sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O Escoteiro é cortês.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O Escoteiro é cortês.

... – Respeito: - Jamais trate o interlocutor como tolo, ingênuo ou mau! Reflita sobre a razão da conversa ou discussão. Se for só pelo prazer de estar certo, não valerá a pena continuar...

- Às vezes me pergunto onde anda o cavalheirismo escoteiro. Tunico Polegar ria quando dizia isso. – Chefe! Ainda existem cavalheiros neste mundo moderno? Tunico era único, podia colocar nele dezenas de sinônimos de cortesia. Era amável, afável, bom, amistoso, atencioso, educado, agradável, civilizado, cordial, distinto gentil e... Tudo que você pensar em um escoteiro educado ele se portava como tal. Poderia dizer que adquiriu essas qualidades na educação que recebeu de seus pais, mas que o escotismo ajudou, há! Isso lá ajudou. Dizem que cavalheirismo é um substantivo masculino Ação, característica, atributo ou comportamento de cavalheiro, qualidade de quem demonstra gentileza, cortesia e civilidade.

Mas porque estou entrando nesta seara? Bem voltando das minhas pequenas férias na barraca de enfermaria, o qual está virando rotina, me deparei com pseudos chefes escoteiros (assim acredito) comentando um artigo meu sobre o fato atual da pedofilia existente no meio escoteiro. Fui desafiado a dar nomes aos bois, quem sabe achincalhado pelo meu artigo do qual li de novo e não vi nada contra. Pode até ser que tenham razão, mas será que não havia uma maneira mais cortês de comentar? Estou vendo nas redes sociais valentes chefes, desafiadores na sua maneira de agir, muitas vezes ofendendo, dizendo que irão as raias da lei, defendendo seus pontos de vista como se fossem os guardiões escoteiros da moralidade nas ações de dirigentes ou até mesmo um já velho Chefe como eu.

Li outro dia um artigo interessante orientando você (eu) a evitar entrar em celeuma ou discussão principalmente com aqueles que se julgam dono da verdade. Dizia que devemos refletir sobre a razão da conversa. Se for só pelo prazer de estar certo, não valerá a pena discutir... Ensina que devemos levar em consideração a idade, a cultura e a religião do interlocutor. Não esperar que ele seja como nós (eu). Quando a discussão chegar a um ponto inegociável, pare de falar ou escrever e mude de assunto. Tinha outras sugestões que para não alongar o tema paro por aqui. Não conheço nenhum dos meus interlocutores. Não é a primeira vez que alguns se insurjam com o que escrevo. É um direito, mas levar para uma discussão é totalmente inútil, pois nenhum dos lados irá convencer o outro da sua razão. Esconder-me atrás da minha idade ou experiência não sei até que ponto é válido.

Tive também a surpresa em outro artigo de ver um Chefe Escoteiro que não conheço pessoalmente, educadamente me dar conselhos sobre o que eu publico sobre escotismo. Disfarçadamente deu suas razões para tal. Pensei que poderia ser uma admoestação, uma censura ou aconselhamento voltado para proteger a disciplina escoteira da nossa associação.  Temos no Movimento Escoteiro aquele faz de conta que tudo que os lideres dizem devemos dizer “amem”. Insistem em dizer que somos um movimento democrático e temos as normas próprias onde discordar e sugerir. Por um lado sem disciplina o Movimento Escoteiro não tem como manter sua metodologia e ter adultos a seguir sua metodologia. Concordo.

Mas esta disfarçada forma de repreender que julgo uma censura, não faz parte de cavalheiros se pensarmos que no escotismo não somos assim. Meus artigos às vezes são ferinos e nem sempre palatável para uma boa parte da elite escoteira da Escoteiros do Brasil. Como sabem sou de uma velha estirpe escoteira em extinção onde a preocupação era colaborar na formação do jovem tentando dar a ele um pouco de ética, honra, dignidade, e condições de atuar na ajuda ao próximo e a formar seu próprio caráter com o programa delineado por Robert Baden-Powell. Para isso nosso exemplo sempre foi inquestionável para o jovem. Não somos santos. Somos humanos. Temos uma série de erros para corrigir. Mas para nós chefes deveria ser ponto de honra o nosso exemplo. Se um dia fizemos uma promessa, prometemos “fazer o melhor possível” para cumprir a Lei Escoteira, acredito que nossa maneira de se apresentar tem de ser levada a sério.

Nesta nova era, chamada de moderna, se vê grande preocupação no comportamento, no costume vivenciando não só seu país que passa a fazer parte da globalização. Com isto o Escotismo recebe uma forte pressão de muitos para que tudo deva mudar. Nos grupos temos hoje uma nova nomenclatura. Aquelas tradicionais desapareceram. O Programa também mudou. Não Há uma preocupação do que os outros fazem sem ao menos ver se os resultados são melhores. A visualização da uniformidade mudou. Aquela velha reprodução do escoteiro de outras eras desapareceram. Só os antigos ainda mantem-se atrelado ao passado. Viver amar e compreender a natureza como fonte do aprendizado para a vida, aos poucos está sendo substituído por outras formas mais modernas como  pensam os novos arautos do escotismo.

É longo o caminho a seguir. Dou meia volta e retorno aos novos cavalheiros da moderna atualidade. Muitos esperando que sua nova criação tenha o efeito esperado e para isso fazem questão de manter viva a chama entre os viventes no escotismo. Já não existe mais o espírito de BP como antigamente. Antigamente? Palavra proibida para nos novos pedagogos e pensadores do poder escoteiro. Posso estar enganado, mas ainda vejo o sorriso do jovem, ainda acredito em sua opinião e ainda acredito se ele mantem dentro de seu espirito a juventude aventureira em busca do seu eu, como um herói dos seus ancestrais. Na minha humilde opinião a violência gera a violência. Gritos, força bruta, ofensas e censura não tem mais lugar ou nunca teve no seio da família escoteira.

Afinal somos queira ou não irmãos. Irmãos por parte da espiritualidade para quem acredita, irmãos nesta vida terrena, irmãos de lenço para levarmos a frente os ideais de uma ideia que teve e ainda tem tudo para transformar uma nação. Quanto ao cavalheirismo precisamos repensar esta maneira intempestiva de tratar ao seu oponente. Escoteiramente manter o respeito, a civilidade entre os chefes seja em qualquer nível faz parte da boa educação e cavalheirismo. Abstenho-me de manter uma discussão inócua. Sei que não vou mudar concepções assim como eu também dificilmente irei mudar só porque alguém discordou e anotou em meus alfarrábios. Discutir em grupo, em seminários, onde as técnicas próprias satisfazem a ambos debatedores deve ser levado em consideração e aceito pela maioria.

Finalmente penso que temos que nos preocupar com nosso exemplo para com os jovens. O segundo artigo da Lei Escoteira, ser leal cortês, amigo e verdadeiro trás a tona o sentido do exemplo que devemos dar. A essência da lealdade e confiança lastreiam os valores que trabalhamos no escotismo através da Promessa Escoteira e por conseguinte, da Lei Escoteira a qual prometemos cumprir.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Desafios Escoteiros.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Desafios Escoteiros.

