quarta-feira, 31 de julho de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Projeto escoteiro – Operação Chefia.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Projeto escoteiro – Operação Chefia.

Prólogo: - E você meu amigo, aceitaria meu convite para um acampamento só de chefes? Um perfeito acampamento de Gilwell? Se aceitar será bem vindo, quem sabe fazemos um sem ser um sonho? Os bons tempos dirão. Sempre Alerta.

Meditava sobre o escotismo de hoje e do futuro. O velho sonho de ser um herói da selva ainda persistia, mas agora na mente dos adultos que chegavam ao escotismo. Muitos deles não tinham sido escoteiros e quando dirigiam suas tropas se colocava no lugar de cada jovem na tropa e em sua Patrulha. A maioria queria voltar no tempo, fazer seu escotismo de raiz conforme ele pensava ser um Monitor, montar seu campo, dar seu grito escolher seu nome, correr pelos campos com seu bastão, cantando Rataplã como faziam seus jovens nas serras distantes.

Foi então que pensei, porque não organizar tropas de chefes escoteiros? Porque não dar a eles a oportunidade de voltar no tempo e acamparem conforme seus sonhos? Qual deles não gostaria de ser um patrulheiro, viver no acampamento, fazer sua refeição e construir sua Pioneiría? Já pensou gritar madeira, montar sua barraca suspensa, sua ponte pênsil e grandes construções?  – Mãos a obra. Publiquei no Facebook minha intenção. – Amigos eu estou organizando uma tropa de chefes escoteiros para um acampamento de 10 dias. Se você é akelá, Chefe de tropa Assistente ou membro honorário do escotismo e quiser fazer parte faça sua inscrição conforme folha anexa. Tomei um belo susto! Choveram inscrições. 300 só na primeira semana. O que fazer? Uma tropa teria que ter no máximo 32 chefes. Escolhi a tropa por sorteio. Prometi aos demais repetir brevemente o acampamento. Muitos reclamaram, mas o que fazer?

Assim foi feito. Escrevi para cada um como seria. Pedi para levarem a sério o acampamento conforme anotações em anexo. A primeira reunião ficou marcada para três meses depois. Seriam dez dias acampados na Serra do Caparaó. Todos deviam preparar-se bem, com roupas adequadas, saco de dormir (para pata tenras novatos) e os mais mateiros poderiam levar seus sacos comuns para encherem de grama e folhas secas, coisas de escoteiros que estão acostumados a acampar. O local de encontro, horário, material e a tralha de Patrulha consegui emprestado em uma tropa escoteira de amigos. O dia chegou chefes gritando sempre alerta. Todos com seu uniforme ou vestimenta. Exigi postura e pedi para não usarem camisa fora da calça nem lenço amarrado nas pontas e os tais chapéus de pano que dão lucro para a Cantina da EB. Risos. Afinal do garbo e boa apresentação não abro mão.

Formamos as patrulhas. Vinte minutos para cada uma escolher o nome, o grito, o lema, e o cargo de cada um na Patrulha. Como eram oito dias haveria revezamento nos cargos. Todos seriam Cozinheiro, bombeiro lenhador, Construtor de pioneirías, Almoxarife Intendente, sub e Monitor e demais cargos a escolher. Perguntaram-me se não podia ser os nomes das patrulhas de Brownsea. Porque não? Logo estavam se apresentando: - Chefe Corvos prontos, e Lobos prontos. Logo vieram os Maçaricos e Touros, Sempre Alerta Chefe Patrulha pronta para montar o acampamento! Todos vibrando, me lembrei do meu curso da Insígnia feito lá pelos idos da década de sessenta. Treinamos por alguns minutos os sinais manuais. Havia discordância e agora não mais.

Os chefes vibravam. Cantavam canções desafinados. Por pouco tempo logo iriam cantar como os três tenores. Sentiam-se rejuvenescidos. Eu sabia que isso seria no primeiro dia, depois as duvidas, as discordâncias iriam acontecer. Não é fácil viver em equipe com quem não se conhece mesmo sendo escoteiro. Isto seria um excelente aprendizado para as futuras tropas. – Uma hora para armarem o campo e mais uma para o almoço! Foi um corre, corre. Eu olhava com atenção cada um. As mulheres não ficavam atrás dos homens. Uma barraca, duas uma mesa, duas, fumaças aromáticas e gostosas no ar. Um sentimento patriótico quando apitei para a bandeira. Cada um em seu lugar virava para a arena e fazia a saudação.

Os Touros me convidaram para o almoço. Estava com fome. Seu cozinheiro era um Chefe de Santa Catarina e o Monitor do Ceará. Distantes na lida, unidos pelo escotismo. Todas as patrulhas almoçaram e convidei para uma Caçada ao Javali. Nada de matar o bichinho, o jogo seria quem conseguiria fotografar um pássaro ou animal mais próximo. Os Maçaricos ganharam. Fotografaram um Jacaré a menos de um metro no lago próximo. O dia foi demais. Alguns chegaram ao campo de chefia perguntando o que fazer para acabar com os calos feitos nas mãos com amarras e sisal. Eita turma de noviços, um pequeno galho para costurar e tudo estaria resolvido. Sabia que ninguém tinha trazido luva.

A noite um jogo noturno calmo, todos muito cansados e convidei para uma conversa ao pé do fogo no meu campo de Chefia. Eu tinha um, fazia questão. Um bule de café fervia nas brasas, um vasilha de água quente para os aficionados do chimarrão e claro bananas e batatas doce assando. Ali estavam meninos se divertindo e não homens reclamões a exigir o que não poderiam fazer. Três dias depois uma fraternidade cheia de cortesia e respeito. Ninguém mais gritava, sempre o vamos fazer e não vai você. O primeiro acampamento da tropa Minueto iria ficar na história. Eu até pensava no dia das grandes pioneirías, no ninho de águia, no caminho do Tarzan, na torre das nuvens brancas, e no elevador tendo o vento como combustível. Combinamos que as patrulhas se revezariam na conversa ao pé do fogo. Dormi como um anjinho e acordei com o nascer do sol...

Acordei disposto a tudo, procurei meu chifre do Kudu para iniciar a jornada do dia e nada. Onde estava? Olhei melhor, era meu quarto, tudo não passou de um sonho. Eita eu que adoro sonhar escoteirando. Senti o cheiro do café que a Célia fazia. Levantei, espreguicei e cantei uma canção escoteira: Que dia maravilhoso, que belo amanhecer, na paz de Deus junto a terra... Ah como é belo viver!

E então? Vai ou não vai se inscrever neste belo acampamento só de chefes?

