monitor a qualquer tempo, apesar de que isso não é aconselhável a não ser em casos especiais. O Chefe deve saber da importância de ter um bom relacionamento de respeito com eles e valoriza a Patrulha de Monitores como meio de adestrá-los e desenvolver não só a Patrulha como a tropa. Essa patrulha é formada por todos os monitores e Submonitores. Nesta patrulha o chefe é o monitor dos seus monitores. É uma patrulha organizada somente para o adestramento e formação. Costumam ter (sem caráter de obrigação) a mesma organização de uma patrulha na tropa. Nome, grito, lema, Bastão totem, materiais de campo e sede, livro de ata, e divisão de encargos na Patrulha (rotativo exceto o Monitor). O Chefe procurar formar não só o todo, mas se preocupando com a individualidade e companheirismo. É a única forma do crescimento e formação. Nos casos de vacância e substituição, o adestramento da Patrulha de Monitores é contínuo.

Roland Philipps escreveu em seu livro O Sistema de Patrulhas que “o espírito de Patrulha” e uma disposição moral, uma atmosfera especial o ambiente natural de onde se desenvolvem os jovens, que se faz sentir-se parte essencial de uma unidade completando-a”. Sua presença se manifesta até nas palavras mais insignificantes e nos atos e gestos de cada jovem. E necessário que cada escoteiro "sinta" que sua Patrulha deva ser a melhor e para isto deve fazer tudo que puder, para poder falar com orgulho "Eu pertenço a esta Patrulha". - O novo escoteiro deverá aprender a desenhar o emblema de sua Patrulha usando como uma assinatura. Estas são os meios para fazer germinar e angariar profundamente o espírito de Patrulha. Em se tratando de escotismo os mínimos detalhes têm uma extraordinária importância porque contribuem para criar o ambiente. O essencial é que cada patrulha tenha uma característica própria e que escoteiro tenha consciência de que possui alguma característica que os destinge dos demais.

O Capitão Roland Erasmus Philips foi a sua época um dos chefes que mais compreendeu e deu conotação a metodologia de Baden-Powell com respeito ao Sistema de Patrulhas. Escreveu um livro que se tornou um Best Seeler ou o melhor deles... “Sistema de Patrulhas“: - Disse o que pensava das principais características que um Monitor de patrulha deve ter. - Acredito que não só os monitores, mas também nós chefes devíamos pensar assim. Vejamos: - Líder - um exemplo a seguir; Companheiro - um amigo que dá ajuda e conselhos, compreensivo; Comunicativo - diz as suas ideias; Leal - de confiança, preocupa-se muito com o que faz; Democrático - respeita todas as opiniões da mesma maneira; Humilde - não mostra a toda à gente as capacidades que tem e dá valor às dos outros; Trabalhador - aplica-se nas suas tarefas; Responsável - faz sempre as suas tarefas; Assíduo e pontual - chega há horas e não falta; Participativo - ajuda em tudo o que é preciso, está sempre pronto.  O Monitor não é, nem deve ser: - O sabichão sabe tudo ou ter a mania que sabe; - O mandão, mandar em todos ou ser mandado; - O mauzão zangar-se quando as coisas estão mal; - O patrão, delegar tarefas e não fazer nada; - A carne para canhão, assumir sozinho as responsabilidades de uma situação de patrulha; 

Agradeço ao Chefe Paulo Cabello, um grande amigo pela lembrança. Fraternos abraços.

“Sem o Sistema de Patrulhas não existe o verdadeiro escotismo”. Baden-Powell.

Você pode obter o Livro “Sistema de Patrulhas de Roland Philipps” e “Aplicando o Sistema de Patrulhas de E.E. Reynolds” no meu e-mail todos em PDF e gratuito ferrazosvaldo@bol.com.br ou diretamente no site Lisbrasil.Com.

‘NÃO FAÇA PEDIDO POR AQUI, NÃO VAI RECEBER. SÓ NO E-MAIL... DESCULPE!

terça-feira, 17 de março de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. A modernidade tem seu preço. COVID-19 – Vida ou morte!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
A modernidade tem seu preço.
COVID-19 – Vida ou morte!