- Não se trata de saudosismo como muitos fazem questão de me rotular. Eu mesmo gosto de me desafiar e desafio aos defensores dos novos tempos se os rapazes e moças que estão no escotismo não gostariam também de entrar neste convite e viver a vida escoteira mais abrangente na técnica seja ela mateira ou aventureira. Quem em sã consciência não iria amar um acampamento, uma bela pioneira, quem sabe uma ponte pênsil, um moinho na beira do riacho, desafios do scalp, uma rota do Tarzan quem sabe uma falsa baiana ou mesmo um Comando Crow feito por eles mesmos (não vale Chefe fazer) sobre um riacho ou até mesmo uma saliência para provar que o medo não faz parte dos escoteiros. Costumo dizer que existem aqueles que querem ser escoteiros e aqueles outros que não se adaptam sejam nos novos programas criados com os tempos modernos ou mesmo nos que não existem mais. Separei alguns poucos. São insignificantes? Não sei.

Nós e amarras.
Quantos são? Os chamados escoteiros e os oficiais dos marinheiros? São tantos que melhor é não contar para não assustar. Sabiam que o primeiro nó que se aprende no escotismo é o “direito”? “O coelhinho entrou no buraquinho saiu por aqui e...” Depois se envereda no Escota, no nó de Frade, no arnês, no Cadeira de Bombeiro (fazer e experimentar é um barato). E ai vem o Evasão (cuidado ao descer da árvore e pegar a ponta errada), o de Pescador, o Catau, o Laís de Guia, o Fiel, nó de Oito, nó de aselha, o Balso pelo Seio... São tantos e tantos que me perco ao contar. E as amarras? A Quadrada, a Diagonal, A Paralela, a Tripé, a Ocidental, a Trípode, uma Falcaça, uma costura de arremate... Haja tempo para aprender tudo e se a gente pensa em nós de marinharia a coisa complica. Muitos ou todos que usamos no escotismo foram copiados dos valentes navegadores da Marinha. O nó corrediço, o nó de Algema, o de Atracação, o Borboleta, o de Caminhoneiro, o Cirurgião, o nó de Coroa, a Costura em Pinha, o Eletricista, o da Embalagem, o de estaca... Gente tem nó que não acaba mais.

E agora? Lá vem o desafio, fazer pelo menos trinta por cento deles assim: - Nas costas usando as mãos, de cabeça para baixo, de olhos vendados e tem aquele escoteiro que com dois pequenos barbantes o fazem dentro da boca com a língua! Pode? Ora bolas, nós são nós e fazê-los bem acochados é uma arte de bons escoteiros. Afinal se usa com chuva, à noite, no sol do meio dia, e cair com um Evasão mal feito é de doer. Não vale a pena? Se pensa assim coloque seus escoteiros e escoteiras na roda. Esqueça essa conversa que os tempos são outros. Faça e depois analise. Um bom programa de desafios tem seu lugar. A Patrulha que melhor fizer os nós não só em qualidade ou em quantidade ganha: - Um troféu de eficiência, ou uma flor de lis de lapela, ou uma moeda da boa ação. Quem não quer? Afinal nós não são coisas de escoteiro? Só o Direito e o Escota tem vez?

Sinais de Pista.
Ora bolas, fazer sinaizinhos com faca, com canivete, com galhos, com giz daqueles do caminho a seguir, salte o obstáculo, caminho a evitar, água potável, inicio de pisa e fim de pista entre outros, já era! Seguir pista é uma arte que BP praticou toda sua vida. Aprender a distinguir pegadas humanas de animais ou pássaros é a continuidade do Noviço Escoteiro que quer saber muito mais. Em uma estrada carroçável, bom se tiver chovido treinar passadas, peso, em marcha ou correndo é um bom aprendizado. Seus escoteiros e suas escoteiras se souber despertar a aventura que existe em tais atividades irão amar.

Descobrindo medidas escoteiras.
Alguém já se perguntou quando mede seu palmo, seu braço, sua perna, sua altura? Opa! Não vá medir a língua, se ela é grande deixe que fica guardada no lugar de sempre. Mas vamos lá, já sabe quanto tempo percorre um quilômetro no seu passo escoteiro? Sabe medir distância no Passo Duplo? Sabe medir altura com um gravetinho? Quantos metros tem aquela montanha, aquela árvore e sabe medir a largura do Rio ou Riacho que costuma visitar? Quantos meninos ou meninas de sua tropa já fez um Percurso de Gilwell em local determinado que seria de sua casa a sede, ou nos quarteirões em volta da sede? Claro que já deve saber com maestria a usar a bússola Silva ou Prismática, conhece os pontos cardeais, colaterais e sub colaterais. Sabe encontrar o norte, o azimute e ter noção escoteira de quantos graus ela tem para se achar o ponto certo a seguir.

Transmissões à distância.
Ora, ora, quem ainda não manuseou um par de Bandeirolas de semáforas em posto de observação e transmissão? Claro que um rastreador de bandeiras para ler e dizer qual letra vai transmitir é parte fundamental na transmissão. Dizem os antigos que 40 ou 50 letras por minuto já é um bom caminho. E o Morse? “Aquele que tem um sistema de representação de letras, algarismo e sinais de pontuação codificado e enviado de modo intermitente”. Já pensou transmitir por lanternas, à noite, com sua Patrulha conversando com outra em pontos distantes? Que papo iria acontecer? Mas nem sempre temos tudo à mão para falar, pedir e gritar socorro no SOS (SOS é o código universal de socorro, utilizado como mensagem para alertar quando alguém está em situação de perigo de vida e necessita de auxilio o mais rápido possível). Treinar este pedido nas semáforas e Morse é fácil, quero ver no sistema indígena usando sinais de fumaça.

Eita gente... Tem coisas do arco da velha na aprendizagem técnica que posso apostar muitos jovens escoteiros e escoteiras iriam amar. Pegue um Chifre do Kudu, aquele usado por BP no primeiro curso da Insígnia de Madeira e no acampamento de Brownsea e mostre sua força labial nos sinais dados aos escoteiros. Não ria, aposto com sem um bom treino você só irá soprar e mais nada. Falando em BP amanhã se comemora o seu nascimento. Quantos anos? Faça você à conta e me diga... Ele nasceu no dia 22 de fevereiro de 1857. Mas por favor, quando for adestrar suas patrulhas faça através dos seus monitores. Compete a eles adestrar seus patrulheiros. Aprender em sala de aula, no quadro negro, sentados em circulo com o Chefe falando e madeira de dar em doido! Dizem os doutores no escotismo que o jovem ou a jovem quando vê o Chefe falar por mais de 10 minutos sua mente está viajando por outras plagas e pensando... O Que eu estou fazendo aqui?  

Sabem meus amigos chefes, monitores e escoteiros. O melhor aprendizado é ao ar livre. Patrulhas com liberdade de ir e vir, conversando, aprendendo, apertando a mão e manda desafios escoteiros. Jogos são importantes no crescimento da escoteirada, mas aprender fazendo, repetindo até fazer o certo é o melhor. Sem me colocar como um sabe-tudo escoteiro eu desafio a vocês todos a fazerem pelo menos 30 nós escoteiros, seis tipos de amarras e quem sabe duas falcaças. Topa? E complete com Semáforas e Morse pelo menos transmitindo 40 caracteres por minuto. (eu bati meu recorde de 60 letras por minuto) E chega por hoje. Como dizia o seu Pedro Pedreira da Escolinha do Professor Raimundo: Pedra noventa só enfrenta quem aguenta, e não me venha com chorumelas! Afinal ligar e procurar no celular qualquer Zé Mané é capaz!


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Filosofia Escoteira?




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Filosofia Escoteira?

... - Nada que ficar de bem com a vida e aproveitar horas de descanso para pensar. Nada entendo de filosofia, mal lí sobre Immanuel Kant, Rousseau, Friedrich Nietzsche, Platão Aristóteles e Sócrates. Sempre vi o escotismo como algum impossível de tocar, como o vento, como as ondas do mar, um por do sol na primavera... Afinal para mim o escotismo sempre foi à beleza das coisas que existe no espírito de quem as contempla e ama...

