segunda-feira, 23 de março de 2020

Nos tempos do Corona Vírus Lembranças em Volta do Fogo que nunca esqueci. É mais verde a grama lá em Gilwell.




Nos tempos do Corona Vírus Lembranças em Volta do Fogo que nunca esqueci.
É mais verde a grama lá em Gilwell.

... – Em quarentena criei minha rotina não tão nova, pois aposentado e caminheiro dentro da minha barraca já estou acostumado com meu andar prá lá e prá cá. Rodeando meus cartapácios pensei em reler o que escrevi. Isto sempre me fez bem. Eis que me dou com este artigo, “É mais verde a grama lá em Gilwell”. Não que me sinto triste, melancólico... “Nada disso, mas foi assim que comecei o dia e o terminei sorrido, apesar do Corona que no meu banheiro foi substituído pelo Lorenzetti”.

                  Hoje levantei com pensamentos abstratos, tristes, tentei usar meus truques para sorrir. Mudei o fundo musical e não adiantou. Dei uma busca na floresta encantada do meu pensamento.  Quando penso muito me lembro do poema de Ana Jácomo: - “Jogo a minha rede no mar da vida e às vezes, quando a recolho, descubro que ela retorna vazia. Não há como não me entristecer e não há como desistir. Deixo a lágrima correr, vinda das ondas que me renovam, por dentro, em silêncio: dor que não verte, envenena. O coração marejado me arrumo como posso, os meus sentimentos. Passo a limpo os meus sonhos. Ajeito, da melhor forma que sei a força que me move. Guardo a minha rede e deixo o dia dormir. Com toda a tristeza pelas redes que voltam vazias, sou corajoso o bastante para não me acostumar com essa ideia. Se a gente não fosse feito pra ser feliz, Deus não teria caprichado tanto nos detalhes. Perseverança não é somente acreditar na própria rede. Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas. Hoje, o dia pode não ter sido bom, mas amanhã será outro mar. E eu estarei lá na beira da praia de novo”.

           Dizem que nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas em levantarmos sempre depois de cada queda todos dizem. Mas isto é fato? Quão difícil é perseverar, insistir, permanecer e persistir nas sendas Escoteiras. Se voltar meus olhos ao passado vejo uma multidão de jovens em um desenho escoteiro, seguindo uma trilha que não vai a lugar nenhum. Se vão para não mais voltar. Entristeço-me. Posso culpá-los? Os motivos que os levaram a outros caminhos não tem significado? Quem sabe eles tem a razão que eu desconheço. Dez anos, quinze, vinte, quarenta e chegando aos setenta e três anos vivenciado uma senda escoteira sem desistir. E quantos ainda estão ao meu lado? Uns minguados como eu? Eu sei que dizem que boas atividades grandes jornadas e belos acampamentos amarram nossas vidas a esta bela coisa que se chamam de “Coração Escoteiro”. Mas quantos dizem isto e quantos conseguem fazer por anos a fio? – Não é tão fácil. É difícil mesmo que,, ”mormente” façamos tudo para permanecer para sempre nas sendas de Lord B.-P.

                 Pensei em cantar melodiosamente minha volta a Gilwell. Mas onde está Gilwell? De novo outro curso? Seria bom demais. Ouvir um mestre escoteiro nos ensinar nosso caminho para chegar ao sucesso e a felicidade. Sei que quando chegar a hora de partir não haverá volta para muitos como eu. Sei que em meus sonhos, volto sempre a Gilwell. Onde alegre e feliz eu acampei Vejo os fins de semana com meus velhos amigos, e o campo em que eu treinei. É mais verde a grama lá em Gilwell, onde o ar do Escotismo eu respirei. E sonhando assim vejo B-P que sempre viverá ali.

                É tão bom sentir o perfume das flores lá em Gilwell. O ar puro que respirei, o sol chegando, voltar de novo a minha patrulha, cozinhando, construindo belas pioneiras, fazendo desafio às outras patrulhas, sem chefões, jogar quando der na telha e sentir o chilrear dos pássaros, colocar os pés na água fria do riacho. Olhar para o céu e tentar entender as nuvens brancas que se espalham, sentir o vento soprando gostosamente no rosto. E quando a noite chegar, quando a fumaça da lenha do fogão se espalhar, alguém irá dizer que a boia esta pronta. Hora de sorrir pois vamos contar belos causos. Causos que se estenderão pela noite no Fogo de Conselho, na conversa ao pé do fogo. É bom demais estar lá em Gilwell, ver a noite cantar sonolenta chamando a orquestra das estrelas para acompanhar.  

E melhor ainda, conseguir ver B.-P. em pé correndo em volta do fogo e dizendo aos maravilhados escoteiros que sentados observam seus entremeios e sua voz melodiosa: - Escoteiros... A divisa do Escoteiro é “Nunca dar-se por vencido até que venha a morte” e, seguindo-a, livrar-se-á de muitos apuros, quando tudo parece correr-lhe mal. Para isso é preciso um misto de audácia, paciência e força, a que chamamos “tenacidade”. - Quando tudo parece correr mal, sorri e canta o estribilho: “Insista, insista, insista” e verás como afinal tudo sai bem. Um grande passo para o êxito é ser capaz de suportar as desilusões. Um Escoteiro de verdade é sempre o mais paciente dos homens; não fica aborrecido se não conseguir logo à primeira; antes espera e trabalha serenamente e com determinação até que por fim “vai lá” - tanto nas pequenas coisas como nas mais importantes.

- “O carvalho foi em tempos uma plantinha”. Se alguma vez sentires fugir a esperança de vires a ter êxito na vida partindo de um modesto princípio, lembra-te de que até mesmo o carvalho, essa árvore tão grande e vigorosa, começou por ser uma pequena planta caída no chão. - Nunca te dês por vencido até o estares mesmo; continua a lutar contra os perigos e dificuldades não cedas perante eles, e acabarás provavelmente por sair vencedor. Quando o teu entendimento te disser que tal é impossível, responde-lhe: - “Não, impossível não. Vejo bem o que poderia ser. Posso tentar. Posso vencê-lo, posso, posso, posso, e vou mesmo vencê-lo!” E aposto dez contra um que vencerás. - “Nada é difícil para um homem com força de vontade”. Se tiveres vontade de conseguir alguma coisa, consegui-la-ás mesmo, seja o que for que se erguer no teu caminho. (Do livro “Rastros do fundador”).

              Aquela silhueta do fundador sorridente se foi deixando um lusco fusco de sua criação no meu pensamento. E se nos meus sonhos eu volto sempre a Gilwell, se eu era um bom lobo e não estou mais lobeando, preciso urgente voltar. Preciso voltar a me motivar, acampar com a escoteirada que dependem de mim e de muitos outros como eu. Mas penso com meus botões, existem ainda estes acampamentos? Podemos voltar a Giwell para viver o escotismo que sonhamos?

É mais verde a grama lá em Gilwell
Onde o ar do Escotismo eu respirei
E sonhando assim vejo B-P
Que sempre viverá ali.
“Be Prepared”!