terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Sorriu e me disse: Sou escoteiro sim senhor!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Sorriu e me disse: Sou escoteiro sim senhor!

... - Um passo para a felicidade é tornardes-vos saudáveis e fortes enquanto sois rapazes, para poderdes ser úteis e gozar a vida quando fores homens. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderes. Guiai o outro rumo à felicidade, e sereis felizes vós mesmos; e, ao fazerdes isto, estareis a fazer o que Deus pretende de vós. Baden-Powell.

- Parei estupefato! Era um jovem escoteiro sorrindo ao atravessar a Rua do Ouvidor. Estava perfeito e garboso com seu uniforme. Lenço bem dobrado, meião com listas retas, sapato brilhando. Aleluia! Hoje em dia é difícil ver alguém assim, principalmente um escoteiro. Já não dão tanto valor ao garbo. Quando passou por mim fiquei em posição de sentido olhei para ele dizendo: - Sempre Alerta Escoteiro! Sorrindo respondeu: - Sempre Alerta chefe! Encantei-me com sua voz. Seu estilo era inconfundível, o chapéu de abas largas retas e aprumado na sua cabeça diziam tudo sobre ele. – Ele parou disse: - Sabe Chefe, tem muitos da minha idade que não entendem as escolha que fazemos. Muitos me perguntam se eu sou um herói da juventude. Não sou. Sou apenas um jovem que ama fazer escotismo e um eterno cumpridor de minha promessa e obediência a minha lei. Chefe, não abro mão do que amo e nem arrepender da escolha que fiz! Minha mãe diz que isto é uma questão de princípios, vem do berço... Não sei.

- Comecei no escoteiro quando lobinho amei minha Akelá, meu Balu, minha Bagheera e todos os chefes que tive na jângal. Dizem que isto é amor ao escotismo a primeira vista, se for será um amor guardado para sempre no meu coração. Meus amigos de escola riem quando eu conto da grandiosidade do escotismo. Até hoje nunca me arrependi do caminho que escolhi. Como lobinho rodei léguas na Jangal, brinquei nas margens do Waingunga, adorava as estórias do Balu, subi nos montes junto a Bagheera. Na minha alcatéia fiz descobertas maravilhosas até que passei para os Escoteiros. Com eles andei por trilhas desconhecidas, descobri minha paixão por aventuras correndo estradas e caminhos incrivelmente belos. Dormi em barracas, dormi sob as estrelas dormi em lugares que se contar nem vai acreditar! Descobri o valor das fogueiras que me aqueceram nas noites de inverno. Fiz dezenas de grandes e magníficos acampamentos. Voei com minha Patrulha em lugares incríveis, andei de canoa, fiz jangadas, atravessei rios e lagos e o melhor tive amigos índios, sertanejos que me ensinaram a arte de ser mateiro e escoteirar.

Olhava espantado para aquele menino escoteiro e ele continuou: - Chefe, esculpi em minha memória um sol que não conhecia uma lua que aprendi a amar. Fiz milhares de amigos e com eles aprendi a viver como irmãos. Não houve montanhas com quem não conversei. Ainda sou amigo de uma coruja, aprendi o cantar dos pássaros, aprendi tanto com a floresta, com os ventos, com as trilhas cheias de pedras, aprendi com o ribombar do trovão, da cascata e com a chuva da primavera. Rodei céus e terras para descobrir se pisava em terras virgens, conversei com magos, santos e homens da lei querendo aprender e saber se o mundo escoteiro era este que eu fazia. Chefe, muitos procuram ansiosos pela felicidade. Eu descobri que ela estava ao meu lado, morando no meu ser e presa no meu coração. Até hoje amo meu uniforme, meu garbo e me orgulho em andar nas terras onde piso e nas terras onde pise. Aprendi com meu Chefe que os problemas existem e enfrentá-los é a melhor maneira do sucesso e vitória. Meu Monitor sempre diz que aceitar as adversidades é uma estratégia para nos estruturarmos até chegar ao fim da jornada e vencer.


- Sabe Chefe, não sei se me fiz entender. Não existem segredos para o verdadeiro Escoteiro. Não abro mão do meu amor escoteiro esteja onde estiver. Eu não abro mão do meu orgulho em ser Escoteiro. Sou com muito orgulho e honra! Não abro mão da minha Lei. A Promessa que um dia fiz eu prometi a Deus que me ajudasse a cumprir. Não abro mão das minhas crenças, não abro mão dos meus sonhos e não abro mão do que acredito. Fiz do escotismo uma maneira de viver.  Se pudesse eu diria a todos que sempre amei e sempre vou amar este movimento que mora e residirá em meu coração por toda vida. Acredito que somos irmãos e amigos e não pode haver fronteira que nos impeça de cumprir o sexto artigo da lei. Amo o nosso Fundador Baden-Powell e ele vive sempre na mente, junto de mim e no meu coração estará. Não falo por palavras, meu exemplo é ponto de honra para quem quiser me seguir. Sou amante da natureza, sou amante das noites de luar, sou amante das chuvas no deserto do frio ou calor. Nossa filosofia Chefe é há mais linda que existe. Sou Escoteiro de coração e nele tenho certeza que encontrei o meu caminho que viverá para sempre comigo.

Ele sorriu apertou minha mão esquerda ficou em posição de sentido e disse um sempre alerta gostoso de ouvir. Virou a esquina e eu estupefato esqueci aonde ia e o que iria fazer. Pensei comigo que a suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é e não por aquilo que você têm. Fui em frente cantando “De BP trago o espírito, sempre na mente, junto de mim, no meu coração estará!”.

A Verdade é o caminho, o Bem é a ação, o Belo é o sentimento. Esta é a prática para ser Feliz. Usem-na, feliz Ano Novo 2020!”

sábado, 28 de dezembro de 2019

Conversa ao pé do fogo. O famigerado apito do Chefe Sonho de Valsa.




Conversa ao pé do fogo.
O famigerado apito do Chefe Sonho de Valsa.

... – Um amigo publicou um post sobre o Apito de Marinheiro. Muito bem  feito, vale a pena ler. Uma vez assisti uma cerimonia de bandeira de uma tropa de Escoteiros do Mar e achei lindo demais. Nas tropas da modalidade básica tenho minhas duvidas do apito. Dizem por aí que para ser um bom Chefe tem de ser bom no apito. Alguns são educados ao apitar, mas outros nem ligam do barulho. Sei que tem gente que gosta, eu sempre corri deles. Arre! Leia a história. E depois me dê sua opinião.

- O Chefe Sonho de Valsa era um bom Chefe, bom até demais. Tinha um defeito. E quem não os tem? Bem voltemos ao defeito do Chefe Sonho de Valsa. Ops! Seu nome não era este, mas para evitar colocar um nome e alguém se enquadrar melhor é chamá-lo Sonho de Valsa. Vá lá que é um nome doce e eu gosto muito do bombom. - Pombas! Estou fugindo da história. Vamos voltar a ela. O Chefe Sonho de Valsa como disse era um ótimo Chefe, mas gostava de apitar. Como apitava! Era apito aqui, apito ali e no final da reunião a Escoteirada estava zonza com tanto apito. Ele se orgulhava do seu apito. – Alemão legítimo! Dizia ele. Tenho também um francês, um italiano um sueco e um holandês. Conta-se que uma vez em uma cidade pequena encontrou um apito, ou melhor, um trinado de um Uirapuru. Era lindo. Ele gostou e comprou.