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Conversa ao pé do Fogo. A Escola da Vida.




Conversa ao pé do Fogo.
A Escola da Vida.

Prólogo: - O lar é, antes de tudo, a escola do caráter e, somente quando os responsáveis por ele se entregarem, felizes, ao sacrifício próprio, para a vitória do amor, é que a vida na Terra será realmente de paz e trabalho, crescimento e progresso, porque o homem encontrará na criança as bases justas do programa da redenção. (Emmanuel).

                           Em um acampamento há tempos atrás, três tropas acampavam próximas a uma pequena floresta e um lago. Após o Fogo de Conselho quando as patrulhas já tinham se recolhido as suas barracas, nós os chefes começamos a colocar a conversa em dia. Falamos sobre o que pensavam os escoteiros do programa, da corte de honra, do grande jogo e dos reclames da inspeção do dia por parte de um dos monitores. Não perdíamos de vista as estrelas que no céu piscavam quem sabe para espantar o frio e as fagulhas da fogueira que levadas pelo vento desapareciam na escuridão. Éramos amigos de longa data e no escotismo não havia segredo entre nós. Falamos da corte de honra, da inspeção matinal do grande jogo e da cobrança dos monitores para aumentar o tempo livre no campo de Patrulha. Conrado o Chefe mais novo disse que nosso mestre Baden-Powell se orgulhava de ter aprendido muito na Escola da Vida. Ele também.

                            Nelsinho um Assistente com sua pose de intelectual comentou o que todos já sabiam. – A ideia do Escotismo quando surgiu parecia caminhar bem. Sabia-se que o menino estava preocupado, mas ansioso por fazer tudo àquilo que acreditava. Embora ele tivesse uma ideia de como realizá-lo, havia a pergunta mais importante da necessidade de obter a liderança adulta para organizar a sua administração na prática. De uma forma muito considerável essa questão foi resolvida pelos próprios meninos. Eles tiveram o bom senso de reconhecer que os oficiais crescidos eram necessários, e procuraram os seus lideres em seus respectivos bairros até que encontrassem aqueles dispostos a se tornar seus chefes.

                            Chefes, ele completou, “A tarefa do Chefe Escoteiro (que verdadeiramente é interessante) consiste em explorar o íntimo de cada jovem, descobrir a sua personalidade para então encontrar e desenvolver o que é bom, deixando o ruim de lado.” Afinal não existe ensino que se compare ao exemplo como disse BP. Chefe Tolon no seu estilo de matuto do interior comentou: - Não sei se existe idade para que nós possamos aprender nesta formidável escola do mundo em que vivemos. Ele sorriu e completou: - Todos nós estamos matriculados na escola da vida desde que nascemos. Nesta escola o mestre é o tempo. A cada dia vamos aprendendo. Não importa a idade, pois o aprendizado não para. Dia e noite. É bom aprender com o silêncio, com os falantes, com os intolerantes e os gentis.

                        Interessante sua ponderação. Eis que o Chefe Leopardo com bastante experiência escoteira e de vida sorriu e aproveitou a deixa: - Leonardo da Vinci comentou que a experiência é uma escola onde são caras as lições, mas em nenhuma outra os tolos podem aprender. Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende. São duas coisas distintas – O saber dado pelos mestres nas escolas e a vida como ela é, sendo olhada, guardada em nossa mente e nos fazendo crescer no dia a dia. Ele não deixou por menos e finalizou: - No dia em que guiarmos nossas ações, juízos, estudos e decisões por valores que visam ao sublime em vez da mesquinhez, quando agirmos inspirados mais nos critérios de justiça, da generosidade, da prudência, da temperança do que do interesse do egoísmo, no dia em que agirmos meditando sempre na beleza da doçura, na importância da humildade, no valor da coragem e no lugar da compaixão, nesse dia nosso planeta atingirá aquele estágio supremo que toda evolução técnica teve por meta.

                       Depois de ouvir tanta sabedoria pensei comigo sem nada dizer: - “Viver o mais intensamente, arriscar sempre. Se tivesse 100 anos para viver, eu ainda não teria tempo para fazer tudo o que quero fazer. Às vezes, podemos passar anos sem viver em absoluto, e de repente toda a nossa vida se concentra num só instante. Deixe os nossos jovens viverem e aprenderem fazendo, errando até fazer o certo. Depois desta aula de sapiência, nada mais havia a dizer”. Chefe Carmelo nos convidou para uma oração. – Pai nosso, que estais no céu... E fomos dormir sob as estrelas do firmamento que tão bem é testemunha de tantos que um dia se sentaram em roda de uma fogueira para dizer o belo dos sonhos da vida que vamos viver!

- Na escola da vida podemos aprender as mais diversas lições. Mas nós é que escolhemos as que vamos vivenciar. Os grandes sábios não se consideram mestres, mas sim, eternos aprendizes na escola da vida.

sábado, 27 de julho de 2019

Conversa ao pé do fogo. John Thurman um visionário?




Conversa ao pé do fogo.

John Thurman um visionário?

 

Prologo: - O escotismo brasileiro vem mudando através dos tempos e nem sempre benéfica. Temos hoje uma liderança cuja principal meta é o lucro e o poder. Paga-se bem para ser um escoteiro. Que digam os participantes da Escoteiros do Brasil. Os últimos acontecimentos o “truste” feito por uma só associação no fornecimento de seus acessórios sem livre escolha, a imposição de certas normas e vestuário (aconselho a lerem os últimos artigos publicados no site (Café Mateiro) mostrando as mazelas da Escoteiros do Brasil nos últimos tempos). Como venho postando anualmente, estou publicando este artigo de John Thurman que previa o que poderia acontecer ao Escotismo no futuro. Escrito em agosto de 1957 nunca deixou de ser atual. John Thurman foi Chefe de Campo de Gilwell Park por muitos anos. Boa leitura!