... – “Como era belo meu tempo de escoteiro tempo de tão doces ilusões... De tardes belas, amenas, de noites lindas serenas, de estrelas vivas e puras, quadra de risos e flores, em que eu sonhava aventuras ao ouvir as ondas do mar”... ”Sonhava que o mundo era um prado, uma campina, linda, matizada das flores do meu jardim. Sonhava que iria ser um errante escoteiro, pé na estrada, de passadas entrelaçadas, de acampamentos sem fim”... “Nestes sonhos de magia, criei tantas fantasias, a meiga luz do luar... E quando contei meus segredos, para ela na rama dos arvoredos, na brisa que beija o mar, lembro que ela sorriu, eu calado nada disse”... “Foram sonhos, lindos, mas passaram e desses sonhos findos só ficaram lembranças. Só lembranças tão saudosas, daquelas noites formosas, dos sonhos que já se foram. Hoje eu sei que tudo passou e ainda vivo sonhando de voltar de novo nos tempos que não voltarão jamais”! Baseado no poema de Cassimiro de Abreu “Os meus sonhos”.

- Costumo levar a sério os alertas das autoridades médicas e outras quando o tema é serio e não merece comentários de troça, chacota, gracejo ou pilheria. Hoje muito mais, pois estou contando os dias que ainda posso estar aqui com os amigos, já que o amanhã pertence a Deus. Do Corona Vírus sou um cliente em potencial. De tudo que tenho a pulmonar é a pior. Tento ao meu modo seguir as orientações fornecidas e até mesmo pensei em me tornar um ermitão escoteiro como fez o Chefe Zezé no meu conto o Ultimo Chefe Escoteiro. Ele contra tudo e contra todos se mandou para um local ermo, longe da civilização e ficou lá quase dois meses vivendo da natureza e tendo os pássaros e bichos como companheiros em todas as fases que acampou. Ele assim como muitos se acostumou a acampar “a escoteira”, sozinho, levando sua matutagem e badulaque, para sair um pouco do barulho da civilização. Sei como é... No passado fui feliz acampando à escoteira no Pico do Ibituruna, na Serra do Cipó, nas matas do Tenente na Serra da Piedade e uma vez no Pico do Itatiaia.

Sempre fui adepto de tentar viver e ouvir os sons da natureza. Quando conseguimos é uma descoberta extraordinária. Eu sou um privilegiado, consegui ouvir os sons das árvores, das nascentes, de animais e pássaros noturnos, os zumbidos das borboletas, do beija flor e muitas vezes bem juntinho de várias cigarras só para ouvir o seu cantar. Quando fiquei dois dias na Gruta da Lapinha, descobri um salão cheio de morcegos. Foi demais! Dei por muitos anos meus parabéns a todos escoteiros da Patrulha Morcego. Quase levei um susto ao ouvir o Uirapuru e um Trinca Ferro cantando maravilhosamente. Pensando bem quem sabe dou uma de principiante no escotismo, pego meus trecos, meu bornal com minhas rações, meu materialzinho de sapa, um pequeno vasilhame e sem esquecer meu lampião vermelho a querosene presente de um Chefe mineiro e me mando por aí... Mas aonde vou bengalando? São Paulo não ajuda. Não é como antigamente, me deu vontade lá vou eu a Escoteira acampar. Agora dependo de transporte autorização e em alguns tenho que pagar. Disseram para mim que para acampar tem de pedir autorização ao distrito região e enviar cópia para a Nacional. Ainda não sei se é necessário mandar para a WOSM ou OMME.

Mas a coisa é séria. A Pandemia da Covid-19 é um fato. Nos últimos 200 anos tivemos várias epidemias que causaram a morte de milhões de seres humanos pelo mundo. Em 1855 a peste negra que também surgiu na China, 1918 a Gripe Espanhola matou mais de 40 milhões de seres humanos. A Gripe Asiática em 1957 chamada de H2N2 apareceu também na China e morreram mais de um milhão de pessoas. Em 1968 tivemos a Gripe de Hong Kong. Sempre a china como protagonista. Quase três milhões morreram. Não vamos aí incluir a AIDS, surgida em 1982 e que infectou mais de 33 milhões de pessoas em todo o mundo. A Creutzfeldt-Jakob conhecida como Vaca Louca, a Síndrome Aguda Respiratória Severa (Sars) e outras que não cito aqui. Dizer que no passado era melhor desta vez afirmo que não. Hoje correm atrás de uma vacina, mas estão prevendo um a dois anos para descobrirem alguma que possa combater o Corona Vírus.