Quando na primeira reunião usou o apito do trinado do Uirapuru a tropa assustou. – O que era aquilo? Um apito diferente? Será que Deus ouviu nossas preces? E todos riram de alegria. Mas foi só na abertura. Depois a rotina do apitador Escoteiro voltou. Ele fazia questão de pendurar no seu pescoço dois três ou quatro apitos diferentes. E nos acampamentos? Mama mia! Como apitava. A passarinhada sumia de tanto apito estridente. Animais e até insetos passavam longe. Muitos chefes comentaram com ele do apito, mas ele não dava ouvido. Foi Lomanto Correia um velho Criador de pássaros que um dia lhe disse: – Chefe, porque não vai ser juiz de futebol? Lá sim você vai se esbaldar. Se possível de jogos de várzea onde os pizãos os empurrões, os chutes e os palavrões são frequentes. E você vai apitar como nunca. Chefe Sonho de Valsa olhou enviesado para Lomanto e nunca mais lhe dirigiu a palavra. Foi então que um fato pitoresco aconteceu. Foi no Acampamento em Lobo Branco. Já havia acampado lá, mas aprendeu uma lição que nunca mais esqueceu.

Era umas dez horas quando um caminhão cheio de Escoteiros chegou a Campina do Arroio e para surpresa viram que lá estava acampado uma tropa Escoteira. O Chefe Sonho de Valsa não conhecia. Tudo bem pensou, aqui cabe todo mundo. Procurou o Chefe da outra tropa e se apresentou. Um cara super simpático, mas ele logo notou que não tinha apito. Se não tinha não era um bom Chefe, pensou. Dizem que o apito faz o Chefe. Verdade? Conversaram pouco tempo e logo seus apitos se fizeram ouvir. Apito de monitores, apito de intendência, apito de cozinheiros, apito dos sub monitores, apito para formatura, apito para a bandeira era apito que não acabava mais. Exigia por apito a cada tarefa das patrulhas o monitores avisassem que a tarefa tinha terminado. Sua tropa tudo bem ela estava acostumada, mas a outra tropa se assustou. O Chefe Long Jonny resolveu interferir educadamente. Viu que o semblante do Chefe Sonho de Valsa franzia. – Bem, pensou que seja, vou abrir o jogo, o apito do Chefe está entornando o caldo e me tirando do sério!

Chefe! O senhor tem uma bela coleção de apitos no pescoço, disse. – Sonho de Valsa riu a toa. Quantos os senhor tem? Eu? Não tenho nenhum. Uma vez comprei um Chifre do Kudu e ainda o tenho, mas quase não uso. – Não usa? E como chama os meninos? Por sinal Chefe, por sinal. E quando necessário por bandeirola. Bandeirola? Como? Perguntou Sonho de Valsa. – Simples, olhe ali naquele pequeno mastro, tenho várias bandeirolas pequenas. Cada uma para um tipo de chamada. A azul para monitores, a verde para chamada geral, a marrom para os subs e assim vai. Subo a bandeira e eles vem correndo. – Sei não disse o Chefe Sonho de Valsa, meu apito se ouve longe. – Pode ser disse o Chefe Long Jonny, até aceito para jornadas e caso alguém se perca transmitir um S.O.S, mas será que os pássaros não se incomodam? Os animais não reclamam? E como fazer para estarmos de bem com a natureza com o trinar dos apitos?

O Chefe Sonho de Valsa deu como encerrado a conversa. Já pensou? Disse ele para si, bandeirolas para chamar? Melhor chamar com a fumaça de um fogo. E riu baixinho. Naquela noite o Chefe Sonho de Valsa foi dormir sorrindo depois de apitar feito um louco todo o período do acampamento. Dormiu e dormiu um sonho que nunca mais queria sonhar como ele sonhou. Estava voando, isto mesmo voando e viu a terra dos pássaros. Uma força o levava para baixo. Milhões de pássaros o esperavam. Um círculo se fez. Um enorme gavião com um apito apitou no ouvido dele e logo em seguida veio o Papagaio, a Coruja, a Águia e assim centenas de pássaros apitaram no seu ouvido sem parar. Ele gritava para parar e não adiantava. Soltaram-no e ele correu pelas nuvens e foi agarrado por um trovão que o levou a terra dos animais da floresta. Mesma coisa. O Quati apitou, a Onça apitou. Os macacos apitaram. Ele gritava e chorava e o soltaram. Acordou suado. Ainda com os apitos no ouvido.

Abriu à porta da Barraca, um silêncio gostoso da floresta. Um trinar cantante de pássaros. Ouviu ao longe a cascata de águas cristalinas, ouviu o vento passar. Que gostoso pensou. O Chefe Long Jonny estava certo. O apito não faz parte da natureza. Ele jurou a si mesmo que nunca mais usaria um a não ser para um pedido de socorro ou alguma emergência. E foi então que a tropa do Chefe Sonho de Valsa sentiu a paz no coração. Quando viram que ele não apitava mais, quando só usava as bandeirolas ou os sinais com as mãos sentiram que agora sim tinham um Chefe de verdade. E sabem? Aquela tropa enquanto o Chefe Sonho de Valsa chefiava os lobos ficavam admirados com o silêncio. Eles entretanto tinham que manter os olhos e os ouvidos abertos afinal tinham uma Akelá que não parava de gritar Lobo, lobo, lobo! Vivia gritando feito uma louca em Seeonee toda reunião. Alguns esqueceram o Waingunga, outros esqueceram os sussurros da selva...

Calma! Não é para você, sei que não fica apitando e nem gritando sem parar Lobo, Lobo, Lobo! Mas cuidado, conheci um Chefe de Nome Patagônia que engoliu o apito em um acampamento e desistiu de ser escoteiro. E uma Akelá que perdeu a voz! E então no meu canto na floresta, me lembro do que disse Aldous Huxley – Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

PARTIU PARA O GRANDE ACAMPAMENTO NO CÉU. A CHEFE MARIA PEROLA SODRÉ.




PARTIU PARA O GRANDE ACAMPAMENTO NO CÉU.
A CHEFE MARIA PEROLA SODRÉ.

Eis que lendo a noticia do falecimento da Chefe Maria Pérola Sodré, me levantei da barraca da enfermaria onde estava gozando deliciosas férias para prestar minhas homenagens uma das maiores escotistas do Brasil e porque não dizer do mundo. Tive a honra de conhecer e conviver com a Chefe Maria Perola. Filha de Benjamim Sodré e de Alzira de Castro Sodré nasceu em novembro de 1922 no Rio de Janeiro. Vivenciou o Escotismo e o Bandeirantismo onde fez sua promessa em 03 de novembro de 1933. Foi Fada, Bandeirante, Guia e passou a atuar como Chefe Bandeirante em 22 março de 1942. Em junho de 1951 ingressou na UEB como Chefe de lobinhos. Fez o CAB de lobinhos, a parte II da IM Lobinho. Sua parte III da IM foi conduzida por João Ribeiro dos Santos um grande Chefe que além de diversas literaturas Escoteiras também Foi Escoteiro Chefe da União dos Escoteiros do Brasil. Fez diversos cursos importantes e em 1962 foi nomeada por Gilwell Park como Akelá Líder para o Brasil. Foi Comissária Nacional dos escoteiros do Mar onde atuou intensamente organizando o II, III e IV Ajuri Nacional dos Escoteiros do Mar, além de diversos fóruns de jovens. Fez o curso de Arrais, de Patrão e Técnico de Mar. Maria Pérola DCIM foi distinguida com o título de Adestradora Emérita da UEB. Dirigiu centenas de cursos em diversos estados brasileiros e no exterior. Em 1976 um forte terremoto na Nicarágua, sua primeira atitude foi doar sangue para ser enviado aos feridos. Dias depois embarcou como voluntária para Manágua onde se juntou aos escoteiros nicaraguenses num árduo trabalho de apoio as vítimas. Tive a honra de conviver com ela em várias atividades escoteiras e em cursos realizados na Capital de Minas Gerais onde prestigiosamente deu seu apoio e nunca cobrou nada. Ela agora partiu para sua estrela no céu. Lá vai encontrar grandes chefes que estarão em posição de sentido para receber tão digna Chefe Escoteira. Aos seus familiares e amigos minhas condolências. PARA ELA EU TIRO MEU CHAPÉU COM MUITO ORGULHO.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Sonhos de um velho Escoteiro. Olá! Vou acampar, quer ir comigo?




