domingo, 30 de setembro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Código de Gilwell (Por John Thurman. Gilwell Chefe de Campo).



Conversa ao pé do fogo.
Código de Gilwell
(Por John Thurman. Gilwell Chefe de Campo).

Nota: John Thurman estava entre os primeiros chefes de campo do Centro Internacional de Formação em Gilwell Park, 1943-1969. Isto é, estas palavras não são do tempo de hoje, mas o seu significado tem um efeito enorme agora. Essas linhas se referem, principalmente, à relação que deve existir entre formadores e participantes do curso. Os pontos não são em ordem de importância, são todos importantes e têm valor em si:

1 - Oferecer uma "amizade" genuína a todos os chefes que vêm para aprender. Nós vamos dar-lhes a experiência que temos acumulado durante nossa vida Escoteira. A amizade é também a confiança, é acreditá-los tão capaz quanto nós mesmos. Aqui vamos encontrar muitas pessoas que são mais capazes do que nós. Qualquer ensino - aprendizagem é mais fácil quando existe um clima de amizade.

2 - Nós oferecemos "entender" seus problemas e necessidades a suas deficiências e limitações, devemos sempre lembrar que, se você vir a um curso é porque quer aprender, “não sei tudo, mas quero saber”. Nossos líderes são uma amostra do que a nossa sociedade. Deve haver em muitos o sucesso em suas carreiras e outros têm demonstrado sua capacidade em vários campos, especialmente dirigindo outros. Haverá chefes que não têm formação, mas fizeram o seu caminho na vida por causa de seu esforço e a sua tenacidade. Outros ainda são pessoas que não conseguiram na maioria nas empresas que trabalham se comprometer. Eles podem ser ricos ou pobres, profissionais ou artesãos, empresários, trabalhadores, etc. Nós vamos treinar as pessoas (e cada um é diferente dos outros) e nosso trabalho é fazê-los crescer e se desenvolver dentro sua própria personalidade individual, de modo que eles possam servir os meninos. Não tente cortar como uma tesoura o que vai dizer. Cada um é diferente. Se eu tiver nozes eu não espero que vá ter maçãs após o curso, não, mas vou tentar polir o máximo possível para ter as nozes no final.

3 - O "exemplo" é muito importante, e temos de mostrar o que somos aos outros. Se acreditarmos no Escotismo, ele vai continuar não só com palavras, mas com ações, atitudes, como agir, etc. Em outras palavras, dar o exemplo. As palavras se vão com o vento. Querer que a promessa estivesse viva, viva-a primeiro; se queremos que a fraternidade Escoteira seja uma prática primeiro vamos aos fatos, falar sozinhos é uma coisa e agir de outra.
 
4 - devemos ser "eficiente", isso não significa que somos um "sabe-tudo", mas o que nós poderemos fazer corretamente. É melhor dizer "não sei" do que afirmar, falar ou pensar sobre o que não sabemos, e que os participantes possam sair do curso sem equívocos.

5 - Nós temos que ser "atualizados" em nossos conhecimentos. O Escotismo é um movimento e um movimento está sempre em mudança, temos que saber finalmente, se ele deixou de Programar, se fez ajustes no último quadro, etc.; ver não é o que é melhor: e sim o poderíamos manter como ponto de partida e isto só nos atualizando através de leituras, discussões, comentários sobre os cursos chegaremos lá. Não só estamos dispostos a dar, mas para receber.

6 - Os participantes do curso são "adultos" e temos que tratá-los como Adultos sempre. Podemos ter de perguntar algo e exemplificar com se eles fossem escoteiros, mas mesmo assim considerar que são adultos agindo como escoteiros.

7 - Devemos ser "positivo" no que dissermos. Em um curso, não devemos questionar o que já foi aprovado, um curso não é uma conferência que vale a pena olhar para atualizar o existente. Critérios devem ser deixados bem centrados.

8 – Devemos ser "entusiasta". Pelo entusiasmo de muitos líderes se expandiu Escotismo. Tudo pode ser compreendido ou perdoado num formador (adestrador), mas a falta de entusiasmo podem transmitir pessimismo e muitos valores contrários.

9 - Devemos ser "leal".  Leal a todos quem trabalham e colaboram leais ao nosso movimento, leais a política a ser seguida e em um momento, qualquer palavra contra a lealdade é um escândalo para os participantes verdadeiros em nossos cursos. O Adestrador (formador) em seus cursos ou outros eventos de formação não é quem deve questionar a política, administração, a organização ou pessoas. Nosso trabalho como Adestradores (formadores) é apoiar, ajudar, ajudar, etc.

10 - Ter "senso de humor". O treinamento para ser eficaz, deve ser bom, mas se perdem em forças rejeitar o que não gosta, portanto, um formador que não consegue superar os momentos da vida difícil fica amargo. Um senso de humor vai fazer-nos rir de nós mesmos, dificuldades, etc. E nós vamos apresentar o treinamento com uma atmosfera amigável.

11 - "Esforço" é uma palavra que devemos ter em mente. Esforço para melhorar a nós mesmos todos os dias, e todos os esforços para dar efetivamente o que esperamos conhecer cada participante e treiná-los de uma forma que atenda a sua formação suas necessidades; esforços para tentar ser o melhor e não se contentar com pouco, esforço para atingir o cume e, não ficar contente em permanecer no vale.

12 - "Tradição" é um bom servidor e bom servo, um bom professor e mais pobres padrão. Formação é a guardiã das tradições, mas devemos fazê-los conhecer o Escotismo e não seus freios. Tradição é o passado que nos impulsiona a servir melhor, para que possam se atualizar. “A tradição não deve frear“, porque se antes eles fizeram isso, a plataforma para agir no espírito de ontem ou de hoje é quem nos ajudará sempre. Hoje, amanhã e sempre.

 Todos os itens não são assim tão importantes, mas apenas uma reflexão sobre alguns pontos que podem nos ajudar a melhorar, a nós mesmos como formadores. Claro, se tivermos em mente todos os dias e, especialmente, quando agimos como formadores.

sábado, 29 de setembro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Totens, uma antiga tradição esquecida.



Conversa ao pé do fogo.

Nota - Totem significa o símbolo sagrado adotado como emblema por tribos ou clãs por considerarem como seus ancestrais e protetores. O totem costuma ser um poste ou coluna e pode ser representado por um animal, uma planta ou outro objeto. ... Os totens são vistos como talismã, objetos de veneração e de culto entre o grupo.

