quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Histórias para contar. Era uma vez... Um planeta azul chamado Terra!



Histórias para contar.
Era uma vez... Um planeta azul chamado Terra!

Nota – Uma história fictícia de Baden-Powell na sua nova morada no céu. Apenas para divertir, pois se existisse realmente a Colônia Fraternidade seria um local ideal para reviver toda a felicidade de um dia ter sido escoteiro.

               A vista era maravilhosa, debaixo daquele enorme castanheiro em um banco simples de madeira feito por ele mesmo estava sentado Lord Baden-Powell. Todas as tardes ficava ali olhando seu planeta azul que se destacava no infinito entre milhares de estrelas brilhantes. Suas lembranças ainda estavam vivas. Morava em uma Colônia que tão singelamente batizaram de “Fraternidade”. Era uso fruto dos Escoteiros que um dia partiram para as estrelas.

               Lord Baden-Powell fazia questão de receber todos com um sorriso com um aperto de mão um abraço dos que chegavam da terra. Sorrindo dizia que armassem a barraca no campo mais verde, nas campinas mais florida onde o jorro de uma nascente ou cascata acontecia, e árvores frutíferas que proliferavam. Absorto em seus pensamentos Lord Baden-Powell viu chegar seu amigo Kenneth Maclaren. Amigos de longa data desde a Guerra do Transvaal e do primeiro acampamento em Brownsea. Eram grandes amigos e sempre se reuniam ali.

                - Recebi seu recado General – Disse Kenneth. Lord Baden-Powell sorriu. Era um amigo inseparável. Outras colônias o queriam, mas ele recusou todas. Era um amigo de verdade. – Sabe Kenneth, preciso de um favor seu – As suas ordens meu General! – Baden-Powell riu e prosseguiu. Tem vários anos que não vou a terra e não sei como vai o escotismo por lá. Você sabe que breve eu irei para uma colônia de mais luz e de lá não sei se posso ajudar os escoteiros da terra. Tire uma semana faça um percurso no planeta e na volta me conte o que viu. Veja como está o método o aprender fazendo e se o sistema de patrulha está perfeito. Veja também se eles mantem muitas das tradições que deixamos.

                – Irei nesta semana mesmo General. Kenneth se despediu não sem antes deixar lembranças a Lady Olave St. Clari Soames, a esposa de BP. Logo que ele partiu Lord Baden-Powell avistou John Thurman com recém-chegados em um curso de chefes. Ele sabia que John um antigo diretor de Gilwell Park era mestre em cursos deste tipo. Sua colônia tinha muita gente boa. 

                   Na semana seguinte seu amigo Kenneth o procurou. – Já de volta? Disse BP. Já General. E olhe não trago boas notícias. BP só ouvia. O convidou para sentar no banco do Castanheiro seu lugar preferido. – Eu sei General o senhor fez questão de fazer uma réplica de um que existia em Mafeking. Lembro que o senhor adorava ficar lá sentado pensando sobre a guerra. Pois é, mas me conte.

                  - Para dizer a verdade General o escotismo hoje na terra não é mais o mesmo. Estão fazendo grandes modificações. Falam em escotismo moderno, estão esquecendo o método, deixaram de lado a associação para se transformarem em organizações. Uma liderança mundial chamada de WOSM ou OMME tem aprontado poucas e boas.

                  BP. Já sabia deste pormenor. Não havia como mudar. Olhe General rodei vários países, mas demorei mais no Brasil. Sei que o senhor nunca esteve lá e é uma pena. Um belo país com excelentes chefes voluntários acreditando que podem ajudar a juventude. Pena que lutam só. Os dirigentes da nação desconhecem o escotismo e aproveitam deles para plantar árvores, limpar praças, ajudar nas calamidades e carregar viveres para os necessitados. Eu sei que a ajuda ao próximo é bem vinda. Mas acampamentos? Técnicas Escoteiras? Quase nada. Para eles valem os encontros nacionais e internacionais.

              – Me diga falou BP sabe se o Escoteirinho de Brejo Seco conseguiu ir em um Jamboree? Nem pensar General. A taxa que cobram é só para ricos. Hoje para se fazer escotismo tem preço para tudo. A liderança taxa tudo que fazem. Dizem que não há almoço grátis. Tem uma loja que só eles podem vender seus produtos e os preços não são acessíveis. Os mais pobres e humildes não tem vez. A palavra de ordem é: - Escotismo é para ricos! – Olhe General, a direção escoteira brasileira se apropriou de muitos termos e programas que o senhor fez. Registrou tudo como se fossem os donos. Surgiram outras associações e são tratadas a ferro e fogo. Todas levadas às raias dos tribunais de justiça. O sexto artigo foi esquecido.  

                 As mudanças surgem por meia dúzia. Não existem pesquisas e consultas as bases. Um estatuto feito por eles mesmos ditam as normas. Produzem fatos para continuarem na liderança, só falam em escotismo moderno, estão apagando nosso passado, as tradições acabando. Quer saber general? É comum colocar o lenço amarrado nas pontas e se dizer Escoteiro. Tudo aquilo que o senhor falou de garbo e boa ordem não existem mais. Eles agem sem consultar ninguém. Não há transparência do que fazem.

                  Lord Baden-Powell pensativo olhou para o seu planeta azul. Pediu ao Senhor que suas idéias não fossem desvirtuadas, que o amor e a fraternidade nunca deixassem de existir. Ele lembrou da conversas com John Thurman. – General, em 1954 antes de vir para cá, deixei para eles uma mensagem onde escrevi com todos os meus conhecimentos adquiridos uma carta que intitulei de os Sete Perigos. Falei sobre administração, sobre centralização, Seriedade demasiada, falei sobre exclusividade transparência e austeridade. Disse o que o senhor pensava sobre o escotismo entre os pobres e terminei dizendo que os únicos capazes de por o escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Finalizei dizendo que se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado autossuficientes, poderemos arruinar o Movimento.

                 Lord Baden-Powell perguntou ao seu amigo Kenneth: Sabe me dizer se o Vado Escoteiro já chegou? – Não General, ele ainda vai ficar na terra por mais alguns tempo. Anda a escrever sobre escotismo como o senhor pensava, mas não é levado a sério pelos dirigentes.

                 BP calou. Viu que era a hora do cerimonial de Bandeira que todas as tardes acontecia em sua colônia. Pelo menos ali a disciplina, a fraternidade e o respeito era comemorado todos os dias da semana. – Parou cumprimentou a todos na enorme ferradura e ao comando de arriar a bandeira fez sua saudação Escoteira com orgulho.  Ele sabia que nunca deu procuração a ninguém para falar em seu nome. Afinal o escotismo não tinha dono, ele era dos que quisessem seguir sua cartilha. Olhou de novo o planeta azul ajoelhou e pediu ao Senhor que fizesse da Terra um mundo feliz para todos os Escoteiros!