È um fato novo para o Escotismo Brasileiro. Ouço Chefe dizer que não vão parar as atividades. Por quê? Qual a responsabilidade de adultos reunindo jovens em um mesmo local se acaso surgir à doença em alguns de seus escoteiros ou chefes? Prevenir é o melhor remédio. Os pais são também responsáveis. Teremos pelo mundo e no próprio Brasil uma mortandade sem limite, isto é fato. Os grupos de risco podem infectar um ao outro. Dizer que é forte, é novo é uma imbecilidade e irresponsabilidade sem tamanho. Um destes podem um dia tossir perto de mim, ou tocar em algum que eu também irei tocar e serei infectado. Dizer que não pretendia me matar tudo bem, mas e seu pai, sua mãe e seus avôs ou amigos idosos? Temos como Escoteiros mostrar que e nesta hora que devemos nos unir mesmo distantes um dos outros e mostrar que esta pandemia não veio para brincar.

Ainda estou pensando para onde poderei ir acampar “a escoteira”. Terei forças? Terei condições de caminhar em trilhas distantes para ver no alto da serra o nascer e o por do sol? Poderei ficar embaixo de uma cascata sentindo a água fria bater em meus ombros e sorrir? Poderei no alto de uma pedra me maravilhar ao ver a lua nascer no céu? Poderei subir em uma árvore para conversar com um macaquinho amigo? Poderei deitar na grama e ver as estrelas brilhantes e contar quantas estão ali brilhantes no firmamento? Poderei guardar alguns cometas passantes no meu bornal? E dormir sob o manto da noite para mim ainda será possível? Aguentarei as intempéries, o orvalho da madrugada, o cantar da passarada e cantar acorda escoteiro acorda? Sei que não. Não deixaria para trás minha companheira de aventuras a quem amo. Célia é tudo para mim. Também devo satisfações aos meus filhos a minha filha, aos meus netos e netas e nunca poderei abandonar o sorriso da minha bisneta Maria Eduarda.

Deixo meus sonhos seguirem por ai... Por enquanto são somente sonhos. Pisarei na realidade evitando o mais que possível e orientando os meus para também cumprirem as orientações das autoridades médicas. Preciso viver mais um pouco, pelo menos até quando Deus quiser. Não tenho medo de amanhã deixar este planeta que amo. Em qualquer tempo estarei junto a todos que me querem bem. Até então fico em casa, se arredo o pé é só para caminhar em local sem aglomeração. Agora mesmo estou sozinho na minha sala mágica a escrever o que mais gosto, falar de Baden-Powell dos amigos escoteiros do meu passado e da minha família que está sempre presente em meu coração. Em sonhos farei meus acampamentos “a escoteira”. Subirei nas mais altas montanhas, caminharei por trilhas nas planícies onde um dia caminhei. Irei explorar rios, picos, vales incríveis que um dia tive a honra de pisar. Destes não abro mão. Meus sonhos são meus. Com Corona ou sem Corona eles são minhas recordações para viver e morrer feliz!


segunda-feira, 16 de março de 2020

Conversa ao pé do fogo. Cozinha mateira? Sei não!




Conversa ao pé do fogo.
Cozinha mateira? Sei não!

... – Temos dois tipos de Cozinha Mateira, a do passado e a atual. A do passado ainda era válido caçar pequenos animais, aves para a Patrulha se virar como “mistura” e a do presente os ingredientes são levados pelos Escoteiros e Escoteiras e que dizem é de enorme sabor. Dizem que cada ano aparecem mais cardápios de Cozinha Materia. Vi algumas de dar água na boca. Fico feliz em ver que ainda fazem cozinha no campo e descobrindo novas fontes de sabor escoteiro.