                              Outro dia alguém disse que temos no escotismo um grande número de filósofos escoteiros. Pensei bastante sobre o tema. Seria verdade? Li que a palavra “filosofia” significa amor pelo conhecimento. Um filósofo não é apenas alguém que sabe muito ou que ama aprender. Um verdadeiro filosofo é quem pensa sempre de maneira crítica sobre questões importantes que não possuem respostas óbvias. A vida de um filósofo escoteiro não é nada fácil, mas caso você goste de explorar as complexidades das relações humanas e de pensar seriamente sobre temas importantes e frequentemente controversos no escotismo, talvez você seja um predestinado para ser um filósofo escoteiro.

                     Mas seria eu um filosofo? Um humanista, um pensador? Padre Pedro que o diga, no Colégio Ibituruna vivia dizendo que eu não chegaria a nada na minha luta pela vida, será que ele disse a verdade? Pode ser, não me formei, fui um estudante médio, o que sei aprendi lendo e vivendo na Escola da Vida. Disseram-me que os filósofos não ficam batendo papo sobre as próprias opiniões. Gostam de desenvolver argumentos baseados em premissas que são muito criticadas por outros “filósofos”. (verdade). Mas afinal o objetivo do pensamento filosófico não é estar sempre certo, mas fazer perguntas pertinentes e buscar entender melhor o mundo?

                          Com seis anos e meio subi o Pico do Ibituruna com mais 20 lobos da Alcateia e com meu Balu na direção. Ele um Chefe sem eira nem beira sabia conquistar, falava bonito, sorria com seus dentes grandes e brancos, mexia com os braços tentando nos convencer da maravilhosa vista que se descortinava a nossa frente. Meninada na flor da idade ainda não sabia das belas cores do por do sol, da serpente em noites enluaradas que o Rio Doce fazia na sua jornada correndo para o mar. Mas onde estava ali a filosofia? Quem sabe na fraternidade entre os lobos e no olhar infinito do nosso Balu?

                         Nunca aceitei a tese que preto é preto branco é branco. Juntando os dois temos belos exemplos de cores cinza, chumbo, e se quisermos criar cores da imaginação é só acompanhar o vento com a interpretação que temos de belas cores, as do arco íris, das matas, do céu, da lua do sol e tantas mais. Meu Balu dizia que uma das coisas mais importantes na vida era ler, ler muito, engolir as histórias e sentir no coração o escrito que entendeu do livro que leu. Quando passei para os escoteiros vi o outro lado das minhas leituras, belas jornadas, belos acampamentos, sorrir ao ver o Rael contar como foi ver e amar o seu primeiro por do sol...

                         Nunca fui capaz de abandonar a filosofia escoteira que morava em meu coração. Li Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Kant e São Tomaz de Aquino. Alguém me disse que na filosofia oriental as ideias de La-Tsé, Confúcio e Buda também merecem a atenção dos filósofos escoteiros iniciantes. Adotei a palavra filosofia no Escotismo que significa amor pelo conhecimento. Mas completam meu raciocínio: - Chefe um filósofo não é apenas alguém que sabe muito ou que ama aprender. Como dizia Sócrates sábio é aquele que conhece os limites da sua própria ignorância.

                         Quem sabe meu intelecto não agrada a maioria dos “çabios” escoteiros de hoje. Olham por uma prisma diferente do que sempre adotei. Amor em primeiro lugar, respeito em segundo e saber ouvir antes de falar. É bom ouvir um bom papo, uma boa história, um bom caso um bom conhecimento de quem está falando. Meu escotismo filosófico mudou? Um corre-corre para ser o melhor? Melhor de que? Se posar de medalhão? Isto é filosófico? Ser admirado, ser contemplado como um “douto” filosófico do escotismo moderno? Desdenhar antigos que amaram o que sempre fizeram e acreditaram?

                         Minha filosofia é feita de erros, aprender caindo, repetindo frases sem eira nem beira. Tente mover o mundo, o primeiro passo será mover a sí mesmo. Dizia Platão. Ou complementando: - Não espere por uma crise pra descobrir o que é importante em sua vida, afinal o que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê... Será que no escotismo não aprendemos nada, que não nos preocupamos em refletir sobre a ética e a moral humana? Respeito... Uma palavra simples que nunca pode ser esquecida.

                        Termino copiando Aristóteles: Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura. E finaliza, o ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete. O filósofo nos dá lições poderosas, pensar fora da caixa exige certa anormalidade e a forma como a gente age geralmente define a nossa personalidade. Já dizia Santo Agostinho, ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser, ou então pensar que o mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página. Eita Filosofo santo poderoso, refletindo suas palavras quem não gostaria de ler uma página do incrível livro da sua vida?


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Conversa ao pé do fogo. De quem é a culpa?



Conversa ao pé do fogo.


De quem é a culpa?

Diversas publicações estão a correr em todas as redes sociais. A Polícia Federal prendeu centenas de pedófilos entre eles alguns Chefes Escoteiros. Chefe Escoteiro? Fingia ser isto sim. Mas não passava de um doente mental. Doente que deveria receber todas as punições que a lei permite ou mais. Escrever somente não resolve. Dar nomes aos bois resolveria? Seria muita ingenuidade achar que somos todos puros de corpo alma e pensamento. O movimento Escoteiro é um farto manancial para estes doentes mentais. Grupo Escoteiro estruturado, onde tem um bom sistema de patrulhas, bons monitores, (acredito até em um Conselho de Tropa para Escoteiros apesar de muitos acharem que não) uma ótima Corte de Honra, um Escotista para cada matilha, um perfeito Conselho de Chefes e uma democracia perfeita evitam muito a participação dos mal intencionados. Sei de muitos grupos que aceitam sem fazerem uma averiguação ou mesmo analisarem com cuidado a validade de tal aceitação. Infelizmente não é bem assim.

Por diversas vezes recebi comentários de guias e seniores e até chefes contando horrores. Guias e seniores? Sei não. Onde estão os chefes? Os pais? Por mais que alguns tentem me convencer eu nunca aprovaria em um grupo sem boa estrutura o escotismo misto. Exceto nos lobos e nos pioneiros.  Mas sei que tem muitos melhores que eu e defendem com todo ardor este tipo de participação. Defendem com unhas de dentes como se estivessem bem preparados para agir e acreditam que tudo vai dar certo. Conhecem o futuro. Já vi em alguns casos que o próprio Sistema de Patrulhas praticamente não existe mais. Um grande receio de deixar todos no mesmo campo de patrulha vinte e quatro horas por dia. Que bom seria ter locais para debater tais temas, desde o grupo até a mais alta esfera nacional. Não foi bem assim que aconteceu. Mas isto é outra história. Eu conheço os primórdios disto tudo. Vivi a época. Um caso foi interessante. A bebida no campo foi por conta do Chefe. Aconteceu no Brasil. Não vou citar nomes, mas foi uma festa. Digna de filme erótico. Acham que é só este? Tenho dezenas de testemunhos que mantenho a sete chaves.

Competem nesta hora os dirigentes do grupo do distrito das regiões serem os primeiros a descobrirem e não ficar demagogicamente enaltecendo seus feitos de conquistas de IM, de mais uma conta por conta do seu valor como formador e de acampamentos ou acantonamentos nacionais, regionais e distritais. Soube de fonte fidedigna de casos assombrosos nas altas horas da noite de “pseudos chefes” que nem deveriam estar ali. Quem participa e corre nas madrugadas em vigília nestas atividades sabe o que vai encontrar. Eu já vi coisas do arco da velha. Providências? Um jeitinho aqui e outro ali. Nesta hora é que todos deviam saber aqueles implicados e dar nomes aos bois. Mas não é isto que acontece. Não se presta conta, não se sabe o que discutem nossos lideres nas entranhas do escotismo. Comissão de Ética? Conversa entre quatro paredes.

