quarta-feira, 27 de março de 2013

Conversa ao pé do fogo. O show de Truman.



Conversa ao pé do fogo.
O show de Truman.
                     
                    Um show para ninguém botar defeito. Ah! Desculpem não é um reality show. Nosso amigo Truman que serviu para divertir milhões de pessoas em todo o mundo aqui é irreal. Quem sabe só ver até que ponto escondemos de nós mesmos as verdades que ninguém gostaria de ver. Seria a desilusão do show? Pode ser. A realidade para uns se apresenta como um verdadeiro show da vida. Para outros uma ilusão da realidade. A felicidade é esta? Perguntam-me. Sim. Você mesmo pode ver a câmara 2 – Ela focaliza um lindo sorriso de um jovem bem uniformizado. Quer maior felicidade? Parecem emoções reais não? Veja a câmara 1 – Centenas de jovens a sorrir em uma atividade qualquer. Ei? E a câmara 5? – Ela não mostra aquele jovem que sonha em ir à atividade nacional e não pode? Ora era só quinhentos e poucos reais. Quem mandou ser pobre? Corta!

                    Não podemos perder nada deste show. Que tal aquela Chefe que foi defenestrada da tropa porque não aceitou as imposições do seu dirigente do grupo? Valeu seu tempo a frente da tropa? Valeu seus filhos praticantes do show? Democracia? Corta! Câmara 9 tente pegar um ângulo melhor na chegada dos jovens a Aventura Nacional. Este sim é um momento sem igual. Câmara 11 não esqueça, vá de leve à imagem do dirigente sorrindo como a dizer que a felicidade dos jovens também é a dele! Camaramen seja prudente, nossa imagem tem que ser mostrada como realidade. Ela não é um nunca foi uma ilusão ou será que é? Câmara 13! Que isto? Corta já. Ninguém quer ver a imagem da escoteira sendo suspensa por 90 dias! Ainda mais que seus pais não foram comunicados!

                      Isto mesmo câmara 15. Mostre o nosso novo blog. Lá está escrito as belezas de um Chefe obediente, bem formado. Quem está nos assistindo sabe que a seriedade é nosso lema. Não é isto câmara 18! De novo? Deixe este Chefe reclamão que diz ter 33 anos de atividade desiludido a dizer que vai sair. E daí? Quem se interessa? Deixe que ele se vá. Não precisamos dele! Tantos já se foram e ninguém incomodou. Muito bem câmara 20. Pegue bem o novo relatório de 2012. Ele mostra nossa pujança. Só crescendo. Temos que mostrar por imagens que a ilusão é acreditar que somos o que mostramos no show. Produção! Mande embora o câmaramen da 23. Já disse para ele não filmar estes chefes “pedintes” de relatórios de atividades nacionais? Onde já se viu querer ver o balanço financeiro de tudo? – Melhor assim câmara 28, agora melhorou. Pegue bem a imagem dos novos dirigentes eleitos daquele estado. Isto vai mostrar a todos que temos democracia!

                      Aprendam todos participantes deste show. A distinção entre o passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. Não foi o que disse o Einstein? Portanto temos que mostrar as coisas boas. E só temos boas, pois os que dizem que temos ruim devem ser defestrados e jogados para debaixo do tapete. Ética para eles e louvores para nós. – Isto mesmo câmara 31. Um close em mim! Obrigado. Eu mereço. Mas não digam que os formadores no Brasil praticamente decidem tudo! Nada disto. Mentira pura! Pare por favor, câmara 34. Corta! Ninguém quer saber se foi eleito a situação ou oposição. Isto não existe entre nós! Importa o show. O show da felicidade.

                      E o show não para. Nem tudo foi mostrado ao vivo como o de Truman. Já pensou? 24 horas no ar? E nós? Também temos nosso show? O show dos desiludidos, dos injustiçados, dos desprezados, que show eim? Mas isto não importa, já dizia Cesar em Roma que o povo quer pão e circo. Neste show ele é dado em forma de imagens. Sempre positivas. As negativas? Escondem-se. A menina suspensa, o Chefe expulso, a Chefe defenestrada, o antigo desiludido, a situação no poder, a doce ilusão da corte, de ser mais um da casta. Pois é. Foi Goethe quem disse que o maior problema de toda a arte é produzir, por meio de aparência, a ilusão de uma realidade grandiosa? Luz! Câmara! Ação! No ar... A maior organização de todos os tempos! 

O povo nunca é humanitário. O que há de mais fundamental na criatura do povo é a atenção estreita aos seus interesses, e a exclusão cuidadosa, praticada sempre que possível, dos interesses alheios.

sábado, 9 de março de 2013

A Canoa o Laptop e será que o sonho acabou?


Tem hora que da vontade de largar tudo, voltar para o paraíso, virar pescador e viver da terra, teria muito menos de decepções.

A Canoa o Laptop e será que o sonho acabou?