- Temos hoje uma plêiade de Tropas com ótimos mateiros e mateiras que se divertem no campo a fazerem comida mateira. Delicia! Sei que tem gente que faz e não gosta. Manjado é o pão do caçador. Mas tem outras tais como a sopa de cebola, o pão do minuto, o ovo no espeto, ovo na casca de laranja, ovo no barro, milho na brasa, maçã recheada na fogueira, o frango no barro a carne moída na batata cozida nas brasas do fogo de conselho. Arre! São centenas. Se deixar os mateiros Escoteiros engordam esta lista em minutos ou horas. Dizem os bons mateiros que a comida mateira escoteira é a técnica de se cozinhar sem a utilização de utensílios domésticos. É um desafio Escoteiro!

Um deles disse que esta é a comida típica dos Escoteiros nos acampamentos. Algumas tropas fazem uma atividade de domingo em local próximo para desenvolver as qualidades mateiras. Sei que preparar sua própria comida é um desafio para qualquer escoteiro ou escoteira. Saber improvisar, paciência para substituir as tradicionais feitas nas panelas é uma arte. (Tem uma vantagem, evita lavar panelas, o que tem muitos que não gostam... Arre!). - Nada como um bom fogo, boas achas de madeira para brasa para deleite de uma boa refeição. Eu um Velho aposentado mateiro adorava uma banana verde uma cebola, uma batata e enrolar o pão do caçador para depois de cozido me deliciar. Nos meus tempos da carretinha conhecia patrulhas que adoravam fazer um bom churrasco, não o gaúcho. Ninguém levava a carne ou verduras de casa. Caçar um pato da lagoa, um quati, um Caititu (Javali da Terra) ou um porco do mato, laçar pássaros do Cerrado, uma traíra, um inhambu com acompanhamentos de mandioca frita ou banana assada ou goiaba verde na brasa. Bom demais. Trazer de casa? Nem pensar.

Eu com meus quase 80 anos sou daquele tempo, onde a diligência em forma de carretinha passava e gritavam: Hoje a boia é boa? Os Lobos da Montanha estão chegando! Alguns escoteiros desciam para esticar as canelas e apreciar uma Patrulha fazendo um belo almoço de cozinha mateira. Neste tempo dos cowboys escoteiros as patrulhas iam caçar tatu, rodelas bem fritinhas de uma jiboia, se ter sorte pegar uns patos e marrecos na beira da lagoa. Não pode mais? Tudo bem, mas era um manancial a disposição. Pato-do-mato, pato-criolo, pato-bravo, cairina, pato-selvagem e pato-mudo. Haja pato!

Hoje tudo mudou. O respeito à natureza e a liberdade da fauna é uma realidade. Mas lá onde Genghis Khan perdeu as botas não faltava uma gordura de porco, um pouco de sal para fritar, cozinhar ou fazer uma bela sopa destes gostosos animais e pássaros no meio de jenipapo, maxixe ou uma bela abobora achada nas milongas de um rio qualquer. Tempos das Falas Novas, seja setembro ou novembro, onde Mowgly tentava acompanhar a bicharada embriagando na primavera!

Uma mochila, manta, muda de roupa, material de higiene um facão bem afiado, um canivete escoteiro, uma faca mundial e um pequeno lampião a querosene e pronto. Partíamos cantando a Canção do Arrebol. “Alerta Escoteiro Alerta”! Lista de mantimentos? Taxa a pagar? Meu Deus! Nem pensar. Está me acompanhando? Quer ir comigo prú campo? Use de sua imaginação e venha comigo conhecer e viver aonde o vento nos levar. Na lagoa do Epaminondas? Oba! Sempre um franguinho a disposição, era só degolar! Risos! Depois pescar traíras, bagres e pintados na sombra do abacateiro.

Que fartura dos ensopados. Como disse Pero Vaz de Caminha, nesta terra se plantando ou não... Tudo dá! Pode rir, mas no Rio Chorão era peixe para pegar com a mão. Zé Bigode o intendente e às vezes cozinheiro, na curva da cachoeira pegava peixes com fartura. Então gente vamos avante? Mochila nas costas sorrisos nos lábios vamos atravessar o Rio Piraçu, correnteza forte, e depois de atravessar vamos arranchar na Clareira do Guaporé. Um vai pegar lenha, outro um fogo mateiro e você aguadeiro procure uma colmeia e devagar sem alarde tire um ou dois favos de mel! Medo? Chame o Baloo, ele é o mestre do mel de abelha.