Os que conhecem grupos bem estruturados sabem que dificilmente isto irá acontecer com eles. Mas não se enganem mais de quarenta por cento dos grupos no Brasil não tem a estrutura necessária para tomar as providencias devidas. Investiguem, olhem, perguntem e tenho certeza que muitos de vocês sabem até mais do que eu do que se passa. Fui Comissário Regional na década de setenta. Muitos anos se passaram. Muitos casos aconteceram. Fui duro na hora. Não fui amigo? Infelizmente você vai pagar o pato. Entre o certo e o duvidoso fiquei com o duvidoso. Vai com Deus amigo! Se é que o posso chamar assim. Injustiças? Prefiro cometê-las a ter um nome como o Movimento Escoteiro reconhecido por sua seriedade e formação educacional ser colocado como um movimento de adultos mal formados e sem condições de participarem.

Pedófilos? Irão existir sempre. Escondem-se. São covardes. Seu maior amigo no grupo ou no distrito ou na região pode ser um deles. Tomar cuidado eu sei que todos dizem, mas o fulano? Coloco minha mão no fogo por ele! Que fogaréu eim? Sou daqueles que o adulto Escoteiro, o voluntário Escoteiro tem de ser como a mulher de César. Não basta ser honesto, tem que parecer honesto. Mas são menos de 05% por cento. Poucos não? Mas fazem um estrago enorme!

Que cada um faça sua parte claro, se achar que deve fazer.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Voluntário... Sou um deles?



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Voluntário... Sou um deles?

... O caminho para se conseguir a felicidade é fazendo as outras pessoas felizes... Se tiver o hábito de fazer as coisas com alegria, raramente encontrará situações difíceis... Vale a pena ser bom, mas o melhor é fazer com simplicidade sem arrogância... Não existe ensino que se comparece ao exemplo! Baden-Powell.

- Segundo definição das Nações Unidas, "voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos...".

- Se quisermos aperfeiçoar nossos conhecimentos sobre o trabalho voluntário, na internet temos milhares de páginas que falam a respeito. Algumas dizem que incluir o voluntarismo no currículo é importante para seu reconhecimento profissional. Comentários diversos diz que é gratificante e faz bem a saúde... Aumenta o aprendizado no seu modo de viver... Aumenta sua agenda de contatos... O torna mais feliz... Coloca suas ideias em prática... Vai praticar o que está aprendendo e melhora seu carisma. Pessoas importantes e algumas famosas fazem questão de trabalho voluntário seja ele qual for sem pavonear e se mostrar o melhor.

Temos inúmeros casos de alguns que se dedicam anonimamente a ajudar o próximo, principalmente doentes e crianças. Em um programa de voluntariado, é muito comum adquirir novas habilidades como aqueles que nos fins de semana ajudam na construção de casas para famílias necessitadas. Fazer o bem que mal tem? Inúmeras pessoas desempenham atividades voluntárias acreditando fazer do mundo um lugar melhor para viver. Os Doutores da Alegria, pessoas que acreditam ajudar os doentes e os fazer felizes seja em hospitais, casas de repouso, clínicas podem ajudar no tratamento e em alguns casos existem resultados comprobatórios. Muitos são anônimos, não fazem de sua obra voluntária uma amostra dos seus conhecimentos e nem mesmo comentam em redes sociais.

Ainda ontem li sobre uma senhora, nova ainda e seu trabalho semanal com crianças de escolas públicas que não vão bem em seus estudos e ela todo sábado está presente para ajudar. Isto há mais de dez anos! Não li sobre ela nas redes sociais. Que eu saiba é um trabalho esplêndido e pouco reconhecido. Médicos sem fronteira, doadores de sangue, bombeiros voluntários, os que percorrem ruas e avenidas trazendo alento com sopas ou congêneres sem serem premiados para tal. Milhares de outros estão ai ajudando sem alarde sem dizer quem são e sabendo que o importante é sua consciência fazendo outros tantos felizes. Li sobre o portal de Ação Voluntária e outros que arregimentam pessoas interessadas em fazer um trabalho voluntário. O Escotismo não está lá. Milhares de organizações atendidas nas diversas necessidades por recursos humanos e voluntários. Existe uma Lei de Numero 13.297 de 16 de junho de 2016 que regula a assistência a pessoas com objetivos de atividade não remunerada reconhecida como serviço voluntário.

Mas e o escotismo? Sabemos que só na Escoteiros do Brasil sem considerar as associações independentes já passam de 12.000 participantes. Não deviam ser mais? O acesso através dos filhos, dos amigos ou da sua vida escoteira que guardaram na mente e no coração seu amor à filosofia escoteira é um caminho? Será que somos um voluntariado diferente dos demais? Enquanto a maioria se mantem anônimo no seu trabalho, no Escotismo não. Sem menosprezar os dedicados e afoitos no seu trabalho ao jovem, tem outros exibicionistas muitas vezes prepotentes no trato com os demais. Nosso caminho com Chefe voluntário não pode ser a fonte eterna de satisfação pessoal que a primeira vista enobrece, nos dá possibilidade de ascensão e de poder. Muitos ficam extasiados com tal abertura de endeusamento, já que a mística e a simbologia encanta desde os mais antigos aos mais novos.

Enquanto no passado os adultos voluntários tinham uma caminhada simples com seus rapazes na prática escoteira, hoje isto não acontece. O deslumbramento tomou conta de alguns, claro que nem todos. Ainda existem muitos que enveredaram pelo verdadeiro espírito escoteiro, visando única e exclusivamente à colaboração na formação do jovem conforme preceitos metodológicos que foram escritos pelo fundador Robert Baden-Powell. Mas encantam alguns suas performances no crescimento não só ideológico como na mística sem contar o poder já que muitos ainda sonham ficar em posição de mando mesmo não sendo mestres do conhecimento escoteiro e suas necessidades junto aos rapazes.

A Insígnia de Madeira é fator preponderante no brilhantismo individual. Ter o lenço, ter o anel e as contas é motivo de orgulho pessoal em muitas redes sociais. Alguns ainda não tem ideia do que podem ajudar aos jovens. A presença em atividades onde fazem questão de marquetear e ao assumir poderes trás há muitos dividendos de ser conhecido e reconhecido como autoridade escoteira. O sonho de muitos na hierarquia, acreditando ser um novo docente, sendo olhado como um doutor ou melhor como um Velho Lobo no saber escoteiro costuma ser frequente.  Lá estão eles contando suas proezas, seus cursos, seus encontros nacionais e algumas vezes internacionais. A sede de poder não só na unidade local e também nas demais subsequentes é uma realidade. Alguns acham que assim sendo estão abrindo um novo caminho para as condecorações. Já sonham com a Cruz São Jorge, a Tiradentes ou o Tapir de Prata. Afinal as demais basta ter uma boa lábia e uma boa escrita nos Grupos Escoteiros e são fáceis para conquistar.