Sonhos de um velho Escoteiro.
Olá! Vou acampar, quer ir comigo?

... – Olá você, estou lhe fazendo um convite. Quer acampar comigo? Sem taxas, basta ter espírito Escoteiro e um sorriso nos lábios. Será um acampamento fantástico, você nunca mais vai esquecer. E se prepare, um pé de vento irá buscar e levar você na Estação dos Sonhos onde iremos viajar para a Montanha da Amizade. Iremos fazer um acampamento sem igual. Todos são bem vindos. Basta ter disposição, levar a sério a Lei do Escoteiro e aceitar acampar sorrindo sem reclamar. Isto é fácil? É sim. É só acreditar que vai ser feliz, que vai estar com amigos que lhe querem bem. Mas não se preocupe se for à primeira vez. Tudo tem um começo na vida. Acredito que este acampamento vai marcar seu coração. Será um acampamento diferente, em um local desconhecido e garanto que nunca será esquecido. Iremos subir uma montanha e lá no alto em uma clareira irão ver as belezas do lugar. Bem perto do céu. Anote no seu livro da vida o que deve levar: - Uma mochila verde ou azul para não destoar com as cores do arco-íris. Leve pouca coisa... Lá tem tantas coisas que nada vai faltar.

Se quiser levar mais alguém fique a vontade. Mas que tenha espírito Escoteiro para apreciar como a vida é bela, que ame a natureza e saiba manter o espirito escoteiro com o belo sorriso como os escoteiros acampadores sabem dar. Nosso encontro será na Estação da Felicidade aonde vamos nos conhecer e embarcar no trem da fraternidade. Por favor, chegue no horário. O Trem não espera ninguém. O Alegre Condutor “Seu” Manuelito, com seu enorme bigode adora um abraço, um sorriso antes de o trem partir. Você ficará maravilhado quando chegar lá. Vais ver como a natureza é prodiga para nos unir e copiar a velha Kaa: - Somos do mesmo sangue, tu e eu! Não importa qual cidade você mora. Se for difícil vir me avise. Um pé de vento irá te buscar. Já pensou encontrar tantos amigos virtuais, abraçar e dar belos sorrisos de alegria por conhecer? Vamos partir no horário, o trem terá quantos vagões de primeira classe for necessário para a viagem dos sonhos escoteiros. Não se preocupe seu lugar será marcado. Vamos ter cantorias. Belas canções Escoteiras serão lembradas e vais ver que sua voz se transformou porque está acreditando que estamos partindo para o acampamento de sua vida.

Serão poucas horas de viagem e o trem vai parar no Sopé da Montanha da Fortuna e Felicidade. Ao descer observem um túnel a frente. Dizem que é o túnel dos escoteiros e que quem entra nele nunca mais quer sair. Vamos seguir uma trilha perfeita com cravos amarelos, margaridas brancas, malmequeres lindos e rosas de todas as cores abrilhantando o lugar. Não se assuste ninguém vai se cansar. As paradas não têm hora nem lugar. Basta um sinal para fazermos uma “(siesta)”. Macucos pardais e Bem ti Vis irão aproveitar para chilrear a canção do Escoteiro. Não conhece? Preste atenção e vais adorar. A um zum, zum trazido pelo vento, é outro grupo de amigos escoteiros descendo a serra para nos encontrar. Vai ser uma confraternização sem igual. Eis que chegamos ao nosso destino. Todos com seu uniforme, vestuário ou outro da sua modalidade. Os pássaros e os animais da floresta estão acostumados com garbo e boa ordem. Estamos chegando observe como a vista é maravilhosa. Lá em baixo o Vale das Rosas parece aplaudir nossa chegada. Chegamos. Barracas? Não precisa. O céu irá nos abrigar. Cozinha? Nada disto, o néctar das flores, o perfume de um Gira Sol e frutas silvestres irá nos alimentar. Sentem-se, aproveitem o acampamento dos sonhos. Respirem fundo, fechem os olhos e relaxem, pois chegamos a um vale inesquecível que irá marcar todos vocês para sempre.

                 Programa? Você quem faz. Quer colher flores? Fique a vontade. Quer ir ao pomar apreciar ou deglutir as frutas mais saborosas? É você quem decide. Quer pescar? Olhe os peixinhos pulando no remanso da Cascata do Véu da Noiva que parece cair do céu. Mas não esqueçam todos aqui à noite. Vocês serão meus convidados para um bate papo informal em volta de uma fogueira. Teremos bananas, batatas, aipim, pão do caçador e iguarias que vocês nunca comeram. Mas sabem o melhor? Um cometa irá passar entre as estrelas brilhantes e os que quiserem passear com ele fiquem a vontade. Ele vai dar uma pequena volta no espaço sideral. Vamos passar por Cancri-e, um planeta coberto de diamantes. Há 49 anos luz da terra iremos ver seis estrelas orbitando ao redor de um centro de massa. Este sistema solar se chama Castor. O sol lá é mais brilhante que o nosso. Quem quiser se bronzear fique a vontade.

                  Incrível não? E olhem, fiquem alerta quando chegarmos a Estrela Azul que orbita em torno da Estrela Amarela. A luz que emerge é fenomenal. Dizem que é superior a estrela criada por Einstein e sua teoria Rings. E por último iremos visitar o “viveiro de estrelas”, centenas de milhões de anos-luz de diâmetro. É esplêndido. Se quiser pode levar algumas no seu bornal. Mas é hora de voltar. O Fogo de Conselho vai começar. Não vou contar o que faremos. Dizem que nas florestas o ambiente o perfume da relva e os grilos e vagalumes trilam para abrir as cortinas da imaginação e cantar sob a regência do Maestro André Rieu com seu império de musica clássica. Tocará primeiro a Stoldola. Com a ultima tocata vamos ouvir a Sinfonia Secondo Tuono, que nos transportará para os confins da floresta encantada. Cantar é como montar efeitos fantásticos na mente. Dizem que ajuda a relaxar e acalmar. Depois iremos contar estrelas e esperar a lua chegar...

Preparem-se... Oklahoma usando somente um fósforo vai acender a fogueira. Mestre animador irá fazer a invocação do fogo: - “Hoje eu invoco o fogo”. Aquele das profundezas da terra do mar e do ar. Invoco o fogo do sol que queima as energias do cósmico, e dele refaça as cinzas que o vento vai levar. Invoco o poder das Salamandras com respeito e honrarias, Eu invoco o poder do fogo dos raios e dos trovões. Invoco o poder da chama dourada da sabedoria e do espírito santo de Shekinah. Eu invoco os ventos que sopram nas vertentes do Vale Feliz. Seja ele ventos do norte, ventos do sul e do leste ou mesmo do oeste. Eu invoco o poder do fogo para que nossos corações voltem a brilhar. Nesta noite nesta fogueira mágica que não haja ódio e somente amor. Que o fogo nos purifique e traga a felicidade e o tempo para curar as dores... “E quando as brasas adormecidas se apagarem eu clamo ao sol do amanhecer que traga a felicidade para todos os povos do mundo”.

Tem muita coisa mais neste acampamento. Não se acanhem, nele somos todos irmãos. Não percam a alvorada, o canto dos pássaros, o zumbido dos insetos e o murmúrio do riacho e de milhares de outros sons da natureza que começam antes do nascer do sol. Aceita então ir acampar comigo? Se aceitar venha com entusiasmo, com chama escoteira, com ardor de fraternidade. Seja bem vindo e atenção, seu Manuelito avisa que o trem já vai partir! 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Uma breve história do tempo. Escoteiros! Aos seus lugares... Vamos partir!