 

Os Sete Perigos

Por John Thurman - (chefe de campo de Gilwell Park)

Existem sete perigos para o Escotismo, para os quais, me parece, devemos estar alertas e tomar cuidado:

1. Complacência, do tipo de pessoas que pensam: "há cinquenta anos temos trabalhado assim e temos feito um bom trabalho, portanto continuemos assim". Recordemo-nos que o trabalho para os rapazes de hoje tem que ser feito pelos homens do presente. Estou tão orgulhoso, como qualquer outro Escotista, do nosso passado, mas isso não nos leva a parte alguma. Há, hoje, muito mais a ser feito do que houve em qualquer outra época e o máximo que o passado pode fazer para nós é inspirar-nos para um maior esforço;

2. Centralização. Acampamentos Nacionais, Regionais e Jamborees são muito bons, mas quando muito frequentes, podem ser desastrosos. Devemos dar ao Escotista a maior oportunidade possível para trabalhar com a sua Tropa e infundir-lhe os bons princípios e não juntar os rapazes em grandes massas para um grande espetáculo. Às vezes existe tal número de atividades organizadas pelo Distrito ou Região que praticamente não resta tempo ao Escotista para trabalhar com as Patrulhas ou Alcateias;

3. Super administração e não suficiente capacitação. Gostaria de sugerir-lhes dar uma olhadela nos orçamentos e balanços, para verificar se aquilo que gasta com papelada e administração está equilibrado com o que se emprega na capacitação técnica. Ambas as coisas são necessárias, porém mantenhamos o equilíbrio.

4. Seriedade Demasiada. O Escotismo é algo sério, contudo, uma das grandes coisas é a alegria de participar dele, isso tanto para os dirigentes como para os rapazes. Em alguns países, há o perigo de se pensar em termos educacionais ou psicológicos e, enquanto fazemos isso, perdemos muito da nossa condição de "amadores". E vocês todos sabem que como amadores somos bons, mas como profissionais somos péssimos. Somos uma parte complementar na vida do rapaz; complementar na escola, dos pais, da igreja, e, mais tarde, do trabalho.

5. Exclusividade, o perigo de pensar que "os chefes devem provir do próprio Movimento". Penso que necessitamos de gente de fora, com diferentes experiências - homens de bem que tenham a faculdade de crítica construtiva e que tragam sangue fresco para o Movimento; 

6. Austeridade demasiada. Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a nos converter em um movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o Movimento para os rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam do Escotismo.

7. Trabalhar para fazer super escoteiros. Devemos estar conscientes, no que diz respeito a adestramento, de não tratar de começar um curso a partir de onde deixamos o anterior, sem pensar que necessitamos começar e recomeçar sempre pelas bases e os princípios para progredir a partir destes.

Para terminar, recordemo-nos que Baden-Powell, em 1938, proclamava com orgulho e alegria o número de três milhões e meio de Escoteiros no mundo. Agora podemos ver um movimento que ultrapassou os oito milhões, (1957) devido justamente à sua simplicidade e ao prazer dos rapazes que tem sido contínuo.
 
Sem dúvida, Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis idéias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou.

OS ÚNICOS CAPAZES E POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES.
 
Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento. Feliz palavra de John Thurman. Muitos associados adultos, rapazes e moças estão saindo. Reclamam das atividades. Precisamos meditar.

Nota - John Thurman britânico foi condecorado com o “Bronze Wolf”, mais alta comenda do Movimento Escoteiro. Também assumiu o cargo de Chefe de Campo em Gilwell Park entre os anos de 1943 e 1969, tendo se destacado nesta função. Hoje em Gilwell existe um auditório que leva seu nome. Este seu artigo dá plena visão do que pensava B.P sobre nossa atuação no movimento escoteiro.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Mística, Simbolismo e Tradições no escotismo.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Mística, Simbolismo e Tradições no escotismo.

Prólogo: - Nota - Ser Místico é não dizer o que faz, Nem o que vai fazer - é ser anônimo. É superar os medos do eu pelo mergulho no ser. É não ter a necessidade de demonstrar o que sabe, É falar pouco e escutar muito, É passar por louco e ser inteligente, é se orgulhar do que é do que pretende fazer. E então? Vamos deixar como está?

                   O escotismo está assentado em bases sólidas, com um programa definido e metodologia posta em prática com excelentes resultados em várias partes do mundo. Isto é discutível? Acredito que não. Somos um movimento de ação, de trabalho voluntário, e diferente de tantos outros que buscam outras ideias ou ideais. Nossa finalidade é sem similar desde a aprender fazendo até a autoeducação pelo próprio jovem. Alguns dizem que nossa organização está perdendo aos poucos suas características, tradições simbolismo e a mística que nos deu por muitos anos uma referencia especial. Afinal estamos perdendo nossas raízes? Sei que alguns poucos que não conheceram nosso passado, até podem estar sendo direcionados para o que se diz como Escotismo Moderno. Mesmo assim as tradições e místicas não podem perder o que de mais belo temos no Movimento Escoteiro.

                   Até que ponto a mística e as tradições têm validade na metodologia Badeniana? Baden-Powell criou raízes que ficaram na memória no escotismo mundial. O Chapéu Escoteiro, o Lenço, a Flor de Liz, o aperto e mão, aa saudação escoteira, o lema, o sistema de Patrulha, os distintivos e porque não dizer onde reside a maior parte da simbologia e mística do Escotismo Mundial. O Parque de Gilwell. - A Insígnia da Madeira, seu lenço com a marca do “Tartan” dos MacLaren, e sem contar o Colar de Dinizulu. Poderíamos acrescentar ainda o estilo Badeniano da uniformização, dos topes, da apresentação, das contas do colar, enfim temos todo um histórico cheio de místicas e tradições. Sem esquecer-se da história do escotismo tão rica em detalhes e que nosso Fundador Lord Baden-Powell foi prodigo e feliz na sua execução.

                   As místicas se completam deste a iniciação do jovem no escotismo até sua chegada como “Velho Lobo”. A Promessa Escoteira é uma mística e um símbolo que se pratica onde se faz o escotismo em todo o mundo. Os Lobos têm sua mística da Jângal, o Grande Uivo e tantas outras. A Caverna Pioneira, as passagens entre ramos, à fraternidade escoteira universal tudo é baseado em místicas e tradições. O Sistema de Patrulhas é a base primordial para o desenvolvimento escoteiro em todas as suas fases. Quem não se lembra das famosas estrelas de metal que mostravam em cores o crescimento nos diversos ramos? Daquela época de se abrir um olho depois os dois com a Primeira e Segunda Estrela. E as especialidades que ainda permanecem? Os cordões de eficiência? E a alegria estampada em um lobo quando recebeu seu Cruzeiro do Sul, ou do escoteiro seu Lis de Ouro, do Sênior seu Escoteiro da Pátria e o Pioneiro sua Insígnia de BP.