                      Esta é uma tradição muito antiga no escotismo, parte da mística escoteira que vemos citada quando chefes mais idosos são mencionados e que atualmente está em desuso. Por isso que Benjamin Sodré era chamado Velho Lobo, Glaucus Saraiva era conhecido por Uirapuru, Jarbas Pinto Ribeiro era Quati e tantos outros.  Além da tradição passada de ouvido a ouvido, existe uma base documental, o livro Sempre a Direito, publicado em Portugal pela Editora Educação Nacional, escrito por Léopold Derbaix, com citações do próprio Baden-Powell. No capítulo “Os Tótemes”, páginas 298 e 299, o autor faz a seguinte explanação que está transcrita na forma original, sem mudanças no idioma ou estilo:

                          “Cada escoteiro terá, igualmente, o seu nome de guerra: o seu tóteme”. Eis aqui uma inovação que muita gente critica e que, pelo contrário, revela a admirável sagacidade pedagógica de Baden-Powell. A mania das alcunhas e dos sobrenomes constitui um fato inegável, quer na caserna, quer nos colégios. Em vez de um nome puramente convencional, quase todos preferem designar os indivíduos por uma expressão incisiva ou maliciosa, nem sempre inocente, através da qual ressaltem os seus pontos fracos ou seus defeitos.

                         Baden-Powell aproveita esta mania, que sabe perfeitamente ser impossível de combater; não só a torna inofensiva, mas tira dela todo o partido possível, utilizando-a com uma finalidade educativa. “Ele gosta que se dê um nome de guerra a cada escuta, o nome de qualquer animal que possua um sinal característico da personalidade do interessado e que lhe recorde uma qualidade que lhe falta ou um defeito que ele deve combater.”

          Nos grupos escoteiros brasileiros que adotavam esta mística, a prática costumava ser que cada membro ao entrar para o grupo, mesmo que lobinho escolheria um animal para ser chamado e servir de alcunha. Ao mesmo tempo, também poderia escrever uma pesquisa sobre o referido animal, descrevendo seus hábitos e características. Não era recomendado que fossem nomes de patrulhas do grupo nem totens que estivessem sendo usados por outros jovens naquele momento, para evitar confusões. Os que voltavam a ser usados em outros tempos recebiam números em romanos, tipo Jacaré II, Panda III.

          A prática desta tradição revela situações inusitadas promovidas pelos jovens que valem alguns relatos. Muitos destes totens acabam virando apelido de rua dos jovens, especialmente em lugares onde estes têm convivência também fora do grupo escoteiro. O inverso também ocorre com o apelido da rua virando o totem, quando já era um nome de animal. Outras vezes, o totem se estende para o seu irmão mais moço, que fica conhecido pelo diminutivo, algo tipo o coruja e o corujinha. Por vezes o escoteiro escolhe um totem e os outros acabam adequando o novo apelido, como o menino que escolheu pastor alemão, mas dada a sua personalidade, o totem foi adaptado para cachorro louco.

          Enfim, esta prática antiga é muito interessante e pode se tornar uma boa ferramenta para evitar o bulling, uma vez que o próprio escoteiro escolhe o apelido, evitando situações jocosas ou pejorativas. Particularmente, a empregamos em nosso grupo escoteiro com sucesso até os dias de hoje, onde todos, inclusive os chefes, tem seu totem.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Histórias para contar. Era uma vez... Um planeta azul chamado Terra!



Histórias para contar.
Era uma vez... Um planeta azul chamado Terra!

Nota – Uma história fictícia de Baden-Powell na sua nova morada no céu. Apenas para divertir, pois se existisse realmente a Colônia Fraternidade seria um local ideal para reviver toda a felicidade de um dia ter sido escoteiro.

               A vista era maravilhosa, debaixo daquele enorme castanheiro em um banco simples de madeira feito por ele mesmo estava sentado Lord Baden-Powell. Todas as tardes ficava ali olhando seu planeta azul que se destacava no infinito entre milhares de estrelas brilhantes. Suas lembranças ainda estavam vivas. Morava em uma Colônia que tão singelamente batizaram de “Fraternidade”. Era uso fruto dos Escoteiros que um dia partiram para as estrelas.

               Lord Baden-Powell fazia questão de receber todos com um sorriso com um aperto de mão um abraço dos que chegavam da terra. Sorrindo dizia que armassem a barraca no campo mais verde, nas campinas mais florida onde o jorro de uma nascente ou cascata acontecia, e árvores frutíferas que proliferavam. Absorto em seus pensamentos Lord Baden-Powell viu chegar seu amigo Kenneth Maclaren. Amigos de longa data desde a Guerra do Transvaal e do primeiro acampamento em Brownsea. Eram grandes amigos e sempre se reuniam ali.

                - Recebi seu recado General – Disse Kenneth. Lord Baden-Powell sorriu. Era um amigo inseparável. Outras colônias o queriam, mas ele recusou todas. Era um amigo de verdade. – Sabe Kenneth, preciso de um favor seu – As suas ordens meu General! – Baden-Powell riu e prosseguiu. Tem vários anos que não vou a terra e não sei como vai o escotismo por lá. Você sabe que breve eu irei para uma colônia de mais luz e de lá não sei se posso ajudar os escoteiros da terra. Tire uma semana faça um percurso no planeta e na volta me conte o que viu. Veja como está o método o aprender fazendo e se o sistema de patrulha está perfeito. Veja também se eles mantem muitas das tradições que deixamos.

                – Irei nesta semana mesmo General. Kenneth se despediu não sem antes deixar lembranças a Lady Olave St. Clari Soames, a esposa de BP. Logo que ele partiu Lord Baden-Powell avistou John Thurman com recém-chegados em um curso de chefes. Ele sabia que John um antigo diretor de Gilwell Park era mestre em cursos deste tipo. Sua colônia tinha muita gente boa. 

                   Na semana seguinte seu amigo Kenneth o procurou. – Já de volta? Disse BP. Já General. E olhe não trago boas notícias. BP só ouvia. O convidou para sentar no banco do Castanheiro seu lugar preferido. – Eu sei General o senhor fez questão de fazer uma réplica de um que existia em Mafeking. Lembro que o senhor adorava ficar lá sentado pensando sobre a guerra. Pois é, mas me conte.

                  - Para dizer a verdade General o escotismo hoje na terra não é mais o mesmo. Estão fazendo grandes modificações. Falam em escotismo moderno, estão esquecendo o método, deixaram de lado a associação para se transformarem em organizações. Uma liderança mundial chamada de WOSM ou OMME tem aprontado poucas e boas.