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Uma breve história do tempo.
Escoteiros! Aos seus lugares... Vamos partir!

Nada a ver com livro homônimo de Stephen Hawking, que guia o leitor na busca de respostas a algumas das maiores dúvidas da humanidade. Qual a origem do universo? Ele é infinito? E o tempo? Houve um começo e haverá um fim? Aqui faremos uma busca no tempo do ontem e do hoje quando chegava a hora da partida de lobos e escoteiros para um acampamento. Trivial, banal? Convido você a ler e quem sabe comentar. Bem vindo a Uma breve história do tempo.

Desde suas origens que os escoteiros se prepararam para sair em busca de aventuras fora da sede. Seja uma simples caminhada, uma jornada, uma atividade aventureira ou um acampamento. Até mesmo os lobos amam uma caminhada um acantonamento e a preparação para suas atividades são inesquecíveis. Até os anos sessenta vivíamos uma tranquilidade relativa à criminalidade e aos perigos que hoje infestam os caminhos e locais permissíveis para acampar. Eram poucos os lobos e Escoteiros (aqui incluídos os seniores) que se preocupavam como hoje na preparação do material individual, pois cada um sabia o que levar como levar e como manter um padrão de qualidade no uso e custeio. Acredito que desde os tempos dos jovens ingleses ao lerem o “Scout for boys” e se aventurarem nos bosques e cercania de Londres até 1970 pouca coisa mudou.

As cidades menores eram privilegiadas. Fazia-se carta prego sem medo de errar o caminho. Os chefes confiavam nos seus jovens deixando-os depois de preparados acampar ou excursionar sem suas presenças. Os pais confiavam. Solicitar uma autorização do menino para participar era algum até então não sonhado. Havia solidariedade e disciplina na marcha para o campo, seja em pequenas estradas carroçáveis ou trilhas abertas e conhecidas. O transito era um roceiro a cavalo, ou uma charrete ou mesmo um carro de boi. Com o tempo foi aparecendo nas pequenas estradas um Jeep ou um Ford Bigode cujo barulho se ouvia ao longe. As patrulhas com suas carrocinhas (não era assim tão fácil de adquirir) se divertiam no revezamento, enquanto dois ou três emparelhavam os demais eram observadores dos animais, pássaros e possíveis pesqueiros para não faltar nas refeições que eles iriam fazer. Os pais se acostumaram com o recado do Chefe: Pai, mamãe sábado vamos acampar, voltamos no domingo à tarde. Às vezes um sorriso e uma pergunta: - Filho qual ração vai levar? Ração? Uma outra história para contar.

Durante este período a criminalidade era mínima. Podia-se confiar nos fazendeiros, posseiros os caminhantes passantes onde estivessem acampados ou acantonados. Tudo era uma descoberta, o rumo, as horas, o tempo e a observação da natureza. O tempo foi passando. Nem tudo era no solado dos pés. As cidades cresceram. Veio o ano de 1970 e até 1990 ainda se podia confiar numa prova de jornada feito a dois, vivenciando locais pré-estabelecidos e até mesmo visitados pelos responsáveis. Já havia necessidade de autorização, a principio verbal ainda se confiava na palavra e tudo era motivo de alegria descoberta e aprendizado. O Campo ainda era o objetivo. A observância da metodologia Badeniana era cumprida a risca. Se antes uma jardineira ou caminhão lonado ou sem lona servia de transporte agora era necessário alugar ou pedir aos órgãos municipais ônibus mais modernos para qualquer atividade de campo.

Passou-se a década de 80, 90 chegamos ao ano 2.000. A burocratização estava caminho nas atividades escoteiras. Dizem alguns que por necessidade do mundo moderno diferente daquele do passado. Se antes bastava o dizer simples que ia acampar agora era necessário autorização por escrito dos pais, do grupo aos órgãos escoteiros superiores e um enorme cuidado com a ECA – Estatutos da Criança e do Adolescente. As lideranças exigiam seu quinhão para em troca fornecer seguro para casos de acidentes dentre outros. Os pais preocupados acorreram nas hostes escoteiras. Se antes os nascentes na manjedoura escoteiras e já adultos assumiam a continuidade do seu sonho de menino, agora havia um aluvião de adultos, pais que além de preocupados queriam acompanhar seus rebentos na duvida se havia mesmo a segurança que tantos alegavam ter. Muitos promessaram. Aprenderam a amar o escotismo e colocaram sua filosofia dentro do coração. Mas outros se imiscuíram na formação de suas crias querendo para eles mais do que eles podiam chegar e conquistar. E foi aí que surgiu a cizânia.

Ouve um salto de transposição do ontem para o hoje, chamado de modernismo. Adultos recém-chegados analisavam a juventude pós-moderna. Sem ter uma base de entendimento para ouvir e saber o que eles queriam ou desejavam, formou a opinião que no advindo novos tempos o escotismo teria que mudar. Se antes o aprender a fazer fazendo era na vivência do campismo, agora uma nova pedagogia devia ser feita para agradar os recém-chegados. A natureza tão dignificada nos meios atuais ficou no esquecimento. Diziam-se que os jovens queriam outro tipo de vivência outro tipo de aprendizado bem diferente dos seus avós do passado. Não havia mais estradas vicinais, trilhas e matas para desbravar. Não havia mais o amigo do campo que prazerosamente oferecia sua área para acampar. Agora surgiam pequenos sítios, fazedores de camping oferecendo por uma módica quantia um gramado para que pudessem todos pernoitar e em alguns um belo restaurante com quentinhas para servir aos que quisessem pagar.

E eu nos meus momentos de deslumbramento ainda me lembro de quando Chefe, saindo para uma atividade no campo, a dizer... Escoteiros! Aos seus lugares... Vamos partir! E lá vinham os pais quando os filhos entravam nos ônibus, chorosos, pedindo para olhar seus filhos, me dando receitas e lembretes, que eu tomasse cuidado para que ele só fizesse as refeições com tantas calorias e que evitasse o orvalho e brincadeiras ao luar. E me dizem que o escotismo mudou... Precisava, pois o mundo mudou... E como mudou como escreveu Cora Coralina: - A vida tem duas faces: Positiva e negativa... O passado foi duro, mas deixou o seu legado. Saber viver é a grande sabedoria, que eu possa dignificar minha condição de ser vivente... Aceitar suas limitações e me fazer pedra de segurança dos valores que vão se desmoronando... Nasci em tempos rudes, aceitei contradições lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo... Aprendi a viver!

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Conversa ao pé do fogo. As panelas da Patrulha Lobo.




Conversa ao pé do fogo.
As panelas da Patrulha Lobo.

- Há algum tempo escrevi um artigo que chamei “Panelas”. Sempre gostei da musica do mesmo nome, e dediquei á canção com muito carinho ao artigo que publiquei. Quando ingressei na Patrulha lobo me nomearam bombeiro, aguadeiro e lenhador. Depois fui para Escriba. Dizem que só novatos honram este cargo. Tinha uma queda por água e lavar panelas. No bairro da Pastoril em Governador Valadares onde morava, tinha na frente da casa uma bomba de água e havia uma norma na família que dizia: - Antes de tomar café, 100 bombadas... Antes do almoço mais 100. Se tiver visitas convide-os para bombear também! Nossa caixa d’água vivia cheia. Mesmo depois da luz no bairro continuamos na velha função, pois o dinheiro era curto para comprar uma bomba elétrica. Minha mãe sempre me olhava com olhos de amor na hora de lavar panelas. Fiquei “craque” na função.