                Falam-se muito nos acampamentos de Gilwell. Volta a Gilwell terra boa é cantada em todos os cantos onde se pratica o escotismo. Do primeiro Jamboree Mundial em Olympia, no coração de Londres onde se reuniu pela primeira vez mais de 8.000 escoteiros vindo de 34 países diferentes. Dizem que o desfile foi inigualável! Uma tradição um pouco esquecida por alguns que acham que desfilar não é “coisa” de escoteiros! Lamentável! Escotismo sem sua mística, sem sua simbologia e tradições é como ser amputado de sua melhor parte. Os velhos sonhos aventureiros, os acampamentos, os bivaques, a Promessa Escoteira onde um dia dissemos que seria por toda a vida, o orgulho de dizer que “Prometo fazer o melhor possível para cumprir o meu dever”... O meu dever sim como escoteiro com a minha lei perante Deus e a minha pátria.

                Será que B.P era um místico? Acho que sim. Afinal ele fundou um movimento diferente de tudo que se conhecia até então. Vivenciar a vida ao ar livre, vivenciar a mística de uma Patrulha, de uma Alcateia em Seeonee e finalizar com o Fogo do Conselho é uma maneira inesquecível para lembrar para sempre do Escotismo de Baden-Powell. Contar e ouvir histórias, repetir a lenda dos Cavaleiros da Távola Redonda, da luta de B.P no Transvall, do primeiro acampamento em Brownsea, a força espiritual de Gilwell Park, o cumprimento da mão esquerda, as saudações Escoteiras, o lenço, o tope da Flor de Lis com seu penacho, as jarreteiras, as estrelas de metal e tantos outros não dá para esquecer.

                 O Escotismo é tudo isso, seu valor e sua sensibilidade diante da natureza; diante de situações humanas; diante de intuições filosóficas; outras, diante de suas reações interiores ou quando se encontram em meio ao borbulho da vida agitada na cidade. Este é o escotismo que conhecemos e quem dele participa tem seu quinhão de felicidade junto aos jovens, oferendo a eles o que de mais belo um dia poderiam ter conhecido. Mesmo com as novas tecnologias elas não sobrepõem os valores criados por Baden-Powell. Quando isto não existir mais o escotismo então acabou. Será difícil, alguém escreveu que já tivemos mais de 250 milhões de escoteiros outro na época atual que passamos dos 500 milhões. Não há quem se orgulhe de ter sido um deles. Alguém que aprendeu com a natureza as maravilhas que ela oferece.

                 A mística, o simbolismo e nossas tradições são nossas origens. Ela nos envolve por todos os lados. Não podemos esquecer-nos de nosso passado. Não podemos deixar que se apague de nossas memórias o verdadeiro escotismo que nosso líder nos deixou. Anrê! Lord Baden-Powell of Gilwell!

Nota – Mais temas sobre ”Místicas e Simbolismo”, escreva para meu e-mail ferrazosvaldo@bol.com.br e peça o bloco 8 com muitas publicações sobre o tema além de diversos artigos sobre “Aprender a fazer Fazendo”.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O que significa ser Chefe Escoteiro para você?




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O que significa ser Chefe Escoteiro para você?

Prólogo: - E outra coisa – não se esforce. Pelo menos, não tanto. Não fique aí remando contra a maré, dando murro em ponta de faca. Veja – se não fora pra ser, não vai ser. Acredite em mim. Coisa boba essa sua tentativa de ir além. E olhe, eu não estou pedindo pra você desistir não, não é isso. Eu só quero que você pense mais… que tenha argumentos melhores. (Caio Fernando Abreu).

- Desculpe jovem. A pergunta não foi para você. Você é puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações. Foi para um chefe, um dirigente aquele voluntário que veste um uniforme, diz que ama a filosofia escoteira, prega aonde vai às benesses da formação escoteira, algumas vezes seu assunto é escotismo e quando alguém pergunta o que é isso ele abre um enorme sorriso e não para de falar. Eles estão em todo lugar. Nos pontos de ônibus, dirigindo seu carrinho, no metrô no trem no seu trabalho no seu lar e olhe já vi um falando e falando em uma viagem de avião para Cuba. Pode? Na maioria são aprendizes de “palradores” doutores, pedagogos e filósofos da metodologia escoteira. Se perguntar o que ele faz para tirar tempo e atuar escoteiramente ele dá um enorme sorriso e diz: - Se você tem tempo de sobra não seja um Chefe escoteiro, escotismo é para aqueles que não tem tempo se sacrificam, chegam tarde em casa depois de uma reunião, passam dias e noites no meio da floresta, dormem no chão, costumam ter o céu como barraca e adoram uma chuva para sorrir e cantar... Boa essa não?

- Tem aqueles saudosos dos seus tempos, dos seus acampamentos e de uma noite de luar. São capazes de ficar horas e horas contando estrelas e esperando um cometa passar... Conhecem a natureza com a palma da mão, são capazes de fazer amizades com uma coruja, com um pica pau e até mesmo com um lobo Guará que diz ser seu irmão. Esses eu conheço bem, dão risadas, contam piadas de escoteiros, animam com alegria as noites em volta de uma fogueira, contam histórias tiradas da imaginação onde a lei dos escoteiros faz parte, pois não gostam de palavrões e dizem ser Caxias do artigo que diz ser puro de corpo e alma. São danados em construções simples, feitas com nós, amarras e costuras de arremate. Sabem fazer uma pequena ou grande Pioneiría, viajam léguas com seus passos escoteiros, medem distancias, alturas e seu caminho a seguir sempre tem uma estrela para indicar. Sabem seguir o vento, tem bom senso no trato com seus amigos e seus escoteiros. Costumam dizer que são os heróis da garotada, e por eles tem um jeitinho especial de elogiar, ensinar a trilha, seguir a pista aprendendo a saltar obstáculos até chegar ao ponto de reunião, que é sua formação como homem de bem.

- Infelizmente tem aqueles que fazem do escotismo sua diversão. Não “pegaram” o sentido da fraternidade, da amizade, do respeito, da ética e da Lei... Lei? Sim aquela que agora tem um novo artigo: “O Escoteiro é honrado e digno de confiança”. Esquecem muito que a lealdade faz parte que a irmandade tem seu objetivo da criação do escotismo por seu fundador Robert Baden-Powell. Ele o “Criador” insistia que o escoteiro é amigo de todos e irmão de todos escoteiros, mas você acha que eles se preocupam com isso? Que os outros possam ser seus irmãos? Mas eles tem suas escolhas, não são irmãos de qualquer um. Alguns tem estilos autoritários, querem ser dominadores, mandões desposta e outros acham que sabem tudo e os demais lhe devem obediência. Alguns dizem que pertencem a uma nova casta escoteira. São Insígnias, medalhados, formadores, dirigentes e assistentes. Outros dizem que estão fora do contexto e esqueceram da verdadeira finalidade do escotismo que é o jovem.