                  BP. Já sabia deste pormenor. Não havia como mudar. Olhe General rodei vários países, mas demorei mais no Brasil. Sei que o senhor nunca esteve lá e é uma pena. Um belo país com excelentes chefes voluntários acreditando que podem ajudar a juventude. Pena que lutam só. Os dirigentes da nação desconhecem o escotismo e aproveitam deles para plantar árvores, limpar praças, ajudar nas calamidades e carregar viveres para os necessitados. Eu sei que a ajuda ao próximo é bem vinda. Mas acampamentos? Técnicas Escoteiras? Quase nada. Para eles valem os encontros nacionais e internacionais.

              – Me diga falou BP sabe se o Escoteirinho de Brejo Seco conseguiu ir em um Jamboree? Nem pensar General. A taxa que cobram é só para ricos. Hoje para se fazer escotismo tem preço para tudo. A liderança taxa tudo que fazem. Dizem que não há almoço grátis. Tem uma loja que só eles podem vender seus produtos e os preços não são acessíveis. Os mais pobres e humildes não tem vez. A palavra de ordem é: - Escotismo é para ricos! – Olhe General, a direção escoteira brasileira se apropriou de muitos termos e programas que o senhor fez. Registrou tudo como se fossem os donos. Surgiram outras associações e são tratadas a ferro e fogo. Todas levadas às raias dos tribunais de justiça. O sexto artigo foi esquecido.  

                 As mudanças surgem por meia dúzia. Não existem pesquisas e consultas as bases. Um estatuto feito por eles mesmos ditam as normas. Produzem fatos para continuarem na liderança, só falam em escotismo moderno, estão apagando nosso passado, as tradições acabando. Quer saber general? É comum colocar o lenço amarrado nas pontas e se dizer Escoteiro. Tudo aquilo que o senhor falou de garbo e boa ordem não existem mais. Eles agem sem consultar ninguém. Não há transparência do que fazem.

                  Lord Baden-Powell pensativo olhou para o seu planeta azul. Pediu ao Senhor que suas idéias não fossem desvirtuadas, que o amor e a fraternidade nunca deixassem de existir. Ele lembrou da conversas com John Thurman. – General, em 1954 antes de vir para cá, deixei para eles uma mensagem onde escrevi com todos os meus conhecimentos adquiridos uma carta que intitulei de os Sete Perigos. Falei sobre administração, sobre centralização, Seriedade demasiada, falei sobre exclusividade transparência e austeridade. Disse o que o senhor pensava sobre o escotismo entre os pobres e terminei dizendo que os únicos capazes de por o escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Finalizei dizendo que se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado autossuficientes, poderemos arruinar o Movimento.

                 Lord Baden-Powell perguntou ao seu amigo Kenneth: Sabe me dizer se o Vado Escoteiro já chegou? – Não General, ele ainda vai ficar na terra por mais alguns tempo. Anda a escrever sobre escotismo como o senhor pensava, mas não é levado a sério pelos dirigentes.

                 BP calou. Viu que era a hora do cerimonial de Bandeira que todas as tardes acontecia em sua colônia. Pelo menos ali a disciplina, a fraternidade e o respeito era comemorado todos os dias da semana. – Parou cumprimentou a todos na enorme ferradura e ao comando de arriar a bandeira fez sua saudação Escoteira com orgulho.  Ele sabia que nunca deu procuração a ninguém para falar em seu nome. Afinal o escotismo não tinha dono, ele era dos que quisessem seguir sua cartilha. Olhou de novo o planeta azul ajoelhou e pediu ao Senhor que fizesse da Terra um mundo feliz para todos os Escoteiros!

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Escotismo... Eu te amo!



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Escotismo... Eu te amo!

Nota – Apenas uma crônica que o vento jogou no ar, se molhou com o orvalho da madrugada e como se fosse uma folha de papel qualquer caída em uma fonte de águas cristalinas sem poder ler o que estava escrito para ver até onde podemos alcançar nos sonhos escoteiros tradicionais...

O que irei escrever? Olho para a tela do computador que mudo nada me diz. Pense Chefe, afinal para que serve uma cuca escoteira? Para dizer que sabe fazer o pão com a melhor massa do padeiro? Olhei de novo a tela e lembrei-me do meu espelho. Danado de espelho. Sempre zombando de mim. – Cara tu tá com cara de quem não gostou da sopa do cozinheiro no seu acampamento mateiro que se foi e nunca mais vai voltar? Ele gosta de desfazer de mim, mas no fundo me ama.

Tiro os olhos da tela do computador e me volto ao que vi no espelho. Que cara meu! Lembrei quando ao meu lado na internação, um idoso que pensei ser mais que eu levantava com dificuldade nas difíceis camas que inventaram para os hospitais. – Quer ajuda? Perguntei? Ele riu. – Você? Danado de idoso, rindo de mim e olhe ele estava ali há três semanas e eu dois dias. Seu filho acompanhante entrou e perguntou por que estava rindo: - Olhe, o velhote me ofereceu ajuda!

Passo - Chega de hospital UPA ou o escambal. Meu espelho gargalha. Digo para ele: - Espelho, espelho meu, existe alguém mais feio do que eu? Ele deita no chão de rir. Eita espelho danado. Sorrio e me vou. Já o conheço de longa data. Tento pensar um tema para escrever. São tantos que escrevi que preferi não plagiar. Ainda ontem escrevi uma historia sem eira nem beira sobre a lenda do Broche de Ouro. Lenda? Sei não, mas fez sucesso na minha tropa quando o vimos pela primeira vez. De ouro? Bem não sei, era apenas um botton simples, mas lindo de morrer. Viva a ex-UEB!

Quando fiquei sabendo dele nunca tinha visto. Foi Caramelo quem chegou espavorido na Oficina de meu pai freando com um toque na roda da frente de sua bicicleta e gritando: - Tem gente nova no pedaço! Tem um homem com um broche de ouro escrito UEB! Espere, papai vai chegar logo. Meia hora depois estávamos fuçando os quatro cantos da cidade a procura do homem do broche de ouro. Nada. Na estação ferroviária o Trem Rápido para Vitória estava saindo e dentro do vagão Caramelo alertou: La está ele! Não vi, o trem pipocou na curva e sumiu.

Alguém sábio escoteiramente andou escrevendo sobre o Escotismo Tradicional. O que tem de caso com o Broche de Ouro? Não sei. Meu botton de tanto limpar foi perdendo a cor. Demorou para comprar outro. Isto é tradicional? Meu espelho me diz que sou burro. Claro que é velhote de araque. Tradição... Para que existir? Um celebre poeta que não lembro o nome disse que quem não tem passado não tem futuro. Tem? Escotismo se enquadra?