Eita campo sem graça se não vier tempestade, se não houver trovões raios na mata este acampamento não tá com nada. A noite é a melhor hora. Capa no costado, fogueira acesa, bananas e cuidado com a batata doce, ela não dá de banda! Um cafezinho pru Monitor e pru Sub um gaúcho dos “bão” um chimarrão no ponto e bem passado! Passado? Kkkkkk. E a noite vamos pegar galinha d’angola gostosa frita ou não vale a refeição. Vamos fazer no barro. Tiro o bucho e bem limpado, pouco de sal e gordura, meto barro nas penas e cabeça pernas e pé, no buraco meio fundo a fogueira vai produziu brasas prá “dedeu”! E lá vai ela, bem tampada e é só esperar para se deliciar.

Comida mateira? Poxa gente aqui não é boteco e nem restaurante. Vamos que vamos na floresta do Jangadeiro. Lá tem Castanha e o Açaí. E lindos pés de palmito, sem contar inhames, maracujás e folhas de Lobrobô. Não conhecem? Risos. Espere o ensopado que Fumanchu o cozinheiro faz sem panelas... Está rindo? Calma. É o truque do velho chefe. Não conto para ninguém, só para quem acampa comigo risos. Pois é, comida mateira é bom demais. Tem gente que gosta e outra não. Eu fico no meu pedaço. No campo não tenho embaraço. Dá para comer? Não enjeito!

Sei que hoje tudo é levado de casa. Mas tem outro jeito? Claro que não, mas mesmo assim vale a descoberta da comida mateira. Agora andar na floresta e sentir um Macaquinho pulando no ombro é de coçar o queixo e sorrir. Medo da febre amarela? Nem não! O macaco é nosso irmão. Comida Mateira? Comece, e em pouco tempo estará tão acostumado que vai pedir a mamãe: - (folgado... Pedindo a mamãe?) Mamãe! Hoje eu quero sopa de maracujá com folhas de Lobrobô. E não esqueça mamãe, deixe tostar bastante a Galinha D’angola feita no barro branco que encontrei e tá assando no quintal!

sábado, 14 de março de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. A volta dos que não foram.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
A volta dos que não foram.

... – Hoje com sorte, posso ver e sorrir... Sorrir do céu, o azul do véu, que voa no vento, lindo... Em perfume lento! Que todos tenham uma supimpa reunião escoteira!

- Seis anos na fila... Quase seis quilômetros percorridos passo a passo, pisando em nuvens brancas até chegar ao céu. Fardado, chapelão na cuca, sem mochila e sem meu bastão de ponteira de ferro (foi tomado por um anjo renegado chamado Chefe Lúcifer em nome da defesa das trevas) e nem sorriso tinha mais. Eis que fui chamado, e assustado fui calmamente encontrar o supremo guardião dos céus.

- Seu nome? – Osvaldo Excelência.
- Osvaldo de que? – Ferraz Excelência.
- Não me chame de excelência. Não sabe quem sou eu?
- Com todo respeito Excelência sei que é o Senhor São Pedro. Usei o termo excelência para dar uma conotação de respeito.
- Esqueça! – Excelência quem usa são seus políticos que antes de se pegarem no tapa ou nos palavrões se chamam uns aos outros de excelência!
- Seu nome não consta da minha lista mortuária. Ele disse com cara fechada.
- Senhor São Pedro quem sabe podem ter escrito Vado Escoteiro, sou muito conhecido lá na terra assim!
- Anjo Gabriel! – Venha cá. Era um anjo enorme e muito simpático.
- Pois não São Pedro!
- Vá até o Armazém 52 trilhões cento e oitenta bilhões 812 milhões e duzentos mil e quatro e veja se acha o arquivo, ou melhor, o Dossiê deste tal Vado Escoteiro. – Não demore, pois a fila está grande demais e amanhã vou de carona na nave Enterprise a convite do Doutor Spock para o espaço sideral. Fui chamado pelo filho do Mestre! - Olhei para São Pedro assustado. Tinha seis anos que estava nesta fila de defuntos sem casa e agora vem me dizer que não estou na lista? – Notei a um quilômetro de distância um vermelhão que parecia ser chamas altas pegando fogo. Seria o inferno?