- E ainda tem os gênios, os criadores, os doutores que tem uma nova visão e fazem questão de subir aos píncaros da glória para mudar... Não são muitos, mas são uma praga que vai crescendo à medida que novos pensadores que não encontraram eco onde habitam viram no escotismo um manancial. Dão novos nomes a juventude, alegam ser especialistas, experientes, peritos em jovens e sabem de cor e salteado o que eles pensam e querem. Não se preocupam com os velhos lobos, os antigos habitantes da comunidade Badeniana que ficou no passado. Ouvi-los? Para que? Eles sabem que o fundador achava um absurdo que um Antigo Escoteiro passou anos e anos aprendendo com seus jovens, vendo sua formação futura no seio da comunidade, pularam obstáculos, saltaram o caminho a evitar e a seguir e tem muita coisa a orientar os mais jovens para que evitem os mesmos erros, as mesmas preocupações. Nós? Amarras? Dormir sob as estrelas? Caminhar para ver o cantar dos pássaros? O nascer da lua, o por do sol? Eles nem pensam nisso, coisa de bobocas dizem. Preferem jogar para escanteio quem lhes atravessar o caminho. Acreditam que são os novos progressistas, modernos pensadores a mudar para um mundo melhor.

- Pois é, este é o cotidiano de um escotismo que não deveria ser. Cada um vai seguindo sua trilha, muitos sabem aonde vai dar e outros pensam que sabem. Enquanto isso alguns amam e outros aproveitam o amor destes para se mostrar como doutores escoteiros. Estes não são uma raça em extinção, estão aí por todo lugar, nos Grupos Escoteiros, nos Distritos nas Regiões e na Direção Nacional. Mas quer saber meu amigo? Graças a Deus a grande maioria ainda tem o sonho escoteiro no coração, o amor verdadeiro pela filosofia escoteira e fazem tudo para dar uma formação escoteira conforme a metodologia de Baden-Powell, seu pensamento para formar homens e mulheres capazes de mostrar que o escotismo tem rumo, tem prumo e segue firme remando sua própria canoa com sua proa seguindo a estrela da rosa dos ventos, onde o vento sopra com as boas novas certo da grande filosofia de um homem que ensinou o caminho a seguir. Robert Stephenson Smyth Baden-Powell! –

deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.

terça-feira, 9 de julho de 2019

Contos de Fogo de Conselho. Eu peguei um pé de vento para ser feliz!




Contos de Fogo de Conselho.
Eu peguei um pé de vento para ser feliz!

Prólogo: - Nunca troque o que mais quer na vida por aquilo que mais quer no momento. Momentos passam, a vida continua...
                                                
                   Olhei pela janela e um pé de vento passou por mim. Não podia perder esta carona. Já tinha colocado meu uniforme, meu chapéu de abas largas meu lenço e meu cantil. Até cantava a canção que dizia que meu chapéu tem três pontas. Soube que um Chefe cantava dizendo que tinha três bicos. Não importa. Corri até o quarto amochilei a supimpa às costas peguei meu bastão encantado e parti. O pé de vento ia longe. Consegui alcançá-lo entrando na poeira mágica que ele deixava. A poeira me levou a cantos e recantos e com aquele seu “jeitão” escoteiro sorriu dizendo: - Corra, vamos atrás, e se alcançar ela lhe dará uma carona até o Vale da Felicidade. Eu sonhava me perdia em devaneios pensando ir um dia conhecer o Vale. Um Pintassilgo me disse que no vale só entra escoteiros de coração de ouro e puro nas suas palavras. Uma borboleta dourada colhendo néctar das flores foi logo me dizendo: - Escoteiro para entrar no Vale, tem que ter autorização. Quem sabe consegue uma na terra dos anciãos? Não perguntei onde eles moravam, eu sabia que a vida nos leva a lugares nunca imaginados e eu era forte o suficiente para mudar o mundo. Eu queria ser feliz e precisava entrar no vale da Felicidade para alcançar o meu desejo. Eu sabia que os momentos em nossas vidas são mágicos e cabe a cada um de nós, deixa-los mais marcantes fazendo o que precisamos fazer.

                  Na esquina da esperança encontrei de novo o pé de vento. Ele não se fez de rogado. - Suba se acredita que isto o fará feliz e que poderá fazer alguém feliz aí sim a carona é sua. Na viagem pelo céu azul, o pé de vento me dizia sorrindo: Escoteiro todos nós estamos à busca do mesmo sonho. Muito amor, amizade, paz, esperança, afeto tudo porque pensamos que assim seremos felizes. Embarcamos no vento sul e partimos para Sudoeste. Era lá que iria encontrar os anciãos para me autorizar a entrar no Vale da Felicidade. Eu acreditava que curtir o que de melhor a vida oferece seria como viver o ultimo dia de nossas vidas. Eu sabia que a vida é curta e seu caminho é longo. Já me contaram que às vezes precisamos aprender a sorrir, chorar, amar, sofrer e a renascer. Só assim poderíamos encontrar os nossos sonhos. Poetei um sonho lembrando que o ontem passou e o amanhã talvez nunca chegue.

                Ao passar em uma constelação linda e cheia de luzes coloridas o pé de vento naquele espaço infinito gritou para mim: - Pegue três estrelas, coloque no bolso da vida. Se a lua passar não deixe que ela se vá. Use seu cabo trançado e a leve com você. Lá na curva do caminho para o espaço sideral salte e siga no rumo da constelação zodiacal. Vais encontrar os anciãos que poderão lhe dar permissão ou não. Fui em frente. Estava equipado. No bolso eu levava três estrelas, na mochila guardei a lua. Se encontrasse o sol ele iria me acompanhar, pois sempre foi meu amigo nas andanças e caminhadas que fiz. Se precisasse de barraca o céu estaria à disposição. Se a chuva viesse eu seria Escoteiro para dizer: Bem vinda, as plantas agradecem. Como se fosse uma nau sem rumo o pé de vento me soltou e rodopiei no ar caindo sem perceber em um universo cheio de brilho e faíscas que me lembravam das noites de inverno à beira de uma fogueira em um acampamento qualquer.