Com o tempo reconhecia em qualquer Patrulha quando as panelas eram paqueradas, lavadas e até mesmo reconhecidas como o “bem estar” do cozinheiro de plantão. Poucas vezes acampei com outras patrulhas de outros grupos. Sabia que só em cidades mais distantes haviam Grupos Escoteiros. Na Patrulha tínhamos uma panela, um caldeirão, uma caçarola e uma frigideira. Suficiente para carregar na mochila qualquer de suas peças. Podíamos ter mais se quiséssemos, pois as vizinhas de cada escoteiro sempre estavam dispostas a colaborar com doação. Mas a maioria das atividades que fazíamos no campo era feito nas pisadas do Vulcabrás, calçado muito usado na época. Assim ter poucas panelas era uma necessidade. Nosso vasilhame brilhava por dentro, mas fora não. Como diz a canção não eram tão negras, queimadas, sebentas que muitos consideravam nojentas. Fumanchu amava nossas panelas, nas mãos dele sabíamos que estávamos salvos do grude do macarrão, do quiabo sem caldo, do arroz queimado e do bife tostado (ah! O bife... muitas vezes só em sonho). Foi para nós o maior dos maiores cozinheiros escoteiros de todos os tempos!

Nossa intendência era pequena, mas dava para o gasto. Ainda não havia taxas, quotas para compras de alimentos e materiais necessários da Patrulha. O Sexto Batalhão da Policia Militar a cada dois anos descarregava sua intendência e lá estávamos nós os escoteiros e seniores de chapéu na mão. Barracas de duas lonas, mochilas, canecas, pás, picaretas eram doadas pelo Capitão Barbosinha que dizia: - Usem com cuidado, nada dura para sempre e nem sei se o ano que vem poderemos doar. Eita Capitão, um pai dos Escoteiro e amigão do Chefe João Soldado. Tínhamos cada escoteiro uma lista de alimentos conforme os dias de acampamento. Ração A para um dia, B para dois dias e C para mais de três dias. Quando a Patrulha após o Conselho dela a decidir quando e aonde iríamos nem precisava falar, poderia ser a ração A, ou B, ou C gentilmente cedidas por nossa querida mãe que ajudava a empacotar e calcular quanto cada um iria comer.

Com ajuda do Seu Perônio, um marceneiro pai do Escoteiro Dagoberto da Raposa fizemos nossa carretinha. No primeiro acampamento dançou na subida do Morro da Viúva e a roda caiu. Aos poucos fomos aprendendo e Romildo o Monitor ficou bamba para arrumar aprumar e olear os eixos coisa que Tãozinho aprendeu com amor. Era delicioso empurrar à carretinha na subida e na descida segurar. O barulho nas rodas de madeira corriam pelas estrias cantando canções de arrepiar. Hoje elas não existem mais. As autopistas, as rodovias coalhadas de veículos nunca mais nos deixarão passar. Tudo ficou no tempo guardado nas lembranças para nunca mais apagar. Mas a maioria das vezes era no passo escoteiro. Quarenta andando e quarenta correndo. As panelas batiam nas costas da mochila como se fossem voar. Lembranças de meninos alegres a buscar sua aventura.

Amizades tínhamos aos montes com os meeiros, posseiros, vaqueiros e até mesmo diversos sitiantes fazendeiros da região. Muitos mais abastados faziam de tudo para almoçarmos com ele e seu Norberto com Dona Juraci sorriam quando viam Fumanchu chegar. Sabiam que seria uma mão na roda para ajudar no almoço. Um franguinho, um pastel de queijo, um arrozinho solto, mandioquinhas no ponto. Não tínhamos horários e havia liberdade para ir e vir. Eu e Rael gostávamos de pescar, fazer armadilhas para uma boa ave que seria nossa carne no almoço ou no jantar. Quando sobrava tempo corríamos a sua fazendinha para ajudar na lida ou encher seu carro de boi com milho verde. Ele tinha uma parelha de bois guzerá que pareciam amar o zoar do eixo das rodas, mais alto que nossa carretinha.

Mas voltando as panelas, amo todas elas. Aprendi a usar moita de capim com areia do riacho, pois sabão nem sempre havia para usar. A gordura usada para cozinhar guardávamos para reaproveitar ou usar nas panelas na próxima “cozinhada”. Dou hoje risadas quando cantam: - No acampamento o nosso tormento, é ter de usar panelas... Pois o alimento requer cozimento e ao fogo vão as panelas... Quem escreveu deve ter sido um pandego da Patrulha. Darcy nosso companheiro de guerra disse que Dona Sinhá o ensinou a usar barro em volta delas antes de ir para o fogo. Hoje tempos mais modernos tem Bombril, sapólio e bucha especial. Mesmo assim fiquei sabendo que um Escoteiro recém-admitido de um grupo escoteiro moderno foi obrigado pelo seu monitor a lavar as panelinhas barrentas e sebentas. Na volta começou a tremer e não parou mais. Soube que faz terapia de grupo com um Psiquiatra. São coisas dos novos tempos. Hã que eu amo panelas!

- O magnífico hino do Ajuri Nacional do Rio de Janeiro tem uma estrofe que diz – ¶ Se ele é gaúcho, você do Amazonas, debaixo das lonas são todos irmãos, qualquer cor ou classe, qualquer raça ou credo lavando as panelas são todos irmãos¶. Arre! É isto mesmo? Lavar panelas para sermos irmãos? Se fosse ainda menino escoteiro diria conte comigo! Afinal pegar as sebentas e agachar em um riacho ou ficar curvados em um tanque, limpando, esfregando aquelas negras queimadas, nojentas, sebentas, para muitos é um horror e para mim não. Foi um tempo que amávamos as panelas. Hoje dizem ser função dos novatos. Já vi alguns gritarem – Deixa que eu lavo! Depois da experiência dizem que nunca mais! Risos. Ainda existem cozinheiros? Bombeiro aguadeiro e lenhador? Não sei. Tudo é moderno. Agora é fazer uma fossa de detrito para enterrar de vez a marmita de alumínio que o Chefe levou para o bom gáudio da escoteirada encher a pança!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Ser meu amigo no Facebook é fácil, difícil é continuar!

- Hoje escrevo para você que entrou em meu mundo Escoteiro através das minhas páginas. Você que solicitou um pedido de amizade e foi atendido prontamente. Não quero que você se iluda e se engane. Sabe por quê? Porque defendo minhas ideias, meus pensamentos e no que acredito de coração o que seja escotismo. Sou daqueles velhos Matusalém, achando que o Escotismo não tem segredos. Não tem mesmo desde que seja a velha ordem de BP dizendo que é no campo que se torna um escoteiro. Fiz coisas do arco da velha na minha vivência escoteira, fui amado, por alguns odiado por outros e desacreditado na minha ordem feita em um passado que sempre amei. Alguns chegam às minhas páginas leem e desconfiam das minhas ideias e se vão. Não tenho a presença dos famosos antigos escoteiros heróis de ontem e de hoje em seus estados pelo que fizeram. Alguns nem me dão bom dia... Salvo uns poucos que ainda me dedicam estima respeito e consideração e acham que estou contribuindo para um escotismo melhor. (para eles tiro meu chapéu!).