- Licença São Pedro! – Posso lhe dar uma palavrinha?
– Diabos, era um desses tipos metido a besta daqueles que usam o vestuário com a camisa solta na pança lencinho verde e amarelo desbotado e se acham os tais. Este deve ser um daqueles tipos pertencentes à Liderança Nacional Escoteira que mete o bico em todo lugar. Ate no céu tem disto? - Fala Chefão! - Disse São Pedro. - Chefão? Aqui também? Só falta chegar o Velho Lobo, o Diretor do CAN ou o Presidente do DEN! - Senhor São Pedro, este reles chefinho lá na terra nunca foi flor que se cheire. É metido a escoteiro padrão, É um escritor de araque e só escreve besteiras. Implica com seus impropérios a nossa Magna Associação da Escoteiros do Brasil. Ainda bem que seu séquito seguidor é pequeno. Muitos no Facebook pararam de ler suas besteiras. Não dê colher de chá para ele aqui. Se eu fosse o Senhor, chamava logo o Chifrudo cinco tacos formador dos bons para levá-lo as prefundas dos infernos!

- Minha nossa! Onde amarrei minha égua? Até aqui estes tipos da Comissão de Ética tem voz e voto? Eu nunca tive essa regalia escoteira e agora me julgam como um insurreto maldito? Valha-me Baden-Powell, valha-me Chefe Francisco Floriano!
- Achei Senhor São Pedro. Era o Anjo Gabriel que chegou para me salvar... Eita anjo “porreta” a ele meu bravôo e meu anrê!

- Me deixa ver! – São Pedro começou a ler. Franzia a testa... Mau sinal... A fila a reclamar. Até aqui a fila não anda. Um senhor bem novo daqueles pais pedagógicos, barbudo e fardado de uniforme do ar pediu para usar da palavra. - Fale disse São Pedro e seja breve, logo a fila vai crescer e nem todos irão para o céu. Com essa mortandade do Corona Vírus que vocês inventaram tá chegando gente “prá xuxu” e não tenho comida para todo mundo. Aceitei alguns políticos seus no passado e eles meteram a mão no dinheiro do céu e superfaturaram tudo além de desviarem metade da verba de alimentação. Os anjos da guarda entraram em greve sob o comando do PTbesta e a Policia Escoteira Galáctica do Sergio Moro não consegue apaziguar...

- Pois não Senhor São Pedro, disse o talzinho. Vocês precisam de um bom programa para essa triagem enorme. Procurar em livros é coisa do passado. Morreu? Bateu as botas? Então que seu destino esteja traçado. Trouxe comigo o mais perfeito programa já feito na terra... O Paxtu! Uma beleza! Usado esplendidamente pela EB! Têm tudo que precisa e o melhor é tudo pago, taxas, mensalidades, loja escoteira e o escambau! Evite perda de tempo. Se já tivesse um esse Velho paspalho já era!

- Estava sem meu bastão de duas e meia polegada com ponteira de aço. Esse cara de bode da EB merecia uma bastonada, mas não achei. Lembrei que foi confiscado por aquela demônio dos infernos junto com aquela anja do cabelo vermelho. Por sinal linda de morrer! Ops! Mas eu já não estava morto?

- São Pedro apitou três vezes. Apito? Ele não tinha um chifre do Kudu? – Reunir quem? – Chegaram espumando pela boca 14 demoniozinhos horrendamente vestimentados, camisa solta e pança de fora.

- Levem este sapo boi para o inferno. Veja com o Doutor Presidente Belzebu um bom lugar para ele. Consta que é indisciplinado, não tem registro na EB e fica tirando onda de Chefão. Diga para deixar que queime pelo menos cinco bilhões de anos! - Nem morto! Nem morto! Eu gritava. - Paspalho dizia a capetada da EB, você tá morto! Não volta mais na terra. - Mas me mandaram para a fila de São Pedro! Eu disse. Mereço uma chance! - Não deram bola. Arrastaram-me até a beira de um precipício. Lá em baixo um fogaréu enorme. Eu esperneava, gritava e pedia a ajuda de todos os santos.