                Avistei ao longe a Montanha dos Sete Desejos. Linda, maravilhosamente atraente para qualquer Escoteiro sonhador. Passou por mim uma nuvem branca em forma de amor. Saltei e ela me conduziu ao destino que tinha escolhido. Era lindo demais. Não podia ser uma miragem ou uma visão incompleta do que pensava ser a felicidade. Como se materializasse em minha frente, uma senhora de idade indefinida, trazida quem sabe pelo vento, de extraordinária beleza, cabeços prateados em coque, sorriso maravilhoso, um lenço azul brilhante preso por um anel dourado e com o colar da Insígnia me olhava docemente. Com uma voz meiga, simples, sem afetação me olhou e disse: - Quer entrar no vale da Felicidade? Tem maturidade suficiente para dizer – Eu errei? Tem ousadia escoteira para dizer – Me perdoe? Tem sensibilidade para expressar a todos dizendo: - Eu preciso de você? Seria capaz de dizer com simplicidade ao seu irmão Escoteiro: Eu te amo? E por acaso quando errar o caminho saberá começar tudo de novo? Se disser sim sei que é um Escoteiro merecedor, apaixonado pela vida e assim vai descobrir que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas saberá usar as lagrimas para irrigar a tolerância. Usará as perdas para refinar a paciência. Irá corrigir suas falhas para esculpir a serenidade e quem sabe vai usar a dor para lapidar o prazer. Se fizer assim se usar os obstáculos para abrir às janelas da inteligência as portas do Vale da Felicidade estarão abertas para você!

                     Foi então que descobri que tudo fora um sonho. Acordava com o sol a pino em minha barraca no meu acampamento imortal. Lá fora meus amigos de todos os tempos trabalhavam para limpar o campo, fazer o café, na subida da montanha vi o Lobo Guará uivando como a dizer:
- Escoteiro parte do dia já se passou, mas ainda há muitos dias pela frente. Levante, avante, faça sua boa ação! Se ainda não fez, faça se ainda não foi, vá! Não deixe para logo ou para amanhã o que você acha que precisa ser feito, procurado, encontrado. Este é o momento para viver, para ser feliz, não depois, logo ou amanhã, pois agora você pode, mas o depois ninguém pode garantir como será. Então agarre o momento, as oportunidades, crie o que não existe e seja feliz!

sábado, 6 de julho de 2019

O livro do Chefe Osvaldo foi apenas uma fábula uma ilusão.




O livro do Chefe Osvaldo foi apenas uma fábula uma ilusão.

- Hoje é sábado. A maioria dos Escoteiros estão em reunião. Fiz esse artigo há tempos. Sempre esperando uma oportunidade para publicar. Porque não hoje? Quase não serei lido, muitos ausentes em reunião e poucos para curtir ou comentar. Sempre alguns bons amigos me perguntam: - E o seu livro Chefe? Queria ler, ter na cabeceira da cama, me deliciar... Gente fina, educados, mas e o livro chefe? Ah! O livro! Ele nunca existiu... Gostava de dizer: - Quem sabe um dia? E esse dia nunca chegou. O tempo passou e sempre um ou outro insistindo: - Chefe e o Livro? Que coisa gente, o Livro sumiu nas asas da imaginação! Afinal livros dão alma ao universo, asas para a mente, voo para a imaginação e a vida e a tudo... Mas meu livro foi apenas uma ilusão. Um famoso poeta escreveu que existem livros escritos para evitar espaços vazios na estante. Seria o caso do meu? Mas ele não existe, e quer sinceridade? Nunca vai existir.

- Este é um assunto comentado nos últimos anos. Cobranças e sempre alguém solicitando para ter um livro meu. Mas são quantos mesmos? Verdade que se tivesse um não queria lucro. Do escotismo nunca retirei um tostão. Meu livro quem sabe seria uma pantomina, um engodo uma tapeação para explicar este meu fracasso. Um amigo disse certa vez: - Um livro nunca termina o que nos tem a dizer... E tome sugestões, tome ideias, tome sites, tome gente que pode interessar... Até mesmo oferecimentos financeiros: - Chefe deixa comigo, me mande o substantivo comum e logo o Senhor terá seu livro em mãos. Engabelei-me com as ofertas, corri aqui e ali, “fucei” no Google, tentei, mandei a quem pediu. E o resultado? Disse para mim: - Vado com a liberdade, livros, flores e a lua, quem poderia não ser feliz? E assim o tempo foi passando, eu um velho escoteiro aposentado nunca poderia tirar do bolso alguns tostões e tome seu editor: Faça este velho feliz...

- E o livro? Upa! O livro foi apenas uma quimera, um devaneio, uma fabula uma fantasia criada na imaginação do contador de histórias... Escoteiras! Foi apenas um faz de conta um sonho que explodiu no ar, sem partículas microscópicas para mostrar que caiu em um “Buraco Negro” para nunca mais voltar. Ilusão, fantasia, coisas de escritores sem Money sem tostão. Eita gente este sou eu! - Na imaginação do Velho Escoteiro eu sempre imaginei que o paraíso seria um tipo de biblioteca, cheia de livros escoteiros contando histórias de meninos sonhadores, escoteirando pelas campinas ou voejando nas montanhas com a Bandeira do Brasil. Mas Chefe... E o livro? Que livro meu amigo José de Arimatéia que nasceu na Judeia e segundo os Evangelhos canônicos, um homem rico, senador e membro do Sinédrio me perguntou em sonhos: - Você quer ser o fazedor de sonhos? Quer mesmo alegrar alguns chefes a ler seu livro nas fronteiras do Brasil e o Mundo? Já pensou? Seu livro em inglês, francês e coisa e tal? E ele sorriu sentado em volta do fogo na lareira e viu à vovó que começou a ler: Era uma vez... E não narrou um conto meu e sim de Betsabá, aquela das mil e uma noite que contava histórias para seu rei não a matar... E quem quiser que conte outra!

- Não tem livros. Tive sim mil ofertas, mil sugestões, talvez alguns tostões oferecidos por pequenos pingentes uniformizados que se mostraram amigos faceiros, bons escoteiros e eu não quis aproveitar. Nem sabia como fazer. Até que testei um E-book sem resultados. Tentei um canal Youtubeano, mas deu em nada. Os que se ofereceram desistiram sem dizer adeus. Até hoje penso se não existiu patrulhamento ideológico da sua querida Escoteiros do Brasil. Indicaram-me a CCME e de novo vi que ali não tinha peixe para pescar. Pediram-me copias, enviaram para meio mundo... E o livro Chefe? O livro seria aquele que os aficionados poderiam sentir o sabor ao folheá-lo e escolher o conto que quiser. Impossível zarpar nas ondas do alfarrábio, de Histórias que os Escoteiros não contaram. Sei que me entenderam. Hoje nem mesmo consigo masterizar os capítulos em ordem tal que seria divertido ler. Ah! Um livro de histórias... Quantas folhas? São mais de dois mil contos. Escolher quantos? Não teria outro livro dos contos aqueles que os escoteiros são os heróis da juventude? Ou quem sabe um livro das Crônicas, aquelas que falam da mística, das pegadas, das aventuras aventureiras dos fogo de conselho, das jornadas criativas e nunca esquecidas?