                 Quer saber uma verdade? Tem muita gente falando sobre os caminhos do escotismo e não tem nenhuma experiência no tema. Como dizem os antigos escoteiros, nunca fizeram a massa e assim nunca irão fazer o pão. Imaginam somente. Fazem cálculos, estudam, leem aqui e ali e assim começam as mudanças às alterações. Ouvir os jovens? Não precisa. Eles já sabem o que eles querem. Em nome de uma nova era eles acreditam e sem base nenhuma vão mudando. Um Chefe gabaritado outro dia disse: - Um pai me interpelou: - Para que barracas? Para que a cozinha entre eles e feita por eles? Porque cortar madeira e ficar fazendo mezinhas, fogões de barro e outras construções? Isto serviu para muitos se explicarem. Cada um tinha um comentário e aí pensei comigo - Tudo isto não seria uma satisfação pessoal de adultos? Uma maneira de interpretar o futuro do jovens ser ver o que eles querem?

                  Não faltam aqueles que dizem e repetem sempre – Nos dias de hoje não precisamos de bussola. Ninguém precisa aprender a se orientar, estrelas? O sol? As arvores? Esqueça. Agora tem GPS! – Patrulha! Vamos acampar, todos estão com seu GPS? – Nós que acreditamos no método de BP e que acreditamos que ele deveria prevalecer até hoje o que devemos falar? Somos minoria. Nosso tempo se foi com o vento dos novos tempos. Semáforas? Morse? Para que se o celular resolve? Interessante. Vou dar aqui um testemunho de Baden Powell. Sei que muitos acreditam que se ele fosse vivo nos dias de hoje iria concordar com tudo o que os novos liderem estão fazendo. Resultados? Bem eles alegam que sim. Vamos ao que disse BP:

                 - “Já nos anos de 1901 a 1903, quando ainda estava na África do Sul, de todos os lados, rapazes e moças me escreviam pedindo conselhos sobre a maneira de viver e sobre a vida dos exploradores militares ou homens da floresta que são os heróis dos adolescentes. No pouco tempo que tinha, procurava responder as mensagens recebidas, (e isto aconteceu antes da implantação das bases do movimento Escoteiro). - É somente pelo resultado e não pelo método que se julga a instrução. Até alguns anos atrás, estes resultados eram de homens e mulheres de boa conduta, disciplinados, gente boa como se fossem soldados em parada militar, porém, sem personalidade nem força de caráter e totalmente provados de espírito de iniciativa ou de aventura e incapazes de se “virarem”.

            - E continuou lendo: - Hoje a instrução está enfrentando novas dificuldades. Um instinto de distração sempre mais forte, os efeitos perniciosos dos jornais em busca do sensacional, os filmes pornográficos e o fácil caminho para os prazeres sexuais e pôr fim à paixão do jogo. Com o moderno crescimento das cidades, fabricas rodovias e linhas telefônicas, e de tudo aquilo que chamamos “civilização” a natureza é mais afastada ainda das pessoas. Suas belezas e seus milagres se tornam estranhos as nossas afinidades pessoais com a criação divina e se perdem na vida materialista das multidões, com suas deprimentes condições entre as espantosas construções erguidas pelo homem.

            A natureza vem sendo expulsa para fora da nossa vida e é substituída pela artificial e graças à bicicleta, ao carro, ao elevador, as nossas pernas acabarão pôr atrofiarem-se pôr falta de exercícios e os nossos filhos terão cérebros maiores, mas sem músculos.

              E aí? E dai? Bem se não entenderam seu recado desculpe. Não se faz escotismo de aventuras, de atividades mateiras pensando que ele vai ser um batedor, um carpinteiro, nada disto. Sua formação ao fazer as atividades mateiras irá desenvolver seu cérebro, dar autodomínio, ensinar o fazer fazendo, pois um dia ele vai ser dono de si mesmo. Uma vez resolvi fazer uma canoa. Risos. Isto mesmo. Ganhei um tronco de mais ou menos sete metros por uns 400 mm de circunferência. Falei com meu pai que queria fazer uma canoa. Meu pai conhecia o Zé do Dedo, um carpinteiro bem conhecido na cidade. Disse para ele me ensinar. Como descascar a madeira, como tratar e conservar, mantê-la seca e arejada se possível mergulhada na água. Você vai precisar de uma proteção do sol, não deixar o tronco em contato com o solo enquanto trabalha. Ele mesmo me disse que o tronco era um Cedro. Perfeito ele disse para uma canoa.