- Um homem simpático, garbosamente em uniformizado em um caqui de tergal, fez um sinal para me largarem. – Mostrando seu inglês galante disse: - Soltem-no, vou levá-lo comigo para o Grande acampamento! - E agora José? Pelas barbas de Maomé! Vou para o inferno ou para o Grande acampamento? Já pensou ficar bilhões de anos em volta de uma fogueira ouvindo historias Escoteiras e comendo banana assada e me enfiando pela goela o tal de chimarrão? Pulei no espaço rumo às chamas vermelhas do inferno cantando o rataplã e depois a canção da despedida. Afinal não era mais que um até logo não era mais que um breve adeus!

- Marido! Marido! Acorda! Não aguento mais esta sua gritaria nos seus pesadelos. Afinal não tem nenhum sonho lindo para sonhar? – Eita mulher amada. Sempre me salvando destes meus pesadelos infernais. Ufa! Levantei e fui tomar um uisquezinho para melhorar minha mente. O Chivas Regal 18 anos com quatro azeitonas pretas fizeram efeito. Notei que só tinha mais um drink na garrafa. Putz! Duro onde agora vou bebericar meu uísque? Fui para minha varanda e comecei a cantar sob o aplauso dos vizinhos o rataplã do arrebol. Afinal eu sabia que a maioria dos vizinhos eram surdos!
E durma-se com um barulho desses! 

sexta-feira, 13 de março de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O bom e o velho novo escotismo!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O bom e o velho novo escotismo!

... - Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a nos converter em um movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o Movimento para os rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam do Escotismo. Por John Thurman - (Chefe de Campo de Gilwell Park).

As redes sociais se tornaram para muitos o que é hoje para os Cristãos o Muro das Lamentações. Já remonta há vários séculos a tradição de colocar nas reentrâncias entre pedras, papéis com orações e pedidos. Não sei se lá tem elogios e agradecimentos como se comenta e se posta os Escoteiros precisamente os mais velhos dando sua sonora opinião. Eu mesmo sou um emérito reclamante ou esporadicamente um enaltecedor das boas coisas do Escotismo feito a sua moda pelo fundador. Às vezes penso que posso ter sido um dos responsáveis pelo crescimento do Escotismo Brasileiro, com minhas fajutas histórias e crônicas nem sempre lembradas, mas que pode ter incentivado uma pá de gente que hoje promessou. Vemos todo tipo de análise, avaliação, pareceres e ponto de vista do escotismo em seus diversos temporâneos. Nelas fala-se de tudo. Da Felicidade (o melhor) do desafio, das atividades, da criatividade e não falta a decepção!

Temos sim uma série de encontros e desencontros não escoteiros. Politico, policial, amoroso, tendencioso, retratos afetivos familiares ou amigos sempre mostrando até onde o escotismo pode chegar. Por me denominar escoteiro nas minhas páginas e grupos, tem muito de Escotismo, para o bem ou para o mal. Não entro em polêmica de temas que conheço e o melhor é guardar a opinião para mim. Quando é um mestre na arte do conhecimento escoteiro, respeito e evito opinar. Como ando meio pitimbado financeiramente, procuro tudo de graça. E nem me venha dizer que tem almoço grátis... Sei que não tem! Bah! Haja cobrança nas minhas paginas pelo Facebook. Elas são poucos visitadas relativamente a outras bem vistas na comunidade escoteira que penso são devidamente pagas. Sei que tem um pormenor, nestas redes sociais o jovem não aparece. Algumas vezes alguém se lembra dele e posta uma foto, um distintivo, um abraço e até mesmo um sorriso que vale milhões. Os adultos na maioria falam de sí mesmos, ali estão seus feitos, suas performances, suas amizades, seus crescimentos na hierarquia escoteira e a gente ficam sem saber se existem jovens sob sua orientação.