- Desculpe Chefe. Não tem livro. Não consegui editar nenhum. Até que tentei quando podia respirar, falar e tinha mãos e pés para andar e ideias na cabeça para pensar. Os anos passaram e vi que enganei a mim mesmo. O matuto mineiro sem dinheiro, sem contas bancárias, sem cartão de crédito, sem cheque e devedor na praça nunca teria alguém para um empréstimo, para uma doação sem troco a voltar. Quer mesmo saber? Não ficará ofendido se eu disser? Nem me fale mais em livro, em ideias, em sugestões, já disse sou um Velho Escoteiro cansado, meio senil, mal tiro um tempo para escrever. Quem sou eu para fazer uma revisão de texto, correção ortográfica no português e a diagramação? Putz! Nem sei o que é adverbio e mal escrevo um proverbio: - “Para se conhecer a sabedoria e a instrução, para entenderem a palavra da prudência, para receber a instrução do entendimento, da justiça do juízo e a equidade, o sábio escoteiro ouvirá e crescerá em conhecimento e o entendimento de sábios conselhos”... 

- Bolas... Sei que muitos ofereceram, mas quem são esses muitos onde estão? Gente boa gente amiga se preocupado comigo um Velho Chefe Escoteiro na flor da idade pronto para ir à eternidade, sem seu livro... Ainda quer ser meu amigo? Esqueça o livro, não vai haver edição. Para mim não passou de uma bela ilusão. Não há retorno. Retorno existe, quase sempre à volta ao Homem do Jaleco Branco. Ele vive atrás de mim dizendo: - Seu Vado cuidado ande devagar, faça a caminhada com segurança se quer viver um pouco mais... Livro? Fica para outra vez, quem sabe na minha próxima encarnação!

quinta-feira, 4 de julho de 2019

O último dos moicanos. Israel ou Rael, Escoteiro da minha Patrulha Lobo foi para o céu.




O último dos moicanos.
Israel ou Rael, Escoteiro da minha Patrulha Lobo foi para o céu.

- Não, não foi o último dos Moicanos. Eu ainda estou de pé. Fiquei sozinho dos remanescentes da Patrulha Lobo. Rael foi o sinaleiro e construtor de pioneiras. Éramos sete. Tãozinho o Monitor, Helinho o Sub-monitor, Darcy o Cozinheiro, eu escriba e bombeiro lenhador, Chiquinho o mais novo sorria por ter sido eleito intendente. Totonho não era frequente. Não tinha cargo e ajudava em tudo. Um dia desapareceu do Grupo Escoteiro e só um mês depois soubemos que fora com seu pai para a selva do Suriname em busca de ouro. Se ficou rico não sei. Rael sempre foi meu amigo mais próximo. Passávamos horas conversando na porta de sua casa ou na Oficina de Meu pai onde depois da escola ajudava no que podia fazer. Adorava almoçar e jantar na minha casa e isto aconteceu mesmo quando casei. Tivemos aventuras enormes pelas cercanias de Governador Valadares, cidade onde nasci escoteiro e no Grupo Escoteiro São Jorge onde fiquei até os dezoito anos.

- Inesquecíveis nossos acampamentos, nossas aventuras e ele foi meu companheiro na Jornada de Primeira Classe. Seis meses depois fez a sua e eu o acompanhei.  Desde os treze anos que vez ou outra em cima de uma biscicleta, eu na minha Husqvarna sueca, me deliciava com seu pneu balão faixa branca e ele em sua Philips inglesa rodávamos da Pastoril até São Raimundo depois da ponte sobre o Rio Doce só para conversamos pedalando, coisas que hoje não faço mais. Tãozinho tinha uma Monark semi nova e Helinho também uma Philips usada. Chiquinho tomava emprestado da minha irmã uma Husqvarna freio contra pedal de uso feminino, e Darcy pegava a do seu pai (não me lembro à marca) quando íamos nos aventurar biscicletando por trilhas e estradas carroçáveis nos arredores de nossa cidade. Mantena, Itahomi, Tarumirim, Caratinga, Teófilo Otoni, Guanhães, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Conselheiro Pena, Aimorés, Baixo Guandu e tantas outras cidades nos receberam sempre gritando: Estão chegando os Escoteiros do Brasil. Totonho não era frequente nem sempre seu pai emprestava biscicleta.

Quando fiz meu primeiro CAB (Curso de Adestramento Básico) em 1959, Israel chorou porque não podia ir. Eu estava próximo aos dezoito e ele ainda não tinha dezessete. Se não me engando era dois anos mais velho que ele. No IM parte II fomos juntos. Fiquei na Touro e ele na Maçarico. Nossa amizade continuou por toda a vida. Da Patrulha foi o único que se formou como Engenheiro Mecânico. Terminando o curso foi trabalhar como Engenheiro na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em Volta Redonda. Sempre em suas férias lá estava ele na minha casa onde ficava dias descansando. Quando saiu da CSN foi para Governador Valadares onde se tornou professor. Vez ou outra recebia dele uma carta até que morando em São Paulo eis que ele chega na minha casa, com aquele sorriso de sempre acompanhado de sua Esposa Dora. Foram mais de dois dias para colocarmos o papo em dia.

- Vez ou outra recebia seu telefonema. Sempre batendo aquela saudade. Hoje fiquei sabendo de seu falecimento. Sua esposa telefonou. Estava preparando outro artigo para publicar, mas o Rael tinha prioridade. Morava e ainda mora em meu coração. Fizemos escotismo juntos desde os lobinhos e até quando ele assumiu a chefia no São Jorge. Passamos uma temporada longe um do outro, mas a amizade nunca foi perdida. Tive muitos amigos do peito, mas o Israel foi o único que através dos tempos nunca perdemos o contato. Estou sozinho agora, a Patrulha se foi. Breve estarei com eles no Grande Acampamento e em reunião de Patrulha darei a sugestão de partimos para grandes aventuras escoteiras no espaço sideral. Nossas reuniões de patrulhas serão retornadas em uma estrela qualquer. Os sorrisos, as idéias, as noites estreladas que lá no céu devem ser espetaculares irão ouvir o Cantar da Patrulha Lobo e o seu grito inesquecível: - Qui que quode. Com a Lobo ninguém pode!