Nos entretantos de tudo isto onde estão os meninos? As meninas? Poucas fotos, poucos relatos de atividades próprias do programa escoteiro. Agora ao contrário lá estão os novos IM, os novos Formadores sem contar cargos na hierarquia escoteira. Será que estes têm boas alcateias, boas tropas, quase completas fazendo um escotismo de primeira qualidade no campo, vida ao ar livre vivenciando a natureza conforme pensou BP? Será que estes próceres no saber podem discutir e ensinar escotismo sem uma boa base no seu aprendizado anterior? Cursos avançados para formadores darão a eles condições para formar ou como se dizia no velho jargão do passado, adestrar? Não precisam mais de técnicas, de vivencia de campo de aprender a fazendo?

Sem desmerecer muitos que estão participando e colaborando com seus jovens, fico triste ao ver poucos jovens em suas Patrulha ou Matilhas, com seu sorriso aberto, seus anos de vivência não só na individualidade, mas no coletivo, e ao chegar em sua vida adulta valorizam o escotismo que fizeram. Ainda há um longo caminho a percorrer para que todos entendam que só os resultados interessam. O escotismo deve desenvolver a todos e não só um mais afoito que para alguns lideres são exemplos nem sempre seguido pelos demais. Voluntariado é sinônimo de espontâneo, natural, facultativo. Ser voluntário é mais do que se imagina, sem estrelismo e se dedicar a ajudar sem esperar nada em troca.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Crônicas de um Chefe Escoteiro. Minha saudosa Cascavel da pele vermelha.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Minha saudosa Cascavel da pele vermelha.

... Às vezes conto tanta coisa inverossível que fico perplexo com tantas situações complexas passei na minha vida escoteira. Dizem que sou um eterno zombeteiro de coisas sérias, mas pense comigo, não dizem que o proverbio: “Quem conta um conto aumenta um ponto” me da o direito de enviar para a Escoteiro do Brasil uma linda e simpática cascavel? Me disseram a boca pequena que lá tem um ninho delas! Rarará!   

        Não se enganem. Foi mesmo uma grande amiga. Não falo do ser humano, por favor! Falo de uma cascavel que morava nas Colinas do Pastor. Acho que foi em um inverno rigoroso que a conheci. Foi assim subitamente e não esperava. Andando na mata espessa fiquei preso com o pé direito entre dois galhos secos. Tentava sair e não conseguia. Não era longe do nosso campo de patrulha. Porque saí só? Quer saber mesmo? Fui procurar um lugar mais calmo para falar com o Miguel. Risos. Acho que vocês sabem quem é o Miguel e não dá para levar companhia. Estava eu lá olhando a folhagem de uma bela Aroeira Pimenteira, enorme, parecendo ter mais de duzentos anos de idade quando ouvi o chocalho. Nem deu tempo para fazer os “entretantos”. Sabia que o chocalhar de um chocalho é pernas para quem vos quero. Não deu outra dois passos e fiquei preso com o pé direito e o esquerdo ali se oferecendo para uma mordidinha que iria me fazer feliz para sempre lá no céu.

         Eu sabia que muitos falam mal das cobras. Dizem que são animais traiçoeiros e devemos ter o máximo de cuidado. Eu nunca tive medo delas. Sabia que só nos atacam quando se sentem ameaçadas ou algum infeliz pisa em cima delas. Até aquele dia tinha visto inúmeras Cascáveis. Nossa patrulha tinha um convenio com o Instituto Butantã em São Paulo. Eles nos mandavam as caixas de madeiras apropriadas e era só entregar ao Chefe da Estação da Vitória Minas em Governador Valadares e ele enviava. Em troca nos mandavam soro antiofídico que era doado para o hospital local. A Cascavel sempre foi a mais temida. Seu chocalho arrepiava os mais valentes dos Escoteiros e até o Zé do Monte quase morreu quando foi picado e olhe, estava com um trinta e oito, um fuzil Mauser, duas facas e dois punhais. Não morreu, pois o humilde Zé tinha uma reza “braba”. Portanto vamos dar um crédito as Cascavéis. Elas avisam e muito. Só um idiota e um imbecil não foge do seu chocalho.

       Falando em chocalho dizem que a gente pode saber quantos anos ela tem. Comentam a boca pequena que cada anel, ou melhor, cada guizo é formado quando ela troca de pele. A pele sai no sentido da cabeça para a cauda e ai, uma parte fica presa formando um dos anéis. Comentam também que a vida útil (ou inútil para quem já foi mordido e não foi desta para melhor) troca de pele três ou quatros vezes por ano. Portanto uma cobra com nove anéis no chocalho tem provavelmente entre dois e três anos. E prevendo que tem entre 13 a 14 anos de vida ela vai trocar de pele muitas vezes e vai morder os indesejáveis por muito tempo. Mas vamos com a história da minha Cascavel da Pele Vermelha. Ela sim já me avisara que estava ali. Que eu me mandasse rápido pela trilha que tinha vindo. Mas o pé direito preso e ainda colocando as calças no lugar certo só me cabia rezar. Foi então que um Sapinho-cururu passou por mim e não viu a linda cascavel de bote armado. Bela refeição ela comeu.

         A cobra se esticou toda. O pobre do sapinho tentava mesmo vivo sair da barriga dela. Não conseguia. Fiquei com pena do sapinho. Tão miudinho e servindo de lauta refeição para Dona Cascavel. Consegui me desvencilhar e me mandei dali. Uma hora depois vi de novo a Cascavel da pele vermelha na porta do nosso campo de patrulha. Todos gritaram – Mata! Mata! E só vi o tripé de bastões balançar e servir aos valentes patrulheiros. Ela é claro deu no pé ou no rabo não sei. Passou meia hora e lá estava ela de novo a me olhar. Não olhava para nenhum dos big boys Scouts, só para mim. Caramba, pensei. Será que se apaixonou? Eu namorar uma Cascavel? Eis que neste interim vai a passos de tartaruga uma grande e deliciosa lesma. Pluf! Uma bocada e lá foi a lesminha para o fundo do poço da Cascavel.

           Estava agora entendendo a jogada da Dona Cascavel da pele vermelha. Ela sabia que ao meu lado um lauto almoço sempre aparecia. Fazer o que com sua escolha em me ter como Mestre Cuca Cobreiro? Melhor explicar a patrulha e deixá-la vaguear pelo campo. Ela não ia morder ninguém. Foi à conta. A Cascavel da pele vermelha virou o xodó da patrulha. Alguns até brincavam de pique esconde com ela. Boca Larga subiu em uma arvore e gritou – Você não me pega! Você não me pega! Coitado, só viu quando a Cascavel da pele vermelha começou a se enroscar no troco e ele pulou de uma altura de mais de dez metros. Nada demais. Apenas uma luxação que nós grandes socorristas que éramos o tratamos melhores que os médicos importados do estrangeiro.

          Durante os quatro dias de campo nossa amiga permaneceu no acampamento. Quando fazíamos o sinal Escoteiro para ela, em troca balançava seu chocalho. No último dia vi que ela tinha engordado e já nem ligava mais para os girinos, sapinhos e outros bichos e insetos e só queria dormitar na minha barraca. Ficava lá horas e horas e até acostumei com ela à noite dormindo no pé da minha cama. Isto mesmo. Uma cama! Naquela época sempre fazíamos uma para nós. Época boa, bom recordar. Mas enfim, o último dia chegou. Formada a patrulha em frente onde estava arvorada a bandeira, chegou a hora do adeus. – Lobos! A Bandeira em saudação! No pé da arvore onde estava arvorada a bandeira a Cascavel da pele vermelha acompanhava a cerimonia. Tudo desmontado e já ensacado nas bicicletas era se despedir do local e se mandar. Seriam mais de vinte e cinco quilômetros a percorrer. Saindo às cinco da tarde no mais tardar às oito da noite estaríamos em casa.