              Eu tinha uma machadinha, meu pai me deu um Enxó, uma Goiva e um serrote. O próprio Zé do Dedo me emprestou um machado e um traçador. Claro que para usá-lo precisaria de duas pessoas. A Patrulha se aliou a mim e durante três meses ficaram ao meu lado depois desistiram. Não foi fácil. Voltava da escola e ficara de uma a duas horas a trabalhar na canoa. Zé do Dedo era formidável. A cada dois ou três dias passava por lá a me ensinar e ver o que tinha feito. Foram seis meses. A canoa ficou pronta. Pesada, eu mal aguentava levantar sua lateral. Devo dizer que a canoa na visão de um bom construtor era feia, desajeitada, e qualquer corredeira ele iria virar o contrário e afundar.

               Quando ficou pronta precisava ser transportada para o rio. Um amigo do meu pai tinha um carroção. Ele meu pai, eu e minha Patrulha a colocamos no carroção e na beira do rio fomos tipo escada rolante levando até o rio. Boiou! Palmas fiquei super alegre. Dei pulos para o ar. Vamos testar. Zé do Dedo aconselhou ir só dois. Meus remos eram pesados e em pouco tempo não aguentávamos mais remar. Levei a canoa até próximo ao Curtume. Conhecia o vigia. Ele se prontificou a tomar conta. A canoa serviu para muita coisa. Não era a melhor canoa nunca foi. Mas até hoje eu não esqueço o que fiz. Não durou muito tempo. Uma enchente e ela sumiu. Não me tornei um carpinteiro e nem fabricante de canoas. Meus calos, minhas dores nas omoplatas nunca as esqueci.

                 Escoteiros adoram desafios. Desafios que eles podem sonhar e planejar em fazer. É no campo que temos os maiores desafios. E não posso acreditar que oferecer ao jovem uma boa atividade Escoteira no campo poderá ser substituída pelo que o mundo moderno oferece hoje. Só aqueles que não passaram por isto podem tentar dar outra conotação a este desafio. Aprender fazendo é uma arte. Ser seu próprio mentor e construtor é outra. Um dia todos os jovens irão viver nova vida fora do domínio dos pais. O escotismo os ensina a vivenciar isto. Difícil afirmar onde é o caminho da modernidade e o caminho do desafio no campo. Acredito que ambos se complementam.

                Oferecer a eles algum diferente garanto que o interesse será momentâneo e não continuo. Oferecer a eles uma vida de aventura, deixar que pensem que podem ser heróis e deixar que eles vivam todos estes sonhos até o fim, isto sim irá motivar sua participação para sempre. Muitos estão tratando nosso jovens como bonecos de louça. Medo disto, medo daquilo. Ele está sendo proibido de pensar. Adultos estão pensando por eles. Decidem por eles. Um dia disse que os marginais estão na cidade e não no campo. Saber onde e quando e como é tarefa dos chefes, mas colocar a Patrulha na estrada é tarefa dos jovens. Finalmente, para aquele pai que interpelou o porquê disto e daquilo, faltou quem sabe um bom informativo para pais quando ele colocou seu filho lá.

                Nunca esqueci minha canoa. Meu pai foi meu instrutor e dos bons, não deixou que eu desistisse. – Se você começou termine! Obrigado meu pai. Obrigado ao escotismo que me ensinou que desafios são para aqueles que irão até o fim. Estão levando o programa Escoteiro para um caminho que nunca dará ao jovem o desafio que ele poderia aceitar e enfrentar. Muito do que oferecem já existe na escola, nos clubes e junto a amigos. Não serve talvez como exemplo, quem sabe serve como uma pesquisa de amostragem: - Nas redes sociais e sites de amizade, procurem ver as fotos que fazem mais sucesso e são compartilhadas. Barracas suspensas, pontes, pórticos e grandes aventuras de exploração da natureza. Ainda não vi o que os modernistas escoteiros estão sugerindo e implantando.

               É meu amigo Baden Powell. Eles não deixam que o jovem reme sua própria canoa e escolha o seu rumo. Fizeram para ele uma nova canoa que não precisa de remo. Um laptop na mão, um celular na outra e tudo bem.  E os resultados? Dizem eles que existem. Ainda não vi, mas se existem parabéns. Mas não deixaria de terminar sem repetir as palavra de BP sobre o modernismo:

- “Com o moderno crescimento das cidades, fabricas rodovias e linhas telefônicas, e de tudo aquilo que chamamos “civilização” a natureza é mais afastada ainda das pessoas. Suas belezas e seus milagres se tornam estranhos as nossas afinidades pessoais com a criação divina e se perdem na vida materialista das multidões, com suas deprimentes condições entre as espantosas construções erguidas pelo homem. A natureza vem sendo expulsa para fora da nossa vida e é substituída pela artificial e graças à bicicleta, ao carro, ao elevador, as nossas pernas acabarão pôr atrofiarem-se pôr falta de exercícios e os nossos filhos terão cérebros maiores, mas sem músculos”.

Sou um pescador de sonhos como muitos, mas diferente destes, não tenho isca e nem sequer anzol, apenas utilizo as minhas mãos; e o único que pesquei, vai, porém, escorregando por entre os meus dedos.