Não sei e nem posso afirmar, mas existiu ou ainda existe um desejo de se fazer nos novos escoteiros e chefes uma lavagem cerebral em nome do moderno. – Esqueça cambada! O passado foi bom para a velharada, para os tais Velhos Lobos (ainda bem que sou um velho Escoteiro). Mas afinal temos escotismo tradicional? Alguns prodígios humanos dizem que não existe tradição. Outros dão no pé da tal EB e fundam seus feudos chamados de escotismo tradicional.

Gosto de ler comentários dos prodígios escoteiros que conhecem a fundo a filosofia de Baden-Powell, do que ele pensa, do que ele escreveu do escotismo moderno e tradicional. Sei não... Não me enquadro. Escoteirei lobiasticamente meninote de seis anos e meio, escoteirei por montes e terras desconhecidas para mim naquele tempo. Escoteirei senioresticamente por plagas nunca antes imaginadas. Apertei milhares mãos de irmãos escoteiros e então sou o que? Tradicional ou moderno?

Mas não importa não é espelho, espelho meu. O escotismo tem seus percalços chamativos. Quem não sonha com a natureza? Quem não quer ouvir o cantar de um sabiá-laranjeira ou um Uirapuru nas madrugadas de uma floresta encantada? Quem não quer ver o por e o nascer do sul nos longínquos picos do mundo ou mesmo do Brasil? Subir nas Agulhas Negras, no Itatiaia ou na Bandeira tem um gostinho de lembranças tradicionais pra mim é claro.

Hora de parar. O corpo enxuto do Velho Chefe Escoteiro sabe que a elasticidade de suas veias onde corre o sangue escoteiro já não é mais as mesmas. Volto a Gilwell, na grama verde que nunca pisei, quem sabe também na modernidade e a saudade que muitos querem ainda ter nas suas andanças ou arruaças por campos e montes do meu Brasil. Que a EB sem consulta, menosprezando milhares de adeptos agindo de forma autoritária, fazendo seu trabalho de lavagem cerebral continue. A Escoteirada de hoje ainda vibra com o místico, com o passado e com as tradicionais lendas escoteiras de Baden-Powell. Lendas?

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Vendo o dia passar...



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Vendo o dia passar...

Nota: - Apenas reminiscências de um dia de chuva intermitente, vento gelado e o Velho Chefe Escoteiro com a manta de tantos anos escoteirando a meditar aqui um pouco do que pensa e fez na vida.

Lá fora uma garoa “braba”... Não dá para tirar meu pensamento dos guardados da mente e meditar sobre o que vou escrever hoje. “Chove chuva, chove sem parar” musica de quem? Jorge Ben Jor. Canto baixinho tentando entender a letra já que meu amor está comigo até o fim dos meus dias. “Pois eu vou fazer uma prece, prá Deus, nosso Senhor, pra chuva parar de molhar o meu divino amor”. Ela o meu amor é demais.

Dois dias sábado e domingo as voltas com este meu pulmão que me nega o ar que preciso para sobreviver. No corre, corre para o Pronto socorro até que resolveram me internar. Uma noite mal dormida, mal respirada, numa enfermaria de uma UPA cercada por gemidos e pedidos a Deus para melhorarem. Mas ela lá o meu amor ao meu lado me dando “todo carinho e compreensão”. Tentando respirar meu pensamento voou nas altitudes dos Andes onde nunca irei botar os pés a não ser em espírito.

Uma vez escrevi que quando partir desta para melhor não irei morar no Grande Acampamento do céu. Darei uma passada lá para abraçar meus amigos que lá estão, quem sabe se me der à honra dar um aperto de mão a BP e partir rumo às estrelas. Quero conhecer a constelação de Carneiro, porque me dou bem com esse animal. A Constelação da Virgem porque o nome me lembra de alguém. Quem sabe Andrômeda, Pégaso, ou mesmo o Cruzeiro do Sul.

Quero ir além das estrelas para ver o que tem lá e não tenho medo de descobrir. Depois de muitas andanças vou voltar a terra para sentar no topo do Kilimanjaro, dar um oi ao Monte Quênia onde BP admirava nas tardes modorrentas o por do sol na sua querida Paxtu. Voltar a minha terra para ver a Mata do Tenente, a subida do Pico do Ibituruna, a Serra da Piedade, as corredeiras do Rio doce, Crenaque com meus amigos índios, a lagoa das Sombras... É, tem lugar demais para ir se Deus nosso Senhor deixar.

Nestes últimos tempos fiz um balanço em minha vida, na escoteira é claro porque a outra não tenho arrependimentos do que fiz ou deixei de fazer. Sempre sonhei um escotismo de amor, de fraternidade, de cortesia de bondade. Um escotismo de cavalheiros e esse era o escotismo que participei e nunca deixei de participar, mas sem me registrar na EB. A minha querida UEB não é mais o Rataplã do Arrebol. Gosto de falar, de dizer o que penso e sempre me baseado em uma experiência própria na vida escoteira que levei e levo sem admoestações de quem não merece nem um Sempre Alerta.

Às vezes amigos me oferecem o registro em suas unidades locais. Agradeço. Sou escoteiro independente do registro e ninguém tira meu curriculum feito de amor de seriedade com a Lei e a Promessa Escoteira. Não me dediquei e nem irei me dedicar a outra Associação Escoteira a qual respeito e prezo. Mas o escotismo tem tudo para sobreviver independente desta direção inapta, politiqueira em busca de um poder do nada só para deixar escrito o que fizeram o que não tem nada que os deixarão na história.

E a chuva continua... Leve intermitente. Volto à mente nos meus tempos de acampamentos de reuniões profundas, de amizades inesquecíveis, de um sempre alerta amigo e sincero. Ah! O tempo... Sempre é bom lembrar e eis que me vejo em volta de uma fogueira com vários chefes sorridentes de olhos fixos no fogo que é uma chama que embriaga e hipnotiza a que está ali.  

Um silêncio profundo... Uma aragem soprando distraída espalhavam fagulhas no ar. Alguns de olhos fechados sonhavam o impossível viajando em lugares que ninguém poderia imaginar. Joe Lobo saltou de onde estava e todos se assustaram com aquele homenzarrão em pé a sorrir e falar: - Chefes, qualquer caminho que decidam tomar, existe sempre alguém para dizer que vocês estão errados. Existem sempre dificuldades surgindo para que acreditem que as críticas são corretas. Pensem antes de agir, quando uma porta se fecha, outra se abre. Muitas vezes nós ficamos tanto tempo olhando, tristes, para a porta fechada que nem notamos que se abriu outra para nós...

