terça-feira, 17 de março de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. A modernidade tem seu preço. COVID-19 – Vida ou morte!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
A modernidade tem seu preço.
COVID-19 – Vida ou morte!

... – “Como era belo meu tempo de escoteiro tempo de tão doces ilusões... De tardes belas, amenas, de noites lindas serenas, de estrelas vivas e puras, quadra de risos e flores, em que eu sonhava aventuras ao ouvir as ondas do mar”... ”Sonhava que o mundo era um prado, uma campina, linda, matizada das flores do meu jardim. Sonhava que iria ser um errante escoteiro, pé na estrada, de passadas entrelaçadas, de acampamentos sem fim”... “Nestes sonhos de magia, criei tantas fantasias, a meiga luz do luar... E quando contei meus segredos, para ela na rama dos arvoredos, na brisa que beija o mar, lembro que ela sorriu, eu calado nada disse”... “Foram sonhos, lindos, mas passaram e desses sonhos findos só ficaram lembranças. Só lembranças tão saudosas, daquelas noites formosas, dos sonhos que já se foram. Hoje eu sei que tudo passou e ainda vivo sonhando de voltar de novo nos tempos que não voltarão jamais”! Baseado no poema de Cassimiro de Abreu “Os meus sonhos”.

- Costumo levar a sério os alertas das autoridades médicas e outras quando o tema é serio e não merece comentários de troça, chacota, gracejo ou pilheria. Hoje muito mais, pois estou contando os dias que ainda posso estar aqui com os amigos, já que o amanhã pertence a Deus. Do Corona Vírus sou um cliente em potencial. De tudo que tenho a pulmonar é a pior. Tento ao meu modo seguir as orientações fornecidas e até mesmo pensei em me tornar um ermitão escoteiro como fez o Chefe Zezé no meu conto o Ultimo Chefe Escoteiro. Ele contra tudo e contra todos se mandou para um local ermo, longe da civilização e ficou lá quase dois meses vivendo da natureza e tendo os pássaros e bichos como companheiros em todas as fases que acampou. Ele assim como muitos se acostumou a acampar “a escoteira”, sozinho, levando sua matutagem e badulaque, para sair um pouco do barulho da civilização. Sei como é... No passado fui feliz acampando à escoteira no Pico do Ibituruna, na Serra do Cipó, nas matas do Tenente na Serra da Piedade e uma vez no Pico do Itatiaia.

Sempre fui adepto de tentar viver e ouvir os sons da natureza. Quando conseguimos é uma descoberta extraordinária. Eu sou um privilegiado, consegui ouvir os sons das árvores, das nascentes, de animais e pássaros noturnos, os zumbidos das borboletas, do beija flor e muitas vezes bem juntinho de várias cigarras só para ouvir o seu cantar. Quando fiquei dois dias na Gruta da Lapinha, descobri um salão cheio de morcegos. Foi demais! Dei por muitos anos meus parabéns a todos escoteiros da Patrulha Morcego. Quase levei um susto ao ouvir o Uirapuru e um Trinca Ferro cantando maravilhosamente. Pensando bem quem sabe dou uma de principiante no escotismo, pego meus trecos, meu bornal com minhas rações, meu materialzinho de sapa, um pequeno vasilhame e sem esquecer meu lampião vermelho a querosene presente de um Chefe mineiro e me mando por aí... Mas aonde vou bengalando? São Paulo não ajuda. Não é como antigamente, me deu vontade lá vou eu a Escoteira acampar. Agora dependo de transporte autorização e em alguns tenho que pagar. Disseram para mim que para acampar tem de pedir autorização ao distrito região e enviar cópia para a Nacional. Ainda não sei se é necessário mandar para a WOSM ou OMME.

Mas a coisa é séria. A Pandemia da Covid-19 é um fato. Nos últimos 200 anos tivemos várias epidemias que causaram a morte de milhões de seres humanos pelo mundo. Em 1855 a peste negra que também surgiu na China, 1918 a Gripe Espanhola matou mais de 40 milhões de seres humanos. A Gripe Asiática em 1957 chamada de H2N2 apareceu também na China e morreram mais de um milhão de pessoas. Em 1968 tivemos a Gripe de Hong Kong. Sempre a china como protagonista. Quase três milhões morreram. Não vamos aí incluir a AIDS, surgida em 1982 e que infectou mais de 33 milhões de pessoas em todo o mundo. A Creutzfeldt-Jakob conhecida como Vaca Louca, a Síndrome Aguda Respiratória Severa (Sars) e outras que não cito aqui. Dizer que no passado era melhor desta vez afirmo que não. Hoje correm atrás de uma vacina, mas estão prevendo um a dois anos para descobrirem alguma que possa combater o Corona Vírus.

È um fato novo para o Escotismo Brasileiro. Ouço Chefe dizer que não vão parar as atividades. Por quê? Qual a responsabilidade de adultos reunindo jovens em um mesmo local se acaso surgir à doença em alguns de seus escoteiros ou chefes? Prevenir é o melhor remédio. Os pais são também responsáveis. Teremos pelo mundo e no próprio Brasil uma mortandade sem limite, isto é fato. Os grupos de risco podem infectar um ao outro. Dizer que é forte, é novo é uma imbecilidade e irresponsabilidade sem tamanho. Um destes podem um dia tossir perto de mim, ou tocar em algum que eu também irei tocar e serei infectado. Dizer que não pretendia me matar tudo bem, mas e seu pai, sua mãe e seus avôs ou amigos idosos? Temos como Escoteiros mostrar que e nesta hora que devemos nos unir mesmo distantes um dos outros e mostrar que esta pandemia não veio para brincar.

Ainda estou pensando para onde poderei ir acampar “a escoteira”. Terei forças? Terei condições de caminhar em trilhas distantes para ver no alto da serra o nascer e o por do sol? Poderei ficar embaixo de uma cascata sentindo a água fria bater em meus ombros e sorrir? Poderei no alto de uma pedra me maravilhar ao ver a lua nascer no céu? Poderei subir em uma árvore para conversar com um macaquinho amigo? Poderei deitar na grama e ver as estrelas brilhantes e contar quantas estão ali brilhantes no firmamento? Poderei guardar alguns cometas passantes no meu bornal? E dormir sob o manto da noite para mim ainda será possível? Aguentarei as intempéries, o orvalho da madrugada, o cantar da passarada e cantar acorda escoteiro acorda? Sei que não. Não deixaria para trás minha companheira de aventuras a quem amo. Célia é tudo para mim. Também devo satisfações aos meus filhos a minha filha, aos meus netos e netas e nunca poderei abandonar o sorriso da minha bisneta Maria Eduarda.

Deixo meus sonhos seguirem por ai... Por enquanto são somente sonhos. Pisarei na realidade evitando o mais que possível e orientando os meus para também cumprirem as orientações das autoridades médicas. Preciso viver mais um pouco, pelo menos até quando Deus quiser. Não tenho medo de amanhã deixar este planeta que amo. Em qualquer tempo estarei junto a todos que me querem bem. Até então fico em casa, se arredo o pé é só para caminhar em local sem aglomeração. Agora mesmo estou sozinho na minha sala mágica a escrever o que mais gosto, falar de Baden-Powell dos amigos escoteiros do meu passado e da minha família que está sempre presente em meu coração. Em sonhos farei meus acampamentos “a escoteira”. Subirei nas mais altas montanhas, caminharei por trilhas nas planícies onde um dia caminhei. Irei explorar rios, picos, vales incríveis que um dia tive a honra de pisar. Destes não abro mão. Meus sonhos são meus. Com Corona ou sem Corona eles são minhas recordações para viver e morrer feliz!