- Muitos assustam quando descobrem que não tenho registro na EB. Não tenho há alguns anos. Quero voar, quero sair por aí nem que seja nas asas da imaginação, sem autorização, sem medo de ser feliz por fazer o que gosto de fazer, pois é no escotismo que amo que dou minhas “escapadas” nas estradas poeirentas, nas trilhas da mata fechada atrás de um sonho de acampador. Nela quero voar com as aves, brincar com os insetos, subir em árvores e num belo comando Crow atravessar um despenhadeiro sem medo de ser admoestado, achinqualhado e até ameaçado de exclusão. Um dia um Grande Chefe da UEB sabendo que desisti do meu cargo de Diretor de Curso da Insígnia de Madeira, me mandou uma carta desaforada exigindo a devolução das contas, da minha IM do certificado e do escambal. Escrevi de volta dizendo coisas e boas, que meu escotismo não estava à venda, mora no meu coração e que ele sim é quem devia pedir demissão. Não tive resposta, mas pus no correio as duas contas e o certificado de nomeação de DCIM. As outras duas eram minhas, o lenço era meu e estes nunca seriam motivos de barganha ou de exigências esdruxulas estrambólicas para um amante do escotismo como eu.

- Não sou possuidor das ações escoteiras que BP doou na sua filosofia para todos que quisessem seguir seus preceitos baseados em sua Lei e Promessa. Não me bandeei para nenhuma associação. Ainda guardo no meu baú do tempo o Escotismo da velha e boa UEB, hoje substituída por uma Tal EB, cujos donos se bandeiam no poder, mudam como querem o que aprendi a fazer, deixaram de lado meus ideais aventureiros, acabaram com meu amor da Primeira Estrela, da Segunda, das Classes escoteiras tão duramente conquistadas e até mesmo a velha e boa jornada alegando que os tempos são outros. Para alguns é bem melhor facilitar, dar comidinha pronta ou feita por pais, esquecer o sistema de patrulhas o aprender a fazer fazendo um dos princípios básicos do Escotismo de BP. Ponto por ponto o mundo mudou. Nada é como antigamente. Dizem os politicamente corretos que tudo pode ser feito, desde que obedecendo normas e instruções e construindo uma nova filosofia que não é a mesma que aprendi. Sei que muitos condenam os Antigos Escoteiros por dizerem que seu escotismo foi melhor. É seu direito em dizer, pois ele lembra de tudo com saudade e com amor e tem direito de assim dizer e fazer. Coração Escoteiro sim senhor!

Gosto do jeito que sou. Sou livre como um pássaro ando como sempre andei como um Lobo que jamais esqueci. Piso ainda na imaginação do passado andando com meu fação abrindo picadas nas matas da minha cidade, saltando a cachoeira do Tenente, subindo na Mantiqueira, no Itatiaia, no Ibituruna, na Serra do Caparaó e na Serra da Piedade. Engasgo ao lembrar das noites de lua cheia na porta da minha barraca percorro as Grutas de Maquiné, da Lapinha e de outras que no meu tempo eram inexploradas. Como bom patrulheiro lembro do Velho Chico, no convés do Benjamim Guimaraes, às vezes ajudando na lenha na fornalha e ver lá na margem do rio a meninada gritando: - Pai, Mãe! “Venham ver são os escoteiros do Brasil”

Não tenho mais o folego de aventureiro. Orgulho-me do meu passado, das mais de setecentas noites de acampamentos, das disputas de nós escoteiros feitos no fundo da lagoa do Amoral. Amo meu distintivo da Patrulha Lobo, do meu bastão, da minha faca mundial e da machadinha muito bem conservada no talco Palermont. Foram eles amigos de todas as horas que me acompanharam por muitos e muitos anos nos Acampamentos feitos no meu Brasil. Que mudem que façam que se orgulhem, mas sou danadamente velho para mudar. Gosto de respeito, de um escotismo alegre, fraterno e dando a cada um o direito de agir e pensar. No meu escotismo não tem normas planos estratégicos, medidas proibitivas com punição e nem tampouco processos judiciais que me dá asco só em pensar. No meu escotismo só tem amor!

Não ligo para o que dizem de mim. Se é que lembram quem eu sou ou fui. Morrerei sendo assim. Sei que fiz muitos amigos e se inimigos tenho eu não tenho nenhum. Gritam, escrevem, afirmam que o mundo mudou. O meu não, pois estou preso ao passado tentando viver o presente que não é meu. Não aceito na minha consciência a tal modernidade, onde se vestem como querem iludindo incautos que ainda não sabem o que pensam os que estão a sua volta, alegando normas e vendo exemplos dos donos do poder como se vestir sem garbo e apresentação faz parte da nova ordem criada por eles e não por BP. Meu velho Grupo São Jorge sumiu e o meu querido Chefe João Soldado está hoje escoteirando em sua estrela no céu. Logo estarei com ele, sorrindo ao lado do Romildo, do Rael, do Tãozinho, do Chiquinho, do Darcy e do Helinho com aquele seu sorriso que a todos encantou. São Lobeanos como eu. Viveram o sonho escoteiro, o sonho sênior e um pouco pioneiro.   

Disseram que eu devia fazer o escotismo independente, buscar nos sonhos rebuscados de preto e branco o que não tenho mais. Não... Sou da UEB das antigas, do velho Guia do Escoteiro, do Para ser Escoteiro e dos livros do Fundador. Não esqueço o Escoteiro Chefe, com seu sorriso, sua malandragem em conseguir apoio, sentado na sala de jantar da minha humilde residência, comendo comida caseira e dizendo: - Célia, manjar do Deuses querida Akelá! E vou encerrando essa jornada nas asas do tempo e da minha imaginação. Não escrevi para explicar e nem para confundir, escrevi o que penso e se estou desatualizado minha mente diz o contrário, por isso escrevo artigos histórias e lendas presas no tempo do meu passado. Portanto meu amigo se arriscou entrar em minhas páginas, este sou eu. Será sempre bem vindo e se algum dia resolver sair será sempre meu irmão escoteiro. Despeço-me agradecendo pela sua compreensão. Fraternos abraços e Sempre Alerta para Servir!

sábado, 14 de dezembro de 2019

Conversa ao Pé do Fogo. Páginas da vida.




Conversa ao Pé do Fogo.
Páginas da vida.

O auto Retrato

No retrato que me faço, - traço a traço -
às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas, de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem, mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco - pouco a pouco -
minha eterna semelhança, no final, que restará?
Um desenho de criança... Terminado por um louco!

                      O poeta O S Marden escreveu um dia que quando na vida uma porta se fecha para nós, há sempre outra que nos abre. Em geral, porém, olhamos com tanto pesar e ressentimento para a porta fechada, que não nos apercebemos da outra que se abriu. Acredito que todos nós temos uma porta. Muitos a mantém fechada outros não. Somos milhares de adultos no escotismo. Cada um interpreta a sua maneira como viver escoteiramente para ser feliz. Uns mais outros menos. Um dia também fechei a porta que sempre deveria ficar aberta como escoteiro. Tentei ao meu modo deixar que só aqueles e, que eu acreditava passassem pela porta para abraçá-los. Vi que com o passar dos anos sem perceber, alguns não quiseram passar por aquela porta. Significa que na vida deles eu não tinha mais direitos em entrar.

                     Sempre quando celebramos datas especiais que falam do escotismo estamos vendo adultos e jovens enaltecendo o que se passa em seus corações. São palavras lindas e tenho certeza à maioria a tirou dentro de sua alma. Mas o escotismo é isto? Tudo é maravilhoso? Não existem portas fechadas? Portas que não se abrem? – Todos os dias vemos aqui e ali insatisfeitos. Por quê? Não se deram bem com os demais irmãos onde montaram barraca? Graças aos céus que temos condições de analisar o bom e o mau. Assim dizem. Seremos maus? Seremos bons? Difícil dizer. Onde está a verdade? Com aquele ou comigo? Temos amigos ele também tem. Um dia fizemos a mesma promessa, a Lei Escoteira nos foi apresentada e todos nas entrelinhas disseram um dia cumprir. – Deixe-me entrar em sua porta? Posso? Não? Você não me acha merecedor? E eu o que acho de você? Um incapaz? Alguém sem Espírito Escoteiro? 