Joe Lobo era “porreta” sabia o ponto certo e a hora certa para comentar. Ele com sua voz sublime encerrou sua fala dizendo... Muitas pessoas entrarão e sairão de suas vidas, mas apenas os amigos verdadeiros deixarão pegadas em seu coração! A fogueira se iluminou. O violão cantou uma canção, sorrisos se espalharam no ar e todos de pé se puseram a aplaudir Joe Lobo, um Chefe Escoteiro de verdade!

Abraços meus amigos e até uma próxima crônica.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Escotismo... Uma filosofia de vida!



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Escotismo... Uma filosofia de vida!

Nota - Muitos de nós quando sentimos toda a força filosófica do escotismo parece que transformamos nossa maneira de ser. Os amigos, os parentes nos veem com outros olhos. A grande filosofia escoteira nos conscientiza de que não somos melhores que ninguém, só estamos aqui neste mundo aprendendo... Nada sabemos... Somos apenas aprendizes e viajantes do tempo.

                     É bom, é gostoso, é agradável, um contentamento incrível, é mais que atraente, pois insinua na gente um bem estar simpático e tentador. Você se sente outro. É como se o mundo lhe mostrasse um novo caminho que você ainda não tinha conhecido. Uma fraternidade. Milhões como nós espalhados pelo mundo. É assim mesmo? Claro, a maioria de nós tem o escotismo no coração. Fazemos coisas incríveis, nunca antes pensadas e agora uma realidade em nossa vida.  

                    Alguém por acaso sentiu o prazer de um acampamento, de um Fogo de Conselho, de um alvorecer com o sol vermelho aparecendo em uma montanha distante? Pense veja e diga, uma bandeira te atrai? Uma turma cantante e sorridente em volta dela não marca? E sua promessa? Já pensou um dia em fazer uma? Prometer... Eu prometo, pela minha honra! Isto marca. Vai fundo na gente.

                 Dizem os doutores que filosofia de vida é a expressão que serve para descrever um conjunto de ideias ou atitudes que fazem parte da vida de um indivíduo ou grupo. A filosofia de vida também pode ser definida por uma conduta que rege a forma de viver de uma pessoa. Muitas vezes essas normas são marcadas por uma religião, como por exemplo: filosofia de vida budista, filosofia de vida cristã, e em nosso caso o escotismo.

                 Muitos de nós quando sente toda a força filosófica do escotismo parece que transformamos nossa maneira de ser. Os amigos, os parentes nos vêem com outros olhos. A grande filosofia da vida nos conscientiza de que não somos melhores que ninguém, estamos aqui neste mundo aprendendo... Nada sabemos... Somos apenas aprendizes e viajantes do tempo.

                Sabemos que nem toda estrada é feita de grama verde, macia, que nos transporta para o paraíso. Nesta estrada existem espinhos, pedras no caminho, mas nossa vontade é tão grande em acertamos que pulamos o obstáculo e seguimos em frente. Sempre procuramos espalhar boas vibrações por onde passamos. Isto faz um grande bem para quem, as emana espontaneamente. Como também para que as recebe. Em verdade, quem faz o bem; o recebe em dobro.

               Sentimos felizes em fazer o bem. Nosso Fundador sempre disse que a felicidade existe quando fazemos alguém feliz. Não foi Mario Quintana quem versou melhor e disse que trazemos ao nascer, nossa filosofia? As razões? Essas vêm posteriormente, tal como escolhemos na chapelaria a forma que mais nos assente! Gritamos aos quatro ventos que temos o escotismo na mente, junto de nós e em nossos corações. Muitos dizem que o escotismo é tudo é uma forma saudável para ser feliz.

                   Outro poeta dizia que o truque da filosofia Escoteira é começar por algo tão simples que ninguém ache digno de nota e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda. Será isto mesmo? Eu acho que sim. Afinal quem presa e vive a natureza não está mais proximo de Deus? Ou somos aqueles que ainda não sentimos Ele no coração? Não importa, sabemos que existe a filosofia e mesmo sem vida, não existe vida sem filosofia. Imaginar, compreender a essência e crer em algo é acreditar em nós mesmos.

                 Parafraseando outro poeta, cremos que a verdade perfeita da filosofia Escoteira serve para a matemática, a química, mas não para a vida. Ele disse que na vida contam mais a ilusão, a imaginação, o desejo e a esperança. Mas e daí? Não seria isto tudo uma filosofia de vida? Eu, você e os outros sabemos que esta filosofia muitas vezes não dura para sempre. Não sei, sei sim que se houver um amanhã tudo poderá mudar. Mas lá no fundo, bem no fundo de nós mesmos, a filosofia Escoteira nunca vai nos deixar. 

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Conversa ao pé do fogo. O famigerado apito Escoteiro do Chefe Sonho de Valsa.



Conversa ao pé do fogo.
O famigerado apito Escoteiro do Chefe Sonho de Valsa.

Nota – Dizem eu não sei que para ser um bom Chefe tem de ser bom no apito. Verdade? Aquela estridência no ar? Não dói os ouvidos? Bem tem gente que gosta, mas leia a história. Vais ver que nem sempre o que dizem é verdade.

              Era um bom Chefe, bom até demais. Tinha um defeito. E quem não os tem? Bem voltemos ao defeito do Chefe Sonho de Valsa. Ops! Seu nome não era este, mas para evitar colocar um nome e alguém se enquadrar melhor é chamá-lo Sonho de Valsa. Vá lá que é um nome doce e eu gosto muito do bombom.

             - Pombas! Estou fugindo da história. Vamos voltar a ela. O Chefe Sonho de Valsa como disse era um ótimo Chefe, mas gostava de apitar. Como apitava! Era apito daqui, apito dali e no final da reunião a Escoteira estava zonza com tanto apito. Ele se orgulhava do seu apito. – Alemão legítimo! Dizia ele. Tenho também um francês, um italiano e um holandês. Sei que uma vez em uma cidade pequena encontrou um apito, ou melhor, um trinado de um Uirapuru. Era lindo. Ele gostou e comprou.

              Quando na primeira reunião usou o apito do trinado do Uirapuru a tropa assustou. – O que era aquilo? Um apito diferente? Será que Deus ouviu nossas preces? E todos riram de alegria. Mas foi só na abertura. Depois a rotina do apitador Escoteiro voltou. Ele fazia questão de pendurar no seu pescoço dois três ou quatro apitos diferentes. E nos acampamentos? Mama mia! Como apitava. A passarinhada sumia dali de tanto apito estridente.