Ao Israel meu ultimo abraço enviado aqui da terra. Não faltarão outros na outra dimensão do infinito que iremos viver. Agora estou só, não sei se sou o ultimo dos Moicanos. Israel agora se foi, e eu fiquei sozinho. Minha mente estará sempre com ele esteja onde estiver. Espero que os demais da Patrulha Lobo estejam ao seu lado, e breve  muito breve estaremos reunidos outra vez!

terça-feira, 2 de julho de 2019

Crônicas de um Chefe escoteiro. Hinos, marchas e contra marchas.




Crônicas de um Chefe escoteiro.
Hinos, marchas e contra marchas.

Prólogo: - “Sim sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que transporto instintivamente para tudo que escrevo.” Heitor Villa-Lobos.

             Por que devemos ensinar civismo e cidadania aos nossos jovens? Afinal o significado de patriotismo faz ou não parte do vocabulário Escoteiro? Li não sei onde que a cidadania se constrói com convivência e esta pratica sempre se torna um hábito de comportamento. Um poeta disse que não existe sucesso ou felicidade sem o exercício pleno da cidadania, da ética e do patriotismo. Falaram-me que o decreto lei 5.700 de setembro de 1971 e mantida pela constituição de 1988 obriga as escolas do ensino fundamental e médio a hastear a bandeira e cantar o hino uma vez por semana durante o ano letivo. Será que isto acontece? Dizem alguns que isto nos faz voltar ao passado do governo militar e a lembrança deste regime assusta ainda a muitos. Sei de um politico que defende estas práticas com o seguinte argumento: - A pratica de tais ações podem nos lembrar das diretas-já, a Ayrton Senna que sempre teve consigo uma bandeira do Brasil e isto encerra em si mesmo o amor à pátria, encontra nesse amor o seu maior significado.

           No escotismo a prática de cidadania e civismo ainda não foi esquecida. Apesar do medo constante de alguns pela prática de ordem unida os jovens ainda tem o orgulho de se formar em uma atividade escoteira, aprendem que descansar e sentido faz parte da disciplina escoteira. A Cerimonia de Bandeira é em qualquer grupo um orgulho de todos os participantes. Esta é uma pratica que ainda se mantem viva no espírito Escoteiro e isto nos dá o sentimento patriótico, nos amplia e reforça a visão de família unida em favor de um bem comum. Afinal a pátria não é mais que uma agregação de famílias sustentada por um tronco comum a todos. Nos falta, porém a prática de cantar e se orgulhar de nossos hinos. Tomemos como exemplo o Hino dos Escoteiros do Brasil o Rataplã. Lembro bem que nos tempos idos ninguém recebia a Segunda Classe ou a Segunda Estrela sem saber cantar o nosso hino. Não sei como isto hoje é interpretado. E o Hino Nacional? E o Hino a Bandeira? Não esquecendo o hino da Proclamação da República e hino da Independência do Brasil. Já cantaram o hino do marinheiro? O Cisne Branco é um dos mais belos hinos militares de nossa pátria. Mas temos tantos. O hino do exército – “Nos somos da pátria a guarda, fieis soldados”... E assim poderia enfileirar outros tantos lindos hinos aqui.

        Mas voltemos ao nosso hino. Antes era obrigatório para se conquistar uma eficiência, classe ou especialidade isto ainda existe? Nem sei mesmo se nos cursos Escoteiros que são aplicados pela União dos Escoteiros do Brasil se canta os hinos ou mesmo o Hino Alerta. Cantam? Eu gostaria de imaginar no final ou meio de um jamboree, com mais de 5.000 participantes e o apresentador dizer – Estamos premiando com taxa gratuita, dois uniformes, uma barraca, material de campo e sapa, uma bandeira Nacional se tivermos aqui um Escoteiro ou escoteira (não vale Chefe) que saiba cantar nosso hino sem errar, dizer quem foi o autor, qual a data que ele escreveu e quando a UEB considerou-o como nosso hino. Quantos iriam ganhar o prêmio? Isto sem contar sobre o Hino Nacional e o Hino a Bandeira. Quantos sabem quem escreveu e as datas? Risos. Se aparecer alguém eu ficarei surpreso. Mas se isto não acontece não temos culpa? Estamos preocupados com tantas outras coisas que consideramos importantes e quem sabe estas são esquecidas.

       Eu sei que os jovens não só de hoje, mas no passado também são meio avoados com estes hinos. São atividades para eles cansativas e sem graça. Se não aprendermos a criar meios alegres e motivados dificilmente eles irão aprender ou cantar. Mas lembremo-nos que nem sempre nós chefes temos uma voz agradável. Isto tira toda a expectativa e interesse. Conheci um Chefe que tinha um amigo com uma linda voz e ele como Instrutor de especialidade dava um toque especial quando cantavam os hinos. Outro fez um concurso por patrulhas onde era vencedora a que cantasse completa dois ou três hinos. Agora em muitos grupos era obrigatório em todos os cerimoniais que se cantasse um hino. E olhe se premiava a patrulha que melhor se apresentasse. Que as canções e hinos sejam cantadas e não gritadas. Que um instrumento musical seja usado e isto vai dar outra visão e audição de quem canta.

       Uma vez perguntei a uma patrulha o que é musica. Quase cai e costas quando um menino respondeu – A música é uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e ritmo seguindo uma pré-organização ao longo do tempo. É considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana... – Bacana! Depois fui saber que sua família fazia questão de levá-lo a consertos de grandes orquestras e em sua casa se ouvia muito musicas diferenciadas. A escolha musical é privilégio de cada um, mas a concepção de musica no seu verdadeiro sentido deve ser motivo de seguir para se tornar um habito de comportamento. Escotismo tem outras portas que devemos entrar e ver se lá dentro encontramos uma maneira de educar sem substituir os pais e a escola. Certos valores devem ser adquiridos com a participação não só espontânea como frequente. Os deveres fundamentais para uma vida coletiva visando preservar a sua harmonia e melhorar o bem estar de todos não se adquire só com a experiência. O Chefe Escoteiro tem uma parte fundamental em tais práticas.

            Encerrando lembro que deixar que os outros o façam é uma forma de não assumir algumas responsabilidades que cabe a nós voluntários. O civismo consiste no respeito aos valores às instituições e as práticas especificamente políticas de um país. Não podemos fugir destas responsabilidade onde pretendemos dar ao jovem noções de comportamento dentro da sociedade em que vai permanecer. Hinos, bandeiras, atitudes se traduzem em ética e valores morais. Que cada um de nós pense a respeito e possamos olhar o futuro como a dizer as palavras de BP – O que importa é o resultado.
E VOCÊ QUE ESTÁ LENDO ESTE ARTIGO SABE CANTAR DO INICIO AO FIM O NOSSO HINO ESCOTEIRO?