           Olhei para trás e vi a Cascavel tentando nos acompanhar. Não deu. Pegamos uma descida que dava para fazer até quarenta quilômetros por hora. Nem lembrava mais da Cascavel da pele vermelha e na segunda quando voltava da escola uma surpresa. No portão da minha casa lá estava a minha querida amiga a Cascavel da Pele vermelha. Como ela achou a minha casa não sei explicar. Expliquei a mamãe e ao papai como ela era. Minhas duas irmãs sorriram. Para dizer a verdade nunca dei alimentação para ela. Morou conosco por muitos anos. Seu Zé Carapinha nosso vizinho foi quem comentou que outra cascavel estava junto a ela. Partiram em um domingo de verão. Tempos depois passei a receber a visita dela e seus novos familiares. Uma dezena de cascáveis ali na porta de casa chocalhando como se estivessem nos cumprimentando. Fizeram isto por muitos anos até que nunca mais a vi. Por onde anda? Se estiver aqui no bairro é melhor esquecer. Todos tem medo dela. Se alguém a visse enquanto não a mandasse para a terra das Cobras Mortas não ficaria satisfeito.

          Cobras. E quem tem medo delas? Eu nunca tive. Sabia como evitar, como pegar, como correr mesmo com as calças na mão saindo em disparada do Miguel. Faz parte da vida de nós Escoteiros acampadores. De vez em quando sonho com ela, trocando a pele, engolindo um sapinho que gemia para sair de sua barriga. Sonho bobo não? É de vez em quando sinto saudade da minha amiga a Cascavel da pele vermelha. Que onde estiver que esteja feliz e que viva para sempre se é que não se reencarnou novamente. Risos!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Conversa ao pé do fogo. O Troféu Eficiência da Patrulha Corvo.




Conversa ao pé do fogo.
O Troféu Eficiência da Patrulha Corvo.

... - Quando uma patrulha resolve agir como um time, como uma equipe e quando todos estão imbuídos do mesmo ideal, não existem motivos para achar que não podem conquistar o que julgaram impossível.

                          Zé Lineu olhava sua patrulha com admiração. Ele foi escolhido como monitor, ninguém dava nada por ele, magrinho, piquitito, olhos pequeninos, estava querendo aprender a ser líder. Quando foi escolhido leu muito sobre liderança, leu tudo que o Chefe Leão indicou. Havia três meses que fora eleito. Não sabia por que tinha sido escolhido. Na corte de honra os monitores das outras três patrulhas não concordaram muito. – Chefe, sendo uma nova patrulha com novos patrulheiros um sub nosso deveria ser o escolhido e indicado. – Chefe Leão não disse nada. Afinal foi decisão da patrulha. Quando ele tentou explicar que precisavam de alguém mais experiente eles foram contra. Afinal se decidiram assim que seja. Isto se chama democracia. Não dizem que precisamos aprender a fazer fazendo?

                        Tonico Souza foi aclamado Submonitor. Zé Lineu deixou que cada um escolhesse o local que ficariam na formação e qual o cargo preferido. Parecia que tudo estava combinado. João Moreno ficou com a intendência. Pedro Luiz como bombeiro e aguadeiro. Joel Siqueira sorriu quando disse que seria o cozinheiro. Manolo Xavante ficou como Construtor e na sede Almoxarife. Sobrou para Zico Capixaba ser o socorrista e lenheiro. Faltava o cargo de escriba e Zico Capixaba assumiu até entrar o oitavo Escoteiro da Patrulha Corvo. Todos se sentiram importantes. Era uma patrulha nova, com menos de três meses de atividade, mas que não deixavam por menos seus afazeres obrigações e responsabilidades. Na sede as outras patrulhas davam risadas. Eram escoteiros mais antigos, muitos primeira classe e outros tantos segunda classe. Consideravam os Corvos amadores perto deles.

                    Na primeira Corte de Honra que Zé Lineu compareceu, gostou do rito, do simbolismo e do respeito que ali imperava. Laércio Barbosa Guia da Tropa e o monitor mais antigo. Tinha três anos de lobo e já ia entrando nos quinze anos. Breve iria fazer a Rota Sênior. Zé Lineu nunca duvidou de sua capacidade e quando o Chefe Leão comentou na Corte sobre o próximo acampamento e a conquista da Eficiência Padrão Ouro de campo ele ficou boquiaberto. Era demais para ele. Olhou para os outros monitores e viu seus olhos brilharem. Na reunião de patrulha na casa de João Moreno ele expor como seria o Padrão Ouro de Eficiência. Todos ouviram atentamente – Todos os dias cinco pontos para as barracas bem armadas e conservadas. Dez pontos para a verificação na inspeção dos objetos individuais. Vinte e cinco pontos para novas pioneirías. Vinte ponto para a limpeza das panelas. Vinte pontos para o campo limpo. Vinte pontos para a apresentação pessoal. O uniforme limpo e bem passado para as inspeções e para o cerimonial de bandeira.

                    - Monitor! – Disse Zico Capixaba, uniforme limpo e bem passado no campo? Zé Lineu riu e respondeu – Dizem que existe uma técnica que só os escoteiros sabem. Portanto vamos saber como é e treinar para quando estivermos acampados. Zé Lineu continuou – Serão quatro dias de acampamento no Vale da Tartaruga. O Chefe vai levar os monitores lá para conhecer no próximo domingo. Prometo ver tudo e contar para vocês. Cada dia os pontos serão comunicados na Bandeira após a inspeção geral e o Hasteamento. A Patrulha que alcançar o primeiro lugar no último dia ganha um belo troféu em forma de Totem e feito em couro especial. Não esqueçam tudo que fizermos durante o dia também vale ponto. As chamadas, as formações, os sorrisos e a limpeza. Os jogos terão menas pontuação. Vamos nos preparar. Sei que é impossível sermos os melhores, mas não custa tentar.

                        Durante os dois meses que antecederam o acampamento nunca se viu uma patrulha como a Corvo treinando e praticando tudo que deveriam fazer. As demais patrulhas assistiam a tudo sorrindo. – Joílson sub da Pantera ria a beça dos pata tenra (assim chamados por serem novatos). Para todas as patrulhas a Corvo sonhava o que nunca poderiam conquistar. – Nas reuniões eram motivo de chacotas, mas o Chefe Leão não gostou. Chamou os monitores e os alertou para o respeito e a fraternidade. O dia chegou. Partiram em um caminhão da prefeitura. Uma hora e meia de viagem. A chegada, o arvorar da bandeira, a escolha do campo pelas patrulhas, todas elas lutando para darem o grito do café pronto, do almoço pronto, do jantar pronto, eram um brilho para os olhos do Chefe Leão.

                         No primeiro dia todos formados na porta da sede e como sempre aquela alegria geral. No campo cada monitor junto a sua patrulha pode escolher seu campo. Os patrulheiros do Corvo se assustaram no primeiro dia. Não fizeram quase nada e foram os últimos a darem o grito nas refeições. Na hora de Dormir Zé Lineu reuniu a patrulha. Tentou encorajar, mas todos só queriam dormir. Levantaram cedo. A ginastica o café e a limpeza do campo tomou toda a manhã. As nove em ponto o Chefe chegou para iniciar a inspeção. Bela tentativa, mas na bandeira viram que ficaram em último lugar. Foi Manolo Xavante quem deu ânimo a todos. Um dia vá lá, mas dois dias? Somos escoteiros ou ratos? – Bem dito, no segundo dia ficaram em terceiro e no terceiro dia em segundo. Agora a maioria das patrulhas olhavam os corvos de maneira diferente. Veio o último dia. Dia esperado.