             Muitos chefes comentaram com ele do apito, mas ele não dava ouvido. Foi Lomanto que um dia lhe disse: – Chefe, porque não vai ser juiz de futebol? Lá sim você vai se esbaldar. Se possível de jogos de várzea onde os pizãos os empurrões, os chutes e os palavrões são frequentes. E você vai apitar como nunca. Chefe Sonho de Valsa olhou enviesado para Lomanto e nunca mais lhe dirigiu a palavra. Foi então que um fato pitoresco aconteceu. Foi no Acampamento em Lobo Branco. Já havia acampado lá, mas aprendeu uma lição que nunca mais esqueceu.

                 Era umas dez horas quando o caminhão cheio de Escoteiros chegou a Campina do Arroio e para surpresa viram que lá estava acampado uma tropa Escoteira. O Chefe Sonho de Valsa não conhecia. Tudo bem pensou, aqui cabe todo mundo. Procurou o Chefe da outra tropa e se apresentou. Um cara super simpático, mas ele logo notou que não tinha apito. Se não tinha não era um bom Chefe. Dizem que o apito faz o Chefe. Verdade?

                 Conversaram pouco tempo e logo seus apitos se fizeram ouvir. Apito de monitores, apito de intendência, apito de cozinheiros, apito dos sub monitores, apito para formatura e apito para a bandeira. Exigia que por apito a cada tarefa das patrulhas o monitores avisassem que a tarefa tinha terminado. Sua tropa tudo bem ela estava acostumada, mas a outra tropa se assustou. O Chefe Long Jonny resolveu interferir educadamente. Viu que o semblante do Chefe Sonho de Valsa franzia. – Bem, pensou que seja, vou abrir o jogo, o apito do Chefe está entornando o caldo!

                 Chefe! O senhor tem uma bela coleção de apitos no pescoço, disse. – Sonho de Valsa riu a toa. Quantos os senhor tem? Eu? Não tenho nenhum. Uma vez comprei um Chifre do Kudu e ainda o tenho, mas quase não uso. – Não usa? E como chama os meninos? Por sinal Chefe, por sinal. E quando necessário por bandeirola. Bandeirola? Como? Perguntou Sonho de Valsa. – Simples, olhe ali naquele pequeno mastro, tenho várias bandeirolas pequenas. Cada uma para solicitação. A azul para monitores, a verde para chamada geral, a marrom para os subs e assim vai. Subo a bandeira e eles vem correndo. – Sei não disse o Chefe Sonho de Valsa, meu apito se ouve longe. – Pode ser disse o Chefe Long Jonny, mas será que os pássaros não se incomodam? Os animais reclamam? E como fazer para estarmos de bem com a natureza com o trinar dos apitos?

                  O Chefe Sonho de Valsa deu como encerrado a conversa. Já pensou? Disse ele para si, bandeirolas para chamar? Melhor chamar com a fumaça de um fogo. E riu baixinho. Naquela noite o Chefe Sonho de Valsa foi dormir sorrindo depois de apitar feito um louco em todo tempo do acampamento. Dormiu e dormiu um sonho que nunca mais queria sonhar como ele sonhou. Estava voando, isto mesmo voando e viu a terra dos pássaros. Uma força o levava para baixo. Milhões de pássaros o esperavam. Um círculo se fez. Um enorme gavião com um apito apitou no ouvido dele e logo em seguida veio o Papagaio, a Coruja, a Águia e assim centenas de pássaros apitaram no seu ouvido sem parar. Ele gritava para parar e não adiantava. Soltaram-no e ele correu pelas nuvens e foi agarrado por um trovão que o levou a terra dos animais da floresta. Mesma coisa. O Quati apitou, a Onça apitou. Os macacos apitaram. Ele gritava e chorava e o soltaram. Acordou suado. Ainda com os apitos no ouvido.

                  Abriu à porta da Barraca, um silêncio gostoso da floresta. Um trinar cantante de pássaros. Ouviu ao longe a cascata de águas límpidas, ouviu o vento passar. Que gostoso pensou. O Chefe Long Jonny estava certo. O apito não faz parte da natureza. Ele jurou a si mesmo que nunca mais usaria um a não ser para um pedido de socorro ou alguma emergência.

                 E foi então que a tropa do Chefe Sonho de Valsa sentiu a paz no coração. Quando viram que ele não apitava mais, quando só usava as bandeiras ou os sinais com as mãos sentiram que agora sim tinham um Chefe de verdade. E sabem? Aquela tropa enquanto o Chefe Sonho de Valsa estava lá tinha como diz o lobo os olhos e os ouvidos abertos. E assim viveram felizes para sempre.


domingo, 9 de setembro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Quando setembro vier.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Quando setembro vier.

Nota – Escrevi esta crônica em setembro de 2012. Um amigo compartilhou e as lembranças afloraram. Espero que ainda tenha o mesmo encanto, já que quando setembro vier eu estarei aqui meditando nos meus setembros que não voltam mais.

Setembro vem aí, mês calmo, mês que gosto de sentar na varanda e me lembrar do passado. Assim é setembro. Todos os tempos, todos os períodos são bons enquanto vivemos. Pode ser no passado ou presente. Podemos fazer diferente, igual e isto não é importante. O escotismo é único e mesmo querendo que outros passassem pelo que muitos antigos escoteiros passaram sei que é impossível.

Lembro que era um tempo de ventos amigáveis, sem as atribulações de hoje. Podíamos sair por aí sem as preocupações que acometem a esta era moderna. Ainda bem que a promessa, as formaturas e o sistema de patrulhas mal ou bem se mantêm e isto é bom. O que não mudou são os sorrisos. Os mesmo ontem e hoje. Adoro-os. Os meninos e as meninas nos fazem rejuvenescer. De vez em quando converso com um e outro e vejo que eles também têm histórias para contar. Formidável. A chama ainda não se apagou e acho que não irá se apagar nunca.

Hoje vejo que muitos se complicam para fazerem um programa nas mãos dos chefes. Antes não. Em mãos dos escoteiros. Claro, hoje não seria possível dizer a minha mãe e meu pai que iria acampar em Santa Maria de bicicleta. 250 quilômetros ida e mais 250 quilômetros volta. Oito dias. Qual Chefe vai? Nenhum! Qualquer pai de hoje cairia da cadeira se ouvisse isto. E se dissesse que conseguimos passagens gratuitas até Caparaó de trem. Pai, vamos aproveitar as férias e da uma volta no Pico da Bandeira. Serão só dez dias.