Vez ou outra surge uma discussão sobre o tema “Escotismo só para os ricos?” Sei que poucos dão sua opinião. Mas me pergunto se dá para fazer escotismo nas hostes da Escoteiros do Brasil sem gastar? E nas outras associações, lá também têm taxas, mensalidades, grandes atividades escoteiras fora da área de atuação do jovem escoteiro? Hoje vi e li um artigo bem bolado sobre o que se gasta na Escoteiros do Brasil. São taxas, são dezenas de badulaques a venda, criam-se novos distintivos, especialidades. São literaturas Condecorações e tudo tem seu preço... O novo Vestuário aparece como o maior valor das vendas da Loja e dizem exorbitante demais. Cem mil? Caminhando para os duzentos mil? Escoteiros ou clientes? Um absurdo dizem alguns, preço exorbitante dizem outros, material de segunda completam. Ali tem dezenas de comparações. Pouco falam no caqui, quase postei que o meu é de tergal, cor caqui, o pano custou 66 reais e a costureira cobrou 75 para fazer a calça e a camisa. Mas isso não importa, importa é o tema da moda: - Escotismo é para ricos?

Bem se tudo isso acontece é porque os figurões concordam e defendem este modo de agir. Agora por exemplo teremos mais uma reunião das Assembleias regionais e culminando com a Nacional. Os que se candidatam dificilmente irão apresentar sua plataforma diferente das diretrizes escoteiras feitas pelos Dirigentes nos seus mais diversos escalões. Não são muitos. Dizem que não chega a 0,05 por cento do efetivo adulto nacional. Não sei, quase não leio os Estatutos normas e o escambau. Mas quem lê? Somente os escalonados para o poder ou então os defensores do programa da Escoteiros do Brasil. Tirando aí as novas associações que ainda não disseram para que vieram. Desculpe!

Não sou um emérito conhecedor das novas normas que são impostas por uma junta eleita e que faz e desfaz sem dar satisfações a ninguém. Bom disto tudo é que a maioria ou quase a totalidade concorda sem reclamar. Neste estado de coisas dificilmente as reivindicações de uns poucos serão atendidas. O moinho de vento faz o mesmo trajeto sem mudar... Dizer que os tempos são outros, rezar o pereskia, aculeata ou popularmente chamado Ora-pro-nobis que dizem vem do latim e significa “Ora por nós” pode ajudar... Não sei. Escotismo hoje tá difícil de fazer, a ânsia de faturar leva a multidão Escoteira a gastar o que não tem. A sanha a gana de ser a melhor, parte hoje dos órgãos distritais regionais e da própria nacional. Alcateias (tem exceções) preferem as grandes atividades de lobos nestes órgãos nacionais. Mais barato e mais simples que o velho e bom Acantô! Escoteiros e seniores seguem a maré. São poucos que ainda fazem o bom e belo acampamento de tropa. Chefes turistas (nem todos) adoram estar na cadeira de camping escoteirando em um Jamboree qualquer.

Pelo sim pelo não o velho e o novo escotismo vai caminhando na estrada daqueles Chefes que ainda não sabem aonde vai dar. Por centenas de vezes perguntei aqui onde estão os resultados. Quantos favelados ou mesmo classe média cujos pais desempregados estão fazendo escotismo? Quantos antigos escoteiros na sua vida profissional expandem seus comentários brejeiros, saudando sua formação ou dando seu testemunho do valor Escoteiro? Nem mesmo os educadores se mostram a vontade para falar do escotismo como uma maneira válida para formar nossa juventude. Baden-Powell ficou no esquecimento. Aquele que se tornou um célebre Pensador comparado a tantos de sua época perdeu sua personalidade como educador emérito. Minha personagem favorita o Zé das Quantas e o Escoteirinho de Brejo Seco que o digam. Mesmos os mais abençoados financeiramente não ficarão muito tempo no escotismo. Os dez anos sonhados por B.-P. dificilmente irão acontecer.

Melhor mesmo é cantar a canção (paródia) “Reme sua Canoa”... Um homem não deve ser boi de rebanho, que vai empurrado prá frente sem ver... Se firma o caráter, faz sua tarefa. E rema a canoa para onde quiser. Sem medo, ele olha os escolhos que enfrenta: Bebida, mulheres, o jogo e os espertos... Não vai encalhar, porque as rochas contorna remando a canoa com os olhos abertos. E lá vou eu cantar no coro dos escoteiros: - Portanto, ame o próximo como a si mesmo, vá indo prá frente como o mundo faz. Não fique sentado chorando assustado... Conduz com o remo a canoa, rapaz! (Do livro, Escotismo para Rapazes de B.-P.).