                          Os corvos ficaram boa parte da noite fazendo pioneirías. Pequenas mas com enorme utilidade. Fizeram uma chaminé para o fogão para evitar a fumaça nos olhos do cozinheiro, fizeram um WC e João Moreno construiu um belo banco com encosto. Pela manhã Zé Lineu passou os olhos no campo. Zico Capixaba com folhas de coqueiro fez um belo capacho. As fossas de líquido e detrito tinham tampas tipo sanfona, abriam a um toque de um cipó. A casinha de lenheiro estava perfeita. Neste dia quem fazia a inspeção eram os monitores. Este só não fazia na sua. Cada monitor olhou com atenção as pioneiras. Zé Lineu notou que nas outras patrulhas eles não tinham igual. Tonico Souza o sub recebeu todos com a canção do Cucu. Até mesmo as vozes treinadas e a maneira de cantar fazendo gestos foi perfeito.

                        No cerimonial de bandeira um frenesi na Corvo. Quem seria o primeiro? O monitor da Anta sabia que não conseguiriam. O Monitor da Pica Pau também. Só o monitor da Onça tinha esperança. Zé Lineu que viu o campo de todas as patrulhas não cabia de contente. Desta vez seriam os primeiros. Os olhos de Zé Lineu brilhavam. Chefe Leão fez o suspense. Baixinho sem gritar anunciou o primeiro lugar – A Patrulha... Onça ganhou o troféu eficiência! Ninguem acreditava no que ouvia. O Chefe Leão disse para todos: - A luta foi tremenda, todos mereciam, os Corvos tinham tudo melhor que as outras, mas não obedeceram ao horário de silencio e ficaram a noite toda fazendo as pioneiras. É certo isto? Não, obedeceram as ordens. Meus parabéns aos corvos e espero que no próximo acampamento eles ganhem de igual para igual com as outras patrulhas!

                           Zé Lineu e os demais patrulheiros em reunião na casa de Pedro Luiz chegaram à conclusão que o Chefe estava certo. Ganhar sim, mas dentro das regras. Tonico Souza o Sub sorriu. Manolo Xavante se levantou e disse: Teremos novas oportunidades. Nunca iremos desistir. Verdade ou não a Patrulha Corvo no passar dos anos teve muitos troféus e muitas histórias para contar.

  

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Crônicas de uma Velho Chefe Escoteiro. Quem quer dinheiro?




Crônicas de uma Velho Chefe Escoteiro.
Quem quer dinheiro?

... - Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a nos converter em um movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o Movimento para os rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam do Escotismo. Por John Thurman - (chefe de Gilwell Park)

- Sou das antigas. Um punhado de arroz, macarrão e uma naca de linguiça e lá íamos acampar. Um dois três até doze dias dependendo a época escolar. Atividades distritais? Cada cidade se virava. O prefeito o Seu Joaquim do Armazém, os pais correndo de chapéu na mão e tudo saia nos contendo. Fui crescendo fazendo minhas atividades escoteiras sem Money, sem tutu, sem necas de catibiriba de dólar. Até hoje sou um velho escoteiro esclerosado. Detesto taxas, mensalidades e coisa e tal. Mas sei que elas precisam existir. Nem sempre se consegue um bom material de Patrulha, de Matilha, da diretoria do grupo e até mesmo o deslocamento para o campo. Isto claro se o grupo adotar o método Badeniano de viver a vida escoteira ao ar livre.  Quem sofre mais são os grupos nas grandes cidades. Um sufoco para sair. Agora pagar para acampar em um terreno? Juro que não pagaria. Jamé!

- Se tivesse condições “saudescas e juventude” eu toparia começar de novo, em um grupo, fazendo o que fiz. Dizer que o escotismo mudou pode ser. Ele não mudou eles chefes e associação é que mudaram com ele. Criaram normas, artigos, subitens e meteram tudo na casa de BP. Pobre Paxtu, agora é um programa de computador. Eles não perdoam o mestre. Risos. Outro dia li a pergunta de um Chefe que queria saber quanto cada grupo cobra de mensalidade. Eita! Grande “Perguntasso”! Fiquei embasbacado, soube de grupo que cobra tantos Euros que tremi na base. Tem aqueles que cobram em Dólar e outros ficaram nos trinta e pouco até duzentos mangos. Mas os humildes escreveram com pena: - Chefe! Apenas cinco paus! E olhe que é duro para receber! Sei como é. Já vi este programa na TV.

- Quando vejo os preços cobrados para atividades distritais regionais e nacionais quase dou um troço! Já sem ar corro a tacar na cara meu inalador pessoal. E as brigas, discussões, desavenças, pau na cumbuca em atividades nacionais e regionais? Lá estão às fotos, os vídeos dos barrigudos, barbudos com as camisas esvoaçantes na pança, gritando, dando berros querendo seus direitos. Meu Deus! Isto é fraternidade? O cara paga caro uma vestimenta, solta a camisa, paga a viagem, paga a taxa de inscrição, compra quinquilharias na lojinha, só para assistir este espetáculo grotesco? Mas tem outros que não. Tiram o sábado para tascar medalhas. Todas foram regiamente pagas. Se o medalhado merece tudo bem se não fica o dito pelo não dito.

- Tem estados apaziguados. A turma vai para se confraternizar. Beijinhos, abraços, aperto de mão e sempre alerta, claro sempre com a camisa solta no ar. Eita camisa idolatrada pela chefaiada atual. Fico pensando o que o povão acha disso. A dona EB até hoje não perguntou. Queria saber o que o Ibope e o Datafolha iriam perguntar: - Gosta de barbudo, barrigudo com a camisa prá fora? Tenho dito que este escotismo de hoje não é o meu. Não é mesmo. Tive a honra de ser convidado para Comissário Regional em Minas Gerais. Fiz com meus amigos assistentes, gente fina, que se dedicaram sem esperar recompensas e sem mandar cartinhas ameaçando alguém um escotismo fraterno e amigo. Sem desavenças. Apenas um papo, umas caipirinhas ou as loirinhas da Brama ou Antárticas e tudo se resolvia. Nada como conversar. Assim se entende não é?

- Me lembro dos Conselhos Regionais. Conselhos gente! A turma achou melhor copiar o PT a CUT e o escambal e mudaram para Assembleia. Nunca ouve taxa. Nunca. E olhe que ofertávamos o material doado por alguma empresa ou por dirigentes de famosas lojas locais. E olhe que ainda tinha transporte gratuito. Isto pode? Pode e se não acredita pergunte a quem esteve lá. Ainda tem muitos.  Foram muitos Acampamentos Regionais e distritais sem taxa. Levamos centenas de patrulhas de minas e do Brasil pelo interior de Minas Gerais. Mas famosas mesmo ficaram as Indabas. Estas tinham o cheiro de quero mais. Bate papo, Fogo de Conselho, jogos, trabalho em grupo, sistema de patrulhas, todos dando ideias de como melhorar o escotismo e o Estado Escoteiro. Isto não existe mais.

- Sei que tem muitos que estão lendo de outros estados que fizeram o mesmo. Outro escotismo onde o dinheiro não é tudo. Onde o Zé Pereira de Mato Dentro e o Escoteirinho de Brejo Seco podiam participar. Às vezes eu me pergunto: - Será que estou errado? Porque esta grandeza, esta superioridade em ser o melhor? Comprar sedes monumentais, viajar pelas “estranjas” Oferecer riquezas e nobrezas a quem paga e quem não paga que vá dormir na barraca furada... E aqui estou eu pedalando meus dissabores, meus penhores que penhoradamente vivo por aqui a reclamar.