Sabia pai que Caparaó significa águas cristalinas que rolam da serra? Sabia pai que o Pico da Bandeira se chama assim porque o Imperador Pedro II mandou colocar uma bandeira em seu cume? Sabia pai que A serra do Caparaó, além do pico da Bandeira, tem ainda o Pico do Cruzeiro, o Pico do Calçado, O Morro da Cruz do Negro, o Pico da Pedra roxa, o Pico dos Cabritos ou do Tesouro, o Pico do Tesourinha e ainda a Pedra Menina?

Vai ser difícil qualquer pai entender hoje. E quem vai com vocês? Ninguém pai. Somos Sênior e o senhor sabe, tropa Sênior, Sênior é, é que é bacana! Risos. Não cantávamos assim naquela época. Mas e o pai de hoje? Olhos esbugalhados, pensando, que diabos este escotismo pensa que é? E se ele nos visse no campo cortando madeira. “MADEIRA!” gritávamos. E Lá ia a tora caindo. Hoje não pode. Mas naquela época? Florestas enormes. Entrávamos nela como se estivéssemos passeando no “foot” de nossa cidade. (foot, praça onde aos sábados e domingos a noite ficávamos ali a paquerar as lindas meninas). De dia ou de noite varávamos trilhas, matas, atravessávamos rios, e quando desse sono era só deitar na relva, na pedra ou em qualquer lugar e dormir.

Hoje? Impossível. Já pensou? Um Chefe no nosso campo dando “pitacos”? Nem pensar. Bastava um sisal ou um cipó a 30 cms do chão e ninguém passava. Todos sabiam que deviam ir na entrada onde existia o pórtico bater palma e pedir licença. Afinal era nossa casa e não a casa da “mãe Joana!”. Chefe, você ensinou ao nosso Monitor, deixe a patrulha fazer, por favor! Vá para sua barraca, faça lá suas pioneirías, sua refeição. Quem sabe hoje à tarde quando da apresentação do jantar pronto o convidamos?

Setembro vai chegar e não vai demorar em ir embora. Não dá mais. Agora precisamos tomar cuidado. A marginalidade. Minha prova de jornada? Hoje poucos fazem. Pai, vamos eu e o Israel vamos fazer uma prova de jornada. Só nós dois. Serão só cinco dias. Vamos descer o Rio Boitanga de jangada que nós mesmos faremos e só levaremos sal e óleo. Serão pouco mais de cento e vinte quilômetros de corredeiras até a ilha dos Aimorés. Lá vamos conseguir comida! O que diria o pai hoje com este pedido? Só rindo. Está louco? Nem pense. Esqueça! Vou tirar você do escotismo.

Setembro, tão próximo e vai passar tão rápido. Ainda acredito que podemos fazer muito do que nós os antigos escoteiros fizemos. Não sei. Alguns chefes me dizem que fazem. Acredito. Mas rezo para que os chefes lembrem que seus escoteiros precisam de liberdade. Nem que seja vigiada, mas precisam. Lembro-me sempre do passado e das palavras de Kipling e até hoje penso que o escotismo tem ainda muito que aprender:

“Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.
KIPLING

sábado, 8 de setembro de 2018

Rastros do fundador. Um pouco de Baden-Powell.



Rastros do fundador.
Um pouco de Baden-Powell.

Nota – Neste sábado de feriado prolongado, muitos foram acampar, outros em reunião e alguns aproveitando para uma folga um descanso qualquer. Comecei a ler BP e retirei três temas que ele escreveu. Bom ler BP. Traz uma calma e uma tranquilidade ao analisar suas palavras.

Amizade.
- Amizade é como um boomerang; tu dás a tua amizade a um dos teus companheiros, e depois a outro e a outro ainda, e eles retribuem-te com a sua amizade. Assim, a tua amizade e boa vontade iniciais vão-te fortalecendo à medida que vão sendo transmitidas aos outros, e acabam por regressar a ti, em retribuição, tal como o boomerang regressa à mão de quem o lança. Se não tiveres medo das pessoas que encontras nem sentires antipatia por elas, também elas, da mesma maneira, não te recearão nem desconfiarão de ti e terão tendência para gostar de ti e serem tuas amigas.

Autoconfiança.
O Escotismo é a melhor coisa que há no mundo para dar autoconfiança a um rapaz e para prepará-lo para a batalha da vida. Como jogador de golfe, eu não pagaria a um “caddie” para este me transportar os apetrechos. Prefiro jogar o jogo por mim. O mesmo me acontece com o aproximar-me de um veado ou pescar um salmão. Olha, nem sequer mando cortar o cabelo; sou eu mesmo que o corto - o que tenho! O hábito de agir por si vai-se fortalecendo e acaba por abranger todos os setores de atividade quotidiana. E é hábito muito salutar; “se queres ver uma coisa feita, fá-la tu mesmo” torna-se o lema de todos os dias. Até certos pequenos trabalhos caseiros começam a exercer a sua atração, e ensinam-nos muitíssimas coisas. Deves sempre procurar contar contigo mesmo, e não com o que outros possam fazer por ti. “Impele a tua própria canoa”.

Boa ação.
Por “praticar o bem” entendo tornardes-vos úteis e fazerdes pequenas coisas que sejam agradáveis aos outros - Sejam eles amigos ou estranhos. Não é coisa difícil, e a melhor maneira de começardes a fazê-lo é tomardes a decisão de praticar todos os dias “uma boa ação” para com alguém, e depressa ganhareis o hábito de estar sempre a fazer boas ações. Pouco importa que a “boa ação” seja insignificante - nem que seja só ajudar uma velhinha a atravessar a rua, ou dizer uma palavra em abono de alguém de que se fale mal. O importante é fazer qualquer coisa. Pela Promessa Escoteira estamos pela nossa honra obrigados a proceder assim (a fazer todos os dias uma boa ação a alguém). Mas não suponhamos que os Escoteiros não precisam de fazer senão uma boa ação por dia. Têm de fazer uma, mas se puderem fazer cinquenta, tanto melhor. Em todos os dias da nossa vida devemos fazer alguma coisa boa.

Faz a tua boa ação não apenas aos teus amigos, mas também a estranhos, e até mesmo aos teus inimigos. O rapaz tem um instinto natural para o bem, contanto que veja um modo prático de realizá-lo, e esta prática da boa ação vai ao encontro desse instinto e desenvolve-o, e desenvolvendo-o desperta o espírito da caridade cristã para com o próximo. Sei de um Lobinho que, quando lhe perguntaram que boa ação é que ele tinha feito nesse dia, confessou que não tinha sido capaz de fazer nenhuma, principalmente porque pensava que era pequeno de mais. Pois bem, estava a dizer um disparate, porque ninguém é pequeno de mais para praticar uma pequena boa ação, mesmo que seja só sorrir às outras pessoas e fazê-las sentirem-se mais felizes.
Baden-Powell of Gilwell.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Programas de reuniões de Tropa.