                    Não são todos com as portas fechadas. Em muitos grupos escoteiros vemos no dia a dia o afastamento de um e outro. Tentou entrar em portas daqueles que considerou amigo e não conseguiu. Afastou-se. Foi para casa. Outros não desistiram e abriram novas portas. Portas que sempre aceitava os que quisessem entrar. Mas e os mais novos também não se sentiram do lado de fora? Esperamos muito. Muito dos adultos. Nem perguntamos o que eles esperam de nós. Cada um tem sua maneira de agir, de pensar, de analisar e estamos deixando de lado um fato, um ato que esquecemos completamente. Ouvir. Ouvir sempre. Augusto Branco um sábio comentou o que seria saber ouvir: - Saber ouvir e saber calar: nisto consiste o supremo valor do silêncio. Ouvir, silenciar, pensar, falar, silenciar e pensar outra vez evitaria muita coisa dita em vão. Por falar apenas e pouco pensar, pessoas cometem erros difíceis de reparar depois. E por ouvir tanto menos do que pensam, piores erros cometem ainda...

                      O escotismo se cercou de muitos que falam muito. Esqueceram-se de ouvir. Resolvem, tomam atitudes, decidem e até falam palavras que machucam assustando uns e afastando outros que muito teriam a contribuir. A cada mês, a cada ano as cisões nos grupos escoteiros fecham portas que não vão abrir a não ser para quem os donos das chaves acham que merecem. A cada temporada de novos grupos que surgiram sempre estarão ali os insatisfeitos, os que queriam entrar por uma porta e a encontraram trancada. Seria este o escotismo que queremos? É tão difícil compreender? Elogiar alguém mesmo que não o achamos merecedor? Norman V. Peale disse que o mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela critica. Verdade? Assim confirma Sigmund Freud que disse também – Contra os ataques é possível nos defendermos: contra o elogio não se pode fazer nada.

                  Precisamos mudar para acreditar em nós mesmos. Sei que é difícil. Um grande poeta Chico Anísio já falecido (risos, grande sim) dizia que palavras são palavras, mas outro que desconheço emendaram: – Agua mole em pedra dura tanto bate até que fura. Não custa nada, faça um elogio honesto e sincero e vais ver quantos amigos podem passar pela sua porta para lhe abraçar e agradecer. Ou nos conscientizamos que somos irmãos escoteiros mesmo com nossas deficiências, ou então as portas do futuro estarão sempre fechadas para nós. Pois é, eu nunca me esqueço de BP com sua frase mais famosa – A verdadeira felicidade é fazer a felicidade dos outros. É ótimo ver os olhos sorrindo. Mesmo que estejam rindo de mim, das minhas palavras, dos meus escritos me sinto feliz. Obrigado, entre, pois minha porta sempre estará aberta para você!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Benjamin de Almeida Sodré – O Velho Lobo.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Benjamin de Almeida Sodré – O Velho Lobo.

... – Uma homenagem a um grande escoteiro. Almirante Benjamim Sodré. Seu livro o Guia do escoteiro norteou muitos como eu nas sendas do escotismo.  

- Em meados de 1952 eu tinha passado para os escoteiros. Havido em aprender tudo sobre escotismo me comprazia com minha patrulha e atividades aventureiras. Meu Chefe contava muitas histórias de BP e eu me deliciava. Um dia fazendo uma limpeza na sede fui guardar a bandeira nacional em uma estante vi lá no fundo da gaveta um livro Escoteiro. Era o primeiro que via em minha vida escoteira. O peguei como se tivesse encontrado um tesouro. Seu titulo era: - Guia do Escoteiro – Velho Lobo – Em cima escrito: - Pelo futuro do Brasil. Fiquei impressionado. Folheei algumas páginas. Incrível o que havia ali. O Chefe deixou que o levasse, mas para tomar cuidado e devolver. Fui para casa e lá fiquei toda à tarde, à noite e até o amanhecer lendo o livro, um livro que me marcou por toda a minha vida escoteira.

Hoje sei que nossa biblioteca escoteira tem joias para deglutir com gosto de aprender escotismo. Mas naquela época em uma cidade escondida ao norte de Minas Gerais era impossível ver os famosos livros do fundador. Foi nele que aprendi muito do escotismo que sei. Seu autor ficou para sempre gravado em minha memória. - Benjamim de Almeida Sodré um escoteiro e um futebolista brasileiro que ficou conhecido como Mimi Sodré. Campeão em 1910 e 1912, pelo Botafogo. Mas isto para nós escoteiros não tem muito interesse. Filho de Lauro de Almeida Sodré se tornaria um personagem muito importante na História do Escotismo Brasileiro. Interessante que foi o primeiro a ser chamado de “O Velho Lobo” e que teve muito de sua vida passagens e características semelhantes à de Baden-Powell.

Ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro e terminando seus estudos secundários prestou concurso para admissão na Escola Naval sendo aprovado em primeiro lugar. Fez brilhante carreira na Marinha Brasileira, sobrevivendo ao naufrágio do rebocador Guarani, em 1913 e posteriormente chefiando a Comissão Naval Brasileira durante a II Guerra Mundial. Tornou-se Almirante em 1954. Assim como Baden-Powell tinha uma série de talentos. Professor de Astronomia, Navegação e História da Escola naval publicou diversos trabalhos. Desde que entrou para o escotismo brasileiro tornou-se um seguidor dos ideais de B-P participando da fundação dos Escoteiros do Mar e do primeiro Grupo Escoteiro de Belém. Seu livro o “Guia do Escoteiro” de 1925, é uma das mais importantes obras do Escotismo Brasileiro.

O “Velho Lobo” teve papel fundamental na idealização e criação da União dos Escoteiros do Brasil ao reunir quatro de algumas das confederações existentes. Escoteiros Católicos, do Mar, Escoteiros do Brasil e Federação Fluminense de escoteiros. Foi honrado com uma série de títulos, entre eles o de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro. Recebeu várias medalhas de mérito, presidindo a Ordem do Tapir de Prata a mais alta condecoração do escotismo brasileiro. Faleceu em 1º de fevereiro de 1982, dois meses antes de completar 90 anos. Atualmente diversos grupos em todo o Brasil honram seu nome de Almirante Benjamim Sodré. Uma homenagem de poucos escoteiros do Brasil. Vale notar que no passado a revista “O Tico-Tico” uma das principais publicações infantis do país, abrigou em 1922 uma coluna ESCOTISMO na qual o pseudônimo de “VELHO LOBO” dava sua importante contribuição para a formação da juventude brasileira”. Após escrever o “Guia do Escoteiro” em sua época foi reconhecido por muitas personalidades entre as quais Coelho Neto, Rui Barbosa e Olavo Bilac.

Reconhecido como um "IMPOLUTO MAÇOM", dadas suas qualidades de caráter foi eleito membro honorário e escolhido Deputado da Assembleia Legislativa do Grande Oriente do Brasil, chegando a exercer o cargo de Grão-Mestre. Ocupou várias posições importantes na hierarquia naval, tendo-se destacado em combate e durante um naufrágio onde salvou bravamente dois colegas oficiais e um marinheiro lutando contra condições adversas no mar. Ocupou várias posições importantes na hierarquia naval, tendo-se destacado em combate. Quando o Brasil estava em guerra contra os países do eixo, (Alemanha-Itália) foi encarregado de comandar o petroleiro Marajó, único da frota brasileira a transportar de Trinidad, nas Antilhas, o combustível necessário à nossa Esquadra. Apesar de ser presa cobiçada pelos submarinos inimigos, o Marajó foi levado a bom termo, cumprindo o nosso Benjamin Sodré a perigosa missão. Isto foi em 1940/41. Com a vida ligada aos Escoteiros, à Marinha e à Natureza, e dotado de fina sensibilidade e misticismo, Benjamin Sodré deixou-nos um texto, inspirado por ocasião da celebração de uma missa rezada em 28 de setembro de 1948 na igrejinha da Boa Viagem (Niterói), pelo Bispo D. João da Mata:

Eis o texto:
"Há 12 anos eu sou o sineiro da Boa Viagem. Sineiro convicto, emocionado. Entretanto, todos sabem que não sou religioso. Se o Bispo fizesse alusão a isso, como eu responderia? Diria que faço tudo por Zi (apelido carinhoso da esposa), que tanto tem se dedicado à sua linda capelinha. É a ela que eu sirvo, trabalhando pela igreja. Mas, também, é verdade que venero as imagens no que elas simbolizam: a Virgem Maria representa a Bondade e o Amor Infinitos das Mães; minha mãe, minha esposa, minhas filhas. São Jorge, o padroeiro dos escoteiros, é o cavaleiro indômito, exemplo de fortes virtudes; São José, Santa Joana D'Arc... Jesus sintetiza a moral cristã, que eu sigo como moral, como seguiria as normas de Confúcio, Buda e todos os grandes filósofos moralistas pregadores. Os padres, sempre os olhei com simpatia e admiração; são homens que se sacrificaram por um ideal de fé, privando-se do que a vida tem de mais belo, por amor ao próximo. Por todos esses motivos, sou há 12 anos, com convicção, o sineiro da Boa Viagem. E não creio que alguém assista à Missa com maior emotividade do que a minha. Oh! O que aquela capelinha representa na minha vida!... Aquela igrejinha é muito nossa e, por ela, por amor a Zi, tudo farei."

Escritor e poeta, Benjamin Sodré legou-nos algumas páginas inspiradas, de puro lirismo... Este é um trecho do texto que chamaríamos de "Contemplando a manhã": - “Sem nos apercebermos, enquanto o espírito está suspenso na contemplação maravilhosa, quase as sombras foram afugentadas... Uma franja avermelhada coroa, agora, todo o Oriente. A mata despertou toda... Os trinados multiplicam-se, são incontáveis... O mar está azul. Nas ilhas, a vegetação vai tomando o colorido habitual... Surgem os primeiros rumores da vida humana... O sino da ilha bate sonoro, cadenciando o sino da alvorada... Mais alguns segundos, o sol irrompe prodigioso, pondo por todo o mar, em todas as árvores, uma faixa forte e viva de luz dourada... Vida!... Vida!... Tudo estreia em intensa vida, com o ressurgimento do Grande Final Criador!...”.
Almirante Benjamim Sodré – (10 de abril de 1892 – 1º de fevereiro de 1982).

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Estou indo embora.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Estou indo embora.

- Dedico este poema em prosa, sem fazer das palavras um eco, aqueles que me escreveram contando suas adversidades, aqueles Chefes que amam o escotismo e por motivos diversos tiveram que sair.

- Oi Escotismo, estou indo embora desta vez é para sempre... Espero que guarde de mim algumas lembranças. Espero ainda não ter passado na sua filosofia, sem ter deixado algum tipo de recordação. Sei que muitas vezes posso não ter sido correto com seus desejos, suas normas e as ambições de muitos que estão ao seu redor. Sim de querer dominar a tudo e a todos sem ao menos dar uma chance de retrucar, pois quando se é admoestado ou até mesmo ameaçado por querer ter liberdade de pensar é difícil continuar... Espero que entenda que a minha vontade é controlada por um Ser Superior e é Ele quem, na verdade, permite, ou não que as coisas aconteçam. Mas cá entre nós, houve época em que você também não ajudou muito, não é mesmo? Você deixou que alguns poucos se assenhorassem de seu método, que sabemos não compartilharam, e criou em suas volta alguns prepotentes, donos da verdade que nem mesmo a simplicidade da Lei souberam transmitir aqueles que queriam ajudar.

Convenhamos que você há de convir que existiram muitos bons momentos que compartilhamos juntos durante o tempo que o amor durou. E foi nesse período que pessoas entraram e saíram de sua vida e assim como eu devem ter deixado suas marcas; boas ou más, não importa deste que você saiba onde pisa e aonde quer chegar com alguns que ainda não entenderam que ali não era o seu lugar. Eu Escotismo sempre levei em consideração sua lei, afinal não fiz uma promessa para você? Tentei de todas as maneiras ser cortes, leal, e educado amigo de todos e levei em conta que sorrir nas dificuldades devia ser meu ponto de honra para prosseguir. Mas foi difícil, você sabe como é já viu tantos que chegaram e já partiram alguns nem deixando saudades e nem sei se tiraram proveito dessa breve passagem.

Peço perdão se alguma vez o deixei aborrecido e triste, sei que vai sentir a dor do abandono, da mágoa da indiferença, e eu mesmo fico desgostoso e me sinto impotente diante de tantos fatos que se sucediam sem que você pudesse controlar. Tudo bem eu sei que não durei o suficiente em sua vida para que se concretizassem os sonhos que um dia me ofereceu. Não levo dissabores só levo saudades quem sabe do seu sorriso quando eu conseguia alguma vitória com nossos meninos e nunca me esqueci o tanto que vibrei junto a você, e todas as vezes que fazia o lobinho e o Escoteirinho sorrir. Tive percalços problemas afinal era novo na sua seara, mas pense bem se fizermos um balanço verá que tivemos muito mais alegrias do que tristezas, muitos mais sorrisos, do que lágrimas.

Uns poucos que chegaram antes de mim ou mesmo no mesmo espaço que habitei, não tiveram nem ao menos a decência de me dar uma saudação, um aperto de mão e pedir um abraço seria querer demais. Eu sei que a gente esquece depressa demais das coisas boas. Parece que só o negativo é que deixa marcas... O Positivo passa despercebido, como se fosse uma obrigação de Deus colocar na vida das pessoas, principalmente de nós chefes e escoteiros apenas coisas que nos fazem feliz. Estou indo embora com o coração partido, deixo muitas saudades e fico triste sentindo muito por não ter sido o que você esperava de mim. Não sei se um dia vou voltar apesar de ter você sempre na mente junto de mim e no meu coração estará.

Adeus... Meus olhos estão vermelhos, uma vontade imensa de chorar, mas dirão que sou um fraco por não saber aguentar tanta maldade, tanta adversidade que criaram para mim sem eu ao menos poder me defender. Não sou um guerreiro, um lutador um vencedor de causas que não poderei vencer. Assim como o vento eu cheguei e estou partindo. Levarei comigo muitas saudades, dos meus tempos com você, nos nossos acampamentos, das noites estreladas, da fogueira faceira, nas nossas cantorias e pode não acreditar, mas eu ainda guardo na mente minha Promessa onde prometi tantas coisas que aos trancos e barrancos tentei cumprir. Sei que não sou tão importante para você, ao seu lado tem muitos que lhe dedicam mais amor e carinho do que eu dediquei. São tantos os que chegam e sinceramente espero que eles consigam realizar tudo o que eu não consegui! Sei que não irás chorar com minha partida, mas se guardar um sorriso mesmo que seja breve eu ficarei eternamente agradecido.

Escotismo receba o meu Sempre Alerta nos meus últimos momentos pisando essas terras que me ofereceste. Aí vem um novo ano, que ele seja abençoado e repleto de instantes inesperados e inesquecíveis. Que seu sonho aconteça que você cresça para abancar todos os jovens que precisam de você. Mas meu bom e amado escotismo, cuidado com seus correligionários, muitos deles estão no lugar errado e sinceramente eles nem sabem onde é o seu lugar! E quando tiver gente boa, cumpridor de sua Lei conte comigo... Beijos carinhosos e um Fraterno Abraço.

Assinado: Um Chefe que nunca foi e que disseram nunca ter sido.