- Desculpe, me pergunto se tenho direitos... Acho que tenho. Já chegando aos 72 anos de escotismo bem escoteirado. Saudade da sede regional simples no Prédio do Palácio dos Esportes, a gente lá fazendo plantão para receber os escoteiros visitantes do interior ou pegando ônibus de carreira para uma visita em alguma cidade de nosso estado. Planejando, só a Vovó Conceição ajudando na burocracia, e a turma de assistentes verdadeiros heróis combatentes lutando para oferecer tudo... De graça gente! De graça!


sábado, 1 de fevereiro de 2020

Conversa ao pé do fogo. E ele pensou que está na hora de parar!




Conversa ao pé do fogo.
E ele pensou que está na hora de parar!

... – Não é boato, ele tomou uma decisão. Disse para si e seus amigos... “Está na hora de parar”! A velha frase de Ander Monte “Um amor de verdade nunca parte de nossas vidas, mas reparte conosco um pedaço de si e nos deixa saudades”. Não são muitos, mas são frequentes. Desiludidos, acabrunhados tomam a decisão de deixar o Escotismo um amor de verdade, mas com enfrentamentos desconhecidos e para não se machucar, resolveu sair. Sair? Se ainda nem terminou sua jornada?

- Cada um tem seu quinhão de verdade, de escolha que aqueles mais próximos tentam entender se o caminho tomado não seria melhor para sua felicidade. Quando as coisas perdem o sentido, nos sentimos enfraquecidos e desgastados É preciso saber sentir e ponderar que a nova trilha que estamos tomando... Será ela o melhor caminho? Desistir não quer dizer abandonar o barco diante de qualquer dificuldade, sem comprometimento algum; mas sim ter consciência de si para saber quando atingimos nosso limite. Desistir muitas vezes pode simbolizar o fim de um ciclo de inúmeras tentativas fracassadas. E essa última tentativa pode ser a mais difícil e também a que trará mais alegria.

Os casos se sucedem se multiplicam. Muitos saem sofridos outros infelizes, mas tem aqueles que precisavam dar adeus à doutrina escoteira para iniciar novo ciclo da vida. Sabem que ele nunca será esquecido, os velhos tempos de acantonamento, de acampamento, de bandeiras ao vento, de cumprimentos com a esquerda, da saudação soldadesca, dos encontros com amigos, de abraços, de Melhor Possível Sempre Alerta e Servir ficaram para trás. Muitos tendem a achar que desistir é sinônimo de fraqueza, porém, muito pelo contrário, desistir é sinal de força e coragem. Desistir não significa, necessariamente, fraquejar ou parar de tentar, mas sim parar de investir uma energia preciosa de vida em algo que não a está deixando fluir. Desistir muitas vezes é outra forma de tentar e buscar ser feliz.

Os motivos se multiplicam. Para cada um tem uma verdade. Amava e ainda ama aquela associação e seus jovens heróis. Entretanto acreditou em quem não devia acreditar. Às vezes acreditamos no encantamento, na alegria pensando ser duradoura, e quando tudo perde o sentido por causa de uns poucos paramos para pensar. Até onde tudo isso vai nos levar? Bah! Mas que saudades eu tenho das reuniões, das matilhas, dos lenços coloridos, dos sorrisos dos fedelhos lobinhos, da moleca escoteira que fazia graça para poder andar com as próprias pernas. E eis que a verdade, a cortina vai aos poucos se abrindo mostrando que nem todos jogam no mesmo time. Ali estão os arrogantes, os emproados que se acham dono do lugar. Metem os pés pelas mãos querendo mostrar seu poder. Que poder? Sabia que aquele velho Chefe dizia: - “O poder do nada”. Só a vontade de ser o que não é e para isso não se importa em pisar em inocentes, em alguém que só pensava em ajudar.

São tantos os sabidos, os notáveis, alguns sem nenhuma classe escoteira, sem nenhuma galhardia, uma galanteria que quem sabe não teve alguém para ensinar. Sinceramente, às vezes sinto vontade de dar um pontapé no traseiro e sorrir quando ele perguntar por quê? E responder, foi merecido! Sei que isto não é um pensamento do bom escoteiro, mas brejeiramente sempre acreditei que ser irmão de ideal é respeitar e saber compreender dialogando, ouvindo e falando para que as divergências fossem sanadas. Bah! Mas machuca lembrar-se de tudo que aconteceu. Um olhar diferente, uma voz diferenciada, a vontade de discordar, de mostrar que tudo que a gente pensa não é o caminho a seguir.

E o tempo passa... Poderia retornar? São tantos motivos para sim e outros tantos para não. Nossa! Que vontade de vestir minha farda, colocar meu lenço, sair por aí com um sorriso nos lábios para encontrar a meninada escoteira... De pé se saber o que fazer tendo no pensamento um ponto de interrogação me pergunto: Vou ou não vou? Foi Descartes que escreveu se pensando era um afirmativo de existo. Será que vou censurar aqueles que vestem o que não gosto? Fecharei os olhos para não ver? Piso nas nuvens do tempo quando prazeroso aplaudia alguém que recebia uma condecoração, uma comenda, um cordão de eficiência e pulava de alegria nos dias da entrega de um Cruzeiro do Sul de um Lis de Ouro ou Escoteiro da Pátria. Duvidas misturadas na conjunção do tempo. O coração chora por dentro.

E então me pergunto que escotismo é esse? Do pensador Baden-Powell? De suas belas escritas onde surgiu as mais belas palavras surgidas naquele dia venturoso, onde empertigado se perfilou para “jurar a bandeira”. Foi o dia que o sol brilhou a noite cheio de estrelas, a lua passeando nas montanhas e em casa você pensando: - Gente! Foi sim o mais belo dia da minha vida! E agora? Ficar rememorando revivendo o passado? Quem foi que disse que vivemos uma nova era, mais moderna, e os pseudos escritores ou pensadores escoteiros como eu estão fora de lugar. Se tenho filhos escoteirando à tristeza invade. Se tenho filhos que não querem mais meu coração chora. Escotismo, oh! Escotismo onde está você que não te vejo?

- E eu nas asas da imaginação imagino cada amigo meu que decidiu seguir sua nova estrada onde o escotismo não tem mais lugar. Penso neles guardando sua tralha escoteira, seus distintivos e certificados. Imagino no que passei, quantas vezes pensei em esquecer o grande amor que tenho pela filosofia escoteira. Quantas vezes pensei em dar adeus! Ponho-me no lugar de cada um. Ei você! Acha que tem direito de parar? Meu amigo quem vai levantar a bandeira do Escoteiro simples, do lobinho sorridente, da sua vontade em oferecer a ética a honra e acreditar na palavra do escoteiro? Quem vai ficar no seu lugar? Aquele que sorriu quando você partiu? Viro-me de esguelha na janela do tempo... E pergunto sem segundas intenções. E os que ficaram principalmente os que enxovalham o orgulho escoteiro, que sorrindo viram você partir sabendo que não perdeu seu poder... Venceram?  

Aceito... Às vezes nos encantamos com alguma coisa. Às vezes a pressão que o mundo escoteiro nos impõe é demais... Precisamos parar, nos desligar dessas expectativas e cobranças, de pessoas que não nos querem bem e nos reconectarmos conosco mesmos. Porque não escrevi que adoro colher flores silvestres? Porque não escrevi sobre disciplina imposta e não aceita? Porque não escrevi sobre a evasão escoteira que no Brasil é fantástica? Não escrevi. Mas pensando bem o conselho de um Chefe que devo escrever menos e pensar menos acho que vou seguir!
Sempre Alerta e Fraternos Abraços!