Conversa ao pé do fogo.
Programas de reuniões de Tropa.

Nota – Existe uma dificuldade enorme para muitos chefes desenvolverem seus programas de reuniões de tropa. No passado era simples hoje não. Sofisticaram muito a programação de tropa e alcateia. Este artigo seria para ajudar os mais novos já que os mais antigos já sabem o seu caminho a seguir. Não esperem uma enciclopédia, nada disto, quem sabe uma programação simples é a mais interessante?

                  Meu amigo Chefe, você gostaria que existisse um livreto com cem ou mais programas de reuniões de tropa para você utilizar? Acho isso correto? Bem se você está acostumado a se matar em noites infindáveis e monótonas com seus assistentes para preparar programas a curto médio e longo prazo pode até ser que sim. Claro que enquanto você usar alguns destes programas sua Tropa vai sorrir e muito com o estupendo programa do seu Chefe.

                 Este é um tema muito falado e comentado não só no passado como no presente. Sempre foi levantado em cursos pelos participantes. Muitas vezes se abre uma brecha para discussões e logo vinha alguém dizendo da necessidade de um livreto com programas de tropa. Não sei até hoje se este é o melhor caminho. Afinal se todos recebessem hoje um programa já escrito o que seria da formação progressiva e individual de cada membro da tropa?

                  Conheci um Formador (costumo lembrar que eram chamados de adestradores) que passava horas com seus alunos a discutir as vantagens de um bom programa programado por eles mesmos... Os escoteiros. Aprendi com ele e com minha vivência como Chefe de tropa que programas só são bons quando tem a mão dos escoteiros e principalmente dos monitores da tropa. Afinal se eles em seus bairros tem suas turmas e fazem seus próprios programas porque não copiar? Eles nunca reclamam do programa que fazem em conjunto.  

                  Se dá certo porque a patrulha não possa sugerir o que gostariam de fazer? Claro, dentro dos princípios do método e do esquema de progressividade. Muitos chefes tentaram e disseram depois que não deu certo. Aplicou por quanto tempo? Quantos saíram do escotismo depois que cada um deu sua contribuição? Tudo tem que ter um começo e acompanhar ouvindo todos se está dando certo ou não. Falar, ouvir, analisar vendo o certo e o errado e por em prática. Não é assim? Na escola é diferente, o Professor já tem o curriculum da aula pronto. E nós? O que temos?  

                 Se não me engando foi assim que BP criou o método escoteiro. – Programando o Programa tem de ser a preocupação máxima de um Chefe Escoteiro, mas se ele não utilizar seus monitores e escoteiros para saber se está ruim ou bom às reuniões nenhum objetivo vai ser alcançado.

               Sei de muitos chefes que quinzenal ou mensal com auxilio de assistentes (ou mesmo só) prepararam o programa. Costumam fazer até cinco ou seis e conheci alguns que faziam para todo o trimestre. Sempre eles decidindo tudo. Nada de ouvir monitores e escoteiros. Imagino a dificuldade do Monitor em ser o responsável pela progressividade do seu patrulheiro.

               – Já me diverti muito com alguns chefes que quando chegam o sábado correm para montar um programa de última hora. Isto é certo? E aqueles que nem programa tem e usando alguns jogos que os jovens mais gostam desenvolvem a reunião como se fosse uma rotina. E olhe tem aqueles que vestem o uniforme na sede. Bonito exemplo ele está dando. Alguns se jactam-se de ter tudo na memória. Sabemos que ele é um ótimo Chefe, com muitos conhecimentos e sabe como improvisar quando preciso.

                Quando alguém me diz que a base do programa é as iniciais BOIA! (Bandeira, oração Inspeção e chamada) me divirto. Parece fácil e seria com o auxilio dos interessados. Tem aqueles que adoram um racha, um quebra canela e outros jogos conhecidos. Vira rotina e aqueles calados que não reclamam acabam saindo do escotismo. Não é fácil chegar à sede e ver patrulhas com dois, três ou quatro. De quem é a culpa?  

              Quando se tem um bom programa com participação de todos isso dificilmente acontece. Eles sabem que o Sistema de Patrulhas serve para isto. Afinal tirar um tempo para discutir como está o programa deve ser uma prática nos finais de reunião a cada sábado. Assim como os monitores são os responsáveis pelo crescimento dos patrulheiros é também nas reuniões de Patrulha que a discussão do programa é feita.

             Monitores bem formados e adestrados sabem o que fazer. É nesta hora que surge boas ideias e onde a Patrulha tem liberdade de opinar e divergir. Muitas patrulhas fazem suas reuniões após o final da de sede ou em casa de alguns escoteiros e se revezando. É ali que discutem a progressividade e o programa. Está bom? Não? O que fazer? – O Monitor sabe como é. É ali que se reclama da falta de acampamentos e atividades ao ar livre. Muitas patrulhas bem formadas costumam fazer suas atividades ao ar livre sem a presença dos chefes. Claro sempre dentro de uma programação viável e em local previamente conhecido.

           Os seniores costumam ter seus Conselhos de Tropa e dão bons resultados. Já vi tropas escoteiras usando e se bem dirigidas pelo Monitor mais antigo, com liberdade plena do uso da palavra costuma dar excelentes resultados.

           Quando os programas vão perdendo a graça é hora de mudar. Hora de discutir e ver o que melhorar. Tudo tem seu tempo e deve ser testado por diversas vezes. Nenhuma reunião de tropa deve faltar o tempo livre para as patrulhas se reunirem e discutir não só o programa como seu crescimento individual. Quando o escoteiro tem direito a palavra ele acredita mais em sí e que é parte integrante não só da Patrulha como da tropa. Por experiência própria as tropas que participam ativamente na confecção dos seus programas são as que tem maior sucesso em preservar seus escoteiros por longo tempo.

                O Sistema de Patrulhas e o método correto deixado por BP. Sabemos que o escotismo foi idealizado para os jovens. Os adultos são meros colaboradores e responsáveis pelo desenvolvimento da Tropa e de cada Escoteiro individualmente. Não cabem a eles fazer e nem tomarem a frente de tudo.

               Confie em seus monitores e seus escoteiros. São eles que afinal são a razão de ser do escotismo. Se eles estiverem satisfeitos e gostarem do que fazem, então o método afinal atingiu o